Sabata: o clássico e charmoso anti-herói de Gianfranco Parolini

Sabata: o clássico e charmoso anti-herói de Gianfranco ParoliniSabata é um dos personagens mais conhecidos e lembrados dentro do panteão dos Western Spaghetti. O matador vivido por Lee Van Cleef é carismático, engraçado e implacável, e estreou no filme homônimo, conduzido por Gianfranco Parolini em 1969, conhecido no Brasil como Sabata: O Homem Que Veio Para Matar.

A história gira em torno do roubo de um cofre contendo dinheiro do exército americano, no banco da cidade de Dogherty. Sabata então alcança os malfeitores e resgata esse artefato, com ajuda de seus amigos Carrincha e Alley Cat, e descobre que pessoas importantes da cidade estão envolvidas no crime.

O começo da história é silencioso, e mostra o procedimento de tranca do grande cofre negro no banco municipal, logo depois, a ótica do protagonista é contemplada, com ele observando a movimentação da rua, enquanto toca a música tema divertidíssima, composta por Marcello Giombini.

O roteiro de Parolini e Renato Izzo é bem simples, e se desenvolve em tela de maneira alegórica e bem óbvia, já que o bar onde o filme inicia, é o ponto de partida para todo o drama.

No saloon são dadas cartas, literais nos jogos de pôquer e narrativas no jogo da vida. O personagem de Cleef interfere em uma mesa onde dados são lançados, e diz que os mesmos estão viciados, trocando então os cubos, sem ninguém reclamar dessa interferência. É como se a figura máscula suprema estivesse tomando o rebanho de cordeiros.

A grande questão é que essa interferência se dá atirando. Sabata acerta os pequenos objetos em lugar fechado e distante da mesa. Logo depois ele quebra os pés de uma cadeira onde está Ferguson, personagem de Antonio Gradoli, basicamente por que o homem resolveu discutir a autoridade do personagem central no seu momento de introdução.

Nesse mesmo cenário são apresentados alguns aliados de Sabata, o bufão Carrincha (Ignazio Spalla), que era comumente confundido com os personagens de Bud Spencer, o curioso e misterioso Banjo (William Berger) e do lado de fora, o índio Alley Cat (Aldo Canti), um homem rápido e cheio de acrobacias, de origem nativo americana. Fora eles, o restante da comunidade de Daugherty City aparece nesse bar, como se aquele fosse o resumo de toda a vida local, o único lugar onde é possível confraternizar na cidade.

É natural então que a alta burguesia de Daugherty seja apresentada aqui, mas eles são de fato aprofundados algum tempo depois.

Como bom personagem não heroico, Sabata exige uma recompensa da parte desses figurões, para não denunciar a participação deles, mas aristocrático e cafona Stengel (Franco Ressel), tenta eliminar o protagonista, verbal e fisicamente, mandando que seus subordinados cacem ele.

Espirituiso, o personagem principal brinca de sempre aumentar o valor exigido para não entregar eles. Além disso, ele é um exímio atirador, e a história faz questão de reforçar isso sempre que possível.

Nos ambientes internos utiliza uma pistola de tambor quadrado, capaz de dar muitos tiros de uma vez. Já no deserto, utiliza uma espingarda, e mostra que é bom em tiros de longo alcance também. Ele é mortal e versátil, sem receio de levar os seus adversários ao cemitério.

Sabata: o clássico e charmoso anti-herói de Gianfranco Parolini

O longa-metragem pode ser encontrado também com o nome nacional de Sabata: O Justiceiro. Nas versões internacionais tem os nomes Ehi amico... c'è Sabata, hai chiuso no idioma original italiano, mas não é difícil achar o filme também como Oro Sangriento (Espanha), Sabata (Estados Unidos) e Sabata Viene a Matar (México).

Como era comum na época, produções de orçamentos pequenos tomavam o nome de personagens famosos para tentar capitalizar o sucesso, e com Sabata, não foi diferente.

Há de lembrar de Arriva Sabata! (1970), de Tulio Demicheli, Wanted Sabata (1970), de Roberto Mauri, Sei già cadavere amigo... ti cerca Garringo (1971), de Juan Bosch, cujo título original é Abre tu fosa, amigo... llega Sábata, Attento gringo... è tornato Sabata! (1972), de Alfonso Balcázar e Pedro Luis Ramírez, I due figli di Trinità (1972), de Osvaldo Civirani e La ragazza del Golden Saloon (1975), de Gilbert Roussel.

O que normalmente não ocorre nessas imitações é a cópia fidedigna das boas características dos personagens, e Sabata não é diferente. Dificilmente se consegue replicar o clima brincalhão de Van Cleef nessas produções.

Seu personagem é galhofeiro e o momento onde isso fica mais evidente é quando ele prega uma peça nos capangas de Stengel, retirando um quadro do quarto, se colocando atrás da parede e em perspectiva forçada, para fingir ele mesmo ser uma pintura.

Para a câmera, isso pode até funcionar, mas para a pessoa que entra no recinto, não tem como, dificilmente alguém seria pego nisso. É bem fácil associar as ações dele a uma figura de desenho animado, como Looney Tunes ou Pica-Pau.

Diante dos exageros do filme, essa persona de Sabata é um artigo tranquilo. Aqui há toda sorte de arquétipo, clichê e elementos típicos dos bang bang à italiana, com direito a índio acrobata (Alley Cat), personagem vilanesco efeminado e com combover (Stengel), gente rica e desonesta, de vítimas voadoras, cowboys que simplesmente flutuam após ser alvejados.

Outro ponto que ajuda a transparecer naturalidade ao filme, é a experiência do conjunto dos atores que formam esse elenco.

Sabata: o clássico e charmoso anti-herói de Gianfranco Parolini

Berger por exemplo esteve nesse, em Joe: O Implacável, Quando os Brutos se Defrontam (1967) e Keoma (1976). Spalla fez 3 Super-Homens do Oeste (1973) e Il Sogno di Zorro (1975), Conti fez O Assassino Tem as Horas Contadas (1968), Ressell esteve em Trinity Ainda é Meu Nome (1971), Antonio Gradoli faz Sabata Adeus (1970) além de algumas versões italianas de Zorro.

Até a pretensa mocinha, Linda Veras fez Corre Homem, Corre (1968) de Sergio Sollima. Até o roteirista Izzo fez Requiém Para Matar em 1967, e depois escreveu roteiros de Tentáculos (1977) e as continuações de Sabata.

Sabata segue fazendo o que quer, e isso obviamente deixa os seus opositores irritados, já que parece inalcançável.

Stengel contrata o estranho assassino Sharky (Marco Zuanelli), um matador implacável e forte, que vive com sua mãe, que o trata como se fosse ainda uma criança.

Mas Sabata nem toma conhecimento da sua presença, encerra sua vida facilmente, e faz o mesmo com o padre Brown (Luciano Pigozzi), personagem que o auxilia, e que provavelmente, inspirou Robert Rodriguez a inserir um padre matador em Machete.

Berger tem seu próprio momento de protagonismo e heroísmo, quando enfrenta os Clayton, um quinteto violento, que lhe cobra uma dívida. Dentro do seu instrumento há uma arma, e essa foi certamente uma das inspirações para violão metralhadora de El Mariachi.

Sabata: o clássico e charmoso anti-herói de Gianfranco Parolini

Essa aliás é uma marca do filme, já que vários personagens tem armas diferenciadas, tunas, e guardas em lugares obtusos.

Sabata mesmo tem armas em uma mala, além de ter uma de suas pistolas tem dois canos. Os outros personagens têm suas artimanhas, como armas plantadas em lugares inesperados, como a bengala de Stengel. Banjo não é a exceção aqui, e sim a regra.

Entre traições e golpes dos adversários, Sabata e seus amigos são obrigados a lutar contra uma metralhadora, a arma que terminaria com o romantismo do faroeste. Ele termina como um filme repleto de ardis, armações e enganos entre as personagens.

Sabata: O Justiceiro é icônico, o símbolo carismático de um revival do gênero. É a face divertida da vingança, um sujeito de postura e caráter riquíssimo, que viraria referência e geraria uma sucessão de cópias dentro dos filmes europeus de faroeste, além de tornar seu protagonista em um dos mais icônicos personagens do movimento western spaghetti.

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