Review: Constantine S01E07 - Blessed are the Damned

Constantine - Season 1Chega a hora de Constantine lidar com assuntos religiosos. Em um universo permeado por anjos, demônios e criaturas sobrenaturais, isso é esperado. Mas a série segue por um interessante caminho ao confirmar a existência de Deus, ao mesmo tempo em que questiona a presença das religiões.

A trama gira em torno de um pastor medíocre (Patrick Carroll) misteriosamente agraciado com o dom da cura, levando centenas de pessoas à sua igreja (e aí o roteiro já começa a pontuar algumas questões como, por exemplo, a “importância” de um líder religioso carismático). Constantine e Zed partem para investigar. Enquanto um tem seus problemas com pretensos profetas, a outra parece disposta a acreditar em algo. O cinismo de John perante ideia de religião é colocado por sutilezas, para evitar ofensas ao espectador mais sensível, mas também para oferecer perguntas ao invés de rechear a trama com exposição. É uma ótima saída para não parecer desrespeitoso, ao mesmo tempo em que coloca elementos corajosos no texto.

No universo de Constantine é óbvia a existência de Deus, mas não como o ser que as religiões pregam. A impressão é que todas essas criaturas sobrenaturais existem com um propósito bem diferente. Os anjos, representados pela figura de Manny e, neste episódio em particular, pela bela Imogen (Megan West), são figuras obscuras e que demonstram até um sentimento de inveja dos humanos. A série então coloca em cheque a religião como forma de manipulação de líderes pregadores perante fiéis que estão ali, mais por buscarem benefício próprio, do que por uma fé verdadeira em um ser superior. John parece não acreditar na validade das instituições religiosas, mesmo sabendo que seguem algo que existe.

A personagem de Angelica Celaya continua fazendo o papel do espectador e em Blessed are the Damned, essa função de Zed no roteiro se torna muito propícia. As perguntas que ela faz a John parecem mesmo ser aquelas que muitos da audiência poderiam fazer enquanto assistem ao seriado. Paralelamente, o episódio dá algumas dicas sobre o passado da moça e também sobre seu futuro, principalmente para os fãs das HQs, que conhecem o arco da parceira de John, oriundo das primeiras edições de Hellblazer. Pelo exibido na cena final, existe um grupo com planos para Zed. Enquanto é ótimo ver a preocupação do seriado em estabelecer tramas futuras, fica, no entanto, a dúvida se um dia isso será abordado, uma vez que Constantine corre o risco do cancelamento. Tomara que, caso seja retirada da grade da NBC, pelo menos essa história possa ser contada até o 13º episódio, o último desta temporada.

Enquanto a ideia da “Ascensão das Trevas” não parece central para a trama (mesmo sendo citada no final), não é algo que fez falta e este é um “caso da semana” que funciona bem, sem precisar fazer muitas referências à história principal da série. A única coisa que incomoda nessas aventuras semanais é o uso do mapa no começo de cada episódio, como um recurso muito fácil de roteiro para passar as missões para John e Zed. É um dos poucos momentos que o programa precisa fazer uso de uma explicação desnecessária, neste caso, para chamar atenção dos protagonistas para um fato sobrenatural. Usar essa desculpa toda semana pode ser algo bem cansativo.

Como a história envolve seres celestiais, vem com um bem-vindo destaque ao personagem de Harold Perrineau, principalmente por tirá-lo da zona de conforto, fazendo-o mais do que um mero observador. É muito promissora sua participação de agora em diante, por conta de seus atos aqui. Por outro lado, se há um problema grave no roteiro é a forma como lida com a interação entre os anjos. Há, inicialmente, um reconhecimento entre ambos e a forma como conversam passa a idéia de que, se um não conhecia o outro, conseguem se identificar como os seres que são. Dessa forma, soa estranho, e até incoerente, Manny não saber a origem de Imogen, como se fosse apenas conveniente para a história, simplesmente pelo bem do ponto de virada do texto. A forma como o seriado estabelece a existência do Céu e do Inferno e a caracterização dos anjos caídos, no entanto, coloca este episódio lado a lado com o terceiro, que buscava inspiração na fase de Garth Ennis nas HQs. Este tema é recorrente na obra do autor e não é a toa que a aventura envolve um “pregador” (preacher, em óbvia referência a uma de suas mais importantes criações).

Constantine - Season 1

Embora longe de ser genial, Blessed are the Damned cumpre sua função. É intrigante, coloca inúmeros elementos em destaque para oferecer algo mais além de regras imutáveis e trabalha principalmente com a visão de mundo de Constantine, algo recorrente em suas histórias nos quadrinhos. O universo do personagem não tem muito espaço para finais felizes, por isso sua posição parece sempre a de alguém em constante defensiva. John é fascinante e é bom saber que, mesmo roteiros mais corriqueiros da série não deixam de abordar a construção de sua personalidade perante o espectador.

Alexandre Luiz

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