Era o começo dos anos 90 e a Batmania estava no auge. Ela havia começado em 1989 quando a Warner resolveu investir pesado no marketing do primeiro longa-metragem do Batman dirigido por Tim Burton. Três anos depois, o segundo filme chegava aos cinemas e, com ele, estreava nas telinhas a série animada do Morcego produzida por Paul Dini e Bruce Timm. Sucesso instantâneo de público e crítica, a animação encontrou seu caminho para a tela grande no Natal do ano seguinte. Em 25 de dezembro de 1993, Batman: A Máscara do Fantasma era exibido para um público, inicialmente pequeno, mas que aumentou, principalmente com o lançamento em Home Video. Agora, vinte anos depois, chega a hora de revisitar essa pequena jóia, um deleite para os fãs do Morcegão.
A Máscara do Fantasma é considerada por muitos a melhor adaptação do Batman para uma mídia que não seja as HQs. Não é para menos. Com 75 minutos de duração, o desenho mostra uma das mais tocantes jornadas de Bruce Wayne, colocando novas motivações para o personagem, além de visitar seu passado, antes de vestir a capa e o capuz. A trama principal mostra o herói investigando as ações de um novo justiceiro em Gotham. O misterioso Fantasma está eliminando chefões da máfia e, como não há pistas sobre seu paradeiro, a mídia chega a atribuir os crimes ao próprio Batman. Ao mesmo tempo, uma paixão do passado surge na cidade, despertando em Wayne uma série de sentimentos que vão desde o amor até o remorso e a incansável sede de vingança.
O roteiro escrito por Alan Burnett, Paul Dini, Martin Pasko e Michael Reaves é complexo em sua abordagem da psique de Bruce e de como sua vida foi totalmente consumida pelo juramento que fez ao túmulo de seus pais. Ao mesmo tempo, Andrea Beaumont, sua antiga namorada, também exibe uma trama trágica e reforça que mesmo Batman não sendo um protótipo de sanidade, não é qualquer pessoa que tem o autocontrole necessário para não ultrapassar os limites.
Fiel à essência dos quadrinhos, a aventura abre caminho para que o espectador imagine Wayne em uma vida tranqüila, sem o fardo de seu senso de justiça. Em determinado momento do passado, Bruce conversa com a lápide de seus pais e confessa que com Andrea já não dói tanto. É uma cena triste porque obviamente o jovem bilionário não ficará com a garota, e por revelar que ninguém é uma ilha e talvez a cura para certas dores esteja justamente em um relacionamento, na companhia de alguém. É por rejeitar o amor que a garota sucumbe e, de certa forma, Wayne também.
A história se torna ainda mais interessante quando o Coringa é incluído, na imortal dublagem de Mark Hamill. Desta forma o longa une os dois universos de crime de Gotham, a máfia e os vilões malucos que vivem infernizando a vida do Batman de forma satisfatória e que ajuda a manter a atenção do espectador. Mas o que importa aqui é justamente o oposto. Não são as ótimas cenas de ação, mas sim os momentos mais intimistas e psicológicos, vistos apenas em Graphic Novels de abordagem mais madura, que merecem destaque. O roteiro segue cortando a ação no presente com cenas do passado em uma clara influência de Cidadão Kane, já que ambas as obras tratam justamente de perdas através do tempo que moldam os protagonistas no presente.
A direção de Timm e Eric Radomski contribui para que a animação jamais caia na armadilha de tentar agradar as crianças. Apesar de ser voltado para a família e ter uma classificação baixa, A Máscara do Fantasma discute temas adultos sem precisar apelar para violência desnecessária, mantendo o foco nas angústias de seu personagem principal. Pegando emprestado elementos de Batman – Ano Um e Ano Dois, o longa acaba servindo, também, como uma espécie de história de origem, mesmo mostrando o herói no auge de suas atividades.
Com uma trilha sombria e quase operática composta por Shirley Walker (inspirada pelos trabalhos de Danny Elfman nos longas de Burton), o filme é um programa obrigatório para qualquer fã do Morcego. Se você nunca assistiu, aproveitar o aniversário de duas décadas da animação é uma ótima ideia para conhecê-la, até porque, graças a sua intenção de fazer quase um estudo de personagem, o tempo foi generoso e não exibe tantas marcas, não datando em nada a obra.
Curiosidades
- Inicialmente, seu lançamento seria direto para vídeo. Mas quando os executivos viram a animação em 3D que seria usada como abertura para o filme, se animaram e pediram para os realizadores que preparassem o longa para exibição nos cinemas;
- A decisão fez com que os animadores adequassem o filme para o formato widescreen, uma vez que estava sendo produzido levando em conta as telas quadradas das TVs da época;
- Seu orçamento foi de 6 milhões de dólares e arrecadou 5.6 milhões em sua passagem pela tela grande;
- Gene Siskel e Roger Ebert elogiaram bastante o filme no programa semanal que apresentavam na TV norte-americana. Ambos concordaram que A Máscara do Fantasma tinha trama superior a de Batman – O Retorno;
- A revista Empire a elegeu como a melhor animação de 1993.
Extras
Making Of exibido pela HBO (em duas partes)
Trailer
Cartazes preliminares
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