Uma Noite de Fúria é um filme natalino peculiar e estranho, já que se pauta a partir da apresentação de um assassino de caracterização curiosa. O seu maior diferencial certamente é o seu personagem principal - que é o Papai Noel forte, bombado e psicopata - e claro, o tom, que mistura elementos de obras do cinema B, terror, trasheira e uma comédia rasgada, regada a absurdos.
Lançado em 2005 e dirigido por David Steiman, é protagonizado pelo carismático lutador de WWE Bill Goldberg, que está muito bem no papel pervertido do Bom Velhinho.
O longa-metragem tem em sua base uma variação bizarra do mito de São Nicolau, mostrando o Papai Noel como um sujeito irascível, hiperviolento, que controlou seu ímpeto agressivo por muitos anos.
O filme se chama Santa's Slay no original. Na Argentina e Espanha se chama El verdadero Santa, Very Bad Santa na França e Matança de Natal em Portugal. O longa teve locações no Canadá, em Westaskiwin-Alberta e nos estúdios Canwest, em Edmonton. Há cenas filmadas em Los Angeles, especialmente na abertura e créditos finais.
O filme é conhecido na Europa por fazer parte do programa "SchleFaZ", seriado televisivo da Alemanha que fala sobre filmes ruins. Nessa série, dois apresentadores apresentam o filme na íntegra e zombam dele durante a exibição.
Ele foi produzido por Matthew F. Leonetti Jr. de Asssasino A Preço Fixo e Oldboy: Dias da Vingança, por Brett Ratner o famoso diretor de A Hora do Rush, Doug Steeden, conhecido por ser gerente de produção de Togo, e claro, Sammy Lee de Monster: Desejo Assassino e No Rastro da Bala.
Tem produção executiva de Andreas Grosch, Stewart Hall, JoAnn Perritano, Andrew Pfeffer e Andreas Schmid.
Steiman era estreante na função de diretor e só conduziu esse, infelizmente. Sua experiência era em papéis de produção, especialmente como assistente de Ratner em filmes como Um Homem de Família, A Hora do Rush 2 e Dragão Vermelho.
Já no início da exibição se percebe que o elenco é repleto de grandes nomes. Esse trecho mostra a ceia de uma família em pé de guerra, com atores judeus, que ironicamente estão em uma celebração que não compreende a sua religião.
Entre eles há James Caan, que faz o pai da família, a icônica Rebecca Gayheart de Lenda Urbana, Chris Kattan de Os Estragos de Sábado à Noite e Fran Drescher, a protagonista de The Nanny. Além desses há bons acréscimos ao elenco, como o veterano Dave Thomas como pastor Timmons, também Tom Lister Jr. e Vince Russo também tem papéis pequenos.
Esse trecho é uma boa introdução do Papai Noel de Bill Godlberg. Ele desce pela chaminé já mostrando a que veio. Mostra uma força descomunal, quebra objetos duros como se fosse papel e está todo sujo de carvão, afinal, a fogueira estava acesa.
Ele simplesmente vai atacando cada um dos familiares, não necessariamente por serem maus ou odiosos, uma vez que fato eram, mas sim por que ele é ruim, além de ser irônico, já que usa os artefatos de jantar e da casa para chacinar todos, inclusive o cachorrinho.
A coisa é tão caricata que parece um esquete do Saturday Night Live, é hilária de uma maneira constrangedora. Talvez por isso o nome de James Caan não tenha aparecido nos créditos de maneira oficial.
Os créditos são legais, tem uma música temática, Christmas (Baby Please Come Home) em uma versão de Gore Gore Girls. É acompanhada de desenhos do Papai Noel fazendo travessuras ao longo dos anos, mostrando assim a verdadeira raiz do personagem enfocado..
Goldberg já tinha alguma experiência com cinema. Nesse mesmo 2005 fez Golpe Baixo, com Adam Sandler, também tinha co-estrelado Soldado Universal: O Retorno, em 1999. Também é curioso que, sendo ele judeu praticante e que leva a sério a sua crença, acaba interpretando uma versão de um santo católico cristão.
Esse filme foi bastante importante para ele, especialmente no âmbito pessoa. Foi nas gravações dessa Uma Noite de Fúria que o carismático lutado conheceu sua futura esposa Wanda Ferraton. Ela era coordenadora de dublês e só concordou em fazer o filme porque pensou que ele seria estrelado por Jeff Goldblum, só quando já estava trabalhando no set é que ela soube que o ator principal não era Goldblum, mas sim Goldberg.
A trama se passa em uma cidadezinha qualquer, pequena e do interior, chamada Hell Township. Nesse lugar a maioria das pessoas é chata, mal-educada e insuportável.
Dessa forma a narrativa acaba justificando o castigo que ocorrerá, afinal, essas pessoas são indignas, malvadas em essência, mas ao invés de receber carvão, vão sofrer nas mãos do Papai Noel maluco.
De acordo com essa versão, a entidade conhecida como Papai Noel não é uma derivação do mito de São Nicolau, é na verdade um demônio, que perdeu uma aposta para um anjo e foi obrigado a ficar 1000 anos fazendo bondades. Esse seria o primeiro natal após o término dessa aposta.
A parte "legal" da trama acompanha uma lojinha, cujo dono é um judeu que é uma das poucas pessoas minimamente educadas na cidade. Ele é o sr. Green (Saul Rubinek). Nela trabalha o casal de protagonista, o Nicolas Yuelson (Douglas Smith) e bela Mac (Emile de Ravin). Os dois tem opiniões diferentes sobre a data festiva, com ela sendo uma pessoa muito empolgada, enquanto ele, não. Nicolas não tem qualquer receio de parecer pessimista ou desanimado.
Ele mora com seu avô, Robert Culp, ator que era mais conhecido por ter protagonizado seriados como Os Destemidos, com Bill Cosby nos anos 1960 e Super-Herói Americano na década de oitenta.
O personagem idoso carrega consigo o Livro de Claus, que está na família Yuelson há incontáveis gerações. Esse escrito explica a real origem da lenda de Claus e está escrito em islandês. Isso vem em atenção ao fato de que boa parte dos mitos relacionados ao Papai Noel tem origens nórdicas.
O vovô então conta a história da aposta, contextualiza o mito, mas não consegue fazer o menino levar ou causo a sério, embora o próprio senhor não seja tão enfático, tanto que permite ser interrompido por um coral de natal que bate porta.
Junto a Mac, Nicholas resolve ler o livro e acaba achando mais detalhes da tal aposta. A sequência se dá numa boa animação com bonecos.
As ações do Papai Noel são agressivas e engraçadas, algumas são até sexualmente ofensivas. Ele invade um bar de striptease, onde tocam músicas próprias da trilha sonora original - que infelizmente não chegou a ser comercializada, mesmo que tivesse boas faixas - esse trecho ainda termina de maneira bem estranha, mostrando a mania de limpeza de Noel, que acaba limpando um poste de pole dance, afinal, é sempre importante manter o asseio.
O dia do natal ocorre depois que passam mais de 30 minutos. Isso entra em contradição com a cena inicial, já que aquela parecia ser uma ceia de natal, e não de ação de graças ou algo que o valha. Talvez Steiman tenha pensado em fazer uma história não linear, no estilo dos dramas de ação conduzidos por Quentin Tarantino.
Nicholas se convence de que o livro fala a verdade, especialmente depois que seu patrão é morto. Os crimes são quase sempre regados a versões Rock'n Roll de clássicos natalinos e isso é um grande acerto do filme. Essa escolha do diretor é sensacional.
Steiman também acerta no timing da violência, condensa essa agressividade junto as piadas. Consegue fazer uma obra rápida, concisa e cheia de elementos festivos na maneira em destaque.
Noel quase sempre se apresenta como uma figura corpulenta e bizarra. A versão de Goldberg lembra demais a gaiatice e o físico do personagem da DC Comics, Lobo, o Maioral, que tem um quadrinho famoso onde ele enfrenta o Bom Velhinho.
Diferente do czarniano, esse Noel não é um ser cósmico e sim uma figura espiritual antiga, que mata sem dó, ataca a todos e é estiloso, tanto que usa como montaria uma corruptela das famosas renas, tendo búfalos infernais a frente do seu trenó.
O final é baseado demais em clichê, até com uma intervenção estilo Deus ex Machina. A revelação de que o vovô Yueleson é o anjo da lenda era esperada, assim como a nova aposta.
Esse filme tem uma certa dificuldade em terminar. Há diversos momentos de fechamento e quando os créditos finais finalmente terminam, há uma boa quebra de quarta parede, onde William Goldberg termina perguntando: "Quem é o próximo?", fala essa que é um borão que ele enquanto lutador usava, depois de derrotar seus oponentes.
Uma Noite de Fúria é uma boa comédia, é uma sátira de horror natalino, com muitos elementos de Conto de Natal de Charles Dickens, clichês esses levados de outra maneira. Sua riqueza é o seu personagem principal, que mesmo sendo um antagonista da humanidade, não deixa de ser super divertido. Tem ótimas piadas e um gore considerável e muitos bons momentos, é realmente uma pena que não tenha tido sequências ou mais trabalhos do seu realizador.
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