Noite de Halloween : a louca mistura de comédia e horror do fim da década de 1980

Noite de Halloween : a louca mistura de comédia e horror do fim da década de 1980Noite de Halloween é um telefilme de horror e comédia comandado pelo cineasta indiano Jag Mundhra e lançado em 1988. Essa é uma história de horror familiar que apela para diversos clichês de sustos bem diferentes entre si, brincando com discussões sobrenaturais, exploração nudez e com assassinatos estilo slasher.

Apresentado pelo estúdio Spencer Films e produzida pela Raj Mehrotra Production, o filme se chama originalmente Hack-O-Lantern, mas tem outros nomes em inglês, como Death Mask, Halloween Night ou The Damning.

Curiosamente o filme teve suas premieres de VHS em março de 1988, tantos nos Estados Unidos quanto no Reino-Unido. Provavelmente miraram driblar a concorrência com outras produções de terror que estreariam em setembro ou outubro daquele ano, como Halloween 4: O Retorno de Michael Myers, Elvira: A Rainha das Trevas ou Príncipe das Sombras.

Seus créditos iniciais apontam o nome do ator Hy Pyke como o mais chamativo, graças especialmente aos papéis anteriores dele, em filmes conhecidos, especialmente Dolemite, Blade Runner: O Caçador de Androides e Vamp, O Filme.

O longa foi rodado em Los Angeles e possui uma premissa estranha, já que mira a sua figura de medo em um velhinho gentil que sequer tem o nome revelado, sendo chamado apenas de vovô.

A primeira cena do personagem de Pyke mostra ele um pouco mais jovem, em 1968. Nesse trecho ele age como um parente divertido e despojado, sendo bastante carinhoso com seu netinho Tommy (Bryson Gerard), mas mesmo quando brinca com o menino, parece muito suspeito.

A princípio, ele é apenas um homem de meia idade falastrão e metido a engraçado, mas ao longo do filme é mostrado como um sujeito indócil, possivelmente abusador, além de ser líder de um culto estranho, que flerta com adoração ao Diabo.

A trama é bem boba, mas a parte em que faz comentários relacionados ao festival de Samhain é legal, especialmente no que toca os sacrifícios para entidades do halloween. O resto do drama é levado de maneira galhofeira e engraçada.

Noite de Halloween : a louca mistura de comédia e horror do fim da década de 1980

Buscando diferenciar a produção das concorrentes temáticas, a roteirista Carla Robinson resolveu temperar a história com elementos de filme de assassino e exploração do tema ocultismo.

Também houve a preocupação em mostrar muito sangue, apelando para mortes bastante violentas e repletas de gore, mas sempre com um tom humorístico, tornando esse quase um pastiche de filme de horror.

O argumento foi de Dave Eisenstark (que assinava como Burford Hauser), profissional que fez o roteiro de Creepozoids e Um Morto-Vivo na Família, tem produção de Raj Mehrotra, de Violência Americana (1989) e produção executiva de Shiv Seth e Pra Gairola.

Esse foi um dos primeiros trabalhos de Tom Milo, que é creditado aqui como produtor associado, assinando como Tom Migliaccio. Ele se tornaria diretor de Lua de Sangue - Pesadelo Mortal na Primeira Noite em 1991 e roteirista em Heróis por Acaso, além de ser diretor assistente em diversas obras, como Massacre 2, Em Pânico, O Futuro da Raça Humana, Amityville 6, A Volta dos Mortos-Vivos 3 e Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos.

Jag Mundhra havia feito um filme de horror sério antes desse Hack' O Lantern. Chamava-se Open House e foi lançado um ano antes desse, em 1987. O filme de matança é pouco comentado, mas foi bem elogiado pelos fãs de cinema B da época.

Depois de entregar Noite de Halloween, se especializou em suspenses e thrillers eróticos, lançando Testemunha Cega, Sob Influência do Vício, Olhos Noturnos e Trilha da Morte, entre os anos 1980 e 90.

A trama inicia no passado como já foi falado. Nesse momento é mostrado um menino loirinho, chamado Tommy, que recebe a visita de seu simpático avô. Depois dessa interação ele conta para Amanda, sua mãe, que encontrou o parente.

Ela se desespera, passa a lamentar e praguejar por meramente ter ouvido que o filho lidou com o pai dela. Amanda Drindle é interpretada por Katina Garner, que esteve em outras trasheiras como A Polish Vampire in Burbank, A Maldição da Tuma e Cannibal Hookers, como é esperado ela não tem um grande desempenho, na verdade abusa do exagero e da caricatura, e termina a sequência inicial desesperada, gritando enquanto destrói a abóbora dada pelo avô ao neto.

A trama é simples e não estraga a experiência saber dos fatos que nela ocorrem, afinal, os méritos maiores do filme miram a piada e a galhofa.

Ainda assim preferimos deixar aqui um aviso de spoilers. Se o leitor não quiser saber de fatos do roteiro, recomendamos ver a obra antes de seguir lendo o texto.

Noite de Halloween : a louca mistura de comédia e horror do fim da década de 1980

Ela se preocupa com a atitude de seu marido Bill (Michael Potts) que se irrita ao saber da aproximação do senhor e vai até o sogro tirar satisfação, sabe-se lá por que.

O mais curioso é que Amanda pede para ele não arrumar confusão afinal, é Halloween, falando de um jeito que faz parecer que o feriado é uma data cristã e não uma data que valoriza o ocultismo.

Bill perece diante de seu sogro, é acertado pelas costas por alguém misterioso e mascarado. Depois disso, ocorre um salto de treze anos para o futuro.

No presente o vovô conversa Amanda, diz que quer pegar o neto Tommy para si, afirmando que ele tem tudo para ser um bom líder para sua organização. Ele diz isso com bastante convicção, de uma forma que convenceria uma pessoa de fora, certamente.

Amanda resiste, mesmo sendo uma viúva ela segue tenaz, não permitindo a aproximação do parente junto ao seu filho mais velho, embora fique claro que o avô fala com seus descendentes, até de maneira livre e despreocupada.

Outra situação curiosa é que nenhum dos três filhos dela é criança, são todos adultos, não há sequer um esforço para mostrar eles como adolescentes de trinta anos.

Tommy agora é feito por Gregory Scott Cummins, já Roger, o filho mais moço é feito por Jeff Brown, enquanto a filha Vera é feita por Carla B., atriz que fez A Noite dos Horrores.

As atuações são exageradas e bastante canastronas, fato que em alguns pontos faz com que o filme não pareça se preocupar em lidar com os temas tabu que levanta.

O personagem de Pyke insinuar que teve relações carnais com sua filha Amanda, ou que pelo menos a forçou a quase ter uma relação de sexo, em um momento de vulnerabilidade inclusive, já que ocorreu no dia do casamento dela, na preparação da mesma para subir ao altar.

Além da referência clara ao abuso, é levantada a possibilidade de o Avô ser na verdade pai de Tommy, não à toa ele enxerga no primogênito a possibilidade de ser um líder para o seu grupo pseudo-religioso.

Tommy se tornou um homem rebelde, e Cummins captura bem esse espírito. O ator é comumente frequentador de obras B, como O Vingador da Noite e O Limite do Terror 3, mas segue um mistério se ele estava tentando parecer um adulto ou um adolescente.

Ele sonha com shows de rock, com personagens utilizando uma caracterização meio Glam Metal meio hard rock farofa. Nesse breve devaneio, toca Devils Son, junto a banda D.C. La Croix, com muito neon, fumaça de gelo seco e dançarinas em trajes sumários.

Logo o irmão mais novo de Tommy retorna para casa, feito nessa fase pelo já citado Jeff Brown, ator também era acostumado a fazer obras de orçamento baixo, como Vingança Selvagem.

Ele é um policial, que vai visitar seus parentes que ainda moram no interior, mas que não pretende ficar muito tempo. Vai atender ao chamado de sua mãe, que segue preocupada com a perdição de Tommy.

A trama é bem qualquer nota. Vale pelas muitas referências, como os pôsteres de filmes de horror, presentes no porão que Tommy fez como quarto. Se percebe ali um material de divulgação do filme australiano distópico Drive in da Morte e o bom A Estação da Bruxa de George A. Romero.

A montagem de Mundhra e Thomas Atcheson mostra essas artes pouco antes da exibição tola que Tommy, com o primogênito levando o caçula para ver o altar vermelho cor de sangue, de adulação ao capeta. É gratuito de uma forma monumental.

Falando em caráter gratuito, o que não falta aqui são momentos de nudez desnecessário, até Katina Garner passa por isso, aparecendo seu corpo em momentos que se tornam complicados graças ao fato de parecer uma sequência de sexo forçado. No entanto a maior parte das exposições de nudez ocorrem com as atrizes mais novas, especialmente com Carla B. e Jeanna Fine.

Noite de Halloween : a louca mistura de comédia e horror do fim da década de 1980

Como a obra não se leva a sério, aspectos como esse se tornam passáveis. Para o espectador mais sensível certamente o longa não é tão divertido, mas para quem está acostumado a consumir cinema de qualidade discutível, é difícil não achar essa uma peça galhofeira e divertida.

Na última meia-hora aparece enfim uma pessoa vestida de demônio, que vai matando quem aparece em sua frente com materiais de fazenda, usando forcados e até pás de cemitério. Com o passar do tempo, o clã do Avô é mostrado como mandante desses homicídios.

Os membros usam roupas vermelhas e pretas, semelhantes ao figurino do matador. Na parte de baixo do chão do celeiro há um pentagrama desenhado, até sacrificam uma vela mulher nua, marcando sua pele com o símbolo estrelado.

Como a trama se leva pouco a sério, o fato das pessoas aparecerem e desaparecem em ninguém notar a ausência se torna algo passável. Fica patente que os produtores queriam fazer desse um pastiche de filmes estilo Halloween: A Noite do Terror e Sexta-Feira 13.

A identidade do assassino é dada de maneira dúbia, com um dos personagens aparecendo usando o traje já sem máscara, mas sem dar certeza de que era esse de fato. O que fica claro é que toda a celeuma passa pela família Drindle, tanto em relação a liderança do culto, como na identidade do matador.

Noite de Halloween é uma trasheira divertida e descompromissada, uma obra que sabe bem o seu caráter e que não tem qualquer receio em ser uma piada em forma de longa-metragem. É uma boa pedida para quem gosta de cinema de horror e para quem procura uma alternativa não tão conhecida sobre o dia das bruxas.

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