A Aldeia dos Amaldiçoados é um filme que mistura elementos de drama, horror e ficção científica. Lançado em 1960, é baseado no romance de ficção científica The Midwich Cuckoos e dirigido por Wolf Rilla.
A história se baseia em um cenário tranquilo, na pequena cidade de Midwich que sofreu um estranho evento nos anos posteriores a segunda guerra mundial, resultando em uma trama melodramática, com crianças sendo as vilãs.
Depois de um dia comum, todos desmaiaram na cidade e após acordar, doze mulheres engravidam juntas, nesse mesmo dia. Anos depois as crianças que nasceram carregam a mesma aparência e a coincidência de aniversário, passam a andar juntas, cometendo alguns delitos juntas, mas fugindo do que normalmente se pensa em traquinagens comuns a crianças.
Produzido pela companhia MGM, o filme é registrado em preto e branco e já demonstra na introdução que sua narrativa passará pelo bucólico, emulando a condição do cenário interiorano onde se passada a história, com pitadas e temperos de um conto de horror.
Essa versão também é conhecida como A Aldeia dos Malditos. Seu nome original é Village of Damned, mas em algum ponto teve como nome de trabalho The Midwich Cuckoos.
Os cenários de fazenda e do campo são destaque desde a primeira cena, como foi também no livro de John Wydham, lançado em 1957. A escolha por Rilla como diretor se deu pela experiência dele com filmes que lidavam com questões amedrontadoras, especialmente, O Diabo é Meu Amigo ou Satã à Meia-Noite, de 1958.
Já o roteiro ficou a cargo do trio Rilla, Stirling Silliphant e Ronald Kinnoch. O texto deixa claro o quanto Midwich é um lugar pacato, uma boa representação do interior britânico. O evento entrópico do desmaio coletivo se torna um baita evento, não só por conta de ser algo muito irreal e difícil de ocorrer, mas também pelo fato de que ali nada ocorria.
Há quem compare esse evento com o arrebatamento bíblico, que seria a elevação dos bons cristãos antes do fim do mundo bíblico, onde as almas serão levadas para o paraíso no momento anterior ao Apocalipse. Como até crianças caíram, não parecia ser uma punição espiritual e divina, claramente cabe mais nessa versão.
A possibilidade macabra de que todos morreram só é driblada com o acréscimo do personagem Alan Bernard (Michael Gwynn), um militar que retorna a vila para passar sua folga.
Quando vai entrar na cidade ele percebe um ônibus tombado. Também assiste que um guarda de trânsito desmaia ao chegar perto. Logo ele entra em contato com seus superiores, que vão investigar o causo.
Esse início lembra um pouco do drama inicial de Bruma Assassina de John Carpenter, no sentido de mostrar uma cidade isolada sendo assolada por mal desconhecido. Curiosamente o diretor faria uma nova versão dessa história, em A Cidade dos Amaldiçoados, em 1995.
As ruas são tomadas por forças militarizadas rapidamente, que investigam a origem do apagão geral. A narrativa consiste na exploração desse mistério. Ninguém se feriu gravemente, no máximo houveram algumas lesões e contusões.
Não demora até que alguém descubra gravidez. O filme enfoca no caso Anthea e Gordon Zellaby, que há muito tentavam engravidar e finalmente conseguiram. Os dois, interpretados respectivamente por Barbara Shelley e George Sanders são parentes de Alan.
A escolha por usar eles como exemplo é esperto, por associar aos personagens uma familiaridade comum a todos os tipos de público. Os momentos de ternura são valorizados, graças ao fato dessa família querida crescer.
Aqui se amacia o público, para logo depois trazer uma notícia estranha e disruptiva: várias outras mulheres - inclusive solteiras - também estão gestando. Entre as grávidas, houve uma tentativa de suicídio, uma esposa abandonada pelo marido que viajava há um tempo.
O filme é bem pés no chão, então mesmo quando ocorre um escândalo geral, ainda assim é tudo bastante comedido. O que de fato é ousado é que essa obra faz referência ao aborto. O médico doutor Willers (Laurence Naismith) pede autorização ao vigário de Bernard Archard para intervir, no entanto, não se verbaliza a palavra proibida, obviamente.
As crianças nascem, parecem normais a princípio salvo um fato ou outro, como a rejeição por parte do cão Bruno, que Gordon cria. O animal que era dócil fica rosnando para a criança. Esse é um dos primeiros momentos onde a música de Ron Goodwin aparece. Quase todo o filme se dá em silêncio, mas quando há interferência, o aspecto soma bastante.
Ao crescer, o pequeno David Zellaby (Martin Stephens) tem uma inteligência considerável para uma criança de apenas um ano, tanto que consegue desvendar o enigma de uma caixa. Gordon logo pensa em mostrar a caixa para todas as outras, e todas desvendam facilmente.
O estranho e que ele e todas as outras crianças que nasceram após o apagão tem a mesma aparência, inclusive em cor de cabelo, de um loiro quase branco.
Quando crescem as crianças andam sempre juntas, isoladas de todas as outras. Parecem parte de uma casta, de uma raça separada. Elas manipulam fatos, parecem ter poderes psíquicos, que se manifestavam quando menores e vão aumentando de grau a medida que crescem.
Nesse universo somente os militares parecem ter algum nível de autoridade entre os personagens. Em pesquisas notaram que nasceram crianças assim por todo globo. Na Austrália, Mongólia, até entre esquimós.
São sempre loiras, com cabelos alvos e algumas vezes não sobreviveram muitos dias. Em comum todas nasceram no mesmo dia das 12 de Midwich.
Também é curioso que os meninos e meninas cresceram bem rápido para apenas três anos, o entanto, a população não parece notar essa evolução acelerada, exceto Gordon, que verbaliza esse estranhamento e passa a observar melhor o seu filho e seus amiguinhos.
Não se sabe se as crianças embaralham a percepção sobre elas ou se a produção simplesmente apela para o fingimento de que as crianças são mais novas do que parecem.
As decisões na cidade são bastante bizarras e confusas. Depois de não ter dado autorização para abortar quando elas estavam no ventre, é sugerido que se extermine elas unicamente por serem de comportamento esquisito e aparência estranha. Eles não têm nem certeza da origem das crianças, mas cogitam se livrar delas.
Gordon interrompe essa ideia e faz uma petição para que ele seja tutor de todas, reunindo-as sobre seu olhar, no mesmo teto, assim teriam vigilância sempre. Ele faz isso apelando para o óbvio, afinal, elas nada fizeram de errado.
O grupo de crianças tem sincronia, completam respostas uma da outra, até fecham os olhos juntos, a fim de refletir sobre as indagações de Gordon. Mas até certo ponto, eles não fazem nada de errado, até uma interferência bem agressiva.
Eles manipulam um sujeito pacato, que é mandado a entrar em um carro, basicamente para dirigir na direção de um muro, depois que quase atropelou uma delas, obviamente sem intenção de machucar a criança.
O bizarro é que mesmo as pessoas que testemunharam essa morte, não culpam a dúzia de crianças. Apenas James Pawle (Thomas Heathcote) o irmão da vítima, tem coragem de falar o óbvio e de apontar dedos. Obviamente que ele se torna alvo delas e perece também.
O que não fica claro é porque elas fazem isso, se há como pará-las. Não fica claro se elas fazem aquilo por puro prazer e se tem capacidade para tornar a cidade inteira como seus reféns ou escravos.
A imagem delas fitando os olhos juntas, com eles ficando claros é sensacional. Quase tão assustador quanto os assassinatos que cometem. Elas obrigam pessoas a se matar, paralisam outras e causam alvoroço até na capital, já que de Londres vem um boato de querem a cabeça de Gordon Bellaby...não sem motivo.
O temor aumenta quando elas contra-atacam em cima de populares que tentaram pegá-las. Sendo crianças ou não simplesmente não há qualquer pudor em matar pessoas, lideradas pelo pequeno David, pelo menino com nome de rei bíblico, que é obstinado como o soberano de Israel. Tal qual o monarca sagrado, ele tem uma missão de sobrevivência e fará tudo para alcançar o objetivo.
As crianças são espertas, sóbrias e inteligentes, mas não parecem isentas de sentimentos humanos. A dúvida que fica é se isso foi proposital ou um erro dos atores mirins e da direção, uma vez que elas são cruéis e meio diferentes. Caso tenha sido proposital, fica a prova de que David é inteligente demais, beirando a genialidade.
Para evitar maiores problemas, Gordon leva uma bomba e mata a si mesmo e as crianças. A sequência é com uma maquete bem maltratada, que é mostrada pegando fogo, mas não fere diretamente a suspensão de descrença, ao menos não tanto quanto algumas das perucas dos "amaldiçoados", que ficam feias especialmente nas meninas.
Do fogo saem olhos dali, de um fundo preto, que compõem não só uma bela cena, mas também um gancho para continuação, que viria em 1964 em A Estirpe dos Malditos ou Children of the Damned.
A Vila dos Amaldiçoados é um bom filme sobre paranoia, tem suspense e possui um ritmo acelerado se comparado a outras obras que flertam com o horror sessentista. É uma boa exploração do clichê de criança macabra assassina e um bom aceno para histórias de teoria da conspiração.
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