Crítica: Homem de Ferro 3

homemferro2_19Em Homem de Ferro 3 Robert Downey Jr. continua roubando as cenas em que atua, com seu humor cínico, a diversão é garantida com grandiosas sequências de ação, sempre auxiliadas pelos competentes efeitos visuais, e assim como nas duas obras anteriores pertencentes à franquia, o público torce, vibra e ri. Mas há algo errado no longa. Não é a direção mais solta de Shane Black, que substitui Jon Favreau no comando. Também não é a abordagem mais humana de Tony Stark, que faz o personagem passar boa parte da trama sem a ajuda de sua armadura dourada. O maior problema de Homem de Ferro 3 é justamente aquilo que seus anteriores ajudaram a construir: o Universo Cinematográfico da Marvel.

Um dos grandes riscos da realização de Os Vingadores eram, após a união dos heróis e a constatação da S.H.I.E.L.D. como uma superforça de segurança com atuação global, os filmes seguintes, focados em cada um dos personagens do grupo, encontrando o seguinte dilema: se a ameaça é tão grande, porque ele está sozinho? Onde estão Nick Fury ou o Capitão América ou a Viúva Negra? Para solucionar isso, a ideia do roteirista Drew Pearce foi focar os dilemas de Tony Stark pós-invasão alienígena e sua luta incansável e perigosa (para si mesmo) para criar novas armaduras que garantam sua segurança, uma vez que, comparado a deuses, supersoldados e agentes secretos, o bilionário é apenas um homem cujo corpo e mente estão sujeitos às mesmas fragilidades que qualquer pessoa. Assim, Homem de Ferro 3 tenta se isolar completamente do “mundo maior” que o diretor da S.H.I.E.L.D. apresenta a Stark ao final do primeiro longa. O roteirista só esquece que seu vilão é um terrorista que ameaça a segurança do mundo e ataca diretamente o protagonista, destruindo sua mansão, como é mostrado em todos os trailers. Por muito menos, Nick Fury se prontificou a garantir a segurança de Tony em Homem de Ferro 2. Ou seja, apesar de uma boa premissa, o texto não escapa da incoerência, simplesmente pela necessidade de um vilão egocêntrico, cenas de ação lotadas de explosões e armaduras autônomas (em uma clara estratégia para vender action figures) aparecendo a todo o momento.

Obviamente a natureza “arrasa-quarteirão” da franquia impediria uma obra intimista (e há momentos que o roteiro até dá dicas de que originalmente até era essa a ideia como a quase estrutura de road movie que assume em determinado ponto. E é gratificante a expressão de Downey Jr. quando chega a uma cidadezinha do Tennesee e se vê em uma garagem lotada de ferramentas), mas isso não significa que a coerência da trama deva ser sacrificada. Problema inclusive que vai além e chega até mesmo a prejudicar a unidade da “trilogia”, entrando em conflito direto com o grupo terrorista que seqüestra Tony no primeiro filme. Por conta de uma (corajosa e criativa) mudança no vilão Mandarim cria-se um incômodo erro de continuidade, já que naquela ocasião os Dez Anéis são citados como os responsáveis pela tensa situação do bilionário no Oriente Médio. Ainda sobre o antagonista da vez, Ben Kingsley o encarna com grande competência, se divertindo com o material que lhe é entregue, sem medo de soar “teatral” demais. Mas não é apenas o Mandarim que dá trabalho ao Homem de Ferro. Guy Pearce surge canastrão como Aldrich Killian, mais um vilão cuja origem está no passado de excessos e canalhice de Stark. Desta vez a Marvel apostou em interpretações cuidadosamente exageradas (sim, é paradoxal) para não fazer o espectador esquecer de que se trata de uma obra baseada em HQs. É uma estratégia interessante que ajuda a tornar mais fácil a aceitação dos soldados Extremis, com seus poderes especiais.

Os coadjuvantes continuam o trabalho dos longas anteriores, com Gwyneth Paltrow ganhando mais destaque para sua Pepper Potts. Don Cheadle justifica melhor sua escolha para substituir Terrence Howard no papel de James Rhodes e convence como um militar, entrando em ação quando necessário, principalmente ao lado de Stark, em uma interação muito semelhante à dos protagonistas de Máquina Mortífera (não à toa, uma vez que o primeiro filme daquela franquia fora roteirizado por Shane Black). Por outro lado, a incursão de Rebecca Hall como Maya Hansen parece apenas destinada a dar ao fã de quadrinhos a chance de ver a personagem em carne e osso. Embora não seja pequena, sua participação é totalmente dispensável. Levando em conta a adaptação feita no Mandarim, não haveria problema em fundir os atos da personagem com Killian, o que deixaria a narrativa mais fluida.

Aos tropeços, no entanto, o roteiro de Drew Pearce e Black ousa ao escancarar o papel dos EUA na criação de seus próprios inimigos ou ainda a vocação do país para a guerra e conflitos, mesmo em seu próprio solo. A crítica é contundente e se estende até mesmo à “cultura de armas” quando mostra um garotinho ameaçando o protagonista com uma espingarda de batatas. E não deixa de cutucar a ferida dos “atentados” causados pelos próprios norte-americanos, citando um soldado que explodiu a si mesmo, fazendo também outras cinco vítimas. É igualmente relevante a pronta dedução de vários personagens de que o esconderijo do Mandarim só pode ser em alguma zona de conflito no Oriente Médio, e a revelação de onde realmente opera é assustadora, sob o ponto de vista da fragilidade da segurança nacional, mas também por conta de um elemento que faria qualquer teórico de conspiração suar gelado.

Na tentativa de se tornar o mais isolado dos filmes da Marvel, Homem de Ferro 3 também não ajuda em nada a iniciar a Fase 2 dos heróis no cinema. Nenhuma dica e nem mesmo a cena pós-créditos criam qualquer gancho para as próximas aventuras. Por um lado isso é bom, já que corrige o maior defeito do segundo filme, dependente demais daquele universo que o primeiro ajudou a criar. Por outro lado, ignorar totalmente esse universo é problemático, uma vez que já está estabelecido que a agência de Nick Fury jamais deixaria tudo aquilo acontecer sem oferecer nenhuma ajuda. Alguns furos de roteiro também incomodam, por mais bobos que sejam. Mas o público geral deve se divertir. Afinal, as marcas registradas da franquia foram preservadas. Infelizmente, desta vez, esqueceram que um filme se faz de uma boa (e coerente) história e não apenas de explosões ou diálogos sarcásticos de seu ator principal.

Alexandre Luiz

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2 comments

  1. Avatar
    Maxwel_Gamer 28 abril, 2013 at 18:41 Responder

    Só faltou comentar o 3D completamente caça-níquel, eu me senti ofendido, pois eu paguei mais caro para ver em 3D e não vi nenhum 3D, além do óculos incomodar demais em alguns momentos…

    Ps: Cena pós-créditos completamente dispensável…

    • Avatar
      Hugo 30 abril, 2013 at 15:52 Responder

      Salve. Concordo e Discordo de Você.
      Realmente, o 3D não disse a que veio, não é marcante.
      Com relação a cena final, ela é hilária, uma boa gargalhada nunca é dispensável!
      Abraço!

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