Desde que começou essa temporada, The Flash estava um tanto aquém daquilo que já havia mostrado conseguir fazer, em termos de drama e ação, no primeiro ano. Apesar de bons momentos, faltava aos novos episódios um sentimento de ameaça palpável, além de vilões interessantes e de um pouco de conflito na história. Ou seja, o programa parecia preso em uma zona de conforto. E a ênfase aqui é na palavra "parecia". Como visto em Enter Zoom, roteiristas e produtores estavam preparando terreno, criando essa sensação confortável no espectador, refletindo a própria personalidade de Barry.
A sombra de Zoom paira o seriado desde o início de sua segunda investida, mas a sensação presente era de que se tratava de apenas mais um velocista, como foi o Flash Reverso, mesmo com todos os avisos de Jay Garrick quanto ao antagonista. Com o conflito mostrado no episódio anterior, surgiu a dúvida se o Flash da Terra-2 não estava mesmo exagerando e tudo se tratava de um certo medo por parte do herói, simplesmente por nunca ter conseguido derrotar seu nêmesis. Enquanto Barry também exibia uma certa pressa em subjugar Zoom, ficou a sensação de que a grande reviravolta poderia estar muito mais na revelação da identidade do personagem do que na ameaça que ele representa.
No episódio da semana, graças a execução de um plano ridículo por parte do protagonista, o clima foi leve e divertido até o final do segundo ato, mantendo a aparência de "zona de conforto" intacta e trazendo um pouco de frustração para o espectador. Mas o "plano ridículo" e a "frustração" acabam se mostrando como parte de um projeto muito bem arquitetado pelo roteiro. Quando Zoom finalmente aparece e o confronto acontece, tanto o Flash quanto o fã recebem um duro impacto e terminam o episódio destruídos.
Enter Zoom oferece um ponto de quebra na temporada, quase como o final do primeiro ato de uma história contada por 23 horas. O antagonista surge ameaçador, imbatível, implacável e cruel como a série jamais havia mostrado antes e faz o Reverso parecer um mero assaltante de banco em comparação. Graças a voz de Tony Todd a presença do personagem é ainda mais realçada, mas são suas ações que fazem toda a equipe de heróis, incluindo os policiais, tremerem de medo. Tudo isso acompanhado por efeitos visuais convincentes e bem encaixados nas cenas de ação.
A derrota do Flash se torna um elemento de mudança para o protagonista, que deverá ser explorado pelo menos até o final da metade da temporada. É o momento de parar e rever as atitudes, além de funcionar como a oportunidade perfeita para Barry perceber que não vai conseguir derrotar seu algoz sozinho. A introdução de Jesse Quick (Violett Beane), que na série é a filha do Dr. Wells da Terra-2, além da menção breve de Wally West, aqui irmão de Iris, funcionam como preparativos para a provável formação de um time de velocistas para vencer a ameaça.
A série deverá ter o cuidado, no entanto, para que daqui para frente mantenha a infalibilidade de Zoom, sem comprometer o que foi mostrado nesta semana. Assim, derrotar o novo inimigo deverá continuar um trabalho quase impossível, com um plano final que não poderá ser gerado ou executado facilmente.
As subtramas trabalhadas no episódio oferecem um respiro com o tom bem humorado, principalmente as cenas envolvendo o treinamento de Linda. E funcionam por prepararem terreno para o que viria nos 15 minutos finais, repletos de tensão. O que também soa interessante é Cisco tentando descobrir as reais intenções de Wells usando seus recém-revelados poderes. Fica difícil saber até que ponto o seriado irá trabalhar a extensão das habilidades do rapaz, mas nas HQs ele é um dos poucos personagens capazes de derrotar o Flash, algo que também pode ser útil contra Zoom. Por enquanto, o jovem cientista apenas experimenta breves amostras de poder, mas no futuro, quem sabe, tudo isso sirva como um treinamento para demonstrações mais grandiosas.
E novamente o Dr. Wells da Terra-2 é uma das forças, com Tom Cavanagh tendo a oportunidade de brincar com conceitos apresentados em sua persona anterior. A ênfase na inteligência do coadjuvante é o grande acerto aqui, misturada com a personalidade enérgica dessa versão do cientista. Além, é claro, do drama convincente, mesmo clichê, envolvendo sua filha.
Com um desfecho pessimista e trágico, Enter Zoom faz a segunda temporada de Flash pegar "no tranco" e disparar para uma trama que pode ser ainda mais interessante do que a mostrada na primeira. Com poucas distrações à vista, já que os preparativos para Legends of Tomorrow estão chegando ao fim, resta agora à série voltar ao que prometeu (e cumpriu) em seu primeiro ano e garantir mais uma dose de uma das melhores adaptações de quadrinhos para a TV da atualidade.
O Zoom parecia a Alemanha, fez "virou passeio" com o Barry…