O Beijo da Tarântula : Um terror juvenil pré Halloween

O Beijo da Tarântula : Um terror juvenil pré Halloween

O Beijo da Tarântula é um filme de horror e drama que versa sobre a rotina de uma menina apaixonada por animais peçonhentos e que sofre de graves distúrbios mentais. Eventualmente, ela se envolve em uma trama macabra, que envolve mortes e discussões a respeito dos limites do comportamento de gente jovem, sendo assim um filme cheio de elementos do cinema slasher, mas antes da fórmula se provar eficaz, com Halloween e seus filhos.

A sinopse não faz questão nenhuma de esconder a trama, fala sobre uma adolescente com a mente perturbada, que utiliza aranhas para encerrar a vida das pessoas que a incomodam, tanto as pessoas que fazem isso de maneira abusiva, como também quem a critica ou meramente a contraria de maneira simples.

A trama se divide em duas linhas temporais, uma na infância da personagem principal - que também funciona como antagonista - indo até um futuro próximo, quando a mesma está na puberdade, perto de se tornar adulta.

Dirigido por Chris Munger, o filme tem roteiro de Warren Hamilton Jr., argumento de Daniel Cady e é produzido por John H. Burrows e Cady, também teve produção executiva da dupla Curt Drady e John Holokan.

Estreia, nomenclatura e dados técnicos

A obra estreou em seu país de origem, os Estados Unidos em 3 de outubro de 1975, em sessão na cidade de Princeton, Indiana. No resto do país, chegou em maio de 1976, chegando aos cinemas do México em setembro de 1977.

O título original da obra é Kiss of the Tarantula, mas também podia ser encontrado como Shudder. Seu nome de trabalho era apenas Tarantula.
No Canadá se chama Baiser de la tarantule e na França é Le baiser de la tarentule. Na Itália é Il bacio della tarantola, no México é El beso de la tarântula, na Alemanha é Der Kuss der Tarantel, enquanto em Portugal também se chama O Beijo da Tarântula.

O Beijo da Tarântula : Um terror juvenil pré Halloween

O filme foi rodado entre a Califórnia e Geórgia. Houveram cenas no Pickwick Drive-In, 1100 W. Alameda Ave em Burbank, Califórnia, no Donald Kilgore Mortuary em Columbus, Geórgia.

O estúdio que fez o filme foi o Cinema-Vu, que também distribuiu o longa nos EUA.

Esse filme foi parodiado pela Mystery Science Theater 3000 o popular MST3K, em uma peça com Michael J. Nelson, Bill Corbett e Kevin Murphy sob o nome Rifftrax.

Quem fez:

Munger dirigiu The Year of the Communes (que ele produziu também) Black Starlet e um episódio de O Homem da Montanha, foi produtor associado em Escape to Passione cinematógrafo de The Dirtiest Game.

Hamilton Jr. era escritor mas era mais conhecido por seu trabalho de som. Escreveu um episódio de Mod Squad e o roteiro do filme Black Samson. Trabalhou também o som do filme Fuga de Nova York, Viagem Insólita, Velocidade Máxima e Tropas Estelares.

Cady produziu Black Samson, Black Starlet, tendo escrito ambos, produziu Boneca Assassina.

Burrows produziu Al Capone de 1959, As Aventuras Eróticas de Robin Hood, Viajantes Selvagens e Superchick. Também foi produtor executivo em Stanley, O Réptil Maligno, gerente de produção em A Hora do Pesadelo (onde foi também produtor associado) Um Som Diferente e O Observador.

Narrativa

A história inicia com uma cena silencia, onde a personagem Susan, de Rebecca Eddins aparece. Ela é uma criança loira e bonitinha, que gosta de brincar no lado de fora da casa, junto a natureza, no mato e no quintal.

Sua mãe, Martha (Beverly Eddins) a repreende, para ela não brincar com insetos, embora na verdade ela esteja mexendo em uma aranha, que é um aracnídeo.

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Em famíia

Sobre o elenco, é bom falar que há quatro membros da mesma família trabalhando no filme.

A mãe Beverly Eddins interpreta Martha Bradley, o pai W. James Eddins interpreta o sargento Wes Matthews, Rebecca Eddins, a filha mais velha, interpreta Susan Bradley aos 10 anos e Susan Eddins a filha mais nova, interpreta Susan aos 5 anos.

Entre infância e fase crescida

As cenas variam entre momentos em que Susan é criança e quando se torna adolescente, embora já pareça uma mulher adulta, uma bela moça loira, vivida por Suzanna Ling, mas que até esse ponto inicial, não se revela como a versão crescida daquela mesma menininha.

O pai de Susan é John, personagem de Herman Wallner, mostrado com vestes brancas, com uma pessoa em uma maca.

Quem olha rapidamente pode pensar que ele é um médico, mas é fácil notar que o corpo na mesa é um cadáver. Ele trabalha com serviços funerários diversos e a família vive onde ele exerce sua função, em um mausoléu que fica embaixo da casa de serviços funerários, a empresa Bradley Mortuary.

Um policial chega. Ele é Walter Bradley, de Ernesto Macias (que assinava Eric Mason). Como o nome antecipa, esse é o irmão de John e tem um caso com Martha.

Vestes de luto

Nos momentos em que está flertando ou namorando o seu amante, Martha usa cores escuras em suas roupas.

Segundo Walter, essa é uma cor que combina com ela e sem qualquer remorso a moça diz que de fato viverá o luto em breve.

Ela planeja a morte do marido e pai de sua rebenta sem qualquer culpa ou vergonha, tem absoluto nojo do esposo e repulsa da filha, diz que ambos tem cheiro de mortos e que as aranhas são nojentas.

Os tratamentos diferenciados com a menina:

Enquanto o pai é compreensivo e acredita que a menina só está curiosa por ser criança, a mãe odeia todos os seus hábitos e até perde a precaução com os seus segredos. Está com tanta raiva e vontade de praticar o mal que se permite ouvir sobre a segunda vez que fala de matar o marido.

A criança acaba tendo ciência dos planos da mãe e começa a parte mais dramática da obra.

A partir daqui, falaremos com spoilers, a partir dessa parte, falaremos sobre segredos da trama. O aviso está dado.

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Martha acaba morrendo ainda no início da trama, graças a uma aranha venenosa, uma tarântula, que Susan coloca no quarto da parente.

Isso aconteceu pouco depois da menina de apenas dez anos entender que ela mataria o seu pai. Proativa, ela se antecipou a figura materna e cometeu ela mesma um homicídio, provavelmente copiando uma condição de desapego moral de sua parenta.

Se ela viu a mãe falando de matar de um modo tão natural, deve ter achado que não era algo errado.

Sobre a picada da tarântula

Ao contrário do que se vê normalmente nos filmes, tarântulas não são entre as aranhas a espécie mais perigosa. Normalmente elas são escolhidas para estrelar filmes justamente por serem lentas, fáceis de fotografar e filmar.

Sua picada não é tão mortal já que suas presas são pequenas e não conseguem penetrar a pele o suficiente para atingir algo vital e mesmo que pudessem, o veneno das tarântulas estadunidenses não é mais mortal para os humanos do que uma picada de abelha.

No entanto algumas tarântulas sul-americanas - incluindo as brasileiras - têm veneno mortal.

A despedida

No enterro, Walter finge solidariedade ao irmão. John sendo alguém bom e cordato agradece o apoio do parente, provavelmente graças ao luto e a sua própria boa fé, já que nunca imaginou estar sendo traído pela esposa e pelo parente.

Mesmo que vivesse brigando com Martha ele claramente não queria se tornar viúvo, temendo também permitir que sua filha crescesse órfã. Ele não era das pessoas mais atentas, provavelmente não percebeu que a esposa maltratava a filha também.

A trama não demora a se mostrar Susan adulta, lidando om outras aranhas tarântulas, até nomeia uma de Jennifer. Ela vive com o seu pai, enquanto o seu tio Walter se mantém próximo.

O tabu do incesto

O policial faz questão de se insinuar incestuosamente para a sobrinha, a compara com a mãe, também se aproxima de uma forma que é impossível ignorar a conotação sexual.

Enquanto reflete sobre sua vida, sobre seus pecados da época de infância e sobre as tentativas de abuso do tio, ela para, pega uma boneca antiga e tem um momento de calma e angústia, ao som da música de Phillan Bishop.

Sua reflexão profunda tem o silêncio interrompido quando Joe Penny (Mark Smith) liga para ela, timidamente tentando convencer a linga garota a ir em um baile de halloween.

Um filme de horror juvenil prévio a era dos Slasher Movies

É no mínimo engraçado ver um filme de terror com elenco jovem e adolescente antes da formula slasher de Halloween e Sexta-Feira 13 se estabelecer como padrão.

Tramas como essa seriam mais aceleradas apenas três anos depois do lançamento desse O Beijo da Tarântula. Como não é o caso desse, o desenrolar é lento e demorado, se dá tempo para entender quem são os personagens, mesmo que eles não sejam super profundos.

Três rapazes aparecem no mortuário invadem o local para atazanar a menina. São eles Eric Craig (Stratton Leopold) Bob Ravens (Ron Prather) Bo Richards (Jay Scott).

Junto dela, descem ao porão e brincam de soltar os animais, onde Erik libera uma das aranhas, que acaba pisoteada e morta.

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O contra-ataque

Depois desse momento, dois deles, Bo e Erik, são atacados por aranhas, em um movimento coordenado dentro de carros, em um cine drive-in enquanto os dois dão uns amassos em duas moças.

A sequência é bem estranha, começa lenta, com Susan em seu carro, em uma distância segura para não ser vista ou pega.

Ela fica esperando o momento de distração de todos, para sorrateiramente soltar os aracnídeos perto do fusca de apenas duas portas onde os quatro estão. Como o veículo está estacionado em lugar prensado, se torna o palco perfeito para a armadilha.

Seriam as aranhas animais super dotados?

Os animais precisariam ser muito bem treinados para agir da forma que agem e os jovens precisariam ser muito insensíveis para não perceber algo peludo e grande passeando em suas pernas, braços e troncos.

Como o filme não se propõe a ser realista ou verossímil, a sequência acaba sendo engraçada e bizarra. Ainda assim havia um especialista em aranhas no set, no caso, o interprete de Bo, Jay Scott, Ele era o fornecedor de tarântulas, tendo treinado os animais previamente.

O momento em que as moças percebem os aracnídeos é sensacional, com gritos, desespero, variação de takes que provocam claustrofobia já que uma câmera está dentro do carro, em um ambiente de iluminação baixa.

As aranhas eram tão bem treinadas, que não atacaram Joan (Rita French) a amiga de Susan. No entanto, ela se traumatizou, ficou em choque pelas mortes, não respondendo de forma lógica ao policial.

Walter foi verificar o local onde os rapazes e Tracy (Linda Spatz) morreram, mas não teve muita sorte. Aparentemente, Susan foi cuidadosa, mas não deixou de ser irônica, já que antes de Erik ser enterrado, ela colocou a aranha que ele matou junto ao seu peito.

Antes de fechar o caixão, ela diz para ele cuidar melhor do animal, mostrando assim que se importa bem mais com as aranhas do que com a humanidade. No entendimento dela, quem deveria estar sendo velada era o aracnídeo e não esse sujeito.

Dessa forma é até óbvio entender que ela não tinha qualquer receio nem em mexer em um cadáver, já que seu pai trabalhou toda a vida cuidando de mortos, tampouco sente culpa de matar quem quer que seja, já que sua mãe também normalizou isso.

O fato de conviver com defuntos a vida inteira não a faz enxergar os mortos como entidades macabras. Também se abre a possibilidade dela ter alguma condição mental que a faz ficar insensível a perda, isso pode ter sido agravado ou causado pelos maus tratos que a mãe lhe deu, ou ela pode ter nascido dessa forma mesmo.

Padrão:

Em comum entre os dois momentos que ela "mata" há o "assassinato" de um animal.

Martha matou uma aranha, Erik também, ambos foram sepultados graças aos animais de estimação que Susan criou e acarinhou.

Ainda assim ela sente culpa, vai até a amiga e confessa que não queria fazer mal nem a ela e nem a Tracy, essa última ainda acabaria falecendo como efeito colateral do ataque a dupla de meninos.

Ela acaba sendo flagrada por Nancy (Patricia Landon) que a acusa de ter causado esse mal, mas não há grandes consequências nesse momento.

Mais tarde, em uma tarde no mato, Bob se aproxima, consternado. Ele pede desculpas pelo que ocorreu e a convida para sair. Ela faz menção de demonstrar suspeitas sobre ele, mas aceita.

Ora, na cena da morte do bichinho ele já parecia arrependido, mas ele dessa vez estava apenas atuando e queria vingança.

Ao invés de sentir-se um sortudo por ter sido o único poupado do trio, ele atenta contra a "princesa aracnídea". Quando vai ver um filme à noite com sua convidada, no mesmo cenário onde Erik, Tracy e Bo morreram, simplesmente começa a interrogar ela sobre a participação da morte por envenenamento dos dois amigos.

Dessa forma, se condena, acaba afastando a garota, que foge com medo e com a certeza de que precisaria acertar mais um alvo.

O surto

No hospital, Joan surta, depois de ver um pequena e inofensiva aranha, nas flores. Nem a enfermeira Hamilton (Mary Tyree) e nem o doutor Morgan (Jared Davis) conseguem entender o que houve com ela, mas ao descrever o momento para Walter, ele soma as pistas, lembra da aproximação de Nancy e entende que pode ser a sua sobrinha a culpada.

O policial aborda a parente, de carro. Mais uma vez ela se sente insegura nesse tipo de lugar. Carros se tornaram uma constante de insegurança para a moça, mesmo que ela mesma dirija.

Seria esse um filme sobre assédio?

Susan lança mão de várias red flags, indicando momentos e situações que atualmente seriam encarados como sinais de que é abusada, mas ao menos no grafismo da violência sexual, o filme poupa o espectador, insinuando mais do que mostrando. Dessa forma, não fica claro se o filme busca ter um subtexto a respeito da temática de assédio.

A impressão que dá é que Walter abusava da sobrinha, talvez desde nova, quando ainda era criança.

A similaridade dela com a mãe causava desejo no policial e como o sujeito é um canalha, possivelmente se aproveitava da inocência dela.

A forma dela atacar não diretamente, utilizando aranhas, que são animais muito comparados ao órgão sexual feminino pode ser um simbolismo descarado e óbvio.

Nancy procura Walter, revela o que sabe, mas ele a ignora. Depois de testemunhar a tentativa do policial de abusar da sobrinha, ela é perseguida e brutalmente assassinada, possivelmente violada depois de morta.

Depois de fingir consternação, é o próprio Walter que encontra o corpo da menina, faz questão de falar que tem pressa na solução do crime.

Fim tragico:

Depois que o tio assume que fez mal a Nancy. Susan reage, tendo ações parecidas com as de uma mocinha e vilã de maneira simultânea. Assume ela mesma as rédeas da situação e pratica o "mal justiceiro" ela mesma, dessa vez.

Walter era moralmente falho, um canalha com todas as letras e seu fim é tão cruel que chega a quase ser poético. Ele cai pela escada, não é socorrido e é condenado ao julgamento da parente.

Ele provavelmente perdeu a capacidade de andar e se locomover, devido a queda, mas qualquer conclusão sobre isso fica em segundo plano, já que seu destino está traçado, não envolvendo qualquer chance de socorro médico.

Seria enterrado vivo, dentro de um dos caixões da funerária de seu irmão, teria seu fim através do negócio que ele e sua amante odiavam.

Antes de descer o corpo dos dois, a menina empurra de forma capiciosa o tio, de uma maneira que ao ser visto no cinema, parece um movimento sexual. É praticamente impossível que não tenha um subtexto ambíguo aqui, já que todo o filme é permeado com esse tipo de linguagem.

Susan ainda usa o material de suspensão da instalação dos caixões que seu pai faz. Curiosamente, coloca o corpo do tio por baixo da menina que ele matou, em uma configuração que obviamente evoca posição sexual, mas sem qualquer prazer a Walter.

Ele estaria condenado, como ele mesmo fez com Nancy e como (provavelmente) fez com sua sobrinha, após os flertes ou abusos que cometeu com ela.

O Beijo da Tarântula é surpreendente, um filme de terror juvenil que não exagera no uso da fórmula e que tem um conjunto de explorações que aparentemente ditariam um estilo completamente diferente de contar histórias de terror com jovens no centro das atenções.

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