Os Demônios é um filme histórico, seminal e polêmico em essência. Lançado em 1971, dirigido pelo controverso Ken Russell, é uma obra que tenta contar um fato histórico relevante, com drama, conspiração, possíveis relações com o sobrenatural e muita infâmia.
A narrativa segue a vivência do sacerdote Urbain Grandier, interpretado por Oliver Reed, um padre famoso, bon vivant e com grande poder político, que incomoda o portentoso regime católico da França na década de 1630.
Esse é um cenário de "guerra ideológica", já que os protestantes avançavam em popularidade, competiam com os católicos romanos pela atenção dos fiéis. Essa seria a justificativa número um para toda a batalha política que ocorre aqui.
Esse pretexto é usado também para derrubar a figura carismática do protagonista, levando em conta o depoimento da irmã Jeanne, ou Joana dos Anjos, que é interpretada por Vanessa Redgrave.
Esse é conhecido como o primeiro filme de nunsploitation, que é o subgênero de horror focado em freiras assustadoras, que normalmente são obras de época (como essa), dos tempos da inquisição. Em filmes como esse o subtexto geralmente traz demonstrações de histeria coletiva via sexo (como também é o caso dessa), embora o horror seja mais ligado a humanidade e suas ganâncias e menos a espíritos, pelo menos, normalmente.
Os "demônios" do título são na verdade os homens, ao menos segundo a interpretação mais clara do longa-metragem analisado.
A obra é baseada no livro de Aldous Huxley, o autor de Admirável Mundo Novo. O material original se chama The Devils of Loudun, ou Os Demônios de Loudun.
Como já falado, esse é um caso dito como verídico ocorrido na França, no século XVII, quando um convento sofreu a chamada heresia em massa, alegando evidências de possessão demoníaca.
Além de se basear no romance de Huxley, também há inspiração na peça The Devils, de John Whiting, que por sua vez, também se inspirada nas tais "possessões de Loudon" de 1634.
Muitos aspectos e eventos entre as obras vem dos relatos histórico, incluindo o nome de Grandier, sua condenação por feitiçaria e sua morte na fogueira.
O roteiro é de Russell, baseado na tal peça de Whiting - que por sua vez, foi roteirista de A Morte de Um Herói (1953) e Camarotes Indiscretos (59). A peça já havia sido adaptada no telefilme alemão Die Teufel Von Loudun em 1969.
Houve também um filme polonês, chamado Joana dos Anjos, lançado em 1961, dirigido por Jerzy Kawalerowicz, que narra a história da irmã Jeanne.
Cada uma dessas versões tem as suas próprias controvérsias, mas nenhuma delas é tão agressiva quanto o entorno dessa obra. A polêmica maior não são as possessões ou a possibilidade de elas estarem de fato ocorrendo - embora tudo leve a crer que não ocorreram - tampouco é o conjunto de atos profanos e sexuais das freiras e padres e sim a cumplicidade que igreja e estado tem, a fim de manterem-se juntos no poder.
A obra foi proibida em diversos países. Chegou ao cúmulo de na Itália Vanessa Redgrave e Oliver Reed receberam voz de prisão caso pisassem no pais. Curiosamente, segundo fala do ator britânico, esse foi o seu filme preferido. Foi filmada no verão de 1970, pelos estúdios Russo Productions, distribuídos pela Warner Bros. Foi gravado na Inglaterra, com filmagens no Bamburgh Castle, em Bamburgh - Northumberland e nos Pinewood Studios, Iver Heath - Buckinghamshire.
O filme se chama The Devils, mas também foi conhecido em países de língua inglesa como The Devils of Loudun.
Em países de língua espanhola foi geralmente chamado de Los demonios, Na Bélgica é De bezetenen, no Canadá e França é Les diables. Na Itália é conhecido como I diavoli e em Portugal é chamado de Os Diabos.
Teve como produtores Robert H. Solo de Invasores de Corpos e Nico, Acima da Lei e Ken Russell. O diretor ganhou o prêmio de Melhor Diretor do National Board of Review em 1972 por dirigir esse e O "Boy Friend" (O Namoradinho).
O cineasta havia feito O Cérebro de um Bilhão de Dólares, Mulheres Apaixonadas e Delírio de Amor até esse ano de 1971. Ele ficaria famoso ao longo dos anos, com os principais momentos resultando no musical Tommy e no lisérgico Viagens Alucinantes e em A Maldição da Serpente.
O filme foi lançado em diversos tamanhos e duração. Em boa parte das praças foi picotado e censurado. Mesmo depois de sair do cinema, a Warner foi contra lançar uma versão do diretor, tanto que se encontra releases sem o logo da empresa, especialmente nas versões Uncut do filme.
Apesar disso há uma estranha uma referência, em um filme infantil dessa década.
Na plateia de um jogo de basquete em Space Jam: Um Novo Legado, uma das freiras da sequência polêmica faz uma mini aparição entre os espectadores do jogo que LeBron James disputa.
Jamais se esperaria isso, mas alguém da produção achou que seria uma boa ideia.
Houve um momento curioso e bem estranho envolvendo a crítica na época. O cronista Alexander Walker publicou uma resenha desfavorável ao filme, no Evening Standard. Ele e Russell foram convidados para um debate em um programa de notícias ao vivo da BBC, onde Russell confrontou Walker sobre supostas imprecisões em sua escrita.
Aparentemente o clima ficou tenso, mas as versões sobre como foi a briga divergem. A filmagem foi perdida, mas a maioria dos relatos afirma que a discussão ficou tão acalorada que Russell pegou seu exemplar dobrado do jornal com a crítica polêmica e bateu na cabeça de Walker com ele, gritando palavrões contra ele, chamando ele de "velha molhada", em alusão à homossexualidade de Walker.
A Warner Bros. relutou também em lançar o clássico em DVD. O longa só foi de fato posto a venda quando uma petição online convenceu o British Film Institute (BFI) a lançar em DVD a versão do filme, na Inglaterra.
Deixamos aqui um aviso não só de spoilers, mas também para pessoas sensíveis, já que o filme tem uma exploração do sexo bastante agressiva, com cenas explícitas e fortes, com referências até a necrofilia.
Fica aí o aviso.
A violência e o conteúdo sexual do filme geraram muita controvérsia antes e depois de seu lançamento, até em partes "internas".
Numerosas fontes relataram ultrajes ocorridos no set fechado e que não ficaram no filme. Pode ser que haja algum sensacionalismo nessa parte, afinal, o filme lida com pecados da igreja, algo que já desperta muitos furores e paixões, mas de fato há alguns momentos que aviltam até o espectador mais tolerante, já que há cenas de sexo grupal e uso até de ossos humanos como objeto de masturbação.
Os boatos davam conta que Russell estava filmando atos depravados, possivelmente permitindo ou incentivando até atos de abuso.
Um artigo do Daily Record, publicado em novembro de 1970, dizia que jovens atrizes relataram que foram agredidas sexualmente por figurantes, além de serem forçadas a andar nuas pelos cenários. O elenco fez uma exigência de ter alguém do Actors' Equity sempre presente durante a produção.
A história se passa na França, em 1634, na província de Loudon, que ficou famosa depois desse caso.
A versão sem cortes começa com uma peça, observada por um religioso, o Cardial Richelieu, de Christopher Logue. Nela, homens interpretam mulheres em o Nascimento de Vênus, invertendo questões de gênero já no início da exploração dramática.
O momento dramatúrgico termina com o cardeal selando um acordo das autoridades governamentais com o clero, exemplificando que o momento de entretenimento funciona como despiste para a população, enquanto poderosos discutem ganhos e formas de explorar o povo e seus bens.
É o famoso conceito de pão e circo.
Não demora a aparecer o padre célebre, famoso por seus feitos. Urbain Grandier (Reed) é um homem de boa oratória e pose altiva, um sujeito bonito e portentoso, conhecido por feitos quase míticos e também por pregar maravilhosamente bem. Ele é tão influente que tem acesso a muitas mulheres, sem ter qualquer punição por seus atos de luxúria.
A irmã Jeanne se imagina se aproximando dele despida de seu hábito, mostrando seus longos cabelos claros enquanto se aproxima dessa figura sexual apetitosa.
A moça passa as madeixas nos pés dele, em uma clara alusão a mulher que enxugou os pés de Cristo com lágrimas e cabelos.
No meio desse ato, sua coluna torta surge, como se fosse um elemento externo, que nasceu naquele momento, mas que revela a sua realidade corporal. Parte do drama de Joana dos Anjos é esse, a de ser uma pessoa com uma deficiência física muito aparente.
O papel de Jeanne foi oferecido a Glenda Jackson, mas ela recusou porque estava cansada de interpretar papéis sexualmente neuróticos nos filmes de Russell.
Segundo o diretor, o roteiro trazia uma cena em que a personagem tem a cabeça decepada e exposta no altar do convento, com várias pessoas adorando-a, como se fosse uma santa. Ao saber disso, Jackson disse que não leu esse trecho no tratamento do roteiro, disse inclusive que se houvesse lido, teria adorado filmar uma sequência dessa estirpe.
Esse foi um filme complicado para Redgrave. Ela e Franco Nero esperavam um filho, que acabou sofrendo um aborto durante as gravações desse. No entanto a atriz disse que não restaram más lembranças, ela escreveu na sua autobiografia que considera este filme, juntamente com A Carga da Brigada Ligeira (1968), o melhor exemplo do cinema britânico do pós-guerra e um dos melhores filmes em que já participou.
A primeira pessoa que Grandier "transa", Phillipe (Georgina Hale) tem o rosto cinza. Essa maquiagem é estranha, tanto que ela parece estar morta, semelhante ao visual dos zumbis de George A. Romero, teriam quando fossem feitos em cores, sete anos depois, em O Despertar dos Mortos.
Russell é profano e usa a edição de Michael Bradsell de forma que iguala os momentos de intimidade sexual com sessões de expulsão de demônios.
O exorcismo mostrado é estridente, os religiosos praticam medicina himenóptera: usam venenos para combater o demônio, ao menos é esse o discurso. Há sanguessugas, salsaparrilha, água de amoras, casulos de papoulas e vespas. Os exorcistas fazem algazarra com a possessa, até serem expulsos por Grandier, que considera aquilo uma falta de respeito.
Diante das ilações e da possibilidade de um homem santo violar corpos de moças mortas, condições como a tara da madre Jeanne/Joana, não assustam tanto.
O curioso é que Dos Anjos se enxerga como uma pessoa digna de castigo e reprimenda por conta de corcunda, fato que não é culpa sua, e menos por seus pensamentos lascivos e impuros, que incluem desejos com Urbain.
A postura do padre de levar meninas inocentes para sua casa a fim de se aproveitar delas encontra paralelos reais e infelizmente atuais. Basta ver a quantidade de escândalos em igrejas, centros e lares espíritas, onde abusos ocorrem e são abafados sempre que há possibilidade.
O auge da blasfêmia - ao menos no início - talvez seja o trecho onde Jeanne fantasia cenas tórridas com imagens, depois com um Jesus crucificado de carne e osso, que rapidamente se transforma em Grandier.
Nesses trechos as visões ocorrem sem cores, em um campo de sonhos desprovido do toque divino, onde ela não tem o defeito congênito da coluna torta.
Essa é uma cidade perdida no tempo, avançada demais para os anos 1600, espiritual e arquitetonicamente. Há uma construção visual soberba. Os cenários de Derek Jarman (de Messias Selvagem) são grandes, altos, com predomínio de cores básicas e coloridos em detalhes bonitos e pontuais.
Jarman usou modelados de Metrópolis, de Fritz Lang. Russell queria evitar a aparência comum aos filmes de época dos anos 1960-70 e insistiu em um design anacrônico, mais puxado para o futurismo.
A orientação de Russell para Jarman foi que deveria ecoar a frase 'estupro em banheiro público', presente no romance de Huxley.
Richelieu passeia pelo palácio da igreja em uma estrutura com rodas, que mostra o exato oposto de voto de pobreza típico dos sacerdotes católicos atuais.
Logo, o Barão De Laubardemont de Dudley Sutton, chega a Loudun, para demolir as fortificações em volta da cidade, mira então a derrubada de partes belíssimas da muralha, que não parecem pertencer a esse tempo. É o novo sobrepondo o tradicional.
Enquanto se preparava para a demolição das muralhas, um técnico confundiu um sinal de Ken Russell e detonou os explosivos antes que as câmeras começassem a filmar. Dessa forma, parte do cenário teve que ser reconstruída. No entanto, um documentário presente no DVD do filme contradiz essa história.
Neste documentário, Russell afirma que foi ele mesmo quem apertou o botão que detonou os explosivos sem comunicar isso à equipe de filmagem, sendo refilmada um mês depois porque s câmeras perderam essa destruição.
Homens poderosos se opõem a Grandier. Ele é odiado, inclusive por um magistrado, que o acusa de ter engravidado sua filha.
Os tais exorcistas Adam (Brian Murphy) e Ibert (Max Adrian), que observaram e tomaram nota das suas fornicações. Até o padre Mignon (Murray Melvin) que constatou que a madre superiora Joanna é histérica, embora seja lúcida o suficiente para desejar a queda do padre celebridade.
No entanto, há uma carência de provas do sacrilégio dele. Toda a história gira em torno de fazer ele parecer um homem culpável.
Na intenção de capturar Grandier, chamam o personagem de Michael Gothard, o padre Barre (ou Varre, de acordo com algumas traduções) que ao conversar com a personagem de Redgrave, onde ouve muitas obscenidades.
A sessão que Joana traz as supostas provas de ter sido abusada é barulhenta, hiper gritada, escandalosa, termina com os homens abrindo a intimidade da personagem de Redgrave, na frente de todos, de vários homens. Ela é torturada, colocam um objeto fálico enorme, parecido com uma seringa gigante.
A música de Peter Maxwell Davies é alta, conta com instrumentos de sopro tocados fora do ritmo, em uma algazarra que exprime bem o estado mental de insanidade induzida. As composições foram levadas por The Fires of London, com arranjo e direção de David Munrow e em colaboração junto a The Early Music Consort of London.
Jeanne deu indícios de delírios, mas nesse caso ela foi violada pelo analista, não por Grandier, tratada como lixo, relegada a uma serva do diabo, que sob tortura, afirmava que foi transgredida por um homem que sequer trocou olhares com ela.
Começa outro número de atuação, simbolicamente semelhante ao do início do longa, quando Barre convoca as freiras a denunciarem Grandier. Elas se libertam de seus hábitos, de todas as suas roupas, são todas belíssimas, exibicionistas, comportam em si os padrões de beleza da segunda metade do século XX.
O filme é uma insanidade conduzida pela igreja, que unida ao estado, faz o que quer com seus cidadãos, quase chacina as freiras, tudo para provar um ponto, para deixar elas desesperadas, ao ponto de transformar a idolatria a Grandier em denúncia de que ele era blasfemo.
Houve uma desistência curiosa nas gravações. Cassandra Peterson foi escalada como freira, ela chegou a usar o figurino, foi para o set, mas desistiu assim que soube que iriam raspar sua cabeça.
A trama segue e introduz o nobre Louis III (Graham Armitage), o mesmo que estava na introdução do filme.
A obra desemboca em um momento de orgia e loucura, onde libido e insanidade se mistura. Mulheres nuas se exibem, se esfregam entre elas, também com homens, agem como se estivessem possuídas.
A cinematografia de David Watkin ajuda Russell, sobretudo nas cenas das religiosas se tocando e tocando os outros. Há planos diversos, a maioria bem explícito nos sentidos carnais, infelizmente estão em uma qualidade inferior, afinal, não estavam no corte para cinema.
É curioso como não existe penetração alguma, só menções ao sexo comum e claro, à masturbação das mais diversas, fora o movimento da lente, que emula o impulso pélvico, como se a câmera de registro fosse na direção das mulheres, em busca de coito.
Ainda assim houve coisas cortadas, como um momento onde as irmãs destroem e violentam uma estátua de Cristo em tamanho real, no meio de frenesi orgiástico.
O crítico de cinema Mark Kermode descobriu a filmagem muitos anos depois. Ken Russell fez questão de restabelecer a cena, mas foi nesse ponto que a Warner Brothers afirmou não estar interessada em fazer uma versão do diretor. A filmagem pode ser vista em um documentário que Kermode fez sobre Russell e posteriormente foi incluída em um lançamento em DVD sem cortes.
Em uma longa entrevista de 1973 dada a John Baxter, chamada An Appalling Talent Ken Russell, o realizador deu algumas informações sobre a filmagem da cena do 'estupro de Cristo'. Esse foi o tal trecho onde as atrizes reclamaram de terem sido agredidas sexualmente.
Segundo o relato, haviam 50 figurantes masculinos nus, que pareciam aproveitar o fato de serem amadores para castigar as freiras nuas mais do que o necessário.
Russell chegou a assumir que uma das meninas foi violentada e até fala em tom solene sobre isso. Eram outros tempos e ele não parecia se sentir particularmente culpado pelo ocorrido, mesmo que fosse a autoridade máxima no set.
Na trama, Os Demônio segue suas profanidades, sem receio de mostrar o louvor da igreja e a honra que eles dão ao falocentrismo e ainda faz isso sem mostrar um único pênis enrijecido.
Mostra também a vaidade dos homens, que não aceitam que um sujeito desinibido sexualmente é alguém saudável. As luxuria provocadas e concebidas pelas irmãs separadas é ignorada, assim como os pecados dos irmãos.
A ideia fixa é condenar um homem por um crime que ele não cometeu, com o quadro piorando depois da tentativa de suicídio de Joanna.
Em alguns momentos a obra recai sobre um exibicionismo bobo, com freiras seminuas se beijando e dando uvas na boca uma das outras, mas até esses exageros servem a trama, já que os ritos de exorcismo falso fizeram elas se libertar, abrindo mão das amarras morais e da crença limitante que tornaram as devotas em pessoas assexuadas.
Os exageros que comprometem a trama residem na representação dos membros do júri com máscaras brancas e chapéus pontudos, com um visual nada sutil, que lembra o da Klux Klu Klan. Urbain é injustiçado, mas não se compara aos perseguidos pela KKK, embora sofresse também por mentiras.
Essa iconografia é clara para demonstrar que esse lado da política é errático e por mais que a inspiração seja em visuais do passado, aqui parece forçado.
A sutileza também se esvai ao mostrar o homem vaidoso e luxurioso como vítima de um juizado reacionário e extremista, que se nega como ator político, mesmo sendo literalmente isso.
O sujeito é julgado, tem seus cabelos e bigode cortados. É descaracterizado antes de sofrer marretadas. Na cena em si não fica claro onde os golpes foram dados. Ele pode ter tido a pélvis ferida, ou pode ter sido golpeado nos braços e pernas. O que se vê é o seu rosto, reagindo a dor tremenda.
Curiosamente, é Varre/Barre que o flagela, justamente o padre que fez uso carnal de uma das suas irmãs em Cristo. O carrasco é hipócrita, preocupado só consigo.
Para quem aponta essa como o marco um da Nunsploitation, o fim de Grandier é um bom ponto. Ele perece como as bruxas da época da inquisição, é queimado vivo.
Reed não para de falar enquanto o fogo consome a pele de seu personagem. O efeito é sensacional, tão assustador e gráfico quanto o discurso dele, inflamado, suplicando para que os cidadãos olhassem para a cidade, não para ele.
Não há mocinhos ou heróis, só dedos apontados, um bode expiatório que só é tratado assim por não aceitar negar sua sexualidade. O longa tem muitas camadas e simbolismos, de um modo que torna quase inesgotável a discussão em torno do seu tema central.
Os Demônios mostra a claustrofobia murada como causadora de problemas de ordem mental sexual, tal qual Repulsa ao Sexo, de Roman Polanski. Resulta em uma obra que é mais tida como profana não só por seu forte conteúdo sexual, mas por apontar o dedo para a atitude grotesca e irresponsável da igreja, que age de modo castrador com o povo, que pratica toda sorte de pecado com anuência do estado, que é sócio nessa catástrofe e exploração do povo.
Comente pelo Facebook
Comentários
Comente pelo Facebook
Comentários