A mais forte das “fraquezas”. Quando assisto episódios como esse, tenho ainda mais certeza que anos se passarão e, ao se falar em ficção científica, Fringe sempre despontará como a produção mais subversiva do gênero. Ciência e fé geralmente são colocadas em pauta quando o tema principal é a evolução, mas juntem isso ao desejo de vingança de um pai e a luta de uma mãe para garantir que nada mais se perca em um mar sem fim de desespero e tragédias, e a bomba emotiva estará pronta. Ainda não havíamos tido um episódio onde Anna Torv pudesse brilhar, assim como também faltava algo centrado na relação de Olivia com Peter. Fico feliz em dizer que esse momento chegou na melhor hora, e da forma mais emocionante possível.
Dando continuidade direta aos planos de Peter em determinar com precisão a linha de tempo de Windmark, ganhamos sequências emocionantes, não pela adrenalina em si (talvez esse tenha sido o episódio mais lento quanto a ação), mas sim pelo significado de cada diálogo espetacular que percorreu toda a discussão em torno das decisões de Peter. Já virou redundante elogiar Joshua Jackson, porém eu me pergunto: como não fazê-lo? Peter Observador foi uma das viradas mais exemplares da história da série, e sem o empenho do ator, grande parte do que vimos teria se tornado forçado. Cada viradinha na cabeça, cada passo comedido e as palavras soturnas ditas por ele, me deixavam de cabelo em pé.
Fazendo um paralelo direto, toda a trama de Peter nesse episódio soou como uma “sequência” do que vimos em The Plateau, lá na terceira temporada. Peter era uma versão ainda mais pragmática que o rapaz do lado B, afinal, a cada instante ele se distanciava mais das suas emoções. O primeiro encontro com Windmark foi épico. Uma luta brutal que só motivou Peter ainda mais, já que o Observador chefe continuou sendo cruel ao mostrar as últimas lembranças de Etta.
Na outra ponta dessa semana, Olivia tentou fazer o que ela mais sabe fazer. Se isolar para não ter de aguentar a perda de Peter mais uma vez. A chance perfeita foi poder dar continuidade à busca pelas partes do plano de destruição. Indo em direção a um ferro velho para conseguir um imã gigante, Olivia encontra Simone, uma espécie de “oráculo” que no começo não me convenceu, mas ao colocar a agente contra a parede pondo sua fé a prova, conseguiu todo o meu respeito. Eu quis abraçar Olivia quando ela desabafou em um longo monólogo, o porquê de ter perdido sua fé. A racionalidade depois de todos esses anos não dá lugar a explicações superiores ou karma. Olivia já viu e viveu muita coisa para acreditar que um dom seja algo mais que uma anomalia, e a perda de Etta cortou qualquer porto de esperança que talvez mudasse seu ponto de vista (não falei, mas o simbolismo na substituição dos cartazes de Etta foi lindo). Mesmo assim, Simone sabia que a fé da agente viria de uma simples e simbólica representação da luta de Etta, a marcante “bala que salvou o mundo”.
A explicação científica quanto ao dispositivo que dá origem aos Observadores veio do nosso cientista. Ele e Asner (sempre assim) elaboraram um experimento prático, e só tivemos a comprovação que a transformação final em um dos carecas se dá com a perda total de todas as emoções, ativando de forma exponencial o córtex humano. Para desespero de Walter, Peter está decidido e nada o fará mudar de ideia, nem quando o cientista o lembra da promessa que fizeram um ao outro de se controlarem.
Depois que Olivia foi sequestrada, eu tive a certeza de que aquele foi o momento em que Simone deve ter sorrido e dito o “Porque eu acredito”. Sem a bala ou a necessidade de conseguir que todas as peças estivessem juntas, Olivia nunca teria escapado do local. Foram cenas que me fizeram amar mais e mais a moça. Ela é a maior badass do mundo das séries, e ninguém duvida mais disso depois da fuga.
Onde estaríamos sem aquele encontro no telhado? Tivemos três pontos de mutação nessa temporada: a morte de Etta, Peter como Observador e, agora, Olivia revertendo tudo ao jogar com o amor que construiu essa família. Os três são indispensáveis, e tudo faz sentido quando a gente olha para trás. Sem eles, o domínio final permaneceria na mão dos invasores. Peter Observador até tentou a explicação lógica, emoções são a nossa fraqueza, mas com um discurso que reflete tudo que foi dito por Simone, Olivia mostra que Peter perderá Etta definitivamente ao esquecer o que é sentir. Nossas fraquezas nos fazem humanos, o ódio, a dor, a tristeza, pode nos compelir ao mais hediondo dos atos, mas é o amor, a força a nos trazer de volta, e o “Eu te amo” trouxe Peter ao seu verdadeiro lugar, forte o suficiente para a luta final.
O Glyph Code da semana foi “Plead”, que significa declarar-se, e representou toda a força da cena final entre Peter e Olivia. Momentos humanos e, por isso mesmo, emocionantes.