Ho, O Sujo é um filme de aventura e ação e Hong Kong lançado em 1979, que mistura elementos de comédia. A obra estrela um belo trio de artistas marciais, no caso: Gordon Liu, Wong Yue e Lieh Lo.
Dirigido por Lau Kar-leung - que nos últimos anos assinava como Chia-Liang Liu - o longa versa sobre a vida de um príncipe, chamado Wang, que finge ser um mercador. Nesse cenário, ele se torna amigo de um ladrão, chamado Ho, acaba confiando nele, graças ao fato de ser muito forte.
Ho se torna guarda-costas do nobre e se vê em apuros quando a vida de seu protegido vira alvo de bandidos perigosos, muito mais organizados.
O roteiro é assinado por Ni Kuang, produzido por Run Run Shaw, com Mona Fong como gerente de produção. Foi feita pelos estúdios Shaw Brothers, distribuído pelo mesmo na Ásia e pela World Northal nos Estados Unidos.
A obra foi filmada no seu país natal, em Hong Kong e lá, se chama Lan Tou He, também é conhecido no país como Lan Tau Ho, no idioma cantonês. Em países de língua inglesa é conhecido como Dirty Ho. Em países de língua espanhola é Ho el Sucio. É chamado de O Dragão de Ferro em Portugal.
O diretor é conhecido por ter feito trabalhos de coreografia de luta e direção geral. Conduziu Carrascos de Shaolin, A 36ª Câmara de Shaolin, Armas Lendárias da China entre outros.
O roteirista Ni Kuang trabalhou com Lau em vários filmes, como A 36 Câmara de Shaolin, A Mão de Ferro de Shaolin, A Luta dos Destemidos, O Mestre do Kung Fu. Já Fong é contumaz parceira do diretor, inclusive em Retorno à Câmera 36 e Discípulos da Câmara 36, além de Drunken Monkey: O Poder do Kung-Fu.
Já Shaw trabalhou em Heróis do Oriente, Mestre do Kung Fu, O Assassino da Corrente de Ferro, O Lutador Rebelde, A Vingança do Mestre. Fora de Hong Kong ele trabalhou em obras como Cannonball: A Corrida do Século e Blade Runner: O Caçador de Androides.
Da parte do elenco, Gordon Liu - ou Chia-Hui Liu - fez Os Cinco Mestres de Shaolin, The Kung Fu Monkey e Garras de Louva-a-Deus. Muitos anos depois foi para a América, participando de Kill Bill, onde fez Pai Mei e Johnny Mo, além de obras menos famosas, como O Homem com Punhos de Ferro.
Já Wang Lung Wei - ou Yue Wong - fez Desafio de Mestres, Carrascos de Shaolin e Super Mestre do Kung Fu Chinês. Lieh Lo - ou Wang Lap Tat - é conhecido obviamente por Cinco Dedos de Violência e O Príncipe do Kung Fu. Dirigiu O Clã da Lótus Branca em 1980.
Vale lembrar que os três atores estiveram em 36° Câmara de Shaolin.
O começo do filme é meio teatral, se dá em um cenário vazio, de cor branca, que varia o nível de luz de acordo com o número apresentado. Nesse pátio/cômodo, um bando de bandidos pega joias de um baú, sendo impedidos por um homem imponente, que é Wang, personagem de Liu.
Logo aparece também Ho (Wong), para lutar ao lado do outro personagem, exibindo não só suas qualidades de pancadaria, mas também um grande entrosamento com o personagem antes apresentado.
Essa parte lembra uma apresentação típica de seriados de televisão, como se fosse a abertura de um episódio de série.
Logo aparece um dia comum na província de Guangdong, onde Gordon Liu surge no centro de um palco imaginário, capturando todas as atenções, já que é um homem que tem acesso a várias joias (as mesmas da cena anterior), uma vez que é um joalheiro.
Ele é cercado por quase todas as mulheres presentes em tela.
Essa movimentação irrita Ho, que mostra como se resolve as questões e disputas na localidade. Como Wang é do norte, acaba ocorrendo um choque cultural, leia-se uma briga, estranhíssima por sinal.
Quando as autoridades chegam para resolver a celeuma, o sujeito endinheirado interrompe os policiais, dizendo que Ho não arrumou confusão e sim que estava embriagado, um crime menor (em teoria, pelo menos) que daria menos tempo de reclusão, podendo ser ele apenas levado até a sua casa e não para o cárcere.
A gentileza foi encarada como petulância por Ho, que prometeu retornar até o sujeito, para acertar as contas, já que se sentiu desrespeitado.
Apesar de ser um príncipe, o personagem Wang não aceita ser tratado de maneira diferenciada, tanto que se apresenta como um simples joalheiro. Ele tem grandes habilidades físicas e enxerga em Ho um potencial e não à toa, já que ele protagoniza boas cenas de luta, contra várias pessoas ao mesmo tempo.
As sequências são mais voltadas para o cômico, com piadas que variam de qualidade, mas que demonstram um nível de luta alto e acurado.
O primeiro terço do filme se resume basicamente a Wang testando o seu futuro guarda-costas. Os dois chegam a lutar em trio, com a bela Cuihong (Tsui-Ling Yu) no meio deles.
Nesse não fica claro se ela sabia lutar, mas toda a movimentação faz com que o príncipe se afeiçoe pelo marginal, desenvolvendo um carinho além do normal com ele.
Toda a rotina de Wang envolve formas de entretenimento físico peculiares. Ele gosta de danças e de exibições artísticas públicas, tem uma predileção por luta e pelo popular. Claramente não tem aspirações ao trono, ao contrário, verbaliza que gosta de estar com as pessoas comuns.
O filme também se vale do clichê do treino insanamente perigoso para instruir o lutador iniciante. O príncipe prova seu servo, o coloca em uma situação de calamidade, para que ele possa provar o seu valor, invertendo a expectativa de ser um bandido para enfim se tornar pelo menos um anti-herói.
Uma questão que incomoda, sobretudo quem gosta do ator, é que o filme subaproveita Lieh. Seu personagem praticamente só é utilizado perto de acabar o filme.
As sessões de treino são viscerais, especialmente as que envolvem o manejo de um taco de madeira. A maioria das lutas não chega no mesmo nível de velocidade e violência dessas sessões, exceção da última.
É como se os personagens soubessem que se aproxima um momento especial e derradeiro, portanto guardam força e talentos, para enfrentar o desafio da melhor forma possível.
Das partes negativas do filme está o meio do filme. No terço central há um número grande de cenas cômicas. Certamente o espectador não tão acostumado com esse estilo de contar história, estranhará e é de fato um pouco enfadonho, sem dúvida. Se compensa bem a história no final, na luta derradeira.
Os últimos quinze minutos reservam uma boa sequência de combate envolvendo tiros de arco e flecha, com direito até a defesa tartaruga, bem demonstradas em tela.
Por mais que o orçamento seja baixo há um cuidado com cenários e figurinos, em uma direção de arte de Johnson Tsao simplesmente soberba.
A tal preparação dura é posta à prova na luta contra os homens de Liang Jincheng. As coreografias de luta nesses instantes finais são ótimas, mas quando entram em cena as lâminas tsai yang o nível aumenta consideravelmente.
Lieh é muito habilidoso com a lança, já Wong é muito veloz, tanto que consegue passar boa parte da batalha sozinho com três adversários. Ele faz isso depois que seu mestre e senhor não consegue lutar, já que está impossibilitado de usar uma das pernas.
Quando Liu entra em ação se percebe o quanto ele e Wong estão afiados, com movimentos sincronizados, dois corpos que agem em uníssono, como se fossem movidos por uma só mente.
Antes que o filme termine há uma sequência onde os príncipes falam com o monarca, onde mais uma vez há uma cena em tom cômico, envolvendo Ho. É bem descabida, mas conversa bem com todas as desnecessárias sequências de humor.
Ho O Sujo é um bom filme de artes marciais, perde um pouco a mão no humor, mas é certeiro na maior parte de seus momentos. Seu elenco é afiado e as lutas são sensacionais, belas, com coreografias de qualidade ímpar, além de ter uma construção de época competente, mesmo sendo uma obra barata e de baixo orçamento.