Crítica: Inferno

inferno-tom-hanksServindo como expoentes na carreira de Dan Brown, um escritor do qual não posso dizer que sou fã, as aventuras centradas no professor Robert Langdon não deixam de partir de uma ideia curiosa ao colocar o personagem como uma espécie de Indiana Jones moderno, que usa seus conhecimentos históricos para resolver grandes quebra-cabeças. Tendo isso em vista, não é à toa que as obras de Brown que têm ganhado as telonas são exatamente as protagonizadas por Langdon, que retorna agora neste Inferno, sua terceira aventura cinematográfica (por algum motivo, os produtores decidiram pular O Símbolo Perdido). Mas se tanto O Código Da Vinci quanto Anjos & Demônios já não haviam resultado em filmes memoráveis, este novo exemplar se supera ao se estabelecer disparadamente como o pior da trilogia.

Com roteiro escrito por David Koepp, Inferno traz Robert Langdon (novamente interpretado por Tom Hanks) acordando em um hospital na Itália sem lembrar de eventos recentes, além de ter visões envolvendo o Inferno concebido por Dante Alighieri em A Divina Comédia. É então que várias pessoas passam a persegui-lo, e ele tem o auxílio da médica Sienna Brooks (Felicity Jones) para ajuda-lo a seguir pistas e entender o que está acontecendo, algo que pode estar ligado às ideias de Bertrand Zobrist (Ben Foster), que vê a superpopulação do mundo como nossa possível extinção.

Assumindo rapidamente a estrutura que regeu os longas anteriores, especialmente O Código Da Vinci, Inferno joga os personagens no meio de uma grande correria enquanto tentam decifrar os mistérios que aparecem em seu caminho, o que obviamente envolve mensagens subliminares em objetos atípicos e obras de arte. Mas é triste acompanhar uma trama que se revela desinteressante e é desenvolvida de forma estúpida, o que vai desde as motivações por trás do que está acontecendo até as visões que Langdon tem ao longo da trama, que se revelam absurdas e até mesmo desnecessárias, já que o protagonista não demora para encontrar um objeto que mostre exatamente a obra de Alighierie as pistas ali plantadas. Como se não bastasse, o roteiro de David Koepp mastiga a trama constantemente com diálogos expositivos, além de aparentemente subestimar a inteligência do público, seja ao executar reviravoltas ora ilógicas, ora previsíveis, ou ao trazer os personagens falando sua localização segundos depois de esta informação ter sido apresentada por alguns letreiros na tela.

Enquanto isso, Ron Howard (que já havia dirigido os dois longas anteriores) parece conduzir a narrativa no piloto automático, algo decepcionante tendo em vista que ele vinha fazendo trabalhos admiráveis (Rush e No Coração do Mar, para ser mais específico). Além de não impor nenhuma energia ao fraco material que tem em mãos, Howard concebe sequências de ação burocráticas e visualmente confusas (isso quando não são ridículas, como aquela envolvendo um drone), o que dilui qualquer tipo de tensão que a narrativa deveria ter e que a montagem frenética da dupla Tom Elkins e Daniel P. Hanley, somada à trilha pouco inspirada de Hans Zimmer, tanto busca ressaltar sem sucesso.

Interpretando Robert Langdon pela terceira vez, Tom Hanks até exibe seu carisma habitual, mas isso infelizmente mostra não ser o suficiente para tornar o personagem interessante, sendo que os problemas de memória que ele exibe durante a trama até o fazem agir como um pateta, como na cena envolvendo o vídeo de segurança de um museu. Já a langdon girl da vez, Felicity Jones, não consegue dar muita personalidade a Sienna Brooks, uma figura que age de acordo com as necessidades do roteiro, ao passo que Ben Foster mal tem a chance de estabelecer Bertrand Zobrist como um vilão intrigante, e o plano do personagem se revela tão enrolado que é até difícil leva-lo a sério, sem falar que suas ideias sobre superpopulação são tratadas de maneira rasa pelo roteiro. Fechando o elenco, intérpretes como Omar Sy, Irrfan Khan e Sidse Babett Knudsen passam batidos pela tela em papeis puramente unidimensionais.

Foram necessários sete anos para que O Código Da Vinci e Anjos & Demônios ganhassem uma continuação, sendo que aqueles longas nem fizeram com que fosse possível sentir falta das histórias de seu protagonista durante esse período. Pois Inferno também não ajuda a reverter isso, mostrando ser um thriller que fica bem longe de ter a inteligência que acredita possuir.

Thomás Boeira

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