Crítica: O Homem de Aço por Wilker Medeiros

O-Homem-de-Aço-poster-nacional"A nova aventura do Superman, é eletrizante e cumpre bem o seu papel."

O planejamento, a estrada e os preparatórios para a viagem.

Nos últimos dez anos, tivemos diversas produções cinematográficas relacionadas a adaptações de histórias em quadrinhos, que cresceram em proporções tão gigantescas, que virou não só um subgênero, como também uma manufatura bilionária, do ponto de vista lucrativo, que progride cada vez mais.

Marvel Studios/Disney começou em Homem de Ferro, um projeto extremamente ambicioso, recheado de heróis e estrelas de altas patentes, que culminou o fenômeno chamado Os Vingadores – atingindo a inacreditável marca de terceira maior bilheteria de todos os tempos. A Sony, através dos filmes do Homem-Aranha, pegou também um grande pedaço da torta. Ou mesmo a Fox, com os seus X-Men.

No entanto, a grande evidência da DC/Warner, nessa área, pertence, exclusivamente, a um homem chamado Christopher Nolan. Com sua trilogia do Homem Morcego, ele elevou a outro patamar, os ditos movie heroes. Sendo sucesso de crítica e angariando quase três bilhões de dólares em todo mundo.

Porém, mesmo com uma ampla quantidade desses personagens na mídia, a primeira grande figura das HQ’s, que foi referência para muitos outros heróis, conhecido como o herói definitivo, o Superman, ainda não havia tido um filme a altura do seu real prestígio. Em 2006, quando Bryan Singer fez Superman – O Retorno, a fita soou mais como uma homenagem ao clássico Superman de Richard Donner, e foi duramente criticada por sua linguagem romancista e a (excessiva) falta de ação. Sendo um fracasso nas bilheterias e deixando o Azulão de molho, por um longo tempo.

O receio de trazer de volta o Superman para as telonas, pairava sobre a produtora. Entretanto, como os direitos sobre o personagem já estava por terminar, já que não o utilizavam dentro da sétima arte; e com o final da saga do Cavaleiro das Trevas nos cinemas, a Warner achou que, enfim, era a hora de Kal-El renascer das cinzas. Sair da escuridão do esquecimento, e ir direto para a luz da ascensão.

Para isso, todo cuidado era pouco. A DC precisava escolher o seu melhor time, escalar um elenco de peso, em meio a uma produção que fizesse jus a grandeza do projeto. E de lá pra cá, muita coisa aconteceu; vários nomes de diretores, roteiristas e atores foram cogitados. Mas não querendo arriscar, chamaram o que tinham de melhor na casa e começaram as produções.

A chegada, a estadia e os frutos colhidos.

Depois de sete longos anos de espera, chega aos cinemas O Homem de Aço. O longa é produzido por Christopher Nolan, que despensa maiores comentários, e dirigido por Zack Snyder, o realizador de obras como 300 e Watchmen. O roteiro é assinado porDavid S. Goyer, que, junto aos irmãos Nolan, é um dos responsáveis pelos títulos já citados do Batman, mas que também havia feito, recentemente, o terrível Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança – simbolizando sua irregular trajetória na profissão, que vai do excelente ao catastrófico.

O ainda pouco popular Henry Cavill foi escolhido para ser o Clark Kent. Com a ideia de que um rosto desconhecido seria a melhor opção para criar identificação com o público. Já o restante do elenco traz nomes como Amy AdamsRussell CroweMichael Shannon, Diane LaneKevin CostnerLaurence Fishburne e outros. Um cast invejável, mesmo aos olhos do pior pessimista.

Já adentrando na obra, ao longo de praticamente todo seu primeiro ato, a película aborda as origens da família El e a gênese final do planeta Krypton. Somos apresentados a um Jor-El jamais visto antes, que ganha vida por um Russel Crowe (Gladiador) viril e enérgico. Que mais parece o grande herói desse conto, já travando batalhas corporais e verbais com o General Zod, interpretado corajosamente por Michael Shannon (Foi Apenas Um Sonho). Que berra, numa mescla de raiva, inveja e soberba, a todo o momento.

Com a ciência que Krypton seria fatalmente extinguida, Jor-El reúne um conselho para decidir o futuro do seu planeta e, ao mesmo tempo, é surpreendido com um golpe de estado, dado por Zod – que aqui perde totalmente sua figura de lorde hierárquico, com o costumeiro “Kneel before Zod!”, e se transforma num militar barra pesada, que não sossega. Às pressas, a família El envia para a Terra, a última esperança de Krypton, o seu filho, com intuito de salvar o último herdeiro legitimo daquela civilização.

Logo somos novamente surpreendidos pela curiosa narrativa engendrada por Snyder. Existem tantos flashbacks, pontuais, dentro da trama, que poderíamos dizer que o filme possui um formato não linear, ao contar de sua história. Algo muito interessante, mas perigoso, pois, com qualquer deslize, a coisa poderia desandar. Ou ainda pior, pode deixar o espectador perdido, em meio a tudo aquilo. O que não acontece por aqui.

Mesmo com certos problemas de montagem, principalmente por alguns raccords não funcionarem organicamente, entre as transições das cenas. Em dados momentos, não consegue situar, de pronto, a plateia no andamento que almeja. Mas que, de um modo geral, funciona e explana bem todos os tópicos desejados pelo diretor – que aqui, felizmente, deixa de lado o seu vício dos slow motions. Zack sempre foi um bom cineasta e, mesmo que tenha tropeçado com o pavoroso Sucker Punch – Mundo Surreal, aqui ele volta a acertar e realiza um trabalho bastante seguro.

A infância de Clark, em Smallville, também é retratada através de eventos e lembranças. Talvez nelas esteja a verdadeira essência do personagem. Não só por mostrar a família Kent em sua intimidade, fazendo com que vejamos o garoto sendo ele mesmo, com seus defeitos. Mas também pelas qualidades e os valores morais agregados de seu pai. Essa, que por sinal, é a grande sacada do filme: a relação de Jonathan e Clark. Maravilhosamente explorada, mesmo que em poucos momentos, os diálogos da dupla são belíssimos e importantíssimos para a conclusão do conto. Quando o Superman precisa tomar uma decisão que vai totalmente contra sua natureza, mas é irrefutável para com a vida humana: Às vezes precisamos seguir rumos que podem machucar alguns, mas é fundamental para o bem de todos.

Uma coisa que deixou a desejar, e que é um dos tópicos mais interessantes da cronologia do personagem, é a relação entre ele e Lois Lane. Conhecidos de uma maneira forçadamente inusitada e apaixonados pelo acaso, o casal não funciona. Diferente de Amy Adams (O Mestre) que, quando em tela, rouba sempre a cena. E, principalmente, Henry Cavill (Imortais) que possui muito carisma, grande força física e atua bem, quando é exigido. É um Superman que atinge muito mais êxito que o do Brandon Routh. Mesmo não se equiparando a Reeve.

A trilha sonora de Hans Zimmer (A Origem) é um show a parte. Mais uma vez é grave e pesada, intensa e profunda, sendo fundamental para impressão de clima em vários momentos. Sons bizarros nunca ouvidos dão um ar alienígena as suas canções. Zimmer, novamente, entrega um trabalho que beira a perfeição. E, em relação à fotografia de Amir Mokri (O Senhor das Armas), o mesmo, incialmente começa utilizando lentes mais frias e escuras que, ao passar do tempo, vão ficando cada vez mais claras e vividas. Fazendo uma bela rima com a função do personagem, perante aquele universo.

O legado e o futuro.

Visto de forma aparente, o filme pode parecer meio oco, em seu plot principal. E tem um roteiro assumidamente simplista e honesto. De fato, 75% do seu tempo, é gasto com cenas de batalhas, explosões e perseguições. É claro o exagero do longa, diante dos eventos. Mas, fico pensando, que muito disso se deve, justamente, ao fato de Superman – O Retorno ser tão cobrado por mais cenas de entraves. Esse ultrapassou o sentido lógico, e extrapola a todo o momento. Você não respira. Mas tais tomadas não são ruins e confusas, pelo contrário, pela primeira vez pude ver nos cinemas uma verdadeira luta do Superman contra um ser tão poderoso quanto ele. E, claro, dois deuses lutando em meio a tantas construções, destruições colossais e vítimas, certamente aconteceriam.

Tenho quase certeza que boa parte dos fãs mais antigos do personagem poderão não gostar da nova abordagem de Zack Snyder, para com a origem do herói. É algo realmente novo, reformulado e transposto para a nossa realidade. É aí que me lembrei de Batman Begins, um filme que constrói brilhantemente a origem de Bruce Wayne, cria o processo de identificação e imprime totalmente a essência da figura dramática. Mas que foi todo recriado novamente. Gerando discórdia entre os mais puristas. Com o passar dos anos, isto foi ficando cada vez mais esquecido, e ao final de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, tal origem nos parecia mais palpável. Então, vendo a obra pela obra, gostei dessa reconstrução.

É novo? Sim, completamente, mas todas as alusões a grandes contos como Pelo Amanhã (onde num episódio em que Clark se confessa com um padre, numa cena belíssima, que mais uma vez é comparada a figura do Superman a de Jesus Cristo), O Legado das Estrelas (em várias passagens e, especialmente, na despedida do bebê Kal-El), Origem Secreta (nos diálogos de Jor-El com o filho), Terra Um (nas batalhas com o vilão e na queda sobre o plasma), enfim, em diversas outras tiradas que sapecam o filme e fazem com que os fãs mais curiosos, cacem suas referências, que são fundamentais para estabelecer o que realmente importa nisso tudo: o interior do personagem.

E, sim, acredito num futuro não tão distante, não só para novas aventuras do Superman, mas também sobre o Universo DC – citação a outros heróis tem, fiquem atentos. A Warner agora tem tudo que precisa para construir um império tão rico e poderoso quanto o da Marvel Studios. Basta querer e investir pesado em cima disso. Aguardemos, então, os próximos capítulos.

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1 comment

  1. Avatar
    sara caldeira 27 outubro, 2017 at 14:22 Responder

    Gostei esta versão de Superman, Russell Crowe é perfeito para este tipo de filmes, seus filmes são excelentes. Sempre achei o seu trabalho excepcional, é de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores, o demonstrou o filme Dois Caras Legais um filme que se converteu em um dos meus preferidos. Ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador.

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