Chainsaw Man: Uma análise sobre o arco de introdução

Chainsaw Man: Uma análise sobre o arco de introduçãoChainsaw Man estreou há poucas semanas, e diante da grande expectativa analisamos as referências e a repercussão do piloto, especialmente por conta da grande espera pela adaptação do mangá idealizado por Tatsuki Fujimoto.

Após a ótima experiência desse capítulo, passado mais alguns, escolhemos analisar o arco de apresentação e a saga do Demônio-Morcego, compreendendo assim os quatro primeiros episódios do seriado.

Como dito no nosso texto anterior, o protagonista dessa história é o carente e pobre Denji, um rapaz jovem que inicia a trama retaliado, sem partes originais de seu corpo e órgãos, tão alterado que parecia um cyborg, remendado de uma forma que faz ele lembrar uma variação menorizada da criatura de Victor Frankenstein.

Além da questão não natural do seu semblante, é sempre lembrado ao longo dos capítulos que ele tem uma dívida capitulando, com os mafiosos da Yakuza, cujo valor é intencionalmente impagável.

Para aplacar o débito ele captura e mata demônios, que é a função de trabalho que mais gera renda dentro dessa realidade, mas diante de uma taxação absurda do governo não lhe sobra nada sequer para comer que dirá diminuir o saldo devedor.

O único senão positivo é o pequeno demônio chamado Pochita, criaturinha que foi salva por ele, que o ajuda servindo de ouvinte das suas lamúrias e angustias, além de ajudar o rapaz na caça. Eles têm uma relação de interdependência, vivem em prol de uma sobrevivência mútua, e ao longo da história isso se intensifica.

Chainsaw Man: Uma análise sobre o arco de introdução

Pochita evolui da condição de quase um animal de estimação para solucionar a problemática de saúde de Denji. No início, o protagonista se queixa de dores no coração e tem receio de ter a mesma doença que lhe tirou sua mãe, e após um ataque ao personagem humano, é Pochita que toma as rédeas, virando tutor de seu amigo, substituindo o seu coração após um embate com demônios.

Isso possibilita não só a sobrevivência do herói da jornada, mas também a manutenção dos tímidos e bobos sonhos dele, de anseios típicos de um menino.

Há de lembrar sempre que essa é uma história Shōnen, e sendo assim a idealização de personagens é algo praticamente não driblável. Por mais bobo e infantil que Denji seja, ele é tratado como correto, portanto, sentimentos e desejos clichês ganham vulto e importância, mesmo que sejam óbvios e até desrespeitosos, especialmente quando se fala em termos sexuais.

Pochita sacrifica sua pequena vida para dar ao amigo a chance de respirar e é óbvio que sendo ele um garoto, boas escolhas não viriam. Denjji se sente atraído por qualquer pessoa (leia-se mulher) que lhe estende a mão, inclusive a agente do governo Makima, que o contrata e exige dele lealdade para sempre.

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A partir do segundo capítulo as regras da mitologia ficam mais claras, e a primeira e mais pessoal das novidades é que a transformação em Chainsaw Man causa uma dor excruciante no herói.

Denji é um híbrido, a junção humana-demoníaca que é rara e de grande potencial. Além desta versão, dos humanos e dos diabos, também há os "infernais", humanos cuja junção com demônios e intensa.

O que se nota ao pensar nos infernais é que visualmente há diferenças grandes, eles possuem sinais físicos, como chifres ou garras, a exemplo de uma das subalternas de Makima.

Eles são humanos controlados por demônios, a grosso modo, é como se fossem pessoas possuídas, e entre esses, se destaca bastante a extrovertida e misteriosa Power-Chan.

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A parte da ação segue recheada de ótimos momentos, e vai aumentando o grau de agressividade no decorrer do seriado.

A batalha entre o terceiro e quarto episódios é grandiosa, boa parte da zona urbana é simplesmente obliterada, de uma forma que fica em igualdade com a destruição desenfreada (e mal pensada) de Homem de Aço de Zack Snyder.

A construção visual é excelente, de uma qualidade atroz.

Na luta contra o morcego Denji serra o braço esquerdo do monstro, depois parte para a cabeça em um balé violento com um aspecto sensacional, ao som da trilha rock. Compõe um momento espiritualmente estupendo, digno de videoclipe macabro.

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Após esses eventos, uma outra luta se avizinha, dessa vez pelas vísceras de um Demônio-Sanguessuga.

A batalha é agressiva e colorida, repleta de tons roxos que disfarçam o gore bizarro que envolve dezenas de cortes e exposições de órgãos internos.

Os leitores do trabalho de Fujimoto normalmente elogiam a evolução do artista enquanto quadrinista. Quem o acompanhou em Fire Punch percebe que a ação que antes era boa evolui demais em Chainsaw Man.

No mangá o autor utiliza o mesmo ataque de serras em quadros diferentes, exibindo-os por vários ângulos, em um reaproveitamento que explora a violência em significados diversos, que geram variação no consumo do leitor.

O anine emula isso utilizando o slow motion e a variação de câmeras, que faz a ação rodar de maneira visualmente diversa, mesmo em um simples cortar de serras sobre a carne de monstros.

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Ainda no quesito adaptação, há de se destacar algumas escolhas por parte do diretor Ryuu Nakayama.

No mangá a história se passa nos anos 1990, tanto que ainda existe URSS, na animação se optou por atualizar a história, se passando mais perto dos anos 2020, mas ainda se citam os soviéticos, aludindo para uma realidade alternativa onde possivelmente não houve a queda do Muro de Berlim, ou algo que o valha, claramente o futuro seguiu diferente e bifurcado entre forças capitalistas e soviéticas.

Isso se percebe em simples fatos, Denji escreve suas dívidas em papel no gibi, enquanto no anime usa um celular para tal, no momento em que faz apontamentos de objetivos.

No anime - ao menos no começo - não fica tão claro que Makima trabalha para o governo, mas sim, ela é uma representação do poder, da tentativa das autoridades em controlar uma praga, uma invasão, que pode ser bem mais perigosa que pestes mundanas e comuns como insetos, aracnídeos e vermes.

Um dos temas mais criticados no texto é o desespero do personagem central em ter intimidade com garotas, onde ele fala abertamente que quer apalpar seios. Esse arco de introdução não foca tanto no subtexto e substrato social e mais na (bela) ação violenta, ainda assim é fácil perceber que o protagonista tem uma sub-vida.

Denji nunca teve acesso a nada, se alimenta de restos, de alimentos podres muitas vezes. Até encontrar a sua exploradora (Makima) ele faz uso só de lixo para angariar nutrientes, utiliza sempre do mínimo para se manter vivo.

Ele não tem posses, e ter a possibilidade de ser o lacaio de uma pessoa poderosa - e atraente - é mais do que ele sempre sonhou. Jamais teve qualquer retribuição amorosa, nunca teve uma experiência de carinho ou de mínima afeição.

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Ter contato com o belo sexo é tão irreal para ele que beira a ilusão, algo que ele pensa que jamais alcançará, e isso fala mais da sociedade reprimida do Japão do que necessariamente sobre os desejos de Denji, já que a sexualidade no país é tão reprimida que boa parte da população tem comportamento semelhante ao dele, independente das condições de vida e do passado.

Ele é fútil, escroto, reproduz o lugar comum misógino e machista que sempre ouviu pelas pessoas que o cercam e isso ocorre por vários motivos, entre eles a melancolia depressiva derivada da solidão. Ele não tem valores, ninguém passou isso para ele.

Não é à toa que Chainsaw Man conversa tanto com os incels, e como esses extremistas de direita pouco pensam, é natural que eles não entendam uma camada tão básica do texto de Fujimoto, não compreendendo enfim a crítica ao acúmulo de capital, que gerou no mundo uma nova forma de extrativismo espiritual, e que ajudou em segundo plano a destruir a vida pessoal de Denji, fazendo com que seu parente tivesse contraído uma dívida imensa.

O seriado segue tendo novas aventuras, e em breve voltamos para analisar. Para esta gênese se percebe uma queda em comparação com as mensagens do mangá, mas a ação frenética ajuda a aplacar a sensação de que algo falta, fora que a qualidade visual e a mistura entre 2d e 3d é um baita acerto de Nakayama.

O anime tem potencial para ser muito mais popular e essa é a grande expectativa.

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