Crítica: G.I. Joe: Retaliação

gijoeretaliacaoA linha de brinquedos que ficou conhecida no Brasil como Comandos em Ação, e que gerou várias séries animadas e HQs ao longo dos anos, sempre foi uma das grandes representações do poderio militar do “mundo livre”, ou como o próprio Presidente vivido por Jonathan Pryce reconhece, dos Estados Unidos da América. Sendo assim é inútil acusar G.I. Joe – Retaliação de “ufanismo”. Sempre foi e no momento em que o filme é lançado não existe motivo para não ser. Excluindo é claro a possibilidade das piadinhas com a Coréia do Norte aumentarem ainda mais a tensão com o país, que esta semana apontou seu armamento nuclear para o Hawaii. Assim, em meio à mensagens patrióticas, o segundo longa da franquia, agora comandado por Jon Chu, foca na ação de reverência: aquela cujo objetivo é destacar as qualidades do exército americano. Até pouco tempo, Michael Bay era o cineasta mais representativo neste quesito. Seus longas denotam um certo fetiche militar, com os soldados em câmera lenta, suados e sujos de poeira segurando suas pesadas armas. Na montagem final de Retaliação, no entanto, Chu parece querer o posto de propagandista das Forças Armadas. O impressionante é que o diretor, cuja última obra fora o documentário sobre Justin Bieber, é muito mais competente nas cenas agitadas do que o responsável pela trilogia Transformers. Pensando bem, não é tão impressionante assim.

O novo filme continua o gancho deixado pelo anterior (dirigido por Stephen Sommers em 2009), com o Presidente norte-americano substituído por Zartan (Arnold Vosloo), o mestre em disfarces do grupo terrorista Cobra (o conceito mais interessante do primeiro longa, inclusive). Graças à sua influência, consegue desestabilizar os Joes em um ataque, deixando apenas três vivos: Roadblock (Dwayne Johnson), Lady Jaye (Adrienne Palicki) e Flint (D.J. Cotrona). Claro que como esta é a equipe de elite do Exército, o trio é suficiente para iniciar uma guerra contra o Cobra, que agora domina o governo dos EUA. A história ainda divide espaço com uma trama parelela envolvendo Snake Eyes (Ray Park) e Jinx (Elodie Yung) no Japão, tentando extrair informações de Storm Shadow (Byung-hun Lee). A ideia é até boa, afinal colocar dois grupos de personagens para depois os unir é basicamente o cerne de O Império Contra-Ataca, mas Retaliação está longe da qualidade do segundo longa da trilogia clássica de Star Wars. Isso porque, apesar das boas intenções da trama, o roteiro é recheado de momentos extremamente convenientes, prejudicando todo o andamento do filme.

O diretor Jon Chu faz o possível para deixar este segundo G.I. Joe atrativo o suficiente. Comanda boas sequências de ação, que fogem dos tiques estéticos do gênero, mostra que o 3D convertido até pode ser bem utilizado quando as imagens são pensadas para o formato (ou seja, exibem grande profundidade de campo) e... bem, tudo que ele poderia fazer para aumentar o apelo do longa é isso, já que o texto mais atrapalha do que ajuda. É zombar do espectador, imaginar que este não vai reparar a incoerência de se torturar um personagem para obter uma informação ao mesmo tempo que um agente infiltrado já está praticamente no local pretendido (no caso, a prisão onde estão encarcerados o Comandante Cobra e Destro). Ou ainda que um determinado coadjuvante mude de lado simplesmente por conta de uma conversa de no máximo 3 minutos. O cineasta faz o que pode com o material que tem em mãos e sua maior falha, talvez, tenha sido aceitar a maquiagem sofrível do personagem vivido por RZA, um mestre ninja.

Outros fatores contribuem para o público não prestar muita atenção neste tipo de coisa. A boa presença de Dwayne Johnson, carismático como sempre, e a participação de Bruce Willis, fazendo aquelas expressões canastronas que o tornaram famoso, ajudam na diversão, assim como alguns exageros, que intercalados com uma visão um pouco mais realista que seu predecessor, trazem toda a ação para um ambiente mais familiar ao espectador-alvo do longa, acostumado ao mesmo tipo de recurso quando usado nos mais recentes games em primeira pessoa, por exemplo.

Claro que pedir complexidade de Retaliação é como acusá-lo de ufanismo. É óbvio que a pretensão neste caso é apenas agradar mais aos fãs do que A Origem de Cobra, garantindo a continuidade da franquia através de uma bilheteria generosa. Porém, não é pedir muito um roteiro que ao menos seja coerente em sua narrativa, explorando o potencial que havia no argumento original. Apenas boas cenas movimentadas não fazem um filme de ação. É necessário um pouco de substância, coisa que este está longe de ter. Falta também um vilão que realmente pareça uma ameaça e, não fosse a presença inspirada de Jonathan Pryce, a película jamais exibiria qualquer dificuldade aos heróis. Caso este seja bem sucedido, será inevitável uma continuação. Resta então esperar para que G.I. Joe pare de se comportar como uma criança brincando com Action Figures no fundo de casa. Afinal não há nada mais frustrante do que apenas observar alguém se divertindo com brinquedos caros sem a mínima participação do observador. E no cinema, tramas instigantes e bons pontos de virada sempre são extremamente competentes em envolver o público, mesmo sem recursos de "imersão" como o 3D.

Alexandre Luiz

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