A Maldição de Ouija: Uma mistura de violência e infantilidade

A Maldição de Ouija é um filme B de terror bastante simples, que narra a história de um grupo de jovens comemorando o aniversário de 17 anos de um deles. Na festinha, os meninos o brincam com o artefato conhecido como tábua ouija, o mesmo que supostamente invoca espíritos, e isso causa um grande problema para eles e para a cidade onde vivem.

O longa-metragem conta com a direção e texto de Rubén Galindo Jr., e é mais conhecido por conta da participação do mago de efeitos especiais Screaming Mad George ainda em início de carreira, como o encarregado de tentar tornar críveis as criaturas monstruosas, referenciando claro os clichês de filmes de possessão.

O nome original da produção é Don't Panic, e possivelmente teve seu nome brasileiro modificado por conta de outro filme de horror que Mad George trabalhou, Em Pânico, do original Hide And Go Shriek.

Galindo usa a crença geral de que jogos de invocação sobrenatural são farsas especulativas. Para isso, ele utiliza a rotina de Michael que recentemente se mudou para o México. Jon Michael Bischoff atuou poucas vezes, como em Rescate Mortal e foi compositor musical tanto deste quanto em outros trabalhos do diretor, como Ladrões de Túmulos, e se percebe facilmente a dificuldade que ele tem em sustentar a dificuldade de ser o protagonista de um filme.

Review: Don't Panic (1988) — CONFLUENCE OF CULT

O diretor nasceu no Mexico e lá realizou alguns, e tem especialização em filmes de horror, como Cementerio del Terror - que inclusive, é exibido em uma televisão neste A Maldição de Ouija. Essa expertise garante a essa produção um pouco de dignidade, sobretudo na construção do suspense e na atmosfera paranoica.

O texto é bastante expositivo. O grupo de amigos que confraternizam com o aniversariante são imaturos, soltam piadinhas infantis e é dentro desse comportamento inconveniente e juvenil que eles começam o pseudo ritual espiritual.

Don't Panic (1988). — FORCE FIVE

O roteiro por sua vez não prima por ineditismo ou novidade. Se resume a mostrar joguinhos de ciúmes entre Michael e seu par, que é interpretada pela bela Gabriela Hassel - atriz mexicana de produções como Vacaciones de Terror, Un Sabado Mas e La Mafia Tiembla - além das pegadinhas típicas de adolescentes na fase da puberdade.

O aspecto realmente marcante são os efeitos. Há uma cena no mundo dos sonhos que mostram mãos monstruosas saindo do teto, e que dentro das limitações orçamentárias, soam legais. Aos poucos, o protagonista perde o controle de suas próprias ações, tem olhos vermelhos quase diabólicos e tem contato com o metafísico, fato que faz perguntar se as experiências que julgou ter realmente ocorreram ou se foram delírios de sua mente cansada.

DON'T PANIC (1987) Reviews and overview - MOVIES and MANIA

Assassinatos ocorrem fora da tela e a maior parte da violência é mostrada após os atos cometidos, predominando os corpos já mortos ao invés de em execução. Isso ocorre com cenas de esfaqueamentos sanguinários até homicídios mais simples, que podem ou não ter em Michael uma testemunha, um cumplice ou um autor.

Esse filme foi lançado em 1988, mesmo ano de Eles Vivem, e curiosamente os dois protagonistas tem uma caracterização pontual: ambos usam óculos escuros por conta da proximidade de uma outra dimensão, que só eles veem. A diferença mora na razão de ser de Michael, que é apenas um rapaz desocupado que parece ter medo de crescer, enquanto na produção de Carpenter, George Nada é um badass que vê um mundo corrompido, e tenta mudá-lo. George é ativo e Michael é passivo.

Bischoff tem um desempenho risível. Suas reações são exageradas e patéticas,o fato do roteiro carecer de lógica também não ajuda. Na escola o personagem sofre bullying, e o mesmíssimo grupo que o ataca é também o de amigos que tratavam ele com carinho no começo do filme.

Poderia haver qualquer razão para ele sofrer com a mudança de comportamento, mas nada é referenciado. Não há motivação para mudança de tratamento, tampouco se problematiza uma razão de rejeição do "menino".

Uma possibilidade válida para essa mudança de tratamento talvez seja o figurino de Michael. O sujeito é claramente infantilizado, suas roupas têm estampas de dinossauros fofinhos, ele usa praticamente o mesmo "pijama" o filme inteiro, branco e com estampa cheia de cores básicas. Em alguns pontos fica a dúvida real se a ideia de Galindo era fazer piada com o jovem estadunidense, igualando-o a um cosplay de Dennis o Pimentinha

Ha ao menos um prazer em ver Dont Panic, que é a transformação monstruosa e como ela evolui com o decorrer da trama.

Armando on Twitter: "My review of Ruben Galindo Jr's 2nd full-length horror feature Don't Panic (1987) is now posted! https://t.co/KHHwir2VPB #dontpanic #dimensionesocultas #rubengalindojr #jonmichaelbischof #robertopalazuelos #mexicanhorror #slasher ...

Certamente seria menos enfadonho o filme caso esses aspectos tivessem mais espaço, mas ao invés disso, o que se vê são tentativas de Galindo em se auto referenciar, pondo os garotos para assistir suas outras obras.

Nem mesmo a surpresa sobre a identidade do assassino surpreende, uma vez que os meninos e meninas que aparecem parecem todos a mesma pessoa replicada dezenas de vezes. Não há variação de caráter ou personalidade entre os jovens.

A Maldição de Ouija vale por conta da característica música de Jon Michael Bischof e Pedro Plascencia, das viagens para outra dimensão através de eletrodomésticos como a televisão - em uma boa perversão do conceito visto em Poltergeist: O Fenômeno - e também pelos métodos do assassino, que age de maneira eficiente, silenciosa, e até prazerosa, já que quase todos os personagens eram insuportáveis. Seus pecados ficam evidentes quando ele se leva a sério, quando não, resta uma fita trash muito divertida e engraçada.

Avatar

Comente pelo Facebook

Comentários

Deixe uma resposta