Criação de David Chaskin, roteirista do polêmico A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy, A Maldição: Raízes do Terror é um filme ítalo-americano que se passa na zona rural dos Estados Unidos, onde uma família "comum" tem sua rotina interrompida por um estranho evento espacial, que remete a influência bastante clara do conto A Cor que Veio do Espaço de H.P. Lovecraft.
O longa dirigido pelo ator David Keith (que faria Jack Murdock no filme Demolidor: O Homem Sem Medo) mostra que algo está errado com a cidade interiorana, com um homem sendo preso por atos insanos. A família Crane protagoniza a obra, e eles claramente tem problemas de ordens diversas, entre eles, questões de assédio e violência parental.
O filme tem produção assinada pelo mestre do terror italiano Lucio Fulci e isso se percebe especialmente na equipe técnica, na fotografia assinada de Roberto Forges Davanzati, que ajuda a fortificar a ideia de um conto bizarro do interior da América, além é claro dos efeitos especiais empregados e o gore meticulosamente escolhido, que lembra e muito produções da terra da Bota.
Depois do epílogo a trama avança 6 meses, mirando a fazenda dos Crane, uma família comum do campo, cujo pai Nathan, interpretado pelo veterano Claude Akins, é um sujeito rígido e violento, papel esse bem diferente do que o ator costuma fazer, normalmente apresentando papéis de homens classicamente cavalheiros, como nos dramas como o Coronel Maddox em O Barco do Amor ou o protagonista de Xerife Lobo.
Isso por si só já demonstra a aura de estranheza da história antes mesmo de começar os eventos mais "diferenciados" da trama.
A esposa e mãe da família, Frances (Kathleen Jordan Gregory) é uma mulher calada e obediente, enquanto seus filhos têm personalidade bem diferentes entre si, com o mais velho Cyrus (Malcolm Danare) sendo um perfeito imbecil, enquanto o filho do meio Zack é sensível, esperto e o único preocupado com o bem-estar de todos, incluindo a menininha mais nova, que praticamente não tem personalidade formada ainda.
Zack é interpretado pelo ator mirim Wil Wheaton, famoso por ter feito Wesley Crusher em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, lembrado pela grande rejeição ao seu personagem.
Driblando qualquer crítica voltado ao seu personagem na Space Opera, aqui o garoto está bem, toda narrativa passa por seu desempenho, que está tão bom ou melhor que sua participação em Conta Comigo, adaptação do mestre do horror Stephen King lançada um ano antes, em 1986.
Depois de se estabelecer qual é a normalidade nesse lar - claramente em frangalhos - os eventos estranhos começam a ocorrer, na verdade passam a ser mais facilmente percebidos. A interferência se dá supostamente graças a água contaminada, que irriga toda a fazenda, estraga as plantações e interfere na alimentação dos animais.
Questões de infidelidade conjugal são mostrados sem qualquer remorso, praticados como se os Crane fossem pessoas tão modernas e pecaminosas quanto acusam as pessoas das grandes cidades de serem, são claramente distantes do ideal hiper conservador e retrogrado que eles cospem.
A alteração não se dá apenas nos alimentos, obviamente, altera também as ideias das pessoas, muda seus hábitos, aumentando os desejos escondidos na alma e mente de cada um deles, extrapolando assim o inconsciente para tornar tangível os maiores pecados pensados.
As estranhezas têm raiz em algo que caiu do céu, que apareceu inofensivo no início, mas depois causa inúmeros problemas. As frutas que deveriam ser vendidas se tornam podres, cheias de vermes, e nesse ponto o gore é maravilhosamente bem encaixado.
Os efeitos de maquiagem executados por Frank Russell são ótimos, desde os mais simples em momentos mundanos, como nos mais complexos. A cena onde a Mãe lida com vegetais contaminados na pia é ótima, lembra um banho de sangue, e se dá apenas com tomates cortados.
Já as transformações são complexas, desenroladas gradativamente, primeiro com manchas pequenas no tecido epitelial, que evoluem para feridas enormes, com um aspecto de pele podre, repletas de pústulas, basicamente para qualquer um que tem contato com a água.
A configuração visual dos personagens é tão bem enquadrada que quase dá para o espectador sentir o odor ruim vindo dos membros da família e demais pessoas que tem contato com a estranha intervenção extraterrestre.
Chaskin tenta impor um texto mais esperto que o usualmente feito em obras sobre pragas espaciais, inserindo sub plots sobre a expansão de grandes empresas em relação aos pequenos núcleos de agricultura familiar.
Mesmo que essa seja uma problemática obviamente preocupante no externo ao filme, dentro da trama pouco importa, já que o enfoque emocional está claramente nos eventos na fazenda, em como os animais atacam seus tutores e em como o sustento do grupo que vive ali está bastante comprometido para além da concorrência desleal.
Ainda que não tenha uma grande experiência como diretor, Keith constrói bem a ideia de estranheza crescente e de suspense, aumentando a expectativa de mal se aproximando, e mesmo que o script não seja primoroso, se nota que Chaskin tinha uma marca comum: a de mostrar famílias que tentam viver na normalidade forçada mesmo que seja praticamente impossível isso, como foi no segundo A Hora do Pesadelo.
Maldição: Raízes do Terror termina melancólico, igualando seres humanos a criaturas nojentas e rastejantes, remetendo a imagem externa a condição de podridão interna dos personagens, e essa mensagem é trazida sem forçar a barra e sem parecer piegas. Se não é um filme sensacional, ao menos visualmente é bastante criativo, com uma fotografia que favorece todo esse aspecto de um conto macabro rural.
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