Crítica: Jack: O Caçador de Gigantes

jackcacadordegigantes_17‘O filme é indicado pra quem, até hoje, se interessa pela história de João e o Pé de Feijão’.

Depois de quase cinco anos sem dar as caras como diretor, Bryan Singer, o criador da elogiada franquia cinematográfica X-Men e um dos precursores a colocar o subgênero dos filmes de super-herói em ascensão, retorna, pegando carona, na outra moda recente de Hollywood: Fazer adaptações contemporâneas de clássicos da sétima arte ou da literatura infantil. Assim, como já tivemos João e Maria: Caçadores de Bruxas, Branca de Neve e o Caçador, A Garota da Capa Vermelha, Oz: Mágico e Poderoso e Alice no País das Maravilhas, chegou à vez de João e o Pé de Feijão - aqui chamado de Jack: O Caçador de Gigantes – ir para as telonas.

Modernizando, como sempre, alguns acontecimentos do conto original, a história começa quando Jack (Nicholas Hoult), um fazendeiro que passa por necessidades financeiras, vai até a cidade vender um cavalo em barganha de alguns vinténs e, comovido pelo desespero de um monge, troca o animal por alguns feijões especiais, como forma de garantia, recebendo apenas uma única recomendação de nunca molhar os grãos. Obviamente, isto acaba ocorrendo e criando um enorme pé de feijão que vai dar em um mundo de gigantes.

Em meio a tudo isso, a princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson), aborrecida pelas ordens do Rei (Ian McShane) de se casar com um sujeito mais velho, foge e encontra, justamente, o fazendeiro. Logo, na noite de sua chegada, o garoto é surpreendido pelo acontecimento do pé de feijão. A menina, então, é arrastada pelos galhos e vai parar nas terras dos grandalhões, onde lá termina sendo sequestrada. Cabe, agora, aos súditos do rei, e Jack, irem resgatá-la das mãos dos enormes monstros residentes. Dando, assim, início a uma grande aventura.

Trabalhando, pela terceira vez, ao lado do roteirista Christopher McQuarrie (Os Suspeitos e Operação Valquíria), Bryan Singer nos entrega um filme sem grandes pretensões artísticas, mas com foco absoluto nas bilheterias – um erro, pois sua estreia nos EUA foi um fiasco, diante de seu abissal orçamento de produção. Digo isso por perceber que o roteiro é extremamente pedestre e observar os ângulos, de certo modo, simplórios, diante dos bons enquadramentos que permeiam toda filmografia do diretor. Ou por identificar que o 3D da fita, logo nos minutos iniciais, não terá, sequer, a mínima função narrativa e que está ali apenas para tornar o ingresso mais caro e levar a criançada pra comer pipoca.

Com um primeiro ato nada instigante, apresentando e aprofundando somente os dois protagonistas excluindo, desse modo, qualquer processo de identificação com outros personagens, o filme é carregado, ou arrastado, pela narrativa um tanto enfadonha em alguns andamentos, mas que consegue, surpreendentemente, levar o espectador às próximas tomadas, escorando-se totalmente nas boas cenas de ação, que são inúmeras; e é muitissimamente bem auxiliada pela fotografia de Newton Thomas Sigel (Drive), imprimindo uma estética viva mas que, em todo momento, tem sombras ao seu redor, criando uma bela rima com relação ao pé de feijão. E também, na trilha sonora de John Ottman (Superman - O Retorno), que transmite um ar aventureiro e flerta com o suspense.

O elenco é um bom parêntese a ser pontuado. Depois de se destacar e ser muito elogiado no excepcional ‘X-Men: Primeira Classe, que o próprio Bryan produziu, o jovem ator Nicholas Hoult, que fez recentemente o divertido ‘Meu Namorado é um Zumbi’, vai, pouco a pouco, conquistando seu espaço. E aqui ele não faz diferente. Apesar de não falar muito, é perceptível o carisma de Hoult. A “novata” Eleanor Tomlinson não compromete com sua discreta princesa Isabelle. Já o intrépido Stanley Tucci e o sempre regular Ewan McGregor, mesmo com personagens secundários, deixam sua marca na película e se sobressaem.

Porém, mesmo com os vários problemas técnicos e artísticos aqui presentes, Jack: O Caçador de Gigantes passa se arrastando no nosso quesito de avaliação. Isso, por ser bem sincero em sua proposta e de centrar num publico alvo. Acredito que a nossa garotada vai lotar os cinemas pra conferi-lo, assim como fizeram em outros títulos do mesmo estilo. É de longe o filme mais fraco da carreira do Singer, mas seria algo como ‘A Lenda dos Guardiões’ na boa filmografia de Zack Snyder: Diversão infantil garantida.