Jogos Mortais- O Final: Uma melancólica despedida de Jigsaw...por enquanto!

Jogos Mortais- O Final: Uma melancólica despedida de Jigsaw...por enquanto!Jogos Mortais: O Final é mais um filme da famosa franquia que popularizou o torture porn, além de ser outro episódio da saga de vingança de John Kramer, que mesmo após a sua morte, segue praticando o mal através de competições sangrentas e ultra moralistas.

Sétimo produto da saga Jogos Mortais, essa obra lançada em 2010 se prometia ser o último filme, mas obviamente não foi. Dirigido novamente por Kevin Greutert - montador da maioria dos outros episódios - esse novo tem o nome de Saw 3D, ou seja, é mais um longa-metragem que se vale da premissa de jogar uma penca de cousas na tela, a fim de fingir ter algum nível de interatividade com o público.

O roteiro foi mais uma vez escrito pela dupla Patrick Melton e Marcus Dunstan, a produção ficou novamente a cargo do trio Gregg Hoffman (in memorian) Oren Koules e Mark Burg e o estúdio que financiou foi novamente a Twisted Pictures e teve distribuição da Lionsgate Films.

Devido ao processo 3D as filmagens foram mais lentas, sendo concluídas em nove semanas e não nas comuns seis semanas habituais. Houveram algumas reclamações, em especial de Costas Mandylor, ator que interpreta Mark Hoffman.

O artista chamou o processo de captação de tedioso e mais demorado do que o necessário. Durante a pré-produção, se cogitou que o diretor fosse David Hackl, o designer de produção de Jogos Mortais e suas três sequências diretas.

Ele havia estreado como realizador em Jogos Mortais V, mas foi descartado por não ter agenda, ao menos foi esse o motivo alegado.

Greutert assinou com a Paramount para dirigir Atividade Paranormal 2, que seria lançado no mesmo dia deste Saw 3D. A Lionsgate temeu reforçar uma franquia rival, já que Atividade Paranormal já tinha arrancado boa parte do potencial financeiro de Jogos Mortais VI. O estúdio então fez cumprir uma cláusula e obrigou Greutert a retornar para essa parte sete.

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A estratégia deu certo, ao menos do ponto de vista financeiro. Essa foi a melhor bilheteria desde Jogos Mortais IV e foi o filme da saga com maior bilheteria no mercado estrangeiro.

Novamente os produtores escolheram não exibir o longa para os críticos, o que normalmente demonstra que não se coloca muita fé na obra. Como a franquia vinha recebendo péssimos reviews, é compreensível essa escolha.

Outro fator de destaque é que em algum ponto do planejamento, Saw 3D seriam dois longas, tal qual seria comum em Hollywood em finais de saga, a exemplo do último filme da saga Harry Potter e Jogos Vorazes. Isso não ocorreu com essa franquia graças ao fato de Jogos Mortais 6 ter ido mal de arrecadação.

Este é o primeiro filme da cinessérie que não teve David A. Armstrong como diretor de fotografia e já de cara se nota uma vertiginosa queda no registro.

O operador de câmera dos filmes anteriores Brian Gedge foi alçado ao patamar de cinematógrafo, mas não daria certo, tanto que esse aliás foi seu último filme na função, ele voltaria a trabalhar no departamento de câmeras em algumas obras de considerável sucesso, como em A Bruxa.

É difícil que depois de seis filmes se espere alguma surpresa de uma saga de filmes de horror, ainda mais de uma que se pauta menos em história e mais em exagerar no gore e na tortura de seus personagens. Eis que Jogos Mortais: O Final tenta fazer isso, já que escolhe iniciar sua narrativa retomando a participação de Cary Elwes.

Ele havia aparecido como o doutor Lawrence Gordon, personagem da primeira armadilha mostrada em Jogos Mortais. Essa volta deveria ter sido uma surpresa, mas acabou vazando na Internet por meio de um informativo da Lionsgate Publicity em abril de 2010.

Após algumas tratativas financeiras, finalmente Elwes conseguiu retornar a franquia. Houveram até ações judiciais da parte dele, exigindo mais participação financeira do que a que teve, especialmente pelo uso de sua imagem nas sequências, quase sempre via imagem de arquivo.

Depois que o processo foi finalmente resolvido fora do tribunal, o ator concordou em voltar para o que se pensava ser a última parte da série.

Deixamos aqui um aviso que falaremos sobre a trama, com spoilers. Após a imagem falaremos sobre a trama de maneira deliberada, inclusive sobre segredos e viradas dramáticas.

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Como dito antes, Saw 3d seria não um, mais dois filmes diferentes e o retorno de Cary Elwes seria no final da Parte 1.

Quando se optou por fazer apenas esse longa, anteciparam a participação dele para a cena de introdução, que mostra o médico se arrastando pelo chão, com o pé amputado, colocando a perna em um cano da onde sai fumaça, para cauterizar a ferida.

O segmento serve ao intuito de mostrar que ele estava vivo na época e atualmente também.

Havia uma tradição da saga em começar com uma armadilha inicial e dessa vez, Greutert "inovou", colocando um jogo mortal na parte externa de uma cidade, a céu aberto que conta com público vendo, em uma redoma transparente. Anos depois ela seria até comparada a famosa casa de vidro do reality show Big Brother Brasil, dado que o aspecto visual é realmente bem semelhante.

O jogo em si é super desinteressante, já que envolve um triângulo amoroso de personagens que ninguém conhece, onde uma pessoa morrerá para as outras duas viverem. Eles são unidos pelo amor a mesma mulher, que por sua vez, enganava a dupla de homens.

A sequência em si é ridícula, no entanto, o que mais chama a atenção é que o sangue que escorre das vítimas não tem cor vermelha e sim cor de rosa. Esse foi um esforço tolo de diminuir a classificação indicativa, que resultou em uma saída covarde.

O roteiro se preocupa em mostrar como Mark Hoffman escapou da armadilha do episódio anterior, mas o que segue após isso é tão mal pensado que faz ficar vergonhoso. A ex-noiva do psicopata Jill Tuck sai correndo, se esconde atrás de uma prateleira, de uma forma que sua interprete Betsy Russell é facilmente vista no quadro.

No entanto, o detetive que acabou de ter sucesso na sobrevivência da famosa armadilha de urso reversa, não percebe ela ali. A ideia é mostrar ele está tão cheio de raiva e desespero que ficou cego diante das circunstâncias, no entanto, isso não faz qualquer sentido.

Hoffman se costura e segue seu rumo, com a moça procurando a polícia. Esse filme possui várias tramas paralelas, é multinuclear, de maneira que lembra mais uma telenovela do que uma obra para o cinema. Tudo bem que visualmente Jogos Mortais se parecia cada vez mais com um seriado barato, mas lembrar um folhetim é demais.

Uma das principais tramas gira em torno de Bobby Dagen, personagem de Sean Patrick Flanery. Ele afirmava que sobreviveu a uma armadilha de Jigsaw, escreveu um livro sobre o assunto, passando assim a surfar na onda literária de autoajuda.

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Ele dava palestras motivacionais, até lidera um grupo de apoio, que reúne vítima de John Kramer.

Patrick Flanery era um aficionado pela franquia, até se ofereceu para participar do filme. Hoje ele acaba sendo mais lembrado por ter protagonizado o recente e controverso Nefarious.

A ideia em torno do seu personagem é um dos bons momentos do texto, especialmente por conta de ele ter trazido personagens dos filmes anteriores, como Mallick, o viciado em Jogos Mortais 5, Simone e Addy de Jogos Mortais 6.

Dentre todos os filmes que a franquia trouxe até agora, esse certamente é o que possui mais cenas de morte constrangedoras.

Uma dessas é uma que não é real, mas ainda assim é mostrada de maneira séria, Em um sonho, Jill se enxerga sendo enquadrada por Hoffman, que coloca uma armadilha em formato de trem, que vai em sua direção, explodindo a moça com o impacto do vagão.

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O CGI é tão horrorosamente artificial que faz lembrar os piores momentos de seriados televisivos, especialmente Os Jovens Guerreiros Tatuados de Beverly Hills. Há erros de escalas, Russell está mal encaixada em cena, a sequência ainda termina com os bracinhos dela jogados nas extremidades da tela. É muito, muito constrangedor.

Quando falta criatividade, Dunstan e Melton perdem o pudor e apelam para dar mais atenção as armadilhas. Alguns desses show offs funcionam, outros, não. O que chama a atenção é o volume de ciladas e golpes.

Aparentemente, o discípulo número um de Jigsaw que fazer muito em pouco tempo, o que é curioso, já que Hoffman aparece pouco nesse filme. Parece até que ele sabia que estava se despedindo da franquia - e não estariam todos? - mas o motivo mais plausível para as poucas aparições deve ter sido o muxoxo de Mandylor.

Diante dessas problemáticas, há uma boa armadilha, que envolve Evan, personagem do cantor Chester Bennington do Linkin Park. Ele é um neo-nazista, que acaba matando os seus amigos, que também são supremacistas brancos.

Para fazer esse trecho, Chester consultou um treinador de atuação. O seu desempenho é consideravelmente bom, especialmente se comparado a alguns dos protagonistas do filme. Os efeitos de maquiagem de suas costas são sensacionais.

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O grave problema é que o filme é ainda mais ausente de cor que os anteriores, sendo quase opaco, ainda abusa de filtros nessa cena.

A fotografia de Gedge é muito porca. Ele vinha de vários trabalhos em departamentos elétricos, esteve em Repo! Ópera Genética de Darren Lynn Bousman, mas não tinha experiência com fotografia principal. Isso pesa demais. Até o uso de filtros, que era comum, é descabido e exagerado demais, chega ao cúmulo de cortar para um trecho com cor azulada, depois indo para um tom esverdeado. É um filme feio, muito feio mesmo.

O visual porco combina com o desempenho do protagonista policial. Chad Donella interpreta o policial Matt Gibson, sujeito de motivações vazias e desempenho terrível. Parece um ator amador, sobretudo quando lida com Betsy Russell.

A dobradinha dos dois é tão triste que faz perguntar o tempo todo quem seria o pior. O método de pesquisa do tira também não é bem pensado, já que ele não investiga nada. Quando tenta confrontar a moça, joga na cara dela que ela tentou matar Hoffman. Não há sutileza ou uma construção de atmosfera.

Mandylor parecia canastrão nos outros filmes, mas quando ele contracenou com Russell, começou a ser valorizado, já que apresentava nuances em seu desempenho. Donella faz um efeito parecido com a atriz, ela parece ser muito melhor dramaticamente quando está na presença de seu colega de cena.

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Essa parte sete parece uma produção que ninguém quis participar. Mandylor aparece pouco, quando retorna a trama, está em vídeos gravados de qualidade visual cuja resolução é baixa.

Citando participações forçadas, esse é o filme do famoso meme, que faz Tobin Bell fingir ser mais novo quando utiliza um boné para trás para simbolizar que o personagem está mais novo.

Não importam as rugas, a queda de cabelo e evidente envelhecimento de sete anos de diferença para Bell entre o primeiro e esse. Na ideia do estúdio, se ele colocasse um boné para trás, ficaria tudo certo.

Além do momento constrangedor, também fica claro que ele conhecia o farsante. Foi ele quem planejou atacar o sujeito e não os seus pupilos. A participação soa também como um evento gratuito, não acrescenta nada, nem mesmo diante da revelação final.

Os cenários parecem de seriados infantis, não há cuidado nem com as armadilhas. Várias delas terminam com bonecos muito fáceis de identificar como falsos.

Os últimos três filmes não eram um primor visual, mas ao menos os jogos pareciam ser feitos por discípulos de John. Aqui nem isso, todas as armadilhas são impessoais, a relação entre assassino e vítimas é fria, zerada de caráter passional.

Jogos Mortais O Final arrecadou uma boa bilheteria em comparação com o anterior, dessa forma impediu que a franquia parasse. No entanto foi tão mal engendrado que foi preciso mudar direção e roteiro, sendo contratada uma equipe nova.

O sétimo capítulo peca em ser um produto derivativo até no que antes acertava. Tem um design de produção porco, um gore mal explorado, está aquém até no quesito tortura. Suas viradas de roteiro são dignas de risos.

Greutert não repete os bons momentos de Bousman, ainda desperdiça seus dois bons atores, Mandylor e Elwes. Esse último então é difícil de engolir, uma vez que fica bem claro o motivo dele ter aparecido.

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Hoffman teve seus momentos, mas demonstra ser um Jigsaw pobre e pouco inspirado, carece de criatividade, colocando Jill na armadilha mais óbvia possível. Seu final é igualmente anticlimático, sendo atacado não por um e sim por três "porcos", sendo o principal deles o doutor Gordon.

Em comentários em extras presentes nas mídias físicas do filme, dá-se conta que os outros dois suínos foram Brad e Ryan, os sobreviventes da armadilha do início do filme. Curiosamente eles seguem juntos, fazendo parte de outro triângulo sentimental.

O grau de sem-vergonhice dos retcons foi aumentando gradativamente ao longo da franquia, mas certamente atingiu seu auge no flashback que mostra Gordon costurando armadilhas nos corpos das pessoas nos outros filmes, indicando também a doutora Lynn que protagonizou a cena da cirurgia de cérebro em Jogos Mortais III.

Analisando hoje, após dez filmes, é difícil decidir qual é a inserção mais fajuta da saga, essa citada ou a que foi instalada em Jogos Mortais: Jigsaw, lançado em 2017. Essa parece pior, já que esse é um filme mais pobre, indiscutivelmente, o que é uma pena, já que desperdiça os personagens que possui.

Jogos Mortais O Final termina tão mal que após eles vieram duas tentativas de reboot, uma vez que seguir a história principal se tornou inviável. Como filme isolado é ainda mais intragável, mal dirigido, mal atuado, parece um trabalho onde a constante é a má vontade geral.

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