Crítica: Batman - O Cavaleiro de Gotham

Crítica originalmente postada no blog RE-ENTER.

Para aquecer os fãs do Morcegão, a Warner lançou o DVD Batman – O Cavaleiro de Gotham, uma coletânea de 6 curtas em estilo anime, produzidos por grandes nomes da animação japonesa. Os roteiros ficaram a cargo de gente como Brian Azarello, David Goyer e Greg Rucka, entre outros. O resultado final? Simplesmente o melhor lançamento dessa nova versão do Universo DC animado (nota do editor: até a data deste lançamento, ou seja, junho de 2008). Os dois primeiros, Superman – Doomsday e Liga da Justiça – A Nova Fronteira são satisfatórios, Mas O Cavaleiro de Gotham é simplesmente sensacional.

A idéia geral é mostrar o impacto de um vigilante como Batman numa metrópole como Gotham, caracterizada tão bem nos filmes de Christopher Nolan como uma cidade real. E, como ponte entre Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas, os animes funcionam, mantendo um clima muito parecido com suas contrapartes cinematográficas.

O filme abre com Have I Got A Story For You, curta escrito por Josh Olson, roteirista de Marcas da Violência e dirigido por Koji Morimoto, responsável pelo conceituado anime Tekkon Kinkreet. A história não é novidade, já foi mostrada em uma revista do Batman da década de 70 e reaproveitada num episódio do desenho dos anos 90. Mostra quatro garotos, cada um contando como foi o primeiro encontro com o Homem-Morcego. E cada um com uma visão muito própria do personagem. O Cavaleiro das Trevas aqui é retratado quase como uma lenda urbana, em que o exagero sobre seus feitos são muito mais importantes do que sua existência real. Mais ou menos a idéia de Bruce Wayne quando resolveu usar um símbolo como o morcego (geralmente ligado a idéia do mal) para combater o crime em sua violenta cidade. Com a produção do sempre competente Studio 4°C, a animação é um balde de agua fria em quem acha que animês são desenhos animados com personagem de olhos grandes.

O segundo segmento começa uma espécie de arco de histórias, que liga os outros curtas que virão. Crossfire é escrito por Greg Rucka, da revista Gotham Central, uma espécie de Nova York Contra o Crime em quadrinhos, com a diferença de mostrar o dia-a-dia dos policiais de Gotham City. A direção ficou a cargo de Futoshi Higashide, em seu primeiro trabalho comandando um anime. Porém ele ja esteve envolvido em produções como Air. A história é bem o estilo de Rucka e mostra dois oficiais da Unidade de Crimes Hediondos sob o comando do Tenente Gordon. Os Detetives Allen e Ramirez (essa última, personagem do novo filme) precisam levar um fugitivo do Arkham de volta ao Asilo, que agora tomou todo o território do Narrows, por causa dos eventos de Batman Begins. Na volta da missão acabam no meio de uma guerra entre as gangues de Sal Maroni e dos Russos. O grande enfoque aqui é o que a polícia acha de ter um vigilante os ajudando. Enquanto Ramirez defende o Morcego, Allen acha um absurdo ter de cobrir os feitos de um fora-da-lei. Essa confiança do detetive é colocada em cheque quando Batman é o único que pode salvá-los da morte certa. O estúdio que desenvolveu o anime é o Production I.G., que entre outros, é responsável pelo clássico da animação japonesa Ghost in the Shell.

Field Test é o mais fraco dos curtas, embora mostre bem a idéia que o Batman tem de combater o crime, não disposto a matar, mas sim levar os criminosos a justiça. Lucius Fox, no filme interpretado por Morgan Freeman, mostra a Bruce um dispositivo magnético que pode protegê-lo de balas, fazendo-as desviar. Porém quando mais um tiroteio envolvendo Maroni e os Russos acontece e o tal aparato é responsável por quase matar um dos bandidos, Batman decide que em sua cruzada, apenas a sua vida tem de ser arriscada e não a dos outros. Passa uma mensagem bacana, mas não empolga muito. O roteiro é de Jordan Goldberg e a direção é de Hiroshi Morioka, responsável por vários episódios de Tsubasa Chronicle. Bee Train foi o estúdio responsável pelo curta.

Na quarta história, que dá um pausa no arco envolvendo Maroni e os Russos, temos a maior ligação com Batman Begins. Isso porquê o vilão aqui é o Espantalho, agora vivendo nos esgotos e controlando uma figura que pode, ou não, ser uma lenda urbana. O Crocodilo, personagem dos quadrinhos é muito bem encaixado na idéia realista criada para a nova franquia cinematográfica. O roteiro é de David Goyer, responspavel pelo texto do primeiro longa de Nolan sobre o Morcegão. E a direção é de Yasuhiro Aoki, que entre outros trabalhos, tem no curriculo Mind Game, um dos animês mais malucos (num bom sentido) que a Madhouse (também responsável por este curta) produziu.

Os quatro curtas acima são muito bons e tudo mais, mas nem se comparam com o quinto. Escrito por Brian Azarello, da renomada HQ 100 Balas e dirigido por Toshiyuki Kubooka, de Giant Robot e Gunbuster, Work Through Pain é uma belíssima história (mais uma produzida pelo Studio 4°C) que mostra uma parte do treinamento de Bruce Wayne para lidar com a dor. Enquanto no presente Batman está ferido nos esgotos, em flashbacks passa a se lembrar dos ensinamentos de Cassandra, a mulher que tentou mostrar ao jovem Wayne como minimizar sua dor, apenas para chegar a conclusão de que o desejo do futuro Cavaleiro das Trevas estava além de suas habilidades. Provavelmente, nos 12 minutos de curta, o personagem foi melhor explorado psicológicamente do que em 70 anos de histórias em quadrinhos. Azarello cria um conto quase pessimista sobre a personalidade de Batman, mostrando que sua dor na verdade é o que o motiva. Sem ela, ele simplesmente não existe. O final dá o gancho para o tema do último segmento, Deadshot.

Este é o que mais se assemelha aos quadrinhos e traz um certo clima também da série dos anos 90, já que seu roteiro é de Alan Burnett, um dos responsáveis pela famosa animação do Morcego. A direção é de Jong-Sik Nam, em mais uma produção da Madhouse. É a inserção do vilão Pistoleiro ao universo realista de Nolan e o encerramento do arco envolvendo os Russos (Sal Maroni será resolvido em O Cavaleiro das Trevas). Batman segue uma pista e leva a crer que a vida de James Gordon está em perigo. Sua cabeça foi posta a prêmio, e o assassino profissional contratado para acabar de uma vez por todas com um dos poucos policiais honestos de Gotham. No final, uma reviravolta no melhor estilo do diretor de O Grande Truque, e ainda, de quebra, o que Batman pensa sobre o uso de armas. É uma história mais voltada para a ação, mas tem seus momentos de reflexão (afinal, se trata de um anime).

No geral, a única coisa que atrapalha um pouco é a voz do Homem-Morcego, dublada por Kevin Conroy. O ator fez um trabalho memorável na série animada mas aqui seu tom simplesmente não se encaixa. Algo mais próximo de Christian Bale, que interpreta o Batman no cinema, seria o ideal. De qualquer forma, O Cavaleiro de Gotham é um DVD que merece estar na estante não só dos fãs do Cruzado Encapuzado (uma hora eu ia ter de usar esse apelido), mas como na dos admiradores da animação japonesa, que agora entra de vez no mercado norte-americano com sua visão bem própria de um ícone da cultura-pop ocidental. Ao final dos curtas, o desejo é que mais sejam produzidos e a reclamação é que tenham sido tão poucos, os 72 minutos. Quer melhor elogio que esse?

Alexandre Luiz

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