A Profecia : O livro profano de David Seltzer, que deu origem ao clássico do cinema

A Profecia : O livro profano de David Seltzer, que deu origem ao clássico do cinemaO livro A Profecia é um dos materiais literários mais conhecidos do autor e roteirista David Seltzer. Lançado em 1976, mesmo ano em que A Profecia de Richard Donner estreou, a obra é lembrada por fazer parte de uma tríade de clássicos do horror que geraram grandes filmes, ao lado de O Bebê de Rosemary de Ira Levin e O Exorcista de William Petter Blatty. Tanto o filme quanto o romance foram feitos na esteira desses dois sucessos, tanto em abordagem quanto em temática.

Entre os três esse é certamente o mais voltado para a figura do anticristo como figura central do horror. O livro foi encomendado juntamente ao script, que também foi redigido por Seltzer. A ideia central envolve a presença da figura da besta enquanto ainda era uma criança, mostrado como o filho do protagonista da narrativa escolhida.

A história foi encomendada pelos produtores do filme, a partir da ideia de Rober Bob Unger, que se mobilizou com o produtor do longa Harvey Bernhard. Eles chamaram Seltzer, que era um roteirista famoso, por ter escrito A Fantástica Fábrica de Chocolate, Esposas Abandonadas e Uma Janela Para o Céu. Se tornou diretor de filmes, fez A Inocência do Primeiro Amor, Palco de Ilusões, Uma Luz na Escuridão e Dois Picaretas e um Bebê.

A obra foi elogiada por críticos e associa o surgimento do Apocalipse previsto na Bíblia a um mundo tomado por guerras, conflitos raciais, turbulências políticas, desigualdades sociais e pragas.

Se tornou um bestseller e meses depois foi lançado o filme de Donner, que anos depois faria Superman: o Filme, Os Goonies e Máquina Mortífera. O filme ainda seria protagonizado pelo astro Gregory Peck de Moby Dick e O Sol é Para Todos, que foi a figura que praticamente viablizou a produção, como se fosse um produtor executivo informal.

A obra já havia sido lançada no Brasil anteriormente, perto da época do filme, pela coleção Supersellers da Editora Record.

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A premissa oriunda da ideia de Bob Unger data de 1973 e era direta: e se o diabo já estivesse no mundo? Entre nós? E se ele fosse apenas uma criança? Poderíamos detê-lo? Poderíamos parar o anticristo.

Seltzer se pergunta, 40 anos depois de lançar seu livro se foi selecionado para tornar conhecido ao mundo a onipresença da Besta.

Talvez sim, talvez por forças malignas, como ele mesmo diz, ou por forças do bem, já que a revelação sobre Satanás fosse necessária.

Essas palavras ele diz no posfácio exclusivo para o Brasil, nessa última edição da editora Pipona e Nanquim, que foi traduzida por Alexandre Callari, cujo acabamento especial é belíssimo, em especial graças ao trabalho de capa de Giovana Cianelli.

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Seltzer não era um sujeito crédulo, jamais tinha lido a Bíblia, quando recebeu a proposta para escrever a história tratou de ler os livros proféticos de Ezequiel, Daniel, Isaías e Apocalipse, além de alguns dos pentateucos, como Gênesis, Êxodo, até Josué, que é o sexto livro da Torá/Velho Testamento.

Mesmo antes de ler a Bíblia ele sabia que o compilado cristão era uma arca do tesouro repleto de mensagens ocultas e lições de vida e de metáforas que previam eventos futuros.

Enquanto estudava teólogos e teóricos bíblicos, o escritor chegou à conclusão que deveria atrelar o governo do Anticristo a política, interpretando dessa forma a citação de Apocalipse 13 "A Besta se erguerá do Mar Eterno ". A besta se refere ao Anticristo, à cria de Satã e o Mar Eterno referia ao caldo da dissidência e revolução, portanto, a política.

Há boas diferenças entre filme e livro, a começar pelo evento cósmico, previsto no prologo do romance - curiosamente, a versão de A Profecia de 2006 acaba tendo um momento semelhante, a despeito de ter sido bastante parecido com a versão de 30 anos antes. No sexto mês, sexto dia e sexta hora, nasce uma criança, depois que um corpo espacial passa por três constelações zodiacais, entre Capricórnio, Leão e Câncer.

Não se detalha em que ano a trama se passa, mas é dado que era na época presente da Guerra Fria entre forças soviéticas e capitalistas. O mundo é descrito como palco de conflitos, de democracia em frangalhos, de pessoas de mentes fracas, que se drogavam e dopavam para se enganar, se entorpecer e se distrair.

As ruínas escavadas da antiga cidade de Megido são o palco inicial, onde o velho Bugenhagen sentiu o processo, tanto espacial quando o nascimento da criança. Até então ele tinha a impressão de que seu escritos e pergaminhos eram inúteis, como se sua missão não passasse de lendas ditas entre sua família. Nesse momento sentiu que algo mudou no mundo, chegou alguém diferente, a criança que acabou nas mãos do embaixador Robert Thorn.

A criança do político estadunidense, morreu. Nesse trecho não há muito esforço em esconder a verdade, é dado que alguém matou a criança com uma pedrada na cabeça, no porão do Ospedale di Santo Spirito, em Roma.

De alguma forma, o pai sentiu que algo de errado aconteceu, mesmo sendo um homem incrédulo. O romance toma cuidado de primeiro mostrar a emoção, as curvas bizarras do seus destino, para só depois definir quem ele é, um político importante, mandado dos Estados Unidos para a Europa, a fim de trabalhar com diplomacia.

O enfoque é familiar no início, mostra Robert preocupado com a gestação de sua esposa, Kathy. Ele viajava de avião apreensivo, depois de três gestações frustradas, com ele preocupado com seus rompantes, com o desejo suicida e comportamento deprimido. Os dois estavam em crise, tinha uma vida amorosa inexistente, praticamente.

Ele se via obrigado até a programar a hora em que saía do seu escritório no consulado, para ir transar e inseminar a mulher. Todo o trâmite era mecânico e ela era irredutível no sentido de não querer adotar.

Curiosamente, durante o voo, ele pensava em trivialidades, como a possibilidade da terra ser consumida enquanto ele estava no ar e como sobreviveria a humanidade só com quem estava nos aviões.

Robert começa a história com 42 anos, morando em Roma depois de passar por Zurique, foi nomeado diretor da conferência de economia e era amigo do presidente de seu país, que foi tão próximo dele que até dividiu quarto enquanto ambos eram estudantes.

No entanto, ele galgou os degraus da carreira política sozinho. Achava-se pronto para receber um cargo maior. Sua família era abastada, da indústria têxtil, empresas essas que participaram do esforço de guerra no passado, de modo que Robert se recusava a trabalhar com guerra.

Quando Thorn chega para ver o filho, um padre, chamado Spiletto, é curto e grosso: afirma que a criança morreu, que respirou e...não respirou mais. Também disse que a esposa de Thorn não poderia mais ter filhos.

Seltzer acerta em evocar as emoções do personagem. Mostra ele arrasado e é fácil para o leitor embarcar em suas sensações de incômodo. Ele sente o baque, fica inebriado e a descrição do autor coaduna essa sensação. O homem fica sem chão e isso é facilmente sentido.

O padre conversa em italiano, com uma freira, enquanto o cônsul assimila o baque. Sem muita noção de tempo ele recebe a proposta de adotar um órfão, que até parece com ele e com a esposa.

Ao saber que a criança tinha saúde e estava tão convenientemente se convidando para estar na família, ele aceita. O casal tinha alguma formação religiosa. Pensaram em batizar Damien, mas nunca conseguiram. Ambos vinham de famílias católicas, mas pouco frequentavam, iam na Páscoa ou Natal somente.

O padre além de dizer que era autoridade suprema ali, até para acobertar a farsa, ainda afirma, de maneira poética, que ele deveria aceitar a sentença.

- Pelo bem de sua esposa, signore, Deus perdoará esta farsa. E, pelo bem da criança que, de outro modo, não terá um lar...Nesta noite, senhor Thorn...Deus lhe deu um filho."

Katherine não percebe qualquer inconveniente. Ele vai crescendo normalmente, embora pareça frio com a mãe.

Robert se tornou assessor presidencial e depois, ascendeu ao cargo embaixador na corte de St James. Uma vez em Londres, a família fixou residência em Pereford, numa mansão antiga, datada do século XVII. Com os Thorn, auxiliavam o chofer Horton, sua esposa e Lessa, uma jovem, babá inglesa.

Vem de Horton o primeiro sinal de que a criança, a que deram o nome de Damien, era um pouco suspeita. Já Lessa adorava a criança, era especialmente apaixonada pelo sorriso do menino.

Até os seus três anos e meio, ele pouco falava. Era calado, sorridente quando feliz e choroso quando triste.

Seltzer é direto, introduz personagens de maneira rápida, com breves descrições da personalidade desses personagens.

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Ele é sucinto especialmente ao descrever Haber Jennings, um fotografo paparazzo, acostumado a registrar estrelas como Sophia Loren e Marcelo Mastroiani.

Num primeiro momento, apenas se detalha os afazeres mecânicos de trabalho do sujeito, só se fala a respeito dos seus sentimentos e temores quando ele se vê em perigo iminente.

Thorn é a nova obsessão do sujeito e passa a ser seu alvo preferencial, recebendo muitos cliques tanto dentro quanto fora do ambiente de trabalho do político.

Na festa de aniversário de Damien, uma cigana repara que a palma da mão da criança é diferente. Não possui linhas, tampouco há impressões digitais.

Esse aspecto misterioso é dado em um momento que até desperta curiosidade, afinal, é um indício forte de que ele é uma criatura das trevas mesmo, mas esse detalhe é sublimado graças ao suicídio assistido por todos, com Lessa subindo no topo da casa, se jogando em um mergulho mortal, antes clamando pela atenção da criança, dedicando a ela esse sacrifício, talvez ela busque alguma reação vocal dele, que não vem

Curiosamente ele não teme olhar o corpo da babá morta.

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Jennings fotografa a cerimônia de enterro, inclusive a criança. Se impressiona com seu semblante e com o cachorro forte da família, que anda perto. Esse trecho pode ser encarado como um prenúncio, que no filme de Donner, foi mais expandido.

Uma nova babá aparece, uma mulher gorda, de modos educados, cordial, preparada e educação clássica, a sra. Baylock. O visual é bem diferente das duas versões cinematográficas, provavelmente graças ao embate físico que ela protagoniza no final.

Ela aparece sem ser convidada, a mulher achou que foi o marido que a chamou e Thorn acha o inverso. Ao checar com a agência de babás, descobriram que ela deveria estar em Roma, mas tomam isso como uma não atualização de status, a ser corrigida quando o chefe da agência retornar das férias. Ainda assim, seguem, até para atalhar soluções de problemas.

Se já achava o filho frio consigo, Kathy piora em seus sentimentos internos, ficando mal por conta Damien ficar mais apegado a babá nova. Ao longo do livro, revelações sobre o passado dela são dados, como o fato do pai dela ter se suicidado, segundo a apuração de Jennings. Aparentemente, a própria não sabia que foi criada por um padrasto.

O casal consegue melhorar sua vida íntima. Para Robert, isso é bom, ele acha que a esposa está melhorando, enquanto ela, na verdade tenta compensar a carência afetiva, dando atenção ao marido por ser ignorada pela criança.

Há algumas divergências pontuais entre Kathy e a babá, Baylock afirma que Damien não vai para a igreja, ao invés disso sugere ir ao parque, mas obviamente não é obedecida, afinal, ela é funcionária, não patroa.

Horton diz que a babá tem hábitos estranhos, afirma que ela não almoça com os outros empregados, além de visitar a floresta à noite, quando as luzes apagam. ela também não usa papel higiênico. O chofer acha que ela deve se aliviar no mato.

No carro, a caminho da igreja, Damien passa mal, sua frio e quase tem uma convulsão ao ameaçar entrar na igreja. Nesse ponto, Kathy acredita que a reação violenta tem a ver com a conversa sobre a babá, que ele parecia gostar tanto.

Depois disso, a mulher passa a tolerar mais as indiscrições da cuidadora, mas Robert não, inclusive manifesta que não quer que o Pastor Alemão que ela adotou fique em casa. Fica claro que se incomoda com a audácia da empregada, assim como acha que ela toma liberdades demais.

Vale lembrar que na versão de cinema, o animal mudou de raça, sendo um rotweiler. No remake de John Moore havia um pastor alemão e um rotweiler habitando a casa dos Thorn.

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A parte espiritual da trama é desenrolada de uma forma literal, no entre capítulos.

No mesmo Capítulo 4 em que Damien se recusa a entrar na igreja, se fala a respeito do nascimento dele, junto aos padres Tassone e a irmã Teresa, além é claro, Spiletto. A mãe dele é animalesca, tal qual o chacal que aparece no filme.

Thorn vai ficando tenso a medida que a história se desenrola, até pensa em adiar compromissos internacionais. Depois acaba tendo contato direto com Jennings, quebrando a câmera dele em um evento que não parece ser acidental, logo depois que ele faz insinuações sobre o suicídio da babá

No entanto ele se assusta de verdade quanto tem contato com um padre, que aparece e diz para ele aceitar Jesus como Salvador. Ele é Tassone, diz ter participado do parto do filho de Robert e avisa que só com Deus ele vencerá o Demônio.

O padre é incrivelmente assustador, ao mesmo tempo que convence em sua elucidação. O embaixador chega a pensar que aquilo é uma chantagem, que ele quer algo, mas não, Tassone só se sente culpado, tanto que assume que a mãe da criança era um chacal, fato que obviamente não é levado a sério.

Robert pensa muito no padre baixinho, acha que ele pode ser um perseguidor, um stalker, até associa ele a Lee Harvey Oswald, o assassino de John F. Kennedy. Seriam esses delírios de grandeza, paranoia ou obsessão retribuída? Parece um misto dos três.

Jennings revelou as fotos da mansão em Pereford e viu borrões sobre a babá, associou aquilo a energia maligna, teorias essas relacionadas ao que leu em revistas sobre paranormalidades. Curiosamente ele não é dito como alguém centre, até então, mas nesse ponto parece acreditar no sobrenatural.

A descrição física dos personagens não é tão distinta entre os filmes e o livro, exceção claro a Baylock. A escolha de elenco foi pontual, de fato os personagens lembram bastante os seus interpretes, tanto em 1976 quanto em 2006.

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A visita do zoológico, tão icônica no filme, acaba sendo ainda mais bizarra na versão escrita. Como os Thorn eram uma família rica e importante, tudo chegava até eles, quase não faziam nada.

Quando decidiram ir a um zoológico, foi um evento por si só e lá, macacos pregos e babuínos tiveram incidentes estranhos, alguns cometiam autoflagelo, muitos brigavam entre sim, enquanto Damien aplaudia esse caos. Eles pareciam se arvorar graças ao menino, que por sua vez, se divertia com isso, comemorava o caos.

O texto de Seltzer soa como algo atual, especialmente na parte em que Thorn prepara um discurso para falar com petrolíferos árabes. O comentário que ele faz, de que a culpa dos EUA não se dar bem com os povos do Oriente Médio são os constantes conflitos de Israel com os países também semitas conversa perfeitamente com a pauta de 2024.

Para se preparar ele tem a ideia de recorrer a leituras antigas, da Bíblia Sagrada, mesmo que nenhum dos povos tome essa como escrituras sagradas, exceção ao Velho Testamento, que coincide com a Torá judia. Ainda assim encontrou a intercessão entre os povos, estudou Abraão, a promessa de que ele seria fecundo, próspero e pai de nações, que são justamente os povos árabes e judeus.

Ele entende que as terras ditas no Gênesis, a Terra Prometida que Josué encontrou se estendia do Rio do Egito ao Líbano e ao rio Eufrates. Ao consultar o Atlas, nota que o estado de Israel ocupava apenas uma estreita faixa entre a Jordânia e o Mediterrâneo. Ele se perguntava se era esse pedaço curto que fazia Israel ser expansionista e se perguntava pq Deus sendo Todo Poderoso fez uma promessa, mas não conseguiu cumprir.

Seltzer destaca vários trechos da Bíblia, mas em materiais assessórios, diz se impressionar com a violência das escrituras do Velho Testamento, em especial os tons proféticos dos livros de Daniel, Zacarias e Ezequiel.

Thorn segue lendo, interrompe brevemente para ver sua mulher, que arde em febre. Ele se preocupa com ela, especialmente depois que ela pediu para ver um psiquiatra - a Inglaterra não tinha tantos profissionais assim como na América. Depois ele passa pelo quarto de Baylock e se assusta com sua maquiagem.

Ela usa muito pó de arroz e um batom vermelho, estranho e gritante. Parece ter se maquiado no escuro, mas também parece uma mulher vadia, segundo o embaixador pensa, claro. O motivo dela se enfeitar assim quando estava prestes a dormir é um mistério.

Em um discurso que fará, ele acredita que terá problemas para lidar com gente do partido comunista, que normalmente iam nesses eventos para tumultuar. Ele acaba passando, eventualmente, mas não tem graves problemas para responder, no entanto, se impressiona ao conseguir ver Tassone na multidão.

Jennings também enxerga o padre, mas não o vê em detalhes, já que não levou uma lente de alta distância, mas decide procurar sobre ele, até chega a embaixada. Ligando para lá, inventa uma história sobre parentesco com o padre e convence a empregada a falar com Thorn.

Jennings é bom de blefe, percebe que Thorn esconde algo, mas o embaixador também é esperto. Ambos saem de lá se estudando, mas mantendo uma finesse e cordialidade considerável.

O capitulo 8 faz um perfil do padre, dá informações de que nasceu em Portugal, que ficou órfão ainda criança, teve questões carnais com um jovem de uma tribo no Marrocos, enquanto era missionário e foi abraçado pela Missa Negra. Seltzer descreve bem eventos de tortura, inclusive a castração do amante do padre, o jovem Tobu, da tribo Kikuyu.

Tassone encontrou Spiletto em Nairóbi, com a promessa de acolhimento, por uma turba horda de religiosos que viviam segundo seus desejos e prazeres. Tassone "dividiu" seu corpo com outros que apreciavam os mesmos prazeres que ele.

O grupo era aparentemente respeitável, seu objetivo era praticar o caos e bagunçar o cenário de ordem, até a chegada da Besta. Entre esses fiéis - que se diziam satanistas - se compartilhavam histórias de freiras profanas, como B'aalam (que recebeu a honra de ser sepultada no Santuário de Techulca, o Deus-Demônio dos Estruscos) e B'aalock, que sobreviveu a atentados em Camboja, e se tornou Teresa, a freira que ajudou no parto de Damien.

Tassone teve pesadelos reveladores, na véspera do nascimento, quase desistiu, viu Tobu, viu sua mãe. Era claramente uma intervenção de Deus, mas ele estava muito envolvido. Ficou triste por participar e mais ainda por ter matado a mãe chacal e depois o angelical bebê dos Thorn.

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Ele se mudou para a Bélgica, continuava tendo alucinações e pesadelos, só aplacados por drogas, ainda se tornou um viciado, especialmente depois que Spiletto o deu um alucinógeno para aplacar as enxaquecas que adquiriu no ato do parto profano.

É ele quem cita Bugenhagen, que é um nome de uma família que estava envolvida desde tempos antigos, matando os filhos do Demônio, em tentativas que ocorreram em 1092 e 1710. A família era de zelotes, uma seita iniciada no século I depois de Cristo, que zela pela palavra de Deus, se revoltando contra o Império Romano de início, depois se voltando para a proteção das clássicas escrituras.

Esse último já estava velho, doente e em um esconderijo subterrâneo. Tassone deveria trazer um parente da criança, para ver Bugenhagen, mas não consegue ir, já que sofre perseguição da parte do demônio, sendo morto empalado, em um momento que parece ter inspirado Premonição/Final Destination.

Avisa então para que fossem até Megido, a velha cidade de Jezrael, dizendo ao embaixador que sua esposa corre perigo.

A parte emocional do romance segue bem viva, com Kathy querendo abortar assim que descobre que está grávida. Não quer mais ter filho algum e nisso, acaba tendo o apoio do psiquiatra, o dr Charles Greer.

Robert conversa com o médico, que afirma que ela tem medo de Damien, diz que acredita que não é filho dela e que acha q a criança é maligna. O que Greer chama de fantasia ou delírio, Robert acha que pode ser ela tendo uma revelação, mesmo sendo incrédulo.

Os fatos finais lembram bastante a tradução do filme. Ocorre um estranho acidente com Kathy, que perde o filho, Jennings mostra as fotos com detalhes "mortais", os homens se programam para ir até onde Damien nasceu, em Roma. Curioso que Thorn é seguro demais, mas não suspeita de nada depois que percebe que Horton e sua esposa se demitiram. Mesmo tendo manifestado descontentamento com Baylock, decide deixar o menino com ela.

Ele parece tolo e ingênuo demais, ainda mais se considerar que é um sujeito estudado e rico. Aparentemente ele peca nisso por estar inseguro e emotivo, abalado por todas as questões conflitantes que surgiram de repente, parece só ter essa postura para que a história se desenrole de maneira conveniente. Talvez esteja apenas sofrendo com um estado de negação.

Em Roma ele acha poucas informações, especialmente depois que descobre do incêndio que varreu o hospital católico. Decidem ir até o sul da Itália, um monastério em Subiaco. Talvez a questão do incêndio em Roma sirva não só de queima de arquivo, mas também é um simbolismo sobre a ascensão e queda do Império Romano, previsto na Bíblia como demonstração da chegada do Anticristo.

O que se descreve do padre sobrevivente é dantesco, ele está quase morto, precisa de ajuda até para se alimentar, é doente e decadente, mora em um cômodo pequeno, sem móveis, só com um leito e com carvão, onde escreve 666 várias vezes. Lá ele dá pistas sobre um antigo santuário de Techulca, a entidade maléfica dos etruscos, já citado aqui.

Viajam então para um cemitério que fica 50 km ao norte de Roma, vivem uma sequência onde sobram emoções e descobertas. Depois de acharem os cadáveres, ainda são atacados por uma matilha de pastores alemães, raivosos e sangrentos.

Eles terminam vivos, no táxi, mas todos sujos de sangue e chorando, bem diferente da postura heroica que os dois tem nos filmes.

O final se encaminha entre as ações de Robert e da babá malvada, que ataca sua antiga patroa, fazendo ela parecer ter se suicidado.

Perto do final, o protagonista sofre com uma epifania, uma lembrança do nome de Bugenhagen vem quase que magicamente, em um sonho, tal qual ocorria nos gialli de Dario Argento, onde o herói subitamente lembra de um segredo importante, que ajuda a solucionar um mistério.

Não é simples matar o filho do Diabo, Thorn teria que usar 7 adagas sagradas, fazer um rito estranho, inserindo uma de cada vez, deixando ele sangrar no altar, mas antes, precisaria descobrir se Damien tinha a marca da Besta.

Essa procura pela marca no menino é bem diferente das versões. Robert raspa a cabeça do menino, com uma navalha, com ele dormindo. É sangrento e dantesco. O menino acorda com a cabeça toda vermelha e inflamada, acaba chorando, de modo que desperta Baylock (que é na verdade B'aalock) ataca Robert e a criança segue assustada, sem entender o que estava acontecendo.

O fim é bem parecido com o do filme, com uma perseguição, hesitação da parte do pai, morte e a adoção de Damien pelo presidente.

A Profecia é um livro repleto de tensão, que descreve a ascensão do mal como um evento irremediável e inexorável. A grande diferença dele para os filmes é que não há vergonha em apelar para o sobrenatural, além de que esse possui um tom ainda mais melancólico e desesperançoso, além de ser consideravelmente mais violento. A escrita de Seltzer é convidativa, servindo assim como bom entretenimento mesmo para quem conhece a história central.

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