Crítica: Deadpool 2

Infelizmente, o novo filme do mercenário tagarela não convence como comédia

É chato constatar quando uma pretensa comédia falha em sua função primordial: fazer rir. E, Deadpool 2, mesmo tendo alguns momentos muito bons (é preciso reconhecer), não consegue ser engraçado como deveria. O que é uma pena, pois o personagem abre precedente para muitas possibilidades, mas que ainda não foram devidamente exploradas.

A sequência de abertura, por exemplo, é até legal, fazendo menção a Logan, e mostrando como um filme de Deadpool tem que ser: metalinguístico, irônico, debochado e violento. Só que essas características precisam fazer parte de um tipo de filme como esse o tempo todo, e não em poucos e esparsos momentos.

Logo no início, surge o primeiro problema: o longa demora demais pra emplacar a narrativa. O filme tem, pelo menos, duas premissas que não dão em nada. Ele só começa, de fato, após a sequência dos créditos iniciais. E, nisso já se transcorreram quase 20 minutos! 20 minutos de cenas sem graça, sem carisma, e repletas de um drama barato, quase novelesco de tão apelativo e clichê.

Mas, eis que, finalmente, quando certos personagens mutantes entram na trama, a coisa dá sinais de entrar nos eixos. Só a partir daí o filme começa a ter alguma graça, principalmente quando Deadpool passa a ser o personagem que todos queremos ver na tela. Tanto as sequências dele na mansão do professor Xavier, quanto em um salvamento meia-boca são impagáveis. São momentos com dinamismo, graça e deboche.

No entanto, quando a trama acompanha o desenrolar do tal salvamento, a história volta a ficar chata, travada, e (mais uma vez) cheia de dramas mequetrefes e forçados. Nesse momento, a gente até se pergunta: “por que é tão difícil fazer um filme 100% insano do Deadpool”?

E, de fato, não tem desculpas, pois, amarras, aqui, não existem, já que a classificação etária permite extrapolar todos os limites. Mas, não é isso o que acontece. Então, já que o filme vai seguir nesse toada de ser engraçadinho em momentos pontuais, e não consegue assumir o seu lado comédia tresloucada de vez, o jeito é acompanhar a trama.

Nesse ponto, convenhamos: a história desta continuação é bem melhor que a anterior. Pelo menos, é mais encorpada, possui mais motivações e é melhor amarrada. Existe até um quê de crítica social nela, vejam só! Mas, será que era isso o que queríamos ver realmente em um filme de Deadpool (fica a indagação)?

Outro aspecto positivo é a entrada de novos personagens, que dão um baita frescor à trama, e são deles os melhores momentos da produção. Cable, por exemplo. Mesmo que, de início, ele seja um personagem unidimensional, quase um T-1000 de O Exterminador do Futuro 2, aos poucos, ele vai mostrando mais carisma, mais nuances, mais camadas. Por sinal, belo trabalho do ator Josh Brolin, que nos brindou recentemente com a ótima performance em Vingadores: Guerra Infinita, na pele de Thanos.

Destaque também para Domino, que se junta à trupe do mercenário tagarela lá pelo meio do filme, em uma sequência até bem engraçada. Além disso, ela protagoniza a melhor e mais alucinante cena de ação do filme. Uma personagem que precisa urgentemente aparecer em outras produções do gênero, assim como Cable.

Por falar em sequências de ação, ponto positivo para o cineasta David Leitch (diretor de Atômica), e que comanda aqui cenas bastante empolgantes. Uma pena, no entanto, que ele perca a mão, justamente, naqueles momentos mais sérios e dramáticos. Só que, nesse sentido, o erro maior foi realmente dos roteiristas (que aqui foram 5 no total, incluindo o próprio ator Ryan Reynolds, que se sai melhor na atuação do que roteirizando, é bom dizer).

Quem escreveu esse roteiro mais uma vez não conseguiu fazer uma trama anárquica, subversiva e interessante com o personagem, já que o primeiro filme também padecia desse mal. Ali, pelo menos, ainda tinha o frescor da novidade. Aqui, não. As piadas são repetitivas e exaustivamente explicadas. Já, a quebra da quarta parede (que possui um potencial imenso) foi reduzida a narrações do protagonista do que está acontecendo em tela. Chatíssimo.

Claro, Deadpool não é um personagem altamente complexo e que clama por uma história elaboradíssima. Não é isso. O problema é que o mote do personagem é o deboche desenfreado, a metalinguagem, a violência e a insanidade sem limites, a quebra da quarta parede, e por aí vai. Quando uma comédia faz rir muito pouco, apostando em dramas óbvios e desinteressantes, alguma coisa está muito errada.

Não era preciso muito. Apenas piadas com mais feeling e maluquices sem tamanho. E, tudo isso sem amarras da censura. Somente. Mas, se nem isso conseguem...

Redação

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