Conhecendo um Clássico: O Vingador do Futuro

O que torna um filme clássico? Seria sua importância para a sétima arte? A visão ousada de seus realizadores? Um roteiro envolvente e que leva a uma profunda reflexão? Tudo isso? Ou será que o mero fato de resistir ao tempo basta para eleger uma obra como clássica? É gratificante revisitar O Vingador do Futuro e constatar o quanto o longa envelheceu bem após 22 anos de seu lançamento nos cinemas. Dirigido por Paul Verhoeven e adaptado de um conto de Philip Dick (o mesmo autor de Blade Runner e Minority Report), o filme com Arnold Schwarzenegger consegue passar no teste do tempo em praticamente todos os quesitos e, principalmente, no que diz respeito à trama e seus efeitos visuais (e considerar que apenas uma cena da produção faz uso de computação gráfica aumenta ainda mais a competência nessa área).

Na trama, Quaid (Schwarzenegger) é um operário que sonha (literalmente) em um dia ir para Marte. Mas como não tem dinheiro pra isso e nem sua esposa (Sharon Stone) acha a idéia muito boa, decide fazer uma visita à Rekall, empresa especializada em implantar memórias. O problema é que chegando lá, o protagonista não consegue passar pelo experimento, já que a máquina acusa rejeição porque a memória que seria implantada já existe em sua mente. A partir daí, Quaid começa a ser caçado e descobre coisas sobre seu passado que envolvem uma revolta de trabalhadores no Planeta Vermelho, uma grande corporação e uma vida dupla que nunca imaginou possuir.

Dotado de um ritmo acelerado para a época, O Vingador do Futuro faz uso de grandiosas cenas de ação no jogo de gato e rato que acomete o personagem de Schwarzenegger. Além disso, Verhoeven traz aquela que é uma de suas marcas registradas: o comentário social na forma de sátira. Como em RoboCop, o diretor insere, diversas vezes, um trecho de telejornal, principalmente para relatar a luta em Marte, sempre com frases irônicas como “o mínimo uso de força foi utilizado”, quando a imagem mostra uma violenta luta entre trabalhadores e policiais. Aliás, o cineasta não tem pudores quando o assunto é violência, que de tão exagerada chega a soar engraçada, propositalmente, como quando Quaid usa um mero transeunte como escudo humano. Além disso, o próprio conflito envolvendo classes trabalhadoras reflete uma situação que, se era atual na época do lançamento do filme (1990), não deixou de ser manchete nos dias de hoje. Operários sempre são tratados como mão-de-obra dispensável até que haja algum tipo de rebelião.

Outra grande idéia do cineasta foi conduzir seu longa mantendo um constante ar de paranóia. Seria tudo um sonho do protagonista? A perseguição que passa a sofrer significa exatamente o quê? Em quem Quaid pode realmente confiar, se nem mesmo sua memória deve ser levada em consideração? Essas perguntas permeiam o filme até seu clímax, fazendo com que O Vingador do Futuro não seja apenas uma ficção científica de ação, mas também uma produção que permite ao espectador certo nível de reflexão. Nada complexo como um Blade Runner, mas também nada tão vazio que possa ser facilmente esquecido após ser visto.

É interessante também observar na película, a influência que exerceria mais tarde em outras obras de Sci-fi, em especial Matrix, de 1999. De todas as cenas que remetem ao filme dos Wachowski, uma envolvendo uma pílula vermelha chama bastante atenção. Não é segredo para ninguém que o longa lançado no final dos anos 90 faz inúmeras referências ao gênero e O Vingador do Futuro, com certeza, é uma delas. Além disso, momentos memoráveis não faltam como a famigerada mulher de três seios, ou o famoso “Abra sua mente” proferido por Kuato, a criatura mutante, líder dos insurgentes de Marte.

Mas, ao espectador que espera duas horas de ação escapista, o que realmente pode impressionar são os incríveis efeitos práticos, que unem matte painting, maquetes e animatrônicos e que são os reais responsáveis por fazerem o filme funcionar tão bem após tanto tempo. E mesmo a sua única cena envolvendo CGI (o raio-x que detecta armas) ainda é convincente para não comprometer a experiência. Se apenas resistir ao tempo pode ser suficiente para tornar um filme clássico, então O Vingador do Futuro já está nessa classificação dentro de seu gênero, mesmo com vícios típicos do momento em que foi concebido. Numa época em que a tecnologia avança tão rápido que obras de apenas 5 anos podem já não convencer em seus efeitos, a produção de 1990 permanece inabalável na memória de quem o viu.

Alexandre Luiz

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