Alguém me Vigia é um longa-metragem pouco lembrado dentro da vasta filmografia de John Carpenter. A história narra os acontecimentos da vida de uma jornalista independente que se muda para Los Angeles para assumir um cargo de direção de uma tv local.
Quando chega ao seu novo lar, ela percebe que alguém com intenções ruins a vigia, e passa a maior parte da duração da fita buscando entender as motivações e descobrir quem lhe faz mal.
A obra é um telefilme produzido pela Warner Bros Television, e foi transmitida em 1978, mesmo ano de Halloween: A Noite do Terror. Cona com produção executiva de Richard Kobritz, de Christine: O Carro Assassino e Alien Nation, produção associada de Anna Cottle de Vampiros de Salém.
Após a introdução breve e sensacionalista, é mostrada Leigh Matthews, uma mulher independente, de senso de humor ácido, que gosta de pregar peças e fazer piadas com as pessoas próximas. A personagem de Lauren Hutton se diz uma pessoa comum, calma, e que faz piadas para soar mais normal, e ela realmente parece ser bem resolvida e madura.
Ele então se instala em um prédio luxuoso da cidade, começa a namorar um professor universitário, e em meio a pequenos sinais (que vão ficando mais graves com o passar do tempo), ela não só percebe que alguém a vigia, como começa a se incomodar com as possíveis intenções dessa pessoa.
Por mais que se baseie em alguns mistérios, a câmera de Carpenter não hesita em demonstrar detalhes de seu vilão e antagonista. Na casa do sujeito, aparecem objetos de observação, um telescópio grande e potentes, um telefone antigo, além de material de gravação de áudio, inclusive com um maquinário que lembra os projetores de cinema.
Esse homem - supostamente, já que ele tem voz masculina mas pode estar usando um sintetizador - observa ao longe Leigh, a vigia de forma indiscreta, com uma lente tão grande que faz remeter a obviedade fálica do objeto simbolizar o seu órgão reprodutor, ou uma projeção dele.
Ele faz isso enquanto grava suas falas numa espécie estúdio, que roda em filme o que se fala na ligação.
A música inicial de Harry Sukman (de Bonanza e Gog: O Monstro de Cinco Mãos) tem destaque, e faz com que os primeiros instantes do longa-metragem pareçam a abertura de uma série antiga de mistério, trazendo a obra um tom heroico até.
O que se percebe aqui são dois personagens centrais bastante incomuns, espertos, inteligentes, mas também estabanados. O sujeito que importuna a moça é covarde, não se apresenta em sua identidade real e sempre faz seus atos mirando o anonimato, mas obviamente deixa pistas de quem pode ser.
Já Leigh é mais segura, e consegue até esconder bem as suas fragilidades na maior parte do tempo.
Seu senso de humor pode ser encarado como uma válvula de escape, para uma insegurança de viver em um grande prédio, em uma grande cidade como Los Angeles sem jamais ter vivido algo semelhante, com o agravante de estar sendo importunada por um observador não convidado.
Há claro uma forte influência nessa obra do clássico de Alfred Hitchcock, o famoso Janela Indiscreta, não só pela sensação inescapável de alguém comum tendo seus dias monitorados, mas também pelo mistério sobre a identidade do bandido, que conversa também com o enigma típico dos giallo italianos, que mantinham assassinos seriais sempre escondidos.
O trabalho de Matthews é de certa forma primo da condição de seu perseguidor, uma vez que sua principal função profissional é monitorar a programação televisiva do canal onde trabalha.
Fora isso, a personagem ainda sofre outras questões típicas a uma mulher solteira, como ser incessantemente procurada no trabalho por homens impertinentes, e que não sabem ouvir não quando estão flertando ou tentando isso.
Depois de chegar em casa após o seu primeiro dia de trabalho, ela percebe que a sua porta foi aberta.
O cenário residencial é bem organizado em sua proposta, pensado para parecer sufocante, com a moça morando em lugar apartamento que fica no meio de um grande prédio, sendo sua paisagem formada por outros edifícios ainda maiores que o seu próprio lar.
De fato, o seu apartamento, o número 4320 foi invadido, mas como estar cercada de gente que não sabe parar de insistir é uma constante, Leigh dá de ombros, e não acredita na própria intuição e nos fatos óbvios, de ter visto que a sua porta foi violada.
Para se sentir mais segura, se faz acreditar ter esquecido a mesma aberta
A ideia de invasão domiciliar é obviamente ainda mais assustadora do que os assédios que a moça vinha sofrendo. Quando ela tem sua casa literalmente forçada a entrada, fica patente que ela não tem total controle sobre a sua vida e rotina, já que alguém invadiu sua privacidade, de maneira completamente não solicitada, ainda mais para alguém tão reservada quanto ela é.
É fácil perceber essa forçada na porta da frente como um paralelo com o sexo não consentido, ou seja, com estupro. Carpenter trabalha bem a sua personagem central, dá a ela dimensão e profundidade, personalidade e caráter, ao ponto de ela conseguir encarar esses simbolismos agressivos sem perder a razão ou a compostura.
Esse é um filme curto, com 97 minutos, e que emprega bem sua duração, já que ela vai sendo gasta pacientemente, lentamente construindo a forma de Leigh reagir.
São mostradas as suas inadequações e inseguranças aos poucos, inclusive deixando claro que ela não tem qualquer receio em mostrar suas rugas, marcas de expressão e imperfeições na pele e dentes. É uma mulher real, posturada e que mesmo não apelando para uma beleza super comercial, consegue soar como uma musa.
Os sustos também são comedidos, tantos os falsos como as ações do vilão. No princípio ele apenas distribui presentes, um fato qualquer e sem importância, mas que vai se tornando assustador com o tempo. É até um dos eventos que faz a polícia desacreditar nela, uma vez que não é crime presentear ninguém.
O roteiro tem outros acenos curiosos, como o fato de Sophie, personagem de Adrienne Barbeau, ter uma orientação não heterossexual. Para um filme de 1978 lidar com uma personagem lésbica não era algo comum, ainda mais se tratando de alguém funcional e que não se resume apenas a sexualidade, sendo perfeitamente "normal" para os padrões estabelecidos para a época.
A atmosfera de tensão é montada de maneira elegante, com variações entre o silêncio absoluto, onde somente as imagens mostram o horror como era nos primeiros filmes de terror da Universal pós Cinema Mudo, e outras onda a música de Sukman se faz presente, brincando com a persona do malfeitor.
O cineasta utiliza bem os seus dotes e sua forma única de filmar para registrar tomadas de baixo para cima, que emulam não só a visão do personagem incógnito, mas também o estado de espírito de alguns personagens, especialmente os de caráter dúbio.
Logo entram em cena alguns suspeitos, e claro, o agente da justiça Gary Hunt, interpretado por sua vez pelo veterano Charles Cyphers. Curiosamente ele também faz um policial em Halloween, inclusive retorna em uma breve aparição em Halloween Kills.
Ele é o sujeito que desdenha da personagem central, desacreditando seu depoimento, basicamente porque não acha provável que tenha ocorrido tudo da forma como ela descreve, inclusive atacando a moça ao afirmar que ela não está sendo congruente.
Já em início de carreira se percebe o dedo de Carpenter em tentar denunciar a falta de fé da sociedade no depoimento de uma mulher perseguida ou assediada.
O personagem agente da lei não é exatamente inútil, até prende um suspeito, mas depois de ter feito isso, age como se estivesse fazendo um grande favor a ela, sendo que seu papel foi meramente o de agir conforme a lei que ele jurou servir.
Leigh e Sophie estão sozinhas, e decidem fazer uma manobra ousada, com a protagonista indo ao prédio, munida de uma faca afiada e um walkie-talkie, e sua amiga vigiando e a cobrindo, através do telescópio presenteado.
Aqui se brinca com o clichê de busca e recompensa, já que boa parte das pistas foram plantados antes, como a predileção de Sophie por ver coisas no telescópio, sendo ela a pessoa ideal para vigiar a amiga.
Curiosamente o filme até apresenta personagens masculinos, mas tal qual o policial já citado, são todos uns inúteis, quando não são absolutamente escrotos e desrespeitadores.
O homem forte é o vilão, e ainda assim é um predador sexual, um sujeito que usa de sua força para forçar intimidades que certamente ele não conseguira ter não fosse por seu desempenho físico assediador.
Há uma certa condenação da condição masculina, mostrando todos como figuras passivas, com um alfa forte, poderoso, e sem receio de causar mau aos outros.
Entre álibis, gaslighting e discursos, o filme segue, mostrando esse como um universo um bocado cínico, real demais, cru. O final é até abrupto, mas em se tratando de um telefilme, isso se releva, ainda mais por conta das boas atuações e do bom desempenho dos aspectos técnicos.
Alguém me Vigia reúne suspense, mistério, cinismo e violência, elementos comuns ao cinema de Carpenter ainda em começo de carreira, antecipando até alguns chavões do slasher, que seriam solidificados mais a frente, inclusive na obra de diretor. É uma pequena e breve pérola, que merece ser visitada.
fantastic points altogether, you just gained a new reader. What would you recommend about your post that you made a few days ago? Any positive?
amei este site. Para saber mais detalhes acesse nosso site e descubra mais. Todas as informações contidas são conteúdos relevantes e diferentes. Tudo que você precisa saber está está lá.
Este site é realmente fantástico. Sempre que consigo acessar eu encontro coisas diferentes Você também pode acessar o nosso site e saber mais detalhes! conteúdo único. Venha descobrir mais agora! 🙂
fantástico este conteúdo. Gostei muito. Aproveitem e vejam este site. informações, novidades e muito mais. Não deixem de acessar para se informar mais. Obrigado a todos e até mais. 🙂