Uma das melhores ideias do início da terceira temporada de Flash, certamente, foi a de que, na atual investida, Barry confrontaria o fato de ter se tornado seu pior inimigo. O primeiro episódio, Flashpoint, era basicamente sobre isso, deixando de lado os fanservices esperados da "adaptação" de uma das mais recentes sagas da DC, para mostrar um apreço muito grande do programa com seus personagens. Infelizmente, durante todo o resto da temporada essa ideia foi sendo diluída ao ponto da inexistência. Chega então o momento da grande revelação quanto a identidade de Savitar. 19 episódios depois da estreia do terceiro ano.
Por algum motivo, seja falta de planejamento ou mera incapacidade de lidar com temas complexos, os roteiristas da série acharam que apenas a distante lembrança de um diálogo em Flashpoint seria suficiente para brincar com o tema proposto, colocando na mesa que a resposta para a grande pergunta havia sido dada pelo Flash Reverso: "Desta vez, Flash, você é o vilão", dizia, em tom maquiavélico, o personagem. Mas, como todo esse desenvolvimento fora deixado de lado para uma forte investida em um mistério tolo, a "hora da verdade" chega sem impacto, depois de arrastada por tempo demais. Não colabora também, que o roteiro de I Know Who You Are perca 90% do tempo com subtramas românticas aborrecidas, um incompreensível destaque para H.R. e o desperdício de Nevasca, personagem com força suficiente para ser mais que mera serviçal do vilão principal. De fato, observando as tristes ramificações da transformação de Caitlin em antagonista, fica a dúvida se ela não teria sido uma escolha melhor como a real ameaça da temporada.
Como já mostrado em outras ocasiões pelas séries DC/CW, é sempre bom não se precipitar quanto a revelações feitas no lugar de cliffhangers. As coisas tendem a não ser exatamente o que parecem. Embora muitas respostas ainda precisem ser dadas, como por exemplo a motivação para a futura morte de Iris, é impossível, no entanto, não pensar em como tudo isso será contornado pelo texto. Teria a série coragem o bastante para dar continuidade nessa história sem apelar para o recurso de "timeline alternativa" ou "remanescente do tempo" (aquelas versões de si criadas por velocistas, que o próprio Flash já havia usado para derrotar Zoom)? Caso a resposta seja positiva, quais consequências isso trará para Barry em termos de aprendizado? Caso seja negativa, será inevitável ser chamada de covarde.
Há dois destaques bem positivos no episódio da semana. Um envolve Caitlin e o conflito interno de Cisco. É algo convincente, pois são dois coadjuvantes que o espectador aprendeu a gostar já nos primeiros episódios da série. Que ambos estejam na situação atual é algo tocante e que traz consequências para os atos apressados dos personagens. A outra boa impressão causada por I Know Who You Are envolve a ação. É ótimo quando Flash resolve investir nos aspectos mais quadrinescos do super-herói e isso é evidenciado desta vez na boa cena da perseguição à Nevasca, em um momento nitidamente inspirado pelo Homem de Gelo dos X-Men, que oferece uma ótima demonstração do uso de efeitos visuais, pelo qual o programa já é famoso.
No entanto, a falta de foco da aventura da semana, usando quase toda sua duração com subtramas que já deveriam ter sido resolvidas, torna difícil manter a atenção da audiência até o final. São diálogos tolos, conflitos desnecessários e até a introdução tardia de uma nova personagem, que surge como um Deus Ex-Machina a essa altura da história, faltando tão poucos episódios para a temporada se encerrar.
Como já era de se suspeitar, por causa de uma desenvolvimento trôpego, qualquer impacto na grande revelação sobre Savitar cai por terra. Com os roteiristas, aparentemente nada investidos em contar essa história direito, o que deveria ser o momento mais dramático da série em muito tempo são apenas 3 minutos compartilhados com outros quase 40 de algo que fica difícil classificar como outra coisa senão pura enrolação.
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