Após dois sucessos consideráveis, a saga Sexta-Feira 13 seguia firme e forte pelos anos oitenta, com um filme por ano praticamente, e eis que em 1982, Steve Miner entregou Sexta-Feira 13 Parte 3, que solidifica o seu ícone do terror o assassino Jason Voorhess, e investe na tecnologia de exibir seu filme em 3 dimensões.
O acréscimo do 3D acabou sendo um chamariz tão bom que fez a arrecadação entre esse e Sexta-Feira 13: Parte 2 – também dirigido por Miner - quase dobrar. Fato é que ambos roteiros são bastante parecidos, com quase os mesmos conflitos emocionais, personagens espelhos, tendo apenas uma mudança realmente substancial: a evolução de Jason enquanto assassino.
Tecnicamente houveram muitas mudanças, a fotografia ficou com Gerald Feil (Noivas em Perigo), a montagem foi de George Hively (que trabalhou na equipe de edição Crepúsculo Selvagem e O Último Dragão), direção de arte de Robb Wilson King (O Monstro do Pântano também de 82 e Breaking Bad) e decoração de set de Dee Suddleson.
O texto dessa vez é assinado por duas pessoas, Martin Kitrosser e Carol Watson, dupla estreante, que retornaria em Sexta-Feira 13 Parte 4: O Capítulo Final e em Almondegas 2.
O início possui um flashback diferente do filme anterior, já é direto, não disfarçando a encheção de linguiça com transição e trechos inéditos, sendo apenas um repetir dos últimos momentos de Ginny ao encontrar Jason no barraco onde o mesmo vivia, seguido da invasão dele, sem máscara, pela janela da casa onde estava.
Reza a lenda que um dos roteiros incluiriam Jason indo atrás de Ginny no hospital, mas foi descartado uma vez que lembraria demais a trama de Halloween 2: O Pesadelo Continua.
Da cabeça decepada de Pamela sai o letreiro vermelho e horroroso, o primeiro de muitos efeitos que pulariam na vista do público.
Jason invade a casa de vizinhos, e rouba roupas do homem que mora ali, que por acaso, veste o seu número. Na televisão da casa ocorre uma transmissão sobre a violência dos assassinatos que ocorreram no outro filme.
Nesse interim, é dito que os assassinatos foram seguidos de sessões de canibalismo. Isso não foi desenvolvido, e nunca mais é mencionado, e poderia ser algo a mais na fórmula.
Logo a trama acompanha um novo (mais um...) grupo de jovens, todos genéricos, mauricinhos, patricinhas e maconheiros. Entre eles, o mais diferente é Shelly, um rapaz engraçadinho, pregador de peças, que passa os dias fingindo ser morto, com maquiagens vagabundas.
Ele é interpretado por Larry Zerner, que anos mais tarde, virou advogado no ramo do entretenimento, inclusive em filmes voltados para o terror como o documentário Never Sleep Again e A Maldição de Sharon Tate.
Ele acaba sendo o catalisador da confusão com os motoqueiros bullys, atrevidos e otários, já que depois de ter sido apavorado por um deles, acaba acidentalmente acertando a moto de um deles, depois sendo perseguido pelo seu líder.
A ideia de Miner é tão ligada a repetir fórmulas, que ele traz de volta o personagem clichê do velho louco, dessa vez com Abel (David Wiley) no lugar de Crazy Ralph. Aqui ele tem menos ingerência e influência, basicamente aparece para falar profecias profanas e para exibir um olho, supostamente humano, no efeito 3d.
Personagem feminina central troca de novo, agora a figura central é Chris (Dana Kimmel), uma bela moça mais emotiva que a regra e que carrega uma história pesada no passado. Até hoje é lembrada como uma das scream queens mais louvadas entre fãs do gênero Filmes de Matança.
O longa possui um sem número de sustos falsos, especialmente por conta de Shelly, mas obviamente o foco é em Jason, que perdeu seu efeito surpresa. Dessa vez ele é feito pelo dublê Richard Brooker, em sua estreia em um papel de destaque. No ano seguinte faria Deathstalker: O Guerreiro Invencível. Miner não faz questão de criar suspense, afinal seria óbvio quem é o assassino da vez.
O que de fato causa incômodo atualmente são os efeitos em 3d.
Além dos créditos iniciais com efeitos bizarros já citados, há cenas com malabarismo, pipoca pulando na tela, destaque em instrumentos da fazendo feitos como armas brancas, há números até com um ioiô.
Ao menos explora o efeito com um olho pulando da cabeça em determinado ponto, mas a maior parte das vezes é um monte de objetos que nada tem a ver com assassinatos, sendo jogados na frente da tela, especialmente com brinquedos.
A sensação que permeia a maior parte do filme é que a lente está embaçada, dado que nem todos os aparelhos de home video suportam o formato. Quem assistiu nos cinemas certamente teve uma experiência mais imersiva, difícil de reproduzir em efeito replay, especialmente em outras telas.
De positivo, há o tema que Harry Manfredini fez em ritmo de música disco, bastante dançante, e que poderia facilmente fazer sucesso em boates e danceterias.
Chris conta a Rick (Paul Kratka) a história de seu passado, quando saiu de casa após uma briga familiar, no meio de uma noite chuvosa. Enquanto estava do lado de fora, ali na mesma localidade próxima da Crystal Lake, ela se deparou com uma estranha figura.
Era para ela ter enfrentado Jason, mas o filme tenta deixar dúvida se era ele ou não, sem sucesso. Fica estranho afinal Voorhess não deixa pessoas vivas, tampouco é violento sexualmente, como se pode supor, uma vez que ela não deixa claro se foi violada. Ela diz que acordou na cama, e ninguém de sua família fala sobre isso. Chris ficou traumatizada, paranoica, mas o filme trata isso com pouca importância, meio jogada.
Algo tão pesado acaba se tornando banal. Se Miner tivesse escolhido só mostrar ela falando, o efeito poderia ter sido ambíguo, mas como mostra a mesma figura deformada, fica a impressão de que ou ela encontrou o assassino, ou sonhou com isso de maneira premonitória.
Jason teve tempo e vontade para mudar de visual, aparecendo agora com a cabeça raspada, e com o rosto ligeiramente mais reto, com os olhos mais alinhados do que antes.
Como o filme é em 3d há duas diferenças básicas para o segundo filme, sendo a mais importante o fato óbvio de que Jason é o assassino e isso não é mais algo escondido.
O outro diferencial reside nas maneiras mais explicitas de morte, com bons efeitos orquestrados por Francisco X. Pérez e Douglas J. White como na cena de morte com arpão, e outras bem toscas, como o golpe nas partes baixas de Andy, acertado enquanto planta bananeira, sendo quebrada em cima da câmera 3d.
O Jason super-humano ganha seu primeiro capítulo aqui. Ele não é tão forte quanto se tornaria, mas tem uma resistência monstruosa e uma velocidade incompreensível.
O único senão em meio a sua perseguição a Chris é quando ela joga uma estante de livros em cima dele, aparentemente a leitura o incomoda e o faz agir mais lento, uma vez que ele demora mais a reagir nesse momento até em comparação com as facadas que recebe.
No final, Chris acerta uma machadada em Jason e vai para o lago, ser abraçada por Pamela Zumbi, fato que nem tinha como impactar Chris, uma vez que ela nem sabia de nada.
De legal, há a ideia de manter alguns pontos no legado, como o ferimento de machado na máscara de hóquei, que seguiu nos outros filmes, como símbolo da primeira morte de Jason em tela, mas é pouco.
De péssimo gosto fica o montante de repetição, como a interferência de um personagem masculino, para que a mocinha se salve.
Sexta-Feira 13 Parte 3 é um exercício repetitivo de narrativa, entre outros fatores pelo fato de ser um produto pensado apenas para a grande tela e nada mais. A escolha hoje parece errada, mas funcionou na época e teve sua parcela de importância para manter a franquia viva e ativa na mente do fã de cinema B.
Confira também o nosso especial da franquia, onde reunimos artigos, críticas e análises a respeito de Sexta-Feira 13.
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