Crítica: Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas

Fazer um bom filme de aventura, de uns tempos pra cá, tem se tornado uma tarefa difícil. Agradar ao público atual com fórmulas meio batidas é praticamente impossível, a não ser que o roteiro consiga chamar atenção com "enfeites" jogados pro espectador em meio à clichês cinematográficos, conhecidos desde os tempos mais longíquos da sétima arte. Essa é uma das explicações para o sucesso da franquia Piratas do Caribe, que chega agora ao seu quarto exemplar, prometendo uma repetição das enormes bilheterias de seus antecessores. Afinal, o que é o Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), senão uma distração para que as explicações absurdas, as ações sem sentido dos outros personagem e a desnecessária duração de 141 minutos passem sem ser notadas?

Na nova aventura, o Capitão sem navio está em Londres, tentando tirar da prisão um velho conhecido dos filmes anteriores. É capturado por nobres que estão em busca da lendária Fonte da Juventude e que pedem a Sparrow que os ajude em sua empreitada, antes que o lugar mitológico caia nas mãos dos espanhóis. Depois de escapar de forma mirabolante, ainda que divertida (provavelmente a melhor sequência do filme), Jack cai no colo, quase literalmente, de seu pai, mais uma vez interpretado por Keith Richards, que aliás é agraciado pelos roteiristas com uma piada até que criativa (está em um dos trailers, estragando um pouco a experiência). No encontro, o personagem de Depp descobre que para a Fonte funcionar, ele precisará de alguns itens, no melhor estilo "quest" de RPG.

Depois disso, é a hora de Angelica (Penelope Cruz) dar o ar de sua graça e sequestrar o o Capitão para servir no navio do temido Barba Negra (Ian McShane), que também tem seus motivos para descobir a Fonte. Em meio a tudo, a volta do divertido Barbossa (Geoffrey Rush) e um forçado romance entre um jovem clérigo (Sam Claflin) e uma sereia (Astrid Berges-Frisbey), espaço que ficou vago com a saída de Orlando Bloom e Keira Knightley.

Os roteiristas Terry Rossio e Ted Elliot parecem ter se ofendido com as resenhas negativas do terceiro Piratas, que destacavam as cenas sem nexo e a falta de explicações mais plausíveis pra certas soluções da trama. Ao invés de criarem um roteiro que pudesse equilibrar aventura com diálogos mais interessantes, resolveram explicar tudo que estava ocorrendo, de forma preguiçosa, com falas que atrapalham mais do que ajudam. Por causa disso, as cenas de ação, marca registrada da cinessérie e impecáveis em qualidade técnica, sofrem com o ritmo arrastado e com o péssimo timing do diretor Rob Marshall, que assume Piratas 4, depois dos três dirigidos por Gore Verbinski. Várias vezes o espectador espera por uma ação que não acontece, justamente por conta de alguma conversa desnecessária entre personagens. Quando o esperado chega, a hora de deixar quem está assistindo, mais interessado no longa, já passou.

Outro ponto irritante do filme é a quantidade de elementos que não adicionam nada à história. O mais notável é a disputa entre a Inglaterra e a Espanha pela Fonte da Juventude. Parece um MacGuffin mal elaborado que surge no início, e é resolvido de forma brusca no clímax.

Por outro lado, não há como negar que Depp está muito à vontade na quarta vez que assume o personagem Jack Sparrow. Há também uma química interessante entre ele e Penelope Cruz, sem contar a participação de Rush como Barbossa, provavelmente o único personagem em toda a franquia que realmente evoluiu com o passar do tempo. Já Ian McShane é o típico ator que ou acrescenta muito a um filme ou simplesmente atua no modo automático. Deve depender do interesse em determinados gêneros. No caso de seu Barba Negra, infelizmente o ator pende para a segunda hipótese, deixando muito a desejar, principalmente por ter se dado tão bem ano passado com um personagem tão vilanesco quanto o lendário pirata na minissérie Os Pilares da Terra.

Baseado vagamente no livro On Stranger Tides, de Tim Powers, Piratas do Caribe 4 é, na verdade, mais um típico longa de verão que não foge à regra de produções megalomaníacas da Disney. Grande qualidade técnica (cenário e figurino são ótimos) para uma história pouco interessante. Como pontuado no começo do texto, nada que você nunca tenha visto, com apenas alguns adereços, que se não forem melhor aproveitados nos vindouros filmes (sim, há planos para mais dois, pelo menos) também terão saído de moda.

Alexandre Luiz

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