Crítica: Bravura Indômita (2011)

true-grit-international-posterRefilmagens estão sempre surgindo, para desespero de cinéfilos saudosistas e alegria dos estúdios, utilizando uma marca já consagrada para atrair novos públicos, que provavelmente não assistiriam a obra original. Na maioria das vezes a releitura de clássicos não agrada e por vários motivos. Pode ser por cuidado demais em ser fiel e acabar criando uma obra idêntica (e, portanto, sem sentido em existir), ou por casos opostos, na vontade de um diretor ou roteirista em tentar trazer algo novo, acabar deturpando a obra. Por sorte, Bravura Indômita, que estreia nesta sexta nos cinemas brasileiros, não é uma refilmagem, embora seja apresentada como uma. O que os irmãos Joel e Ethan Coen fizeram foi adaptar um livro que já havia sido filmado em 1969 com John Wayne no papel do delegado durão Rooster Cogburn. E, embora o primeiro filme tenha dado o Oscar de melhor ator ao lendário herói do gênero Western, a versão dos Coen consegue o impensável: ser infinitamente melhor.

O novo Bravura Indômita já ganha em fidelidade à obra original. O roteiro, também dos irmãos, chega a usar diálogos idênticos ao livro de Charles Portis. A verdade é que o texto original é muito mais a linha dos diretores do que era do realizador do longa dos anos 60. As sutilezas e o humor negro já são características dos Coen e eles viram na obra uma boa chance de realizar seu primeiro filme autenticamente de gênero sem perderem suas identidades no percurso. Outra grande vantagem desta nova produção é o poder de síntese da narrativa. Enquanto no original, somos apresentados à familia de Mattie Ross até o ato que culmina no assassinato de seu pai em uma longa sequência, agora temos uma narração de pouco mais de um minuto que situa o espectador sem parecer didática e já da pistas da personalidade da garota, interpretada com enorme competência pela jovem Hailee Steinfeld. Vale ressaltar que a personagem convence muito mais na direção dos Coen.

No primeiro ato do filme, até o momento em que Mattie parte com Cogburn (Jeff Bridges) e LaBeauf (Matt Damon) para a caça do vilão que matou seu pai, a história se desenrola de forma bem parecida à produção original. A partir deste ponto, os Coen seguem com uma abordagem mais própria transformando a caçada numa história muito mais humana. Bridges mostra novamente como a idade lhe fez bem e entrega um Cogburn que em momento algum tenta imitar John Wayne. Damon também não faz feio e há momentos em que o espectador até sente pena pelas constantes provocações do velho delegado, coisa que no original não acontecia. O personagem LaBeauf, no filme com Wayne é uma ponte para ressaltar Cogburn como um herói decadente. Aqui ele é mostrado de forma muito mais real e serve como ponte para revelar Cogburn como um sujeito que poucas pessoas poderiam se relacionar.

Pra ajudar a contar esse conto do velho oeste, Bravura Indômita tem a bela fotografia de Roger Deakins, que compõe quadros magníficos na tela, além da trilha de Carter Burwell, colaborador de longa data dos Coen, aqui fugindo do convencional e criando uma partitura minimalista ao invés de tentar copiar o estilo de Ennio Morricone, prática clichê em westerns contemporâneos.

A jornada percorrida por Mattie e Cogburn pode, as vezes, lembrar um road movie. E até cumpre o papel que se espera deste tipo de filme. O de descoberta, amadurecimento e desapego a assuntos passados. Mas, Bravura Indômita é, acima de tudo, um filme dos Coen. Um Western arrojado, com um texto muito bem escrito e narrativa fluída. Muito além do que qualquer refilmagem, releitura ou coisas do gênero. Os cinéfilos saudosistas podem respirar aliviados.

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Alexandre Luiz

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