Alerta Trilhas 05 - A Árvore da Vida

a arvore da vidaComposta por: Alexandre Desplat

Em 2011, Terrence Malick lançou a sua versão da história da humanidade para o cinema em A Árvore da Vida”, um belíssimo filme, que além de polêmico acabou sendo um dos melhores não só daquele ano, como da carreira do diretor. E quem Malick escolheu para ser o condutor musical dessa ópera da vida? O excelente compositor francês, Alexandre Desplat. Responsável pelos dois últimos trabalhos de Wes Anderson, e pelos dois capítulos finais da saga Harry Potter, o músico tem características peculiares, sendo um dos destaques a clara influência de Stravisnky e Tchaikovsky em seus trabalhos, especialmente na saga do bruxinho adorado por todos, como neste filme de Malick.

O que temos aqui é um trabalho brilhante, no que diz respeito ao conceito proposto pelo filme. E não só é feito algo interessante como não trazer momentos épicos repletos de percussões e trombetas, como em se tratando de um filme de Malick, a música é introspectiva, porém com tons cintilantes de afeto e grandiosidade escondida que se encontra no simples, e não no exagerado. É no deslizar calmo em seu piano que Desplat entrega uma obra metafísica que em alguns momentos literalmente nos arrasta por uma viagem fora de nossos corpos onde podemos conhecer lugares desconhecido de nossas almas. E pode parecer exagerado dizer isso, mas é aí que está a genialidade desta obra, no alçar um vôo extremo entre o simples, que acaba acarretando numa chuva de sentimentos que não se aplicam corporeamente apenas, mas que vão além, e é aí que o casamento com as imagens de Malick acaba sendo perfeito.

Não é a trilha mais marcante do mundo, mas é a necessária para uma obra tão difícil, porém absurdamente linda. A estética em Árvore da Vida é a parte mais importante, e é onde o conceito de vida está em Malick, no belo. E é o belo da vida, da simplicidade do sol, das folhas, do vento que vêem primeiro em nossas vidas, só depois que chegam as coisas menores, como nossas histórias pessoais, nossos problemas, nossos debates internos, nossos pais, e finalmente nossa vida e o além. Nossas vidas são uma viagem pelo belo, que a maioria de nós não capta, mas que os personagens de Malick sempre conseguem buscar e deleitar durante suas vidas, mesmo que essas vidas sejam dramáticas, tristes, depressivas, a fuga de tudo se encontra numa folha, numa grama, numa árvore. E a música contemplativa de Desplat consegue cumprir esse papel, de buscar sempre o belo acima de tudo, com composições agradáveis, mas que necessitam apresentar elementos a mais, que completem o belo com o vazio e simplicidade da vida.

Ao ouvinte menos atento, a impressão que dá é a de uma simplicidade chata e boba, sem razão. Mas conforme se dá uma maior atenção ao álbum, a forma se torna mais e mais aparente e a questão já levantada do belo unido ao comum da vida se torna ainda mais evidente. Mas não há apenas momentos de contemplação e calmaria, há também algumas curvas sutis e sombrias que desenham sonoramente alguns momentos da película. Há um cuidado especial com os instrumentos de corda, que estão constantemente sendo acompanhantes das danças guiadas pelo piano. É uma harmonização das mais belas, sendo sempre leve e apreciável a qualquer ouvido.

Sendo a melhor faixa da obra, a bela “River”, e disputando o primeiro lugar com ela a complexa “Fatherhood”, trás uma experiência diferente para aqueles que amam trilhas sonoras, mas ao mesmo tempo trás algo que algumas composições deveriam ter, mas acabam por deixar escapar por falta de um apuro maior pelos detalhes, é uma simplicidade complexa que atinge a alma e nos transporta para um além mais que delicioso de se estar, ao menos enquanto a música continua sendo tocada.

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