Crítica: Os Miseráveis

miseraveis_10“Um musical que tem algumas cenas marcantes, belas atuações, mas que é narrativamente mal conduzido.”

O conceituado livro Os Miseráveis, escrito pelo francês Victor Hugo e lançado em 1862, é certamente uma das obras mais adaptadas entre variadas mídias: No teatro clássico, em musicais na Broadway, na tevê e no cinema. Há quase 14 anos, o cineasta Bille August (Pelle, o Conquistador) juntou grandes atores como Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman e Claire Danes, e realizou a sexta investida do romance para as telonas, alcançando boas críticas mas não tendo grande repercussão com o publico em geral - ficando até mesmo esquecido com o passar do tempo.

Devido ao grande sucesso da opereta na Broadway, o produtor Jason Pomerantz decidiu transpor o conto, nesse formato musical, para o cinema novamente, chamando assim o oscarizado Tom Hooper (O Discurso do Rei) para dirigir essa nova roupagem que estreia agora em 2013 e conta, novamente, com um elenco de peso formado por Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Helena Bonham Carter e o intrépido Sacha Baron Cohen.

Para sua melhor compreensão, a trama se passa na França do século XIX, em meio às batalhas de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832, tendo em seu principal foco a vida e odisseia do condenado e fugitivo Jean Valjean (Hugh Jackman), um homem que é sempre perseguido pelo terrível oficial Javert (Russell Crowe). Em torno do seu caminho, repleto por vitórias e derrotas, Valjean conhece a bela Fantine (Anne Hathaway), uma mulher que literalmente se sacrifica no intuito de, alguma forma, mandar uns trocados para sua filha Cosette (Amanda Seyfried), criada e explorada pelo casal aproveitador Sr. e Sra. Thénardier. Após o inevitável fim de Fantine, Jean promete encontrar e cuidar de Cosette como se fosse sua filha. E, em meio a toda guerra e revolução, muitos obstáculos os dois terão que encarar.

Tendo ciência dos grandes recursos técnicos de produção da atualidade, era de se imaginar que esse novo longa fosse algo majestoso. Não apenas no que se refere a figurino e cenário, mas também na exterioridade da obra como um todo. O que está muito longe de acontecer por aqui - isso em todos os aspectos mencionados. Este Os Miseráveis depende quase que totalmente das suas figuras dramáticas. Porém, quase que sem diálogos diretos e sendo ele 95% cantado, o texto e a condução fílmica precisam ser extremamente eficientes para suprir tais necessidades. E é justamente aí que o diretor peca: Na construção e desenvolvimento da trama.

Amparado pelo bom roteiro de William Nicholson (Gladiador), estruturalmente arranjado para esse formato, Tom Hooper realiza uma narrativa indigesta, que prima de forma frustrada pela elegância, mas que em poucos momentos obtém sucesso. E quando esses aparecem, são justamente graças aos solos musicais vividos brilhantemente pelos ótimos atores do elenco. O ponto mais alto da fita está numa cena em que a espetacular Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada) canta e impressiona com ‘I Dreamed a Dream’. Despontando um total domínio em tela e se doando por completa, Hathaway concretiza a mais perfeita passagem de toda sua carreira.

Através de closes e ângulos holandeses, um pouco tortos, que servem para demonstrar o estado emocional do personagem que ali é elucidado, Hooper acredita e investe na capacidade artística dos atores que, por sua sorte, desempenham muito bem seus infortúnios. Assim como o sempre excelente Hugh Jackman (Fonte da Vida), que com o seu Valjean tenta segurar o filme inteiro. Com uma postura imponente e sua marcante voz, Jackman surpreende outra vez e nos mostra mais ainda sua versatilidade. Russel Crowe comprova também talento, destacando-se entre as melhores performances vocais.

A direção de arte assinada por Grant Armstrong (X-Men: Primeira Classe) é de mediana para boa. Não sendo ampla e detalhista, está longe de levar algum destaque. O mesmo acontece na fotografia de Danny Cohen (Os Piratas do Rock) que reveza entre varias lentes, no intuito de encontrar o clima adequado para as tomadas operadas, mas que atua de forma automatizada. As canções tiradas da peça na Broadway foram bem escolhidas. Mesmo soando compelido em alguns andamentos, o ritmo é fundamental para que tudo não afunde.

O que é tarde demais, pois após quase três longas e cansativas horas de duração, devido ao mau andamento da fita, o espectador já tem perdido, quase que por completo, o interesse pelo conto e deseja saber apenas a resolução da história. Isso por Hooper não desenvolver corretamente os novos personagens, inseridos ao longo da trama e, principalmente, por nem sequer criar um mínimo de tensão, fazendo com que a plateia dê importância a fábula e se identifique com o que está em tela. Mas nada acontece de forma orgânica e tudo parece caminhar fatalmente para o mesmo destino das seis outras adaptações anteriores: Perecer ao longo das eras.

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8 comments

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    Amanda Eric 2 fevereiro, 2013 at 15:19 Responder

    Caro Wilker Medeiros, eu acho que você não assistiu, só deve ter lido a sinopse ou visto o trailer.
    Pois é muito bom o filme.
    Quanto a arte, lembre-se de que se passa no séc. 19 e não no futuro, assim sendo não há muita" majestade a esperar" e sem dizer que é um drama e não uma ação.
    O grande marco da produção é passar através da música as situações e sentimentos vividos em cada momento, afinal isso é uma OPERA e por isso é quase 100% cantada. Como por exemplo"Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet"

    Acredito que você não tenha punho para julgar uma opera. Me perece que você nem sabia que o filme é uma OPERA.

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      Tiago Lamonica Batista 2 fevereiro, 2013 at 21:28 Responder

      Eu vi o filme, e posso dizer que me emociono muito mais ouvindo as musicas no youtube, sem atuação, do que quando assisti ao filme, não por culpa dos atores, mas sim da direção. Ele tem problema sim, e isso não precisa ser mestre pra notar. Se o diretor resolveu contar o filme inteiro através da musica, então que faça bem feito, e ja que é uma opera, tem que emocionar o espectador, e infelizmente o filme se destaca por boas atuações, somente isso, pois a direção é falha, e isso mancha a obra, querendo ou não!

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      Alexandre Luiz 3 fevereiro, 2013 at 13:52 Responder

      Ainda não assisti ao filme. Mas não resisti e precisava muito responder seu comentário. Não porque concordo ou discordo dele, mas porque ele é completamente invalidado já que seu argumento é equivocado, sem mencionar o tom ofensivo. Os Miseráveis é um musical, não uma Ópera. Sim, há diferença e quando Wilker a chama de opereta ele não está completamente errado, já que o gênero "musical" evoluiu justamente deste tipo de obra e das apresentações de cabaré e Vaudeville. Não é porque você está em um teatro assistindo uma peça cuja história é contada através de musicas que se está diante de uma ópera (aliás, várias ópera contém alguns diálogos recitados e não cantados), que uma das características é ser representada por tenores, barítonos, sopranos, etc sem o uso de microfones já que estes cantores conseguem projetar suas vozes pelo teatro (e nem vou entrar nas divisões das peças musicais pertencentes à ópera como árias, aberturas orquestradas e entreatos). Os musicais são apresentados na Broadway com atores usando microfones e até acompanhamentos previamente gravados, sem orquestra tocando ao vivo (ao contrário de como acontece em óperas). Além do mais, há toda uma diferença do compositor clássico para o compositor popular. Quando não se sabe esse tipo de coisa, é perigoso até citar Beethoven na discussão, que em toda sua obra compôs apenas uma ópera: Fidelio. Ou talvez, ainda pior, seja a possibilidade de colocar, no mesmo nível, uma obra de Mozart, como Don Giovanni, e uma de Andrew Lloyd Webber, como Cats. E pra encerrar, o que você chama de "grande clássico da Ópera Mundial" é um musical composto em 1980. Ok, é muito bem sucedido por onde passa com suas apresentações, mas é necessário um pouquinho mais que isso (ok, MUITO mais que isso) pra ser considerado "clássico da ópera mundial".

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      José Guilherme 3 fevereiro, 2013 at 16:50 Responder

      Por onde começamos?! Acho que você não leu a crítica direito, o Wilker elogiou o que realmente merecia, que são as atuações primorosas. A direção do Tom Hooper beirou o amadorismo, desde os cortes toscos até o enquadramento de algumas cenas. A direção de arte é outro ponto que chega a fazer vergonha, pois é justamente nessa parte que um filme de época deveria se segurar.
      Não sei em que mundo, alguém acha que para se ter algo majestoso, o filme deva se passar no futuro. Você já viu Ben-Hur, Elizabeth, Orgulho e Preconceito, Amadeus, ou mesmo Titanic?! O próprio Sweeney Todd, conseguiu recriar uma Londres no final do século 19 realmente de arrepiar, e é justo esse filme que você citou para defender os erros de Lez Mis. Por tanto, para se criticar algo com base, deve-se ter um mínimo de conhecimento prévio.

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    Amanda Eric 2 fevereiro, 2013 at 15:26 Responder

    MTV, procure por um critico que ao menos pesquise pela história do filme.
    E que não use o termo "opereta" para um grande clássico da OPERA MUNDIAL", é como chamar Beethoven de funk.

    Fica a dica.

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