A Fotógrafa: Um espécime do horror espanhol, que mistura clichês de possessão e exploração de fantasmas

Terror B espanhol, A Fotógrafa é destaque no festival curitibano Djanho

A Fotógrafa: Um espécime do horror espanhol, que mistura clichês de possessão e exploração de fantasmas

A Fotógrafa é um filme de terror espanhol que está presente na lista de longas-metragens do Djanho. Essa é uma história que mistura linhas temporais e subgêneros do cinema de horror trash, reunindo em si elementos de filmes de possessão, de assombração e até nunsploitation, já que é pauta seu medo em convivência com freiras.

A obra é idealizada e realizada por Carlos Marbán, que além de dirigir, também produz, escreve e monta essa obra.

A sinopse fala de uma jovem fotógrafa de post-mortem, que é contratada para registrar imagens de um corpo sem vida, de uma menina que vivia em um orfanato no norte da Espanha. Quando essa profissional vai tentar documentar a tragédia, descobre que algo terrível ronda o lugar.

Na verdade, o horror já ocorre em tela antes mesmo dessa personagem, Inna, entrar em cena, mas falaremos disso mais à frente.

Além dessas questões, o longa ainda tenta traçar paralelos com filmes de terror mainstream, inclusive aludindo diretamente aos episódios do chamado Invocaverso, o universo compartilhado a partir das obras de James Wan, em especial Invocação do Mal e Annabelle.

Djanho:

Esse é um dos cinco longas-metragens presentes na mostra on-line do Djanho! Mostra internacional e interbairros de cinema fantástico de Curitiba, piá!.

A Fotógrafa: Um espécime do horror espanhol, que mistura clichês de possessão e exploração de fantasmas

Além desse estão Aloha, Malandro de Evandro Scorsin, Sob o Domínio de Julio Cesar Napoli, Saltimbancos de Rafael Van Hayden e Tropícal SOV de Petter Baiestorf e outros 22 realizadores.

Por acaso, esse A Fotógrafa é o único filme não brasileiro da mostra on-line, ao menos entre os longas.

A direção é de Marbán, roteiro e produção idem. Também é produtor a Sendín&Asociados e Israel Frutos é produtor associado.

Nomenclatura e produtoras:

O título original é La Fotógrafa, enquanto países de língua inglesa o chamam de The Photographer.

As produtoras são a Cinereel, enquanto a Black Mandala distribuiu em quase todo o mundo e funciona como representante de vendas na maior parte dos países.

Quem Fez:

Marbán trabalhou nos longas Herederas e Cursed. Fez os curtas Bella Post-Mortem, El legado de Alicia, Last Hope e Lucy.

Sendín&Asociados produziu apenas esse.

Já Frutos trabalha mais com departamento de câmeras. Foi gaffer em El Legado de Alicia e Dark Girls, já em Cursed foi cinematógrafo e trabalhou com iluminação. Foi diretor de fotografia em Last Hope e nesse, além de ter um papel de Cursed.

Narrativa:

Antes de começar a história, há um aviso de que as imagens que podem causar sensibilidade no espectador, nas bordas há objetos que remontam a filmes revelados antigos, inclusive com selos de marca Kodak.

Letreiros anunciam que a história se passa em Castilla, em La Mancha, uma comunidade autônoma espanhola. Filmagens aéreas, via drone, fazem a narrativa passear pelos céus da cidade antiga.

Nesse trecho, tudo leva a crer que é uma obra de época e de fato é.

Orfanato 1959

A cena inicial ocorre sem contexto, ou seja, já inicia com ação. Nela, pessoas andam em calabouços, segurando uma possuída, que está presa a uma cruz.

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A questão de não explicar nada normalmente é um aspecto positivo em filmes de tipo, mas normalmente são introduzidos elementos visuais que suprimem a não exposição, para que o espectador consiga chegar a uma conclusão sozinho.

No caso desse A Fotógrafa há muita informação em tela, mas a maioria não coaduna com as informações que o filme tenta propagar.

Infância roubada

A vítima do infortúnio espiritual é uma menina, que é chamada de Alejandra (Noah Casas) momentos depois.

A garota urra, dá gritos graves, guturais artificiais e que lembram as diversas tentativas de imitar o clássico O Exorcista de William Friedkin.

Ao redor da personagem se percebe uma cinematografia toda baseada em tons sépia e alaranjados.

Tom de humor

O caráter do filme parece dúbio, há momentos onde se leva muito a sério e em outros não. O fato de ser assim já o joga dentro de uma estética do que se costuma chamar de camp, ou seja, é provável que seu lado trash seja proposital.

Ainda assim é inegável que ele é desequilibrado, na maior parte dos momentos.

Seu lado "trasheira" acerta especialmente no papel do padre Carlos, um sujeito careca e digno de respeito, vivido por Alberto Tierrez.

Ele tenta expulsar o capeta da menina, mas não sabe seu nome.

Quando a mesma "desmaia", ele a solta, fazendo com que ela agarre o pescoço das duas mulheres que o auxiliam.

Não há qualquer cuidado nesse momento, a situação simplesmente ocorre a despeito da experiência dos personagens.

Mais tarde até se detalha qual era o papel do padre Carlos e o que ele fazia no passado, mas nesse ponto, Alejandra consegue fazer desmaiar as duas freiras, Maria (Marian Garrido) e Nuria (Samantha Jaramillo).

A sequência primeiramente faz pensar que as duas morreram, mas não, a possuída bateu para apenas fazer elas desmaiarem. As duas acordam sem demora, levantam e testemunha tudo que ocorre.

A busca por um nome

Parte importante do exorcismo é o de tentar saber o nome do ser profano. Padre Carlos tenta fazer isso, mas não consegue.

Esse clichê é parte do mote principal de Invocação do Mal 2, filme de James Wan em que a demonologista Lorraine Warren libera uma família britânica da ação de um demônio depois de descobrir que a entidade Valak está sobre eles.

Aqui Carlos não tem essa sorte. A criança se contorce de uma maneira que denuncia as filmagens de maneira mais preguiçosa e óbvia possível.

No meio do processo, fica evidente que a ideia era passar o demônio para o corpo do padre, tal qual ocorreu com Karras, em O Exorcista. Alejandra se vira e faz o sacerdote ser possuído - rola até lente amarela nos olhos dele.

Ordens, fins trágicos e indagações sem sentido

Ainda exibindo o controle do mal, a menininha toma as rédeas da situação e ordena que o padre se mate, depois a criança repousa na mão de uma das mulheres e morre, em uma sequência que faz pouco sentido.

Alejandra está morta e o motivo é um mistério, o demônio saiu e matou? A mulher apertou sua garganta e quebrou o pescoço ainda que a personagem não pareceu fazer força alguma? Um possesso capaz de matar um padre, deixaria o seu receptáculo ter sua vida encerrada de maneira tão tola?

Todas essas perguntas ficam sem respostas. Não fica claro qual é a intenção e toda a problemática do filme versa sobre isso, sobre lacunas mal explicadas.

A versão e as testemunhas

Uma das senhores decide a versão que diriam: foi um acidente, que o padre morreu tragicamente, em um acidente e a criança teve um surto de raiva.

Essa versão seria discutida, visto que duas crianças viram o acordo entre as mulheres, ou seja o que deveria ser algo confidencial, vira um segredo bagunçado e uma mentira propalada mal, visto que haviam testemunhas.

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Depois desse momento, há uma citação, de uma canção infantil de 1872, de autor desconhecido.

Ojos de vidrio, piel de cera, en el orfanato, el tiempo espera.

Las muñecas ríen, las niñas lloran y en cada rincón, los sueños devoran

Fotografias dos mortos

Sem introdução, o quadro muda. Passa um tempo e é mostrada uma criança chegando de carro ao orfanato.

O momento é propositalmente dúbio, já que a tal fotógrafa do título, Inna, interpretada por Daniela Casas, parece ter a mesma idade e tamanho das internas.

A Fotógrafa: Um espécime do horror espanhol, que mistura clichês de possessão e exploração de fantasmas

No primeiro momento, ela fala com a irmã Maria, a mesma do trecho inicial. A sacerdotisa só recebe um nome nesse momento, aliás.

Inna é imediatista, deseja ver a criança morta, mas é interrompida, chamada justamente de insensível e rude, embora essa não fosse sua intenção. 

Logo depois aparece a irmã Nuria, que a acompanha e apresenta o convento, deixando Inna em um quarto, que em certo canto, possui uma boneca Annabelle, uma que parece ser uma réplica da utilizada nos filmes de James Wan.

Para quem não viu, não é aparece uma Raggedy Ann, mas sim um objeto exatamente igual ao dos filmes Invocação do Mal.

Contextos

Inna conversa com Elena e Marta, as duas meninas que testemunharam a morte de Alejandra e que são interpretadas por Leyre Azpiri e Bárbara Martínez

As duas avisam que o motivo da morte da colega não teve nada a ver com mordida de rato, mas quando estão prestes a contar para a fotógrafa, são interrompidas por Maria.

Depois de fotografar a menina falecida - e de ser elogiada por tal - ela passa a ver a criança nos quartos, sentada onde estava Annabelle...essas aparições são meio bizarras, por conta de parecer oriunda de filmes de terror mais sérios que esse A Fotógrafa.

O medo em tela

O filme é relativamente curto, tem pouco mais de 70 minutos e aparentemente há um esforço para povoar ele com momentos de sustos, mas alguns parecem ser apenas gratuitos, como as crianças testemunhando aparições de fantasmas na floresta.

Esses trechos parecem jogados, com as meninas vendo seus parentes em formas fantastmagóricas, ou aparições de Alejandra, que parecem ser na verdade ilusões dos espíritos maus. 

Como não há introdução, parece ser gratuito, além de confuso, já que a jovem Elena sofre um ataque, é golpeada com pedras, depois retorna para o orfanato, dessa vez como agressora, para quase afogar sua amiga na banheira.

A Fotógrafa: Um espécime do horror espanhol, que mistura clichês de possessão e exploração de fantasmas

A dúvida que fica é: ela morreu e voltou como espectro, para bater na companheira de orfandade? Ela sobreviveu e o demônio/fantasma atacou a outra menina? Não se desenvolve nada.

O curioso é que as crianças começam q agir como monstros, mas não tem possuem uma caracterização especial, nem mínima.

Historia do passado

Nuria conta sobre o passado da menina possuída, diz que Alejandra chegou da Alemanha, que sua família toda morreu em um acidente incendiário.

Ele teve dificuldades em se entrosar, mas quebrou isso com o padre Carlos.

Se antes não havia exposição, aqui sobra explicação. Carlos era diretor do local, mas sua postura mudou, depois que foi resolver um exorcismo na França e trouxe uma boneca, um brinquedo de pano, não Annabelle.

Esse brinquedo carregaria maldições e demônios. Ao ser escondida pelo padre, Alejandra teve acesso a ela, pegou e a partir disso os problemas começaram.

Irresponsabilidade e acúmulo de funções:

Surpreende alguns fatos, como o padre ser ao mesmo tempo um exorcista requisitado no estrangeiro e diretor de um orfanato. Não havia ninguém melhor habilitado para uma das funções?

E sendo assim, é curioso que ele não tenha o mínimo de cuidado em guardar um objeto profano longe do alcance de crianças, afinal, ele é cercado delas, de meninas problemáticas, carentes e provavelmente sem brinquedos.

Qualquer uma delas gostaria de ter uma boneca, por mais simples que fosse.

A monotonia de crianças atacando crianças acaba por volta do minuto 45, onde enfim aparece um diabo atacando, ou melhor, um sujeito vestido de diabo, que aparente ser um cosplay barato, mas que é interpretado por Jorge Turlán.

Mudança tardia

Vale lembrar que isso ocorre já no terço final, de um filme curto, aliás, que tem apenas 72 minutos de duração. 

A Fotógrafa: Um espécime do horror espanhol, que mistura clichês de possessão e exploração de fantasmas

Curioso como A Fotógrafa demora demais a colocar seus horrores em tela. Tendo ficado mais de 40 minutos só com sustos falsos, se deixa para juntar todas as aparições assustadoras juntas, depois de toda a monotonia de portas batendo e janelas sendo arranhadas com trilha sonora sensacionalista, entrecortadas por uma ou outra cena bonita.

As aparições parecem andando tortamente, são pessoas atarracadas, algumas com uma maquiagem especial discreta e fina, mas ainda assim, presente.

É curioso.

Depois uma série de mortes, Inna amontoa corpos de meninas, para tirar foto.

Depois que aperta o botão de registro, sai uma aranha de CGI de sua narina.

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Epílogo

Cenário e atmosfera mudam, em uma cena que parece estar no presente.

Marbán mostra uma família, chegando em uma casa e novamente não há explicação, somente um pai e uma filha entrando em silêncio.

Os dois estão visitando a casa da avó, que era fotógrafa, ou seja, essa é a casa de Inna ou de uma descendente sua, já que não fica claro se Inna é avó, bisavó ou tataravó da pequena Talia (Beatriz Mirleanu) que protagoniza esse momento.

A menina acha réplica de Annabelle, também a boneca que Alejandra quis e a câmera "maldita", além das fotos do post-mortem.

O pai da menina, Noah (Noah Sánchez) explica que a família é formada por fotógrafos e deixa a câmera Rolleiflex da senhora em um cômodo, junto de outras, onde ela poderia, supostamente causar mal, tal qual a boneca dos momentos anteriores.

No final são mostrados jornais antigos, na verdade, nos créditos, que teoricamente, dão conta do fim trágico das mulheres da família, em uma demonstração de maldição familiar que pode abarcar Noah e Talita.

Esse momento deixa o espectador confuso, já que os créditos possuem uma sessão de exorcismo no pano de fundo, com uma menina com a voz alterada e prótese dentária, muito mais assustadora que a sessão do início do filme.

A pergunta que fica é por que não usaram algo semelhante e por que as crianças possuídas não tinham qualquer sinal de que sofriam ação do mal.

A impressão que fica é que havia uma quantidade X de dinheiro a ser gasto e depois que filmaram as sequências finais, a produção teve que rodar o ápice do horror sem verba para sequer colocar uma sombra no rosto das crianças.

A Fotógrafa é um filme que tem boas ideias, mas parece mais preocupado em fazer referências do que em desenvolver um terror próprio, o que é uma pena, visto que há muito potencial.

TRAILER

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