Crítica: Um Lugar Silencioso

Bom terror psicológico, Um Lugar Silencioso só peca pelas atitudes atabalhoadas de seus personagens

É uma grata surpresa que, ano após ano, bons filmes de terror estejam sendo feitos, em produções que misturam na dose certa inventividade e criatividade. Desde o ótimo Invocação do Mal, de James Wan, vem surgindo muitos filmes interessantes, de jovens e talentosos cineastas, o que dá certo frescor a um gênero, por vezes, tão batido.

Em 2018, chegou a vez de John Krasinski, bastante conhecido por viver Jim Halper, na série The Office. Partindo agora para a direção, ele nos entrega uma angustiante história de sobrevivência, com alguns toques de Alien, o 8º Passageiro, e de outros clássicos do gênero, mesmo que, em alguns momentos, tenha optado por ser muito clichê.

Logo nos primeiros segundos, uma cidade abandonada. Uma criança aqui e outra acolá correndo dentro de um mercado, também abandonado. Já sabemos que algo de ruim aconteceu, mas, não mensuramos o quê. E, esse suspense já nos pega de cara, pois a câmera de Krasinski nos força a olhar os pequenos detalhes do cenário, para nos ambientar.

Silêncio total. Ninguém fala. Ou faz o menor ruído. É aí que já entendemos que o barulho pode ser prejudicial de alguma forma. Comunicação através de gestos e sinais. Uma sequência tensa, mesmo que já mostre o principal defeito do filme: as conveniências de roteiro, fazendo os personagens agirem de forma nada convencional na iminência do perigo.

Mesmo assim relevamos. A história parece ser interessante. E, é.

O que se sucede são cerca de 30 minutos em que conhecemos mais de perto aquelas pessoas, na verdade, uma família. Descobrimos que estamos numa espécie de futuro apocalíptico. Populações inteiras, provavelmente, dizimadas. A culpa? Estranhas e tenebrosas criaturas que atacam pelo som (por isso o silêncio absoluto).

E, é aí que entra a grande sacada do filme: o clima de suspense.

Imaginem viver num ambiente em absoluto silêncio, onde um mísero ruído pode significar a diferença entre a vida e a morte? Pois, é. Só que para manter a atenção do espectador, tanto direção, como atores precisariam ser muito bons, visto que os diálogos verbais praticamente inexistem. E, a boa notícia é que, nesses aspectos, o filme não compromete.

Krasinski, que também atua como o patriarca da família, sabe construir bem o clima de horror e mistério, assim como os momentos mais leves e descontraídos, quando passamos a conhecer melhor os personagens, e (primordial) a nos importarmos com eles.

Em se tratando de atuações, Krasinski e Noah Jupe (um dos filhos do casal) são apenas básicos, sem grandes atrativos. Quem realmente dá um show de interpretações é Emily Blunt, e a jovem Millicent Simmonds, que faz a outra filha do casal (que, inclusive, é surda). Ambas, apenas com olhares e gestos, transmitem sutilezas essenciais para esse tipo de história, demonstrando ternura e medo de maneira bem eficaz.

Outro ponto a se destacar são as camadas que a trama possui. A princípio, temo um “filme de sobrevivência”, mas, indo mais fundo vamos perceber uma crítica em como as famílias estão cada vez menos comunicativas, onde pequenos gestos são sempre deixados de lado. Obviamente, podemos estender essa falta de comunicação à sociedade com um todo, que está se esquecendo, cada vez mais, de contemplar o silêncio e (por que não?) a reflexão.

Infelizmente, a produção peca bastante em termos de roteiro com atitudes um tanto imprudentes dos personagens (em especial, no início do filme), e algumas posturas um tanto injustificáveis do ponto de vista ético e moral (num mundo tão devastado, onde o silêncio é regra vital, qual a necessidade de uma gravidez, onde o bebê viverá seus primeiros anos numa completa clausura?).

Porém, essas questões não chegam a estragar a experiência de assistir ao longa. Apenas poderiam ter sido mais bem trabalhadas no roteiro. Aí, sim, estaríamos diante de uma pequena obra-prima. Apesar disso, Um Lugar Silencioso cumpre bem o seu papel de gerar horror e tensão, e ainda suscita umas boas e pertinentes reflexões.

Diversão garantida.

Redação

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1 comment

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    Renato st 11 abril, 2018 at 10:27 Responder

    Estava pra ver o filme na estreia semana passada, mas perdi, acabei sonhando com o filme no mesmo dia, como não sabia direito sobre o q era, só q não devia se fazer barulho, no meu sonho eu e quem tava comigo não podíamos falar, nem ao menos andar direito pra não fazer barulho, e o que vinha nos perseguir eram umas criaturas meio q feitas de luz, q deslizavam e mesmo estando em frente a mim , não enxergavam.
    Vi o filme ontem e que surpresa, era exatamente o clima do meu sonho, só q as criaturas mais assustadoras.
    Foi um dos sonhos mais tensos que ja tive, o filme não chegou nem perto da tensão, mas também né, filme vc tá vendo os outros passando sufoco, no sonho era eu mesmo lá….. tenso demais.

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