Às vésperas da estreia do live action da Disney, destacamos algumas versões do conto de fadas Branca de Neve e os Sete Anões.
Há muita expectativa em relação ao lançamento de Branca de Neve via estúdios Disney, a versão em live action que estreará nessa semana. A obra dirigida por Mark Webb e protagonizada por Rachel Zegler tem gerado discussão, burburinho e muita briga, para além da comparação de beleza da protagonista com a antagonista, que é interpretada por Gal Gadot.
As questões alvos de discussão envolvem pessoas com nanismo que foram excluídas e substituídas por CGI, dezenas de declarações polêmicas da interprete de Branca de Neve, muita acusação de que o filme recai sobre a cultura woke - que entre essas celeumas é das mais burras possíveis - além comparações esdrúxulas a respeito das feições de Gadot serem mais convidativas que as da atriz principal.
Sobre esse último, é bom sempre lembrar aos detratores: outras versões de Branca de Neve sofreram com o mesmo "mal".
Em Branca de Neve e o Caçador o papel da Madrasta era feita por Charlize Theron, atriz sul-africana que sempre foi considerada bela, enquanto Branca de Neve era Kristen Stewart, a moça que acabava de sair da popular saga de vampiros Crepúsculo.
Essa última também sofreu hate da internet, mas hoje é uma atriz respeitada, de gabarito e carreira extensa, que inclusive se distanciou do populacho mainstream e do cinema infanto-juvenil.
É curioso que Zegler hoje seja odiada, afinal, tal qual Stewart, ela também tem uma carreira premiada, inclusive esteve em Amor, Sublime Amor de Steven Spielberg, em um papel de destaque em um musical premiado, tal qual Branca de Neve.
Divagações à parte, esse artigo busca mostrar algumas versões curiosas desse clássico, resgatando um pouco de sua origem, apontando outras versões com atores.

A origem, com os Irmãos Grimm
Os estúdios Disney tinham por hábito utilizar histórias de domínio público, inspiradas em tradição oral, que passavam pela escrita de conto dos Irmãos Grimm.
Branca de Neve e os Sete Anões não é diferente.
Na verdade, esse é um conto de origem alemã, obviamente passado de geração a geração via oral, que foi adaptado para texto pelos dois irmãos Wilhelm e Jacob, conhecidos no original alemão Gebrüder Grimm.
A publicado ocorreu entre os anos de 1817 e 1822, em um livro com várias outras fábulas, intitulado Kinder-und Hausmärchen que traduzido seria Contos de Fada para Crianças e Adultos.
Outros contos famosos compilados pelos irmãos são Rei Sapo, Rapunzel, João e Maria, Cinderela, O Alfaiatezinho Valente, O Pequeno Polegar etc.
Branca de Neve e os Sete Anões é provavelmente o mais famoso entre os chamados Contos de Fadas, também graças a animação da Disney, lançada em 1937, intitulada como Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs) e tal qual boa parte dos outros trabalhos dos irmãos alemães, esse tem um pé no horror macabro.
No conto, em um primeiro momento se mostra uma rainha, que ao costurar deixa três gotas de sangue pingaram sobre a neve. Ela se admira com a beleza da cena e deseja que sua futura filha fosse alva como a neve, rubra como o sangue e com os cabelos negros como o ébano, em atenção a cor da janela que está próxima dos seus olhos.
Branca de Neve é batizada por seu pai assim, já que tem a pele muito clara, lábios rubros e cabelos cor de ébano.
Sua mãe, a tal rainha, acaba morrendo cedo, logo após dar a luz a menina, ou seja, as duas jamais tiveram a oportunidade de se conhecerem.
Outra diferença grande para o filme da Disney é que após a tentativa do caçador e consequente encontro de Branca com os anões, a Rainha tentou mais de uma vez matar sua enteada, se transformando em uma velha senhora vendedora de laços, que tentou enforcar a menina.
Depois a Madrasta tentou vender uma escova de cabelos enfeitiçada, mas os anões salvaram a mocinha, jogando o objeto fora assim que encontraram a princesa desmaiada, quebrando o feitiço que a fazia dormir.
A Bruxa enfim se disfarçou de vendedora de maçãs e deu a ela uma fruta enfeitiçada. Branca de Neve então ingeriu um pedaço e engasgou, desfalecendo, ficando apagada.
Os anões encontraram ela, acharam que estava morta e sem coragem para enterrar a menina, colocaram ela em um vidro, exposta a natureza.
Foi então que um príncipe que ali passava a encontrou a moça e se apaixonou, mesmo que ela estivesse daquela forma, deitada, sem vida e inerte.

Educado, o monarca decidiu perguntar se poderia levar ela até o castelo onde morava, de carruagem, os anões sem vontade de sepultar a moça, aceitaram. No caminho e no balanço do trânsito, a maçã saiu de sua garganta e ela acordou novamente.
Já o fim da Rainha Má se dá em uma festa, onde estava o Príncipe e Branca de Neve. A vilã saiu contrariada da reunião social, ao ver que seus planos deram errado, além de sair munida de um sentimento invejoso.
Nervosa, ela tropeça em um par de botas de ferro que estavam aquecidas. Os calçados fixaram nos pés dela e a dor a obrigou a dançar. Ela o fez até finalmente cair, já morta.
As versões anteriores
Como bem se sabe, a versão animada mais célebre não foi a primeira representação do conto no cinema. Uma dessas, foi inclusive inspiração para Walt Disney.
Essa foi lançada em 1916, foi dirigida por J. Searle Dawley e foi considerada perdida por anos, até ser descoberta por George Eastman House no Dutch Film Archive e preservado desde então.
Em 1916 também foi lançada outra versão, de Charles Weston. Essas duas foram produzidas nos Estados Unidos. Certamente houveram outras, pelo mundo inteiro, algumas catalogadas, outras não.
Já em 1993, Dave Fleischer e Roland Crandall fizeram um curta, de 7 minutos, onde a personagem Betty Boop interpreta uma versão da princesa adormecida.

Dave é um dos famosos irmãos Fleischer, junto a Lou Fleischer, que compunha as músicas dos filmes da companhia Studios Fleischer, além do também animador Max Fleischer.
O grupo/família produziram desenhos do Marinheiro Popeye, Betty Boop e a elogiadíssima animação do Superman, de 1942.
A Versão de Disney e o medo
A versão animada que Walt Disney produziu, lançada em 1937, dirigida por David Hand (que é creditado como supervisor de direção) tem seus momentos assustadores.
Há de lembrar que em 1937, não havia o costume de lançar animações em longa-metragem, até por isso, a questão de créditos é difícil de identificar.
Hand é supervisor de direção, Walt Disney não foi creditado como produtor e ainda há diretores de sequência, que são compostos por William Cottrell, Wilfred Jackson, Larry Morey, Perce Pearce e Ben Sharpsteen.
Como essa é praticamente a primeira aparição de um conto de fadas da Disney em versão longa-metragem, ainda não havia uma fórmula bem estabelecida, talvez retornemos a falar dessa animação em breve, destacando essa forma de abordar seus temas.
Ainda que a temática dos Grimm tenha sido suavizada, é inegável que há momentos bem assustadores, especialmente dentro dos pesadelos da personagem principal.
A falta de um molde certamente ajudou a manter essa chama de medo viva, o que aliás, é ótimo. Vários dos filmes da era dourada da Disney tem momentos mais tristemente dramático e dignos de fitas de horror pesadas.
Depois de saber que estava sendo perseguida por sua madrasta, Branca de Neve tenta fugir, se embrenha na floresta e imagina que está sendo cercada por seres monstruosos, com garras, olhos maléficos, a partir das árvores que ali estão.

Todos os momentos envolvendo a Madrasta se tornando uma velha bruxa também compõem essa aura de terror, especialmente no momento em que se transforma a maçã em uma fruta venenosa, formando uma caveira azul e preta, de composição belíssima.
Branca de Neve e os Sete Anões influenciaria boa parte dos outros filmes do estúdio, fossem obras de princesa, já que A Bela Adormecida e Cinderela também tem seus momentos assustadores, ou mesmo o conjunto de curtas Fantasia, que apresenta versões assustadoras de mitos antigos e novos.
Dezenas de versões
Esse artigo não pretende ser uma lista completa sobre todas as encarnações de carne e osso da personagem - um dia quem sabe faremos isso - mas podemos destacar e citar um ou outra, como em 1951, Os 7 Anões Contra o Príncipe Negro,
Também houve Branca de Neve de 1955, filme lançado pela Alemanha Ocidental, além do longa O Mundo Maravilhoso dos Irmãos Grimm de 1962, em que a personagem é citada e abordada.
A Pornochanchada
O Brasil teve uma versão de Branca de Neve para chamar de sua. Trata-se de Histórias Que Nossas Babás Não Contavam.
Dirigido por Oswaldo de Oliveira, lançada em 1979, é uma comédia rasgada, de cunho erótico, que tem Adele Fátima como protagonista.

Fátima faz Clara das Neves, uma linda e voluptuosa princesa, que se relaciona com um príncipe (que por sua vez, também pega a rainha/madrasta) e acaba cedendo a tentação de dormir com seis dos sete anões, excluindo claro o Dengoso/Delicado, que é um personagem gay bastante estereotipado.
A fita foge do politicamente correto, como aliás era praxe nos filmes de época.
Se explora bastante as curvas, sensualidade e a nudez da protagonista, que estava no auge da beleza. Ainda assim, acaba referenciando a diversidade sexual, mesmo que seja baseado em clichês e estereótipos.
Outras versões gringas
A personagem também esteve no seriado Teatro dos Contos de Fadas, lançado em julho de 1984, cuja figura mais famosa do elenco era Vanessa Redgrave como a Madrasta.
A Cannon Group lançou em 1987 Branca de Neve e os Sete Anões, com Diana Rigg como Rainha Má e Sarah Patterson como Branca de Neve. Houve a série Espelho Encantado, de título original The Charmings, também nos anos 1980.
A versão voltada para a dark fantasy
Um grande destaque nessa lista é Branca de Neve: Um Conto de Fadas de Terror chamada originalmente Snow White: A Tale of Terror.
Dirigido por Michael Cohn, o elenco do filme é estrelado, com Sigourney Weaver, Sam Neill e Gil Bellows.
Essa é uma versão diferenciada, com bons efeitos de maquiagem e que foi programada para o cinema, mas acabou sendo lançada no canal Showtime.
História adulta, com várias menções a sexo, o destaque maior vai para Sigourney Weaver, que gostou demais de utilizar a maquiagem de bruxa.

Seu colega de elenco, Sam Neill, não conseguia ficar perto dela caracterizada, de tão incômoda que ela parecia.
Curiosamente, Ellen Ripley é chamada de Branca de Neve em Aliens: O Resgate e é despertada de um sono profundo durante toda a franquia, a começar por Alien - O 8º Passageiro em 1979, ou seja, sua carreira já continha elementos e referências a personagem citada.
Alguns aspectos dessa versão guardam semelhanças com Branca de Neve e o Caçador, como o fato da Rainha Má ter um irmão que atua como um servo, também os corvos aparecendo como símbolos do mal.
Houve também uma versão portuguesa, chamada Branca de Neve, de João César Monteiro.
A Branca de Neve/Lana Lang
Em 2001 foi lançada um telefilme curioso, que passava muito no SBT, graças ao fato de ser protagonizado por Kristin Kreuk, que na época das reprises televisivas, estava no elenco principal de Smallville: As Aventuras do Superboy fazendo o interesse romântico do jovem Clark, a maravilhosa Lana Lang.
Essa versão tem um elenco consideravelmente famoso, que ajuda Kreuk a brilhar, mesmo sendo uma desconhecida.
Quem abrilhanta a obra junto com ela é Miranda Richardson, de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e As Horas. Ela faz a vilã, a Madrasta Má. Também tem participações aqui Vera Farmiga, Clancy Brown, Vincent Schiavelli e Warwick Davis.
Chama a atenção que a obra é bastante colorida, de uma forma gritante até.

Infelizmente há poucos elementos de terror, embora tenha seus momentos assustadores.
Em 2009 houveram dois telefilmes, o alemão Schneewittchen de Thomas Freundner e o francês Blanche Neige de Angelin Preljocaj.
Já na série Era Uma Vez (Onde Upon a Time) a personagem em destaque, inclusive se torna rainha. Aqui ela é interpretada por Ginnifer Goodwin, em 134 episódios.

Houve em 2012 um filme espanhol, chamado Branca de Neve (Blancanieves) de Pablo Berger, também Grimm's Snow White de Rachel Lee Goldenberg.
David DeCoteau fez o seu Snow White: A Deadly Summer, que foi totalmente financiado pelo diretor. Já falamos de um filme dele, A Noite das Vampiras, que tal qual esse, é barato e muito apelativo.
Ainda em 2012 houve uma dupla de filmes que adaptavam a história, o já citado Branca de Neve e o Caçador, que mirava ser um épico de ação e Espelho, Espelho Meu, de Tarsem Singh, que conta com Lilly Collins, Armie Hammer e Julia Roberts.
A personagem foi mencionada no especial da Disney Channel Descendentes e em suas sequências, também no trash Avengers Grimm, uma obra do cinema B que trata os personagens como figuras heroicas genéricas, imitando os Vingadores da Marvel.
Já em O Caçador e a Rainha do Gelo, o personagem de Chris Hemsworth retorna ao papel que fez em 2012, mas dessa vez sem Branca de Neve, estando ao lado das personagens Freya e Ravenna.
A versão anti woke
Com o lançamento da versão da Disney, começou um burburinho de que haveria uma alternativa mais conservadora de Branca de Neve, com a atriz e comentarista política Brett Cooper como a personagem principal.
Tudo que gira em torno desse filme parece parte de uma lenda urbana ou teoria da conspiração, inclusive o fato dele ter sido ou não feito e se será lançado.
O que se sabe é que Cooper é atriz e dramatizava a área de comentários do site conservador Daily Wire, que é um conglomerado de mídia conservador norte-americano com sede em Nashville, fundado em setembro de 2015 por Jeremy Boreing.
Esse é um portal abertamente de direita e partilha visões de tradicionalismo e antiglobalismo.
A obra inclusive teve um teaser trailer, que fez com que as pessoas achassem que a produção estava avançada.
Abaixo, o vídeo:
O produtor executivo desse, Ben Shapiro, revelou em uma entrevista com Will Jordan do The Critical Drinker que a decisão de fazer o filme foi uma resposta às reações negativas em relação à releitura de Branca de Neve pela Disney.
A ideia seria criar uma alternativa que contaria um conto de fadas mais tradicional para consumidores que não se sentem abraçados por um discurso mais inclusivo.
A previsão de lançamento
Tal qual ocorreu com o longa de Webb, esse também era para sair em 2024.
As pessoas responsáveis pela produtora Bentkey e The Daily Wire declaravam que fariam um filme sem viés político, embora levasse sua narrativa e temática para um lado que valorizava o status quo e a nostalgia típica do conservadorismo.
Curiosamente, as pessoas que defendem ideais de extrema direita têm a mania e obsessão de tratar a sua forma de ver como isenta, sem política e sem afetações, o que é obviamente uma mentira.
A saída de Brett
No entanto, Brett Cooper se desligou do site The Daily Wire e nada mais se falou a respeito.
A realidade é que quando esse material e teaser saiu, ainda não havia uma pré-produção, ou seja, não tinha roteiro, diretor, elenco, equipe de gravação ou montador, só havia um anúncio, em atenção a versão da Disney e é só isso.
Ainda assim é possível encontrar notícias na internet sobre pré-produção de Branca de Neve e o Enigma, que seria um segundo filme, no entanto nada mais foi compartilhado.
Ou o projeto está sendo feito às escondidas e vai ser lançado de surpresa, o que é improvável já que seria comercialmente um tiro no pé, já que dificilmente teria bom retorno financeiro, ou foi adiado/cancelado.
Alguns membros do secto anti-woke acreditam que o filme segue vivo, mesmo com a saída de Brett da Daily Wire, há até quem defenda que já foi tudo gravado, embora não pareça ser o caso.
O futuro da personagem
Com lançamento programado para o dia 20 de março de 2025, Branca de Neve tem uma série de complicações próprias, para além até das discussões políticas enfadonhas que o cercam.
É curioso que a maioria das refilmagens de clássicos que o estúdio tem feito sejam extremamente conservadores no ponto de ser uma representação quase exata da animação, como foi com O Rei Leão e A Bela e a Fera, enquanto esse não parece ser.
Nesse exato dia, 18 de março, deveremos ver a obra na cabine de imprensa e em breve retornaremos com as nossas impressões, além de outras críticas e análises, baseados nessa obra.
Até mais.