Halloween: uma noite de terror por John Carpenter

Halloween: uma noite de terror por John CarpenterAs festividades do dia das bruxas marcam o festival do Halloween, que é uma data especial no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos. Crianças e adolescentes vão as ruas atrás de doces, em uma celebração que brinca com o assustador debochando dele.

Desse modo, a maioria das pessoas saem utilizando máscaras, escondendo sua própria identidade de maneira mambembe e lúdica, fato que facilita a alguém que quer ser incógnito permanecer assim.

Se um assassino quer transitar livre, a noite de 31 de outubro é ideal, e é desse conceito que se originou a ideia de Irwin Yablans, produtor que ajudou Carpenter a reeditar The Siege, como Assalto ao 13º Distrito, e idealizou a ideia do filme.

Logo ingressou Moustapha Akkad no projeto, o diretor do épico muçulmano Maomé: O Mensageiro de Alá, que aqui é produtor e financiador, com um tímido aporte financeiro de 300 mil dólares, quantia essa que lhe garantiu 51% dos direitos do filme e consequentemente, do que virou a franquia.

Entre tentativas de tornar a ideia em um longa, se chegou ao nome de John Carpenter, cineasta e musicista que nos anos 1970 era pouco conhecido, havia feito curtas como Captain Voyeur e The Resssurection of Broncho Billy, e longas de estilos bem diferentes, como a comédia sci fi Dark Star e o já citado Assalto ao 13º Distrito.

O abraço ao projeto acabou gerando a lenda do assassino serial Michael Myers, que anos antes, em 1963, havia matado sua irmã Judith, basicamente por que ela transou. O garoto confuso se muniu de uma faca de cozinha e de uma máscara infantil, artefatos fáceis de achar, e por isso mesmo, se tornou um dos maiores ícones do horror, graças ao apelo a simplicidade.

Carpenter queria fazer uma fita de suspense, e provavelmente por isso, por influência de Yablans, fugiram do explícito e sangrento. Ainda assim, mesmo sendo contemporâneo a O Exorcista, A Profecia e outros, era um filme consideravelmente agressivo.

Halloween: A Noite do Terror virou símbolo de filme de matança apesar dessas ideias conflitantes, foi o inaugural do subgênero Slasher Movies, ruindo nele elementos de outras obras como os longas de 1960 Psicose e Tortura do Medo no apelo a insanidade do vilão e no terror sobre mulheres, como também foi presente em Black Christmas/ Noite do Terror e O Massacre da Serra Elétrica de 1974.

Também apelou para o fato de usar um antagonista que esconde seu rosto, como nos filmes italianos giallo.

Um dos fatos mais curiosos é que mesmo que Carpenter tenha sido um cineasta ainda em fase inicial de carreira, em seu terceiro filme para cinema, já teve seu nome antes do letreiro do filme.

Halloween: uma noite de terror por John Carpenter

Essa foi uma exigência do cineasta, que acreditava que caso seu texto fosse bom, seria um trampolim para uma carreira pródiga.

Para escrever o texto base, ele se juntou a Debrah Hill, sua parceira no trabalho e na vida, e juntos eles criaram a pequena mitologia, de um rapaz fratricida, que quinze anos depois, escapa do sanatório para impingir terror sobre sua cidade natal, Haddonfield, em Illinois.

A cidade base é obviamente fictícia, o palco perfeito para uma breve matança, para uma noite das bruxas ainda mais assustadora que o vestuário de bruxas, vampiros e demais monstros, sendo a perfeita tela preta para a abóbora em chamas do início dos créditos, que aliás, se tornariam a marca da franquia, enquanto toca o tema musical composto pelo próprio diretor.

Um outro horror estabelecido é o curioso olhar em primeira pessoa do predador, no caso, do rapaz violento que utiliza uma arma branca para praticar o mal.

A tomada em questão foi responsável por consumir boa parte do orçamento, já que precisaram comprar uma câmera da Panaglide, que gravava pouco tempo, em torno de quatro minutos, mas que serviu bem ao intento de aproximar a perspectiva do público junto ao matador.

Esse recurso também estava no Tubarão de Steven Spielberg, que além de ser conhecido como o primeiro blockbuster, ainda foi um filme de horror bem avaliado por crítica e público, tal qual este Halloween de 1978 mirou ser, e conseguiu.

Um detalhe comumente ignorado na história é que a máscara que Michael usou, foi utilizado pelo namorado de Judith. Quando o menino a coloca, sua visão e perspectiva ficam limitadas, e aparentemente essa é a chave para o apelo ao primitivismo assassino, a chave para o instinto violento, que vai ficando mais claro ao longo do passeio que faz da cozinha, as escadas ao cenário da morte e o lado de fora, onde é pela primeira vez capturado.

Halloween: uma noite de terror por John Carpenter

Ao chegar no "presente", a trama envolve o sanatório icônico de Smiths Groove, também em Illinois, em uma parte isolada o suficiente de Haddonfield para que as pessoas não consigam ir a pé para o lugarejo.

Nos arredores do hospital, chega o doutor psicólogo Sam Loomis, um homem tão bravateiro e repleto de frases de efeito que chega a ter um certo carisma catastrofista.

Ele foi feito por Donald Pleasance, contumaz parceiro do diretor, e sua postura é imediatamente bizarra, por tratar a contra parte adulta de Michael como uma coisa, utilizando até a terceira pessoa de objeto em tempo verbal.

Pleasance foi escolhido para ser o icônico doutor graças a sua participação que no western ...e o Bravo Ficou Só, onde pareceu engraçado e assustador na medida. Loomis diz que Michael é o mal, e isso não poderia ser menos correto.

Ele afirma que o ideal é dar Clorpromazina para Myers, remédio psiquiátrico indicada geralmente para o controle de psicoses e tratamento de quadros psiquiátricos agudos, além de ser utilizada em casos clínicos para controle da ansiedade por conta de sua ação tranquilizante, sem causar sedação.

Uma rivalidade é construída, após a fuga, entre o assassino coisificado vivido por Nick Castle, e sua vítima perseguida, a estudiosa jovem Laurie Strode, da jovial filha de Janeth Leigh - possivelmente a primeira final girl nos Estados Unidos Marion Crane de Psicose - e do ator Tony Curtis, a novata Jamie Lee Curtis, que havia aparecido poucas vezes na TV, em séries como Columbo e As Panteras.

A figura The Shape quase passa despercebido entre os cenários, já que é silencioso e rápido em sua movimentação, que se assemelha aos passos de um dançarino. Nem mesmo o fato dele usar máscara é algo que chama a atenção, graças a proximidade do dia 31.

Munido de seu "rosto" branco, que adapta o rosto de James T. Kirk de Jornada nas Estrelas e seu interprete William Shattner, ele parece alguém que varia bem entre o amedrontador e o patético. Parece tolo, por não mostrar seu rosto, ao passo que também esconde sua alma e intenções através dessa face sem sentimentos.

Essa máscara, foi escolhida de última hora, pelo montador e designer de produção Tommy Lee Wallace, que anos mais tarde conduziria Halloween 3, e que tinha por hábito arrumar formas de valorizar o baixo orçamento do filme.

Da parte da moça, o que se percebe nem é o clichê de mulher prestativa, virginal e sem defeitos, Laurie apenas é um pouco menos preocupada com garotos do que suas amigas Lynda e Annie, interpretadas respectivamente por P.J. Soles e Nancy Kyes.

Ela estuda, e cuida de crianças, é a babysitter prestativa e possível vítima do assassino de babás da premissa inicial, mas seu bom mocismo é contradito pelo fato fumar escondido, no carro de sua amiga Annie, possivelmente maconha.

Ao mesmo tempo, ela parece ser cercada pelas expectativas de seu futuro algoz, uma vez que é vigiada o tempo inteiro, no estilo Stalker de Andrei Tarkovski, filme que viria a ser exibido em 1979.

Aparentemente, isso ocorre com ela por ela carregar as chaves da antiga casa Myers, agora, vazia, a ser vendida por seu pai, que fora a cena que pede para ela levar a chave, simplesmente some da trama, fato que também virou clichê em filmes de matança: as famílias sempre são ou incompletas ou omissas no terror dos jovens.

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Apesar de caricato, Loomis é icônico. O sujeito é apresentado como um homem das ciências, assustadoramente crédulo e supersticioso.

Para o doutor, a casa dos Myers é um lugar possivelmente assombrada de fato. Ele acha que lá é o primeiro lugar que o assassino iria, e não está errado, já que o primeiro ato de Michael é voltar até lá. Além de místico, é cirúrgico, ele entende na plenitude quem é seu antigo paciente.

O filme é bem lento quanto as mortes. A primeira em tela (ocorreu uma outra, off screen, de um motorista pego para Michael dirigir) só ocorre aos 54 minutos, com uma Annie sendo sufocada no carro.

Depois ele assassina um casal depois do coito, incluindo uma faca no peito de um deles, pendurando o sujeito de uma forma que parece uma estaca, que mantém o cadáver ereto mesmo contra a gravidade, além de ter uma forte simbologia fálica.

Halloween: uma noite de terror por John Carpenter

MM é sádico e parece ter uma veia artística, tanto que sobe a lápide da irmã do cemitério até uma casa. Usa a simbologia de colocar o pedaço de pedra sobre a cama, que é o palco do sexo, o mesmo que Judith cometeu, a mesma relação que a condenou.

O psicopata coloca os corpos dos jovens de maneira diversa, espalhados pela casa, de modo que Laurie se aproxima e vê um a um sendo exibido, convenientemente segundo seu movimento.

Hoje parece bobo e implausível, mas essa saída foi boa, bastante agressiva.

Ao fim, Loomis e Strode se encontram, e quase não tem interação até o senhor atirar no monstro. A primeira troca de palavras é quase infantil, onde ela pergunta se aquele era o bicho papão, tal qual a fala anterior de Tommy Doyle, menino que ela cuidava, e que seria um personagem super explorado nas péssimas continuações futuras.

Halloween de 1978 marcou época, trouxa a vida um personagem de índole terrível, o mal encarnado, um sujeito implacável e praticamente imortal, poderosíssimo exatamente por não se saber muito quem ele é e porque faz isso. O fato de não ter muitos motivos para sua violência é pontual e certeiro, e foi muito diluído nas sequências. Ainda assim, a obra em si é certeira, marcou época e inaugurou tendências, sendo o capítulo um da saga dos Slashers.

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