O Túmulo do Vampiro é um filme de horror que é menos lembrado por sua exploração e mais pelo envolvimento de pessoas que ficariam famosas depois. Lançamento de 1972, tem direção de John Hayes é uma obra que explora elementos de terror e drama, partindo da ideia do roteirista David Chase, que no final dos anos 1990, traria para a TV o seriado dramático Família Soprano.
A trama lida com duas linhas do tempo distintas, que tem como interseção a presença de um personagem estranho, secular e monstruoso. Sua sinopse é confusa e não ajuda a definir o seu drama.
O longa-metragem tem eu seu início a história de um casal, que se reúne em um cemitério e que no meio disso, é atacado por uma figura estranha, que acaba marcando a vida da moça para além do susto e do assédio que essa mesma sofre. A outra parte da história narra a jornada do filho dessa mulher, tentando fazer justiça para o destino trágico da sua mãe.
Obviamente há elementos de exploração típicos de histórias de mortos-vivos, ligados claro ao vampirismo, embora não haja uma grande exploração de sanguinolência ou gore.
O nome original do filme é Grave of the Vampire, mas foi chamado também de Seed of Terror em uma reedição nos Estados Unidos. No Canada e na França foi chamado de Bébé Vampire, na Itália é La bara del vampiro, no México se chama El Bebê del Terror enquanto na Espanha se chamou Descendencia diabólica no vídeo e La tumba del vampiro nos cinemas.
Hayes era um diretor nova-iorquino, que fazia muitas obras de baixo orçamento, conhecido por vários filmes de gênero, normalmente com essas sendo produções com classificação indicativa alta, que flertavam com erotismo ou pornografia. Entre as mais lembradas estavam Shell Shock, Fandango, Dream no Evil, The Cut-Throats, Baby Rosemary e O Dia do Juízo Final, todas obras lançadas nas décadas de 1960 ou 1970.
Hayes deu um tratamento final para o texto de Chase. O escritor havia trabalhado em algumas obras pontuais, como Little Black Dress e a série The Bold Ones: The Lawyers. Dois anos depois desse O Túmulo do Vampiro escreveria um capítulo para The Magician, além de trabalhar em Kolchak e os Demônios da Noite, entre 1974 e 75.
A trama se inicia de modo quase silencioso, mostrando um túmulo, com o nome Croft escrito, onde se ouve só os barulhos típicos de um lugar pouco habitado - como é um cemitério - onde se ouve bem baixinho a música de Jaime Mendoza-Nava.
O lugar mórbido não atrapalha os planos dos personagens vivos. Pouco tempo depois que o filme inicia, aparece o tal casal que protagoniza a primeira parte da trama. Eles são Paul, o rapaz feito por Jay Scott e Leslie Hollander, de Kitty Vallacher. Eles se reúnem para namorar, claramente procuram um lugar escondido, para ter privacidade.
Paul é romântico, tanto que decide se isolar para pedir sua amada em casamento. Do seu modo atrapalhado - e macabro - ele demonstra o quanto ama a menina.
A parte de cima do túmulo de Croft é levantada, aparecendo assim um homem de pele enrugada.
Ele é o ator veterano Michael Pataki, ator conhecido por séries como Jornada nas Estrelas: A Série Clássica e Bonanza. Trabalhou em cinema com o diretor em Dream No Evil e viveria o Conde Drácula em Zoltan: O Cão Vampiro de Drácula em 1977, além de Halloween 4: O Retorno de Michael Myers.
Croft aparece desfalecido, com a pele enrugada, parece ter sido recentemente morto. Depois aparecem animais nojentos, especialmente sanguessugas, e lagartixas, algumas sugam o líquido vital, o sangue do sujeito, outras só andam por ali para demonstrar aquele como um cenário nojento.
Como há parasitas ali, fica claro que aquele ou é um organismo vivo, ou o ser morreu há pouco tempo.
É curioso que mesmo tendo narrado o trailer do filme, suas primeiras ações são silenciosas, ele praticamente não fala na primeira parte da trama.
O sujeito sai do túmulo e vai na direção do carro onde o casal está. Ele arranca a porta do carro, sem esforço, embora claramente ela seja leve demais. Isso não chega a incomodar, já que quem assiste obras como essa hoje, sabe que essa é uma produção de baixo orçamento.
Ele mata o rapaz e ataca a menina, de uma maneira que a deixa assustada, quieta e catatônica. Quando se aproxima do alvorecer ele corre, como se sua existência dependesse disso.
A moça sobrevive, mas fica em silêncio, não consegue verbalizar direito o que ocorreu ali, até por conta de ter sofrido uma violência grave, já que o ser monstruoso a tocou de maneira íntima.
Um homem bêbado e idoso, interpretado por Jay Adler), diz que encontrou o corpo morto e a menina. Sem ele dificilmente Leslie sobreviveria, mas se dependesse de sargento, Duffy (William Guhl), ele seria preso, sendo suspeito, basicamente por estar ébrio.
Quem interfere nesse processo é o tenente Panzer (Eric Mason), que se interessa pela história e freia o desejo punitivista e injusto de seu colega, não só por uma questão de estar certo, mas também por conta dele se interessar demais por resolver esse mistério.
Leslie está em choque, é econômica nas palavras, é observada por uma companheira de leito, chamada Olga, interpretada por sua vez por Lieux Dressler. Panzer separa fotos de suspeitos e vai mostrando para a moça e no meio delas, destacada, está a foto do homem cujo corpo sumiu da cripta, Caleb Croft.
Os policiais discutem sobre a identidade desse sujeito, ele que foi preso em Boston, por estupro, escapou no mesmo dia do cárcere e caiu nos trilhos do metrô acidentalmente, morrendo instantaneamente. Seu corpo foi levado para Califórnia, por algum motivo que não é revelado.
Duffy condena o tenente, o trata como louco, já que obviamente seria impossível um homem sobreviver a um choque de 50.000 voltz e ainda seguir vivo em seu caixão, até desdenha da tese, comparando Croft a Béla Lugosi, o ator que fez o clássico Drácula da Universal Pictures.
Vale lembrar que esse nome, Caleb Croft também apareceu na série de romances Anno Dracula de Kim Newman, que é uma série de romances literários posterior ao filme, lançada em 1992. Ou seja, Túmulo do Vampiro foi referenciado, mesmo sendo uma obra pouco conhecida.
O médico afirma que Leslie está grávida e aconselha a moça a interromper a gestação, já que essa é uma gravidez arriscada. A aparência da moça é horrível, ele está pálida e segundo o doutor o bebê não está vivo, embora reúna em torno de si os nutrientes do corpo da mãe.
Ele define a criança como um ser parasitário, semelhante as sanguessugas que grudaram no corpo de Croft. Tudo que cerca essa história é esquisito, inclusive a presença de Olga, que antes era uma doente e agora cuida de Leslie, 24 horas por dia.
O roteiro de Chase o tempo inteiro aponta para uma ligação entre Croft e todo o mal que assola Leslie, tanto que Panzer segue em sua jornada de maneira obsessiva, atrás de entender o que ocorreu ali, sendo seduzido pela busca pela verdade, possivelmente por forças benéficas.
Mas nem essa possível ligação com forças do bem salva o destino do policial é um confronto anticlimático, com Croft, no cemitério. Ele não prevê que poderá encontrar a triste figura, já que está andando justamente no cemitério onde o cadáver habitava.
Ele acaba sendo desacordado, tem a porta do caixão batida em sua cabeça e tem o seu pescoço chupado, sendo essa a prova cabal que o sujeito era um vampiro.
Olga faz o parto de Leslie, enquanto ela sua demais. As cenas são tensas, há um trabalho bom da direção de arte de Earl Marshall, que faz a personagem lembrar Lucy Westenra, que era uma das vítimas do conde vampiro do romance e de vários filmes.
A parteira demora a entregar o neném, parece achar algo estranho. Até Olga, que antes parecia insana e era descrente com a medicina, se veste de alguma lucidez, dizendo que acha melhor chamar o dr. Ford, já que a criança não quer comer e não aceita leite.
Leslie arruma uma solução acidentalmente, já que ao se cortar, seu filho lambe o sangue que respingou acidentalmente. Até esse trecho não havia tido nenhum vislumbre no rosto do bebê. O que aparece aqui é apenas a boca dele, queixo e parte das bochechas. Ela entende que seu sangue alimenta a criança e passa a se cortar, para deixar o menino bem.
O rapaz cresce, se torna William Smith, e assume o nome James Eastman. Seu objetivo é claro, mira perseguir o rastro de seu pai biológico. Curiosamente o ator que teve maior faturamento, só aparece em tela com 35 minutos de exibição.
Em sua investigação, James acabou indo a uma aula universitária, de um professor celebre, que fala a respeito de paranormalidade e mitologias. Ela é o professor Adrian Lockwood, que é interpretado pelo mesmo Pataki que faz o vilão, embora pareça diferente, já que está mais corado, mais saudável.
Sua aula fala de seres mitológicos e de monstros, suas palestras falam sobre os estudos a figuras lendárias e milenares, um assunto que obviamente gera curiosidade em sua classe. Eastman tenta participar, mas ao fazê-lo, é pouco sútil, cita vampiros em meio ao monólogo que explica suas referências.
Eastman cita Charles Croiden, inclusive afirma que pretende escrever uma tese sobre esse personagem histórico. O define como um homem do século 17, um nobre inglês, que é dito como um possível vampiro, ele e sua esposa, Sarah. O casal foi caçado pela igreja anglicana e buscaram refúgio num pequeno povoado puritano em Massachusetts.
Croiden foi responsável por uma série de assassinatos medonhos em Nova Salem, depois disso, sua mulher foi queimada como vampira em 1846, mas o homem jamais foi encontrado. Ele acredita que se ele for realmente um vampiro, poderia estar vivo, já que a única forma de matar ele seria utilizando uma estaca de madeira no coração.
A forma como o filme é dividido é no mínimo curiosa, já que nele há uma história interessante, na primeira meia hora e a segunda é muito fraca. Em ambas, Pataki vitimiza mulheres, as ludibria e as consome. Pesa contra o fato de William Smith fazer um personagem sem grandes aspirações, a não ser a sua estranha obsessão, com a figura que é o seu suposto pai.
Sua motivação é torta e não há muito vínculo entre o espectador e James, já que parece apenas um protótipo do herói brucutu, alto, forte, canastrão e carismático, mas nada muito além disso.
Com o ingresso dele, a segunda parte da história acaba sendo consideravelmente menos bem construída que a primeira, tendo como riqueza basicamente as coincidências entre o filho bastardo do vampiro e o vilão em si, já que James acaba sendo galante também, já que seduz Anita Jacoby de Diane Holden e Anne Arthur de Lyn Peters.
Apesar se ser um homem que chama a atenção das mulheres, que é naturalmente sedutor, não fica claro se ele é vampiro ou não.
Os momentos finais são confusos, com boa parte dos alunos tentando se aproximar de Lockwood, sendo com alunas tentando seduzir o professor ou pessoas tentando fazer uma sessão mediúnica bizarra com ele, sem a presença de James, obviamente.
O texto de Chase é bastante truncado nesse interim, mas finalmente ocorrem atos agressivos e violentos, sempre envolvendo o mito em torno de Charles Croiden e a tentativa de resgatar a memória e a alma de Sarah.
Há uma estranha sessão que tenciona parecer uma sessão espírita, com contato com espírito, no entanto se torna uma exploração a respeito de possessão, fato que é estranho por si só, sendo que esse foi lançado um ano antes de O Exorcista.
A revelação do vampiro é meio anticlimática e Hayes filma muito mal as lutas entre o morto vivo e os heróis. James ataca Croft, faz um discurso inflamado e bizarro e mata o sujeito, que imediatamente tem a sua pele apodrecida, ficando idêntico a cena inicial.
Ele se torna um vampiro pleno, no lugar do homem que ele dedicou sua vida a caçar, mas não há digestão nenhuma sobre essa revelação, ao contrário, é tudo jogado. Antes de entrar os créditos, aparece uma mensagem: Fim ou será que é mesmo?
Túmulo do Vampiro é uma obra confusa, que não marca muito a memória do espectador exatamente por faltar violência e por ocorrer um desapego a mitologia vampiresca comum, mas sem ter alguma nova crença ou um conjunto de regras capaz de substituir. Apesar da referência no final e do gancho não houve uma sequência, o que é até esperado, já que essa é uma obra pouco notável, valendo assistir pela curiosidade de entender o trabalho de Chase em início de carreira.
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