Exterminação 2000 : A curiosa e maluca imitação de A Profecia

Exterminação 2000 é um filme de horror e drama, que mira a questão do fim do mundo e da ascensão da figura do Anticristo como motivo do seu terror. Lançado em 1977, protagonizado por Kirk Douglas, é conhecido especialmente por ser uma clara imitação de A Profecia, embora seu caráter seja muito mais trash e sua execução faça dele uma obra divertida e pitoresca de apreciar.

Dirigida por Alberto Martino, essa é uma coprodução entre Estados Unidos e Reino Unido, que tenta utilizar a moda da figura demoníaca como fonte de exploração.

A história versa sobre um executivo de uma multinacional, que trabalha com energia nuclear. Depois de visitar o Oriente Médio ele acaba descobrindo que possivelmente que um de seus herdeiros será a Besta, o Anticristo ou Anti-Cristo.

Todo o drama gira em torno dessa paranoia do personagem, em meio a um romance que ele contrai com uma bela jornalista, além da disputa pela sucessão em seu conglomerado de indústrias. Curiosamente ele une parte do drama de Robert Thorn no filme e no livro A Profecia, junto também a parte do que seria o drama em A Profecia 2 e A Profecia 3, que miram já na vida adolescente e adulta de Damien, enquanto tenta se colocar como o Inimigo de Cristo assumido, lidando com crises de diplomacia e também nas companhias da família Thorn.

Apesar de ter dinheiro estadunidense e britânico, a equipe criativa é italiana. Que escreve o roteiro é Martino, o lendário Sergio Donati e Michael Robson. O argumento ficou à cargo de Donati e Martino.

O longa tem produção executiva creditada a Edmondo Amati. Maurizio Amati também fez essa função, embora não tenha crédito. A versão em inglês teve produção executiva de Samuel Z. Arkoff.

O filme é conhecido em inglês por dois nomes, principalmente: Holocaust 2000 e The Chosen. Teve lançamentos com o curioso nome mais óbvio, de Lucifer's Curse (algo como A Maldição de Lúcifer). The Chosen também foi o título em países como Canada e Filipinas.

Na Finlândia é Terrori 2000, nos Países Baixos é Rain of Fire, ao menos no lançamento em video. Na Polônia é Ciałopalenie 2000 e em Portugal é Holocausto 2000.

O filme estreou primeiro na Itália, em novembro de 1977. No Reino Unido chegou no começo do ano seguinte, em janeiro de 1978. Na França estreou em março e nos Estados Unidos da América estreou em 19 de abril de 1978, em Nova York.

O filme foi filmado na Inglaterra, na Itália e também no deserto na Tunísia. Há cenas na Inglaterra em Wykehurst Park House em East Sussex, Bigbury-on-Sea em Devon e 10 Carlton House Terrace, em Londres.

Sequências internas foram no Twickenham Studios, em Middlesex. Na Itália filmaram em Rizzoli Palatino em Lazio, além de cenas de estúdio no Safa Palatino Studios, Roma, Itália.

As companhias responsáveis foram a Aston Film e a Embassy Productions S.p.A. A distribuição ficou a cargo da Rank Film Distributors no Reino Unidos e da American International Pictures (AIP) nos EUA.

Martino é lembrado pelo também resenhado aqui O Anticristo, fez alguns anos depois Sombras Estranhas num Quarto Vazio e no ano seguinte faria O Homem Puma.

Donati é mais lembrado pelas parcerias com grandes diretores do western spaghetti como em Era Uma Vez no Oeste, Quando Explode a Vingança, O Dia da Desforra e Quando os Brutos se Defrontam. Na época vinha de Confusão em Paraíso City e os filmes B Orca: A Baleia Assassina e A Ilha dos Homens-Peixe.

Robson escreveu Boneca Amorosa (embora não tenha sido creditado), também trabalhou em Hardcore, Os Trinta e Nove Degraus, além de séries como Hannay, In Suspicious Circumstances e The Legend of William Tell.

Arkoff faria Terror em Amityville e Vestida Para Matar perto dessa época. Maurizio fez Muito para Viver...Pouco para Morrer e Sombras Estranhas num Quarto Vazio. Edmondo fez os que seu irmão fez também, além de O Segredo do Bosque dos Sonhos, de Lúcio Fulci.

A trama gira em torno da experiência do industrial Robert Caine, vivido por Douglas. Ele ignora avisos apocalípticos dos habitantes locais, as trata como crendices bobas e passa por cima de uma caverna sagrada no Oriente Médio.

Decide construir uma central nuclear ali. A grande questão é que seu filho, Angel, de Simon Ward (Os Três Mosqueteiros, A Vingança de Milady e Supergirl) planeja se valer desse projeto, para expandir seu poder e a influência das empresas da família.

Ao longo da trama, uma série de acidentes suspeitos que matam figuras proeminentes que criticaram o projeto, mas nem isso chama a atenção de Robert. Ele só passa a acreditar de fato quando enxerga semelhanças entre o desenho da planta do projeto e algumas gravuras da Besta profetizada biblicamente, que tem o mesmo desenho nas cavernas.

Depois de de exibir para ricaços, sobre matrizes energéticas seguras, que seriam geradas pela energia nuclear que ele fará no deserto, Caine dedica um tempo a bela fotografa Sara Golan (Agostina Belli), que o leva ela até escavações antigas, aparentemente para mostrar que a sua Caine Enterprises não é de toda ruim, ou seria somente para seduzir a moça.

Douglas vinha de Movidos pelo Ódio, Ninho de Cobras, O Farol do Fim do Mundo e Uma Vez só não Basta. Como estava em baixa na carreira, fazia telefilmes como Dr. Jekylll and Mr. Hyde e Vitória em Entebbe.

Já Belli atuou em Perfume de Mulher, Telefones Brancos e Duplo Assassinato.

Na parte baixa da terra, a moça fala sobre Apocalipse, mas o motivo para isso não fica claro. Ela diz que o LESUS escrito na parede pode ser a verdade um selo de proteção, prevendo o Apocalipse bíblico e sua conclusão, por mais louca que pareça, não está errada.

O fascínio do homem pela moça também não se justifica nem um pouco. Não há noção do que os engravatados falaram com ela. Sara o contrariou, mas não há nenhum indício de que ela foi a única.

Aparentemente era destino dela descer até a caverna e relembrar o que leu no passado, só por conta do destino querer.

A explosão nuclear controlada que a Caine Enterprises propõe não vitima ninguém em um primeiro momento, mas pode ferir o mundo com todas as pragas possíveis, repetindo dessa forma as velhas pragas ditas no Livro Sagrado, a Bíblia, colocadas assim como cumprimentos do Apocalipse.

Após todo esse preambulo o personagem de Douglas aparece em uma festa chique, conversa com a sua senhora, Eva Caine (Virgínia McKenna) e quase é atacado, por um homem de traços Árabes, que é interpretado pelo ator italiano Massio Foschi, de O Último Mundo do Canibais e Otello.

Seu filho Angel interfere no ataque, segura a mão do malfeitor, que acaba esfaqueando a senhora de uma maneira um bocado suspeita.

Seria culpa dele? Seria algo proposital?

A sequência é tão bizarra que faz perguntar. Os personagens em volta, incluindo Robert, tentam consolar o garoto, especialmente na despedida e no enterro da mãe. Esse é o primeiro momento onde o pai enxerga o rapaz com desconfiança.

Sara retorna e mostra uma foto revelada, com desenhos diferenciados na caverna, atrás de Caine. Vale lembrar que fotos com segredos escondidos foi uma marca na escrita de David Seltzer, autor do livro e do roteiro de A Profecia.

O hospício onde colocam o assassino é estranho, um cenário engraçado, ambiente branco, com paredes transparentes como vidro, onde os pacientes veem uns aos outros.

O sujeito fala sobre um mal, que nasceu da semente do personagem de Douglas, ataca ele e os doutores, depois arruma um objeto afiado e corta os pulsos. Caine não espera nada, simplesmente sai da sala sem saber se ele morreu, se os médios estão bem ou algo que o valha.

Graças a um grande coincidência- ou será que não? - ele faz um voo próximo de um padre especialista em escatologia, que decifra as palavras em linguagem antiga, presentes na caverna. Há uma conversa bem expositiva sobre as contradições apocalípticas, sobre a contrariedade da figura diabólica ao Messias que Jesus era.

No entanto, o auxiliar do professor Griffith (Anthony Quayle) ri das conclusões dele, uma vez que a palavra decifrada era apenas uma brincadeira de programadores de computador.

Começa a acontecer algumas estranhas mortes, sem sentido, tão nonsenses que acabam tendo um efeito cômico involuntário. Uma hélice corta a cabeça de um primeiro ministro, enquanto Caine e Sara procuram Meyer, tudo issoao vivo.

É tudo muito gratuito, o romance, a entrada de Meyer na história, até a ciência de que Angel é alguém malvado. Não fica claro se é um problema de roteiro ou direção, fato é que a produção soa mecânica, artificial e mal construída.

Caso o filme não se levasse a sério, seria uma apreciação bem melhor, mais divertida pelo menos.

De positivo há o pesadelo bizarro de Caine, nu, na praia, correndo atrás do esfaqueador árabe, que repete que o mal vem da semente dele. Martino coloca uma tela verde horrorosa, que mostra estruturas de extração de petróleo emergindo do mar, no meio da praia, virando as serpentes-dragão da imagem.

É impossível levar a sério, é tão toscamente construído que torna a obra simpática e por isso é tão divertido.

Griffith analisa o sonho de Caine, com um computador avançado - e tecnobable - além de usar uma máquina de ressonância enorme. Do nada o doutor encontra problemas no padrão do sonho, verifica ele como real, mesmo que a ideia de um sonho sendo real não faça qualquer sentido.

Quando Sara percebe estar grávida, Robert pensa em abortar, mas a bela não quer isso. A cena em que ela vai ao ginecologista é filmada de forma diferenciada, de um jeito delirante, que aumenta a cabeça dos personagens, de um maneira que parece que seus pensamentos são grandiosos, maiores que seus corpos.

A sequência é péssima, especialmente por conta do médico e enfermeira darem muita bandeira. A grávida consegue fugir, passando por cima dos dois, de Caine e do padre. É muita vontade de ter esse filho ou isso ou todos os personagens são muito fracos fisicamente, já que ela gestante passa por quatro.

Em meio ao desespero da fuga de Sara, Angel toma finalmente o seu lugar na teoria da conspiração. Ele se revela ao seu pai, mostra suas intenções malignas e a vontade de permitir que o irmão dele nasça, enquanto o pai deixaria o comando da Caine Enterprises para o primogênito, graças a um colapso nervoso

O que Robert não sabia é que todos os acionistas da empresa estavam mancomunados com o filho mais velho, tanto que ele sofre uma emboscada, recebe uma injeção, que o apaga.

Ele vai até o hospício branco, tem embates com o assassino árabe, ou ao menos pensa isso, até bate no homem, que desmaia na sala.

Aparentemente o hospício e a maternidade eram perto...mesmo que isso não tenha sido estabelecido antes. Não faz quase sentido nenhum. Há uma simbologia forte e estranha no reencontro de Sara com Robert, para ver a garotinha que eles tiveram juntos.

Eles quase morrem, mas se isolam sabe-se lá onde, com a família nova.

O filme teve alguns finais distintos. A versão europeia apresenta um final aberto, com Kirk Douglas no exílio com seu filho recém-nascido, enquanto Angel desenvolve com sucesso a planta destinada a causar o Armagedom.

Na versão abreviada lançada nos Estados Unidos o personagem perece. Quando foi lançado em video e nasredes de televisão, aparece um desfecho como na Europa, onde Douglas retorna à empresa e entra em uma reunião do conselho com explosivos escondidos nele, dessa forma, a cena encerra com o rosto de Angel é coberto pela imagem de uma explosão, mostrando que Robert frustrou com sucesso o apocalipse.

O DVD estadunidense que a Lionsgate lançou manteve o final original mais sombrio e o Blu-ray da Scream Factory contém as versões europeia e americana do filme.

Exterminação Ano 2000 é irregular, em alguns pontos, diverte pela atmosfera errática, mas se perde, especialmente no que toca o personagem de Kirk Douglas. É um filme muito doido, que é tão frágil em suas concepções que se torna charmoso.

TRAILER