Review: Arrow S05E13 - Spectre of the Gun

Um cidadão comum entra em uma repartição pública repleta de pessoas e, munido de uma arma que jamais deveria estar em posse de um civil, dispara contra todos, causando mortes e deixando vários feridos, além do trauma que acompanhará os presentes por um bom tempo. Essa situação, incômoda e familiar, principalmente para o público norte-americano, é o estopim para o episódio da semana em Arrow, trazendo para o seriado uma discussão muito mais sóbria e relevante do que a série já entregou em seus cinco anos no ar. Pela primeira vez desde seu início, o programa finalmente fez jus ao passado do Arqueiro Verde em suas HQs, senão pela posição tomada pelo personagem, pelo menos com na busca por gerar algum debate.O roteiro de Marc Guggenheim pode soar deveras didático, tanto em estrutura quanto na forma como aborda todo o tema da posse de armas. No entanto, deixa sua intenção muito clara: a proposta do episódio não é tomar exatamente um lado, mas deixar que os dois argumentos tenham espaço, tentando, assim, chegar a um consenso que não entre em conflito com a Constituição, mas que também não deixe esse fator ficar no caminho da liberdade e da segurança das pessoas. Embora utópico em seus ideais, o texto toca na ferida, sim, principalmente quanto expõe os motivos de como é absurda essa tendência do americano médio em achar que uma arma pode oferecer apenas sua segurança pessoal.

Com o Time Arqueiro divido em seus argumentos, cabe a Oliver se colocar como mediador, e aí a série toma uma liberdade muito grande em relação à contraparte do personagem nas HQs. No papel, o Arqueiro Verde nunca teve problema em expor o seu lado, as suas ideias, mas no seriado, como prefeito de Star City, Queen peca por não ter uma opinião definida sobre o problema. No entanto, isso dá ao personagem a imparcialidade necessária para que uma solução seja encontrada. Como Curtis diz em determinado ponto, a sociedade já foi mais aberta à discussão, sem polarização. No mundo de hoje é praticamente impossível expor uma opinião sem ser rotulado como "esquerda" ou "direita", como se tudo isso fosse realmente importante, uma vez que a discussão sempre será para garantir o bem estar da população, sua segurança e seu direito inalienável de ir e vir.

É ótimo ver a série se dedicando a levantar questões relevantes, e a discussão sobre armas talvez seja uma das mais relevantes hoje. Dentro do universo da adaptação é até bastante propício que os personagens discutam, já que se trata de um grupo de justiceiros que também usam armas e já aplicaram a solução letal várias vezes em seus inimigos. Se o roteiro falha em alguma coisa, por outro lado, é na obviedade dos argumentos e no didatismo. Em determinado ponto Curtis chega a expor dados sobre o número de negros mortos por arma de fogo nos EUA. É de suma importância tocar no tema, mas será que há a necessidade de tamanha exposição? Se há um argumento favorável a isso é o de que a sociedade chegou a um ponto em que elucubrações são obsoletas e, talvez, a solução esteja na abordagem direta: dizer o que todo mundo já sabe, mas que a maioria ignora, por desonestidade ou por ignorância, qualquer um dos motivos, prejudiciais para que o problema seja, de fato, resolvido.

Spectre of the Gun não é um episódio totalmente voltado a ação, e traz seus melhores momentos quando dá voz aos personagens. Oliver, por exemplo, mal aparece em seu uniforme de Arqueiro, com o clímax, inclusive, destinado ao prefeito de Star City e não ao seu principal justiceiro mascarado. Para ajudar na ambição temática, os flashbacks dessa vez são focados em Rene, para ajudar um pouco o espectador a compreender seu background e suas motivações. É até um pouco estranho que isso só aconteça neste ponto da temporada, em que o público já se familiarizou com o personagem, e de certa forma, a trama do passado é bem curta, e pouco suficiente para acrescentar algo realmente forte em relação ao Cão Selvagem.

O Arqueiro Verde se tornou notório nos quadrinhos por ter uma fase, hoje clássica, escrita por Dennis O'Neil (recentemente relançada no Brasil na íntegra) e, mais tarde, sob o comando de Mike Grell, também tocou em temas relevantes à sua época. É importante que a série de TV também se mostre aberta à esse tipo de situação, não só por, assim, trazer uma adaptação mais adequada ao herói, mas também porque hoje, com todos os problemas políticos que parecem assombrar o mundo, temas e assuntos relevantes precisam estar em pauta. E dar a heróis mascarados uma motivação que seja condizente com essas situações parece ser muito mais propício do que jamais foi.

Alexandre Luiz

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