Crítica: O Poder e a Lei

LincolnLawyerA introdução de O Poder e a Lei consegue dizer muito sobre o background do personagem central, Mick Haller (Matthew McConaughey). Passeando pelas ruas de Los Angeles com seu Lincoln da linha Town Car, ele é a essência do advogado com complexo de yuppie do final dos anos 80 e começo dos anos 90. Aquele que faz seu trabalho com a única intenção de ganhar dinheiro.

A escolha do carro, um símbolo americano de poder (O Lincoln é um autêntico modelo de luxo), aliada a canção Ain't No Love in The Heart of The City (cujo título também é "revelador") constroem bem a personalidade do "advogado de porta de cadeia" que McConaughey interpreta. Aliás, não à toa, esse é o nome nacional do livro que o longa se baseia, de Michael Connelly. As rugas do ator, marcadas pela direção de fotografia, surgem para mostrar o quão ultrapassada é essa postura. Só faltou um anel de formatura proeminente, saltando à tela a cada gesto do personagem.

Haller está sempre em busca de casos dos mais baixos níveis, mas que sejam fáceis de ser defendidos, ou seja, dinheiro garantido e pouco trabalho. Eis que cai em seu colo uma acusação de tentativa de estupro. Como o futuro cliente vem de uma rica família local, não pensa duas vezes e aceita defender o playboy vivido por Ryan Phillippe. O que ele não espera, no entanto, é que o caso é mais complicado que parece, e ao mesmo tempo que traz ecos de um antigo erro do advogado, pode também trazer uma chance de redenção com a consciência.

Com uma passagem tímida pelos cinemas norte-americanos, O Poder e a Lei surpreendeu por sua aceitação de público e crítica, graças ao competente roteiro de John Romano e a direção correta de Brad Furman. A fórmula de filmes de tribunal pode acabar caindo no mais do mesmo sem o direcionamento correto. Aqui é diferente por misturar as habituais cenas de advogado de defesa contra acusação e os discursos para o júri com um suspense bem marcado por uma câmera inquieta e uma edição ágil.

Para que o personagem de McConaughey não fosse uma figura detestável, o filme foca nas ramificações de seus atos, quando percebe que pode ter cometido um erro e mandado alguém inocente pra cadeia. Também mostra o advogado como um pai atencioso, frisando que por baixo daquela postura arrogante existe alguém cuja consciência finalmente foi ferida. E a busca pela reparação o faz encarar seu pior medo, o de não conseguir reconhecer a inocência.

O ator já interpretou inúmeros advogados em sua carreira, geralmente com bastante competência, sem muito esforço pra transparecer a canastrice necessária para convencer um júri ou o próprio cliente. Mas em O Poder e a Lei, McConaughey se supera por sair do lugar comum e mostrar ao espectador um personagem que comete mais erros do que se poderia permitir.

Por mais antiquada que seja a atitude de Mick Haller, é ela que o faz repensar suas estratégias e torna sua jornada à redenção um ato quase heroico. Quase, porque no fim, o personagem prefere recorrer à meios menos ortodoxos. Afinal, nem sempre ostentar um Lincoln na garagem é demonstração suficiente de poder.

Alexandre Luiz

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