Crítica: Jurassic World: Reino Ameaçado

Continuação de Jurassic World aposta mais no terror, e acerta, apesar do roteiro bastante falho

O primeiro Jurassic World, de 2015, apesar do sucesso estrondoso, não fez jus ao universo de Parque dos Dinossauros, sendo uma produção que oscilava muito entre o mediano e o ruim. É até compreensível que o diretor daquela produção, Colin Trevorrow, tenha optado por fazer um longa que homenageava os filmes clássicos da franquia, principalmente, os dirigidos por Spielberg, mas, as boas intenções ficaram mesmo no meio do caminho.

Eis, então, que o diretor Juan Antonio Bayona, que dirigiu os ótimos O Orfanato e 7 Minutos Depois da Meia-Noite, assume a cadeira de diretor, e o que temos agora é o melhor filme dessa série desde o primeiro Parque dos Dinossauros, mas, ainda assim, possui um roteiro capenga e personagens bem pouco carismáticos, o que deixa o longa apenas assistível e divertido, o que, em comparação ao anterior, já é de bom tamanho.

Logo no início, já percebemos um tom narrativo mais soturno, puxado para o suspense e o terror, do que para a aventura em si. Esses primeiros minutos, inclusive, lembram o clima assustador de ótimos filmes do gênero ficção científica/terror, como O Segredo do Abismo e Aliens. Um ótimo começo para um filme sobre dinossauros, não?! A ação, então, parte para o nosso velho conhecido Ian Malcolm, que, aqui, está tentando convencer líderes de diversos países que ter seres extintos há milhões de anos andando por aí é um erro de ordem natural (e, que isso vai custar caro!).

O grande problema é quando, a partir daí, o filme começa a inserir novos personagens, ao mesmo tempo em que retorna a outros do filme anterior, em especial, Claire, que agora, trabalha ativamente para que os poucos dinossauros que restaram não sejam extintos. Só que é tudo mostrado de uma maneira rasa e inverossímil, o que quebra um pouco o clima que estava sendo construído até então. Se, no começo, tivemos um climão de terror colocado na trama de maneira direta e eficaz, e bons argumentos de um personagem experiente da franquia, agora é mostrado um ativismo de ótimas intenções, mas, de pouca substância.

Claro, nesse meio tempo, vamos ter a volta de Nick, agora separado de Claire, e vivendo uma vida normal e pacata. Logicamente, uma série de acontecimentos bem clichês vão fazer com ele acompanhe a sua antiga amada para uma jornada quase suicida a fim de salvar os dinossauros remanescentes. Ah, e não nos esqueçamos de Franklin e Ken, novos personagens que, na prática, não acrescentam muita coisa à trama, principalmente Franklin, que tenta funcionar como um alívio cômico.

Melhores personagens, no entanto, são Benjamin Lockwood, antigo parceiro de John Hammond, e que idealizou junto com ele o primeiro Parque dos Dinossauros, e a sua neta Maisie, uma menina esperta e que vai ter uma participação bem bacana na trama, protagonizando cenas memoráveis, apesar de um plot twist sobre a vida dela que soa um tanto forçado, mesmo dentro desse universo fantástico. E, por fim, não nos esqueçamos do antagonista Eli Mills, que funciona bem, na medida do possível, em um filme assim.

Porém, o que mais chama a atenção em termos de falhas é o roteiro de Jurassic World: Reino Ameaçado, no final das contas. Como no filme anterior, temos aqui um festival interminável de furos (sério mesmo que uma organização criminosa daquelas não tinha praticamente nenhuma guarda ou vigia, que impediria boa parte das ações dos protagonistas?).

Isso sem contar os próprios personagens, que carecem de um pouco mais de carisma. Nick, ao menos, está mais brincalhão e fanfarrão do que antes, e até simpatizamos mais com ele. Já, Claire continua com um enorme defeito de não conseguir despertar empatia em nós, mesmo que a sua causa seja nobre. Então, sobra mesmo pra Nick, e Maisie, em alguns momentos, a tarefa de termos alguém na trama com quem nos preocupamos de fato. Nesse ponto, Chris Pratt e Isabella Sermon, intérpretes de Nick e Maisie, parecem se divertir mais do que os espectadores. Já o restante do elenco entrega atuações que oscilam entre o apático (Bryce Dallas Howard) e o burocrático (James Cromwell).

Mas, felizmente, desta vez, temos Juan Antonio Bayona no comando, cineasta que sabe dirigir muito bem cenas tensas e que fazem homenagens certeiras ao cinema de vários gêneros. Por exemplo, além das ficções científicas, o filme, em determinadas sequências, lembra bastante os filmes expressionistas alemães, tanto no clima, quanto na concepção das cenas. O clima um tanto gótico, mais puxado para o terror, é acentuado por uma boa trilha sonora, que, às vezes, exagera e é intrusiva demais, mas que, ainda assim, tem seus méritos.

E, óbvio, a presença sempre imponente dos dinossauros é um show à parte, em especial, na impressionante sequência da erupção de um vulcão, onde presenciamos quase que uma verdadeira “extinção em massa”. Muito boa também é a inserção de uma nova espécie de animal jurássico, tão medonho quanto qualquer t-rex ou velociraptor que se preze, o que mostra que ainda há certa criatividade de conceito dos roteiristas, pelo menos, nesse ponto.

Uma pena, porém, que Jurassic World: Reino Ameaçado não vá muito além de ser a “aventura do mês” (ou, até mesmo “da semana”, a depender do seu nível de exigência). Diverte e é entretenimento de primeira, porém, dificilmente, vai ficar cravado na memória afetiva de muitas pessoas, assim como ocorreu com o primeiro Parque dos Dinossauros, ainda em 1993. Mas, pelo menos, a franquia começou a tomar um novo e interessante rumo. Só falta ter uma trama mais interessante e personagens melhor trabalhados.

Redação

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