Cinerama: David Lynch – Parte 2

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David Lynch

Ainda faltavam 2 filmes para liquidar o acordo com Dino DeLaurentiis e graças ao fracasso retumbante de “Dune”, a sequência prevista foi descartada ainda no primeiro tratamento do roteiro, e Lynch aproveitou a decepção de Dino para com o “Talento surreal” dele e disse: “Façamos o seguinte, Dune não deu certo e muito menos a sua sequência, certo? Para que você se livre logo de mim, fazemos um roteiro meu bem barato, aceito receber menos pela produção e você me deixa fazer ele como eu bem entender. Como o filme vai custar pouquíssimo, se ele for um desastre, você não vai sentir no bolso e eu estou livre para dirigir outras coisas. O que acha?”. Com sua cabeça preocupada com outras produções milionárias que seu estúdio encabeçava, Dino concordou com Lynch, desde que o filme fosse entregue pronto com um custo menor que 6 milhões. Lynch concordou e foi rever seu argumento antigo sobre uma orelha decepada sobre a grama em uma cidade de classe média com cercas brancas, jardins bem regados e pessoas boas com uma bela vida protestante; nascia assim “Blue Velvet”, clássico neo-noir de 1986 que levantaria novamente o nome de Lynch e surpreenderia DeLaurentiis que adorou o corte do filme.

“Blue Velvet” gira em torno de um estudante que volta para sua cidade natal – Lumberton – para visitar o pai, dono de uma loja de cuidados do campo, que sofre um acidente e fica impossibilitado de cuidar da loja que passa a ser responsabilidade do filho. O garoto, ao caminhar pelos campos atirando pedras encontra uma orelha humana que o instiga; curioso e com a ajuda da adolescente filha do detetive local, ele descobre um submundo de abusos sexuais, fetiches, corrupção e abusos de drogas, que envolve uma cantora de boate, policiais e um homem sem uma orelha.

Tema que retornaria inúmeras vezes na filmografia de David, o suspense psicológico é bem trabalhado no filme. O simbolismo alegórico é constantemente utilizado – como por exemplo nos primeiros minutos do filme (Sim, assista com calma e você vai sacar tudo), e a linguagem é utilizada de forma extremamente inteligente e em favor da trama, que mesmo sendo surreal e bizarra, convence, entretêm e, é claro, te mantem de olhos bem abertos. A soma de todas essas coisas? Segunda indicação de Melhor Diretor para Lynch, que mesmo não ganhando naquele ano abocanhou os prêmios de Melhor filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia e Melhor Ator para Dennis Hopper no Los Angeles Film Critics Association e no National Society of Film Critics, ganhando status de clássico imediato e faturando mais de 9 milhões, mesmo sendo mal distribuído e tendo custado míseros 6 milhões.

Depois do sucesso de “Blue Velvet”, David decidiu que estava na hora de retomar seu projeto “Ronnie Foguete”, a essa altura já com com uma outra produtora, já que a Dino De Laurentiis Corporations havia falido e vendido parte dos roteiros em seu poder para a Propaganda Films, que concordou em devolver Ronnie para David, se ele fizesse um filme com mais apelo de público, de modo a usar o destaque obtido com “Blue Velvet”, foi quando Lynch conheceu Mark Frost, produtor de TV com quem começou a trabalhar em um filme biográfico sobre Marilyn Monroe e em uma comédia chamada “One Saliva Bubble”. Ambos os roteiros iam bem no papel, mas durante algumas dessas reuniões de escrita em um café, Lynch e Frost começaram a viajar sobre a história de uma moça morta que era o exemplo de garota perfeita em uma pequena cidade madeireira dos Estados Unidos, mas que ao proceder da autopsia realizada, descobre-se que ela havia inalado uma grande quantidade de cocaína e que antes de ser morta por uma forte lesão na cabeça, havia sido violentada sexualmente.  O crime violento entristece, mas intriga a todos. O FBI começa a investigar mais detalhes a respeitoda garota e descobre coisas terríveis sobre ela e coisas piores ainda sobre os outros moradores da pacata cidade que é repleta de pessoas com vidas duplas.

A ideia empolgou Lynch e Frost, que escreveram um primeiro rascunho de “Northwest Passage”, que seria um longa, mas que após inúmeras revisões se tornou uma série e passou a se chamar “Twin Peaks”, nome da cidade onde a macabra história se passa.

David Lynch

Logo Frost e Lynch reviraram seus contatos e foram até os executivos da ABC em 1988, que gostaram muito da ideia e autorizaram a produção de um episódio piloto de uma hora com orçamento de 4 milhões e uma possibilidade de final, para o caso do capitulo não pegar e ser vendido para Home Video na Europa. Com o episódio piloto escrito e um elenco construído com alguns parceiros de longa data de Lynch como Kyle MacLachlan e Jack Nance, o piloto foi gravado em pouco mais de dois meses, se arrastando por pouco mais de quatro para a pós produção, que incluía testes de público em diversos lugares, já que o episódio dividia a opinião dos executivos que temiam a pouca popularidade do material.

Enquanto Twin Peaks gestava, Lynch fora abordado por seu amigo Monty Montgomery com um livro chamado “Wild at Heart”, sobre um casal – Sailor e Lula – que vivem uma paixão de extremos. O livro de Barry Gifford havia impressionado Monty e ele queria produzi-lo, e queria a ajuda de Lynch que ao ver a estranha capa do livro disse: “Mas e se eu me apaixonar pela história e quiser fazer ela a meu modo?” Monty disse: “Estou fudido, mas ainda assim quero que leia.” Coisa que Lynch fez rapidamente e ligou de volta para Monty: “Acho que aconteceu o que eu temia. Quero dirigir”.Mas esse tipo de história é normal demais pra você! Não faz seu tipo, David!”. “Parece que não, mas é a minha cara.”. A história de um amor em meio a um inferno fascinava Lynch, e ele foi atrás da Propaganda Films que queria um filme novo de Lynch e aceitaram produzir o filme, comprando os direitos do livro, mas com uma condição: O filme deveria ser gravado com pouco dinheiro, ter alguém com algum nome no elenco e começar a ser produzido o quanto antes, o que foi feito e com 10 milhões na conta e Nicolas Cage no filme fazendo par com Laura Dern. Lynch escreveu um primeiro rascunho do roteiro em uma semana e partiu para o estúdio ensaiar e dar vida as páginas do roteiro com os atores, e em dois meses o roteiro já tinha nova forma, com novos personagens e um final diferente do livro. A trupe embarcou para os seis meses de fotografia principal que acabou em janeiro de 1990, sendo lançado oficialmente no festival de Cannes em Maio do mesmo ano, onde foi aplaudido de pé e foi o grande ganhador da noite, levando pra casa a Palma de Ouro, importantíssima honraria que só foi entregue ao cinema americano mais duas vezes depois deste dia.

Com “Wild at Heart” fazendo sucesso nas bilheterias – arrecadou mais de 14 milhões nos EUA – e não tanto com os críticos – como Roger Ebert que ha algum tempo não elogiava Lynch – “Twin Peaks” finalmente foi aprovado depois de ser muito bem avaliado em sessões teste em diversas partes do país, o que levou os executivos da ABC a aceitarem vincular a série e encomendarem mais sete episódios, cada um pelo preço de 1,1 milhão. A série foi vinculada em Abril de 1990 em uma Quinta-feira a noite e foi um sucesso, deixando até o próprio Lynch e tantos outros chefes da indústria boquiabertos com o entusiasmo com que o povo americano recebeu a história de suspense e surrealismo. Outra temporada foi proposta, desta vez com 22 episódio e com Lynch não mais escrevendo ou dirigindo, mas produzindo e guiando o grupo de diretores e produtores que se formou com o andar da série, mantendo muito certo seu ritmo e linha histórica, e mantendo a legião de fãs assíduos que se formou.

O ritmo de trabalho não era nada fácil: cada episódio tinha de ser dirigido em menos de uma semana, finalizado em poucos dias e ir ao ar, sem muita enrolação, mas mesmo assim a qualidade da série não se perdeu e as atuações e personagens ficavam cada vez mais bem trabalhadas na tela.

A qualidade cinematográfica na telinha era algo novo e inédito na época e o fato de alguém do cinema estar encabeçando a série também chamou muito a atenção, dando para a ABC os melhores índices de audiência que eles haviam tido em quatro anos. A série também foi sucesso de crítica, sendo indicada a 42 Emmys e 48 Globos de ouro, levando alguns dos prêmios para casa.

Enquanto a série fazia sucesso, Lynch ainda desenvolveu e dirigiu uma peça com duas apresentações chamada “Industrial Symphony No. 1”, com Laura Dern e Nicolas Cage no palco que fez bastante sucesso apesar de seus mosaicos surreais e muito próximos de “Eraserhead” e produziu junto a Mark Frost uma série de documentários para a TV chamado “American Chronicles” que muito mal sucedida foi cancelada com menos de dois meses no ar pela FOX.

Twin Peaks” enlouquecia fãs no mundo todo que queriam saber a todo custo quem diabos havia matado Laura Palmer, e esse se tornou um dos assuntos mais comentados na época. Temendo que a audiência se irritasse e desertassem da série, os executivos da ABC pressionaram de todas as formas Lynch e Frosta desvendarem o mistério. Com relutância mas com a ameaça da série ser cancelada se eles não acatassem a tal exigência, os dois resolveram desmascarar o real assassino de Laura Palmer no que foi uma das maiores audiências da história do canal. Mais capítulos se seguiram após o sobrenatural desfecho de investigação, mas fechar as histórias dos outros moradores da pequena cidade não interessava tanto o público que estava horrorizado com o desfecho do caso de Laura Palmer. A série foi cancelada e o último capítulo da série foi dirigido e escrito por Lynch e equipe que finalizaram a série em clima de funeral: “Foi muito triste terminar Twin Peaks precocemente, mas o que podíamos fazer?”

“Onthe Air” de 1992 tentou repetir o feito de “Twin Peaks” desta vez com comédia, mas foi cancelada e dos sete episódios, apenas três foram ao ar, e para finalizar suas investidas da TV, Lynch escreveu junto a Barry Gifford uma minissérie de três episódios chamada “Hotel Room” de 1993, sobre eventos que ocorrem em um mesmo quarto, mas em épocas diferentes, para a HBO.

David Lynch

“Eu queria fazer “Twin Peaks The Fire Walk With Me” pois eu estava muito apaixonado pelos personagens daquela trama e achava que era uma grande injustiça com Laura Palmer não contar seus medos, seus traumas e sua vida antes do trágico fim.” Desse modo, Lynch desenvolveu um roteiro falando sobre a morte e investigação de Teresa Banks – garota morta antes de Laura e que conecta o assassino a Laura – e sobre os últimos dias de vida de Laura Palmer. O filme foi marcado pela produção conturbada, começando pelo fator de Mark Frost não querer colaborar com a produção do filme – uma vez que os dois tiveram alguns desentendimentos durante a Segunda Temporada da Série – e com a não felicidade de quatro atores da série não quererem repetir os personagens desta vez no longa, entre eles Kyle, que tinha medo de ficar marcado pelo personagem “Agente Cooper”, o que fez Lynch reescrever o roteiro, diminuindo o personagem de Kyle e retirando outros, como a família Horne.

O filme ainda assim caminhou e o financiamento foi realizado pela empresa francesa CIBY-2000 e custou aproximadamente 10 milhões, sendo gravado e finalizado em menos de 5 meses por conta da agenda apertada de todos os atores, que graças ao sucesso de "Twin Peaks" recebiam vários convites para filmes e séries.

O lançamento oficial do filme foi mais uma vez em Cannes, e o mesmo diretor que havia sido aplaudido com fervor em 1990, agora era vaiado por um público de mais de mil pessoas na sessão de abertura do filme.“Twin Peaks The Fire Walk With Me” era um fracasso de público e crítica e nem a indicação ao Palma de Ouro de 1992 fez o filme se sair bem na fita, tendo recebido críticas cruéis de críticos e parceiros de profissão como Tarantino que alegou que só veria outro filme de Lynch se Deus o obrigasse a assistir, mesmo ele amando muito os outros trabalhos do diretor. Apesar das negativas críticas – que iam além do filme e entravam até em questões pessoais, já que o produtor da CIBY-2000 não era conhecido por seus fãs e sim por seus inimigos – o filme tem muitas das geniais sacadas típicas do diretor surreal que faz algo digno de arrepiar a espinha, tirando o famoso senso de humor de seus personagens e mostrando a face mais aterrorizante e tensa dos personagens, transformando o longa em um pesado filme sobre violência e horror, que é bem conduzido e se utiliza de geniais enquadramentos e do famoso bom uso da linguagem que já é uma marca e constância de Lynch.

Mesmo sendo um “sucesso” no Japão, o filme arrecadou míseros 4 milhões no mundo todo. Lynch estava por baixo mais uma vez, embora ele tenha dito inúmeras vezes: “Gosto muito desse filme e fico muito feliz com o modo como ele ficou e é um dos filmes que mais me orgulho de ter feito”.

Desistindo de trabalhar para a TV, Lynch resolveu que deveria voltar de vez para o cinema e filmar uma história que lhe apaixonasse e lhe intrigasse ao mesmo tempo e em conversas com o colaborador Barry Gifford, surgiu uma faísca do que seria Lost Highway” de 1997.

Não linear, surreal, neo-noir, assustador, sexy e misterioso o roteiro de “Lost Higway” passou por alguns tratamentos e impressionou ao chegar à mesa dos executivos Franceses do Studio Canal. Lynch ganhou o cheque de 15 milhões para realizar o longa, e honrado por tal confiança, Lynch reuniu o elenco, que tinha como estrelas Bill Pullman e Patricia Arquette, e seus outros colaboradores corriqueiros como Angelo Adalamenti.

O longa foi filmado calmamente em quatro meses e tem as características típicas de Lynch, que neste longa se mostram mais aguçadas do que nunca.

A recepção como sempre não fora das melhores, e o filme não conseguiu arrecadar nem um terço do orçamento, embora tenha sido indicado a prêmios importantes na Europa e ter sido aplaudido de pé pela crítica francesa que o classificou como o retorno de Lynch as suas raízes surreais, só que desta vez com mais maturidade.

Depois de “Lost Highway”, Lynch passou a se dedicar mais para a música e para a pintura, suas paixões: “Montei em minha casa salas onde eu pudesse trabalhar com o que eu tivesse vontade ao acordar: Música, fotografia, pintura, madeira, escrita. Tudo para que quando eu tivesse uma ideia pudesse produzir sem mais problemas e isso me manteve meio longe das páginas de roteiro, até que resolvi ler uma história que a tempo Mary Sweeney – Ex mulher de Lynch e produtora de vários de seus filmes – e John E. Roach me perturbavam para eu lesse e dirigisse. Cedi a pressão e me apaixonei pela história”.

The Straight Story

“The Straight Story”, de 1999 é sobre um idoso veterano de guerra que mora com a dócil filha com problemas mentais em Iowa e que ao saber que seu irmão – com quem havia brigado mortalmente a anos atrás e que mora em Wisconsin – sofrerá um ataque cardíaco, o colocando a beira da morte. Com remorso, mas sem poder se locomover e sem poder dirigir, o velho veterano decide que pilotará um “veloz” e desbravador cortador de grama para chegar ao seu destino, a mais de 390km de onde ele está.

Embora seja uma história completamente linear, com poucas surpresas e de uma delicadeza impar, trata-se do filme mais experimental – enquanto linguagem – de Lynch, uma vez que o mesmo se usa mais do áudio do que da imagem para transmitir diferentes emoções para a plateia.

O filme foi o primeiro de Lynch a ter classificação livre e o primeiro grande filme independente do diretor, uma vez que ele levantou o dinheiro para o filme com diversas empresas Europeias e Americanas para somar os 10 milhões de orçamento.

A recepção foi ótima, o filme foi sucesso em Cannes, ganhou distribuição internacional da Walt Disney – sim, a Disney distribuiu um filme do Lynch – e “The Straight Story” ganhou mais de 12 prêmios e foi indicado para 29 outros, inclusive de melhor ator no Oscar para Richard Farnsworth, que na época da gravação estava com 79 anos, foi diagnosticado com câncer ósseo – por isso as muletas nas filmagens – câncer esse que pouco depois do lançamento se agravou, o que levou Richard a se suicidar em seu rancho meses após a estreia.

Mesmo com todas as críticas positivas, o filme foi fraco de bilheteria – pouco mais de 6 milhões – o que não tirou a glória do filme que é o filme com maior aceitação no Rotten Tomatoes do diretor.

Pouco depois do lançamento de “The Straight Story”, uma história que havia surgido em conversas durante a produção de “Twin Peaks” virou um roteiro e Lynch acho que era prudente fazer ela para as telinhas, já que o enredo seguia a tradição da série dos anos 90: um mistério, uma chave para o tal mistério e uma série de outros elementos que impedem de tal chave cumprir sua sina e abrir a caixa para qual ela foi feita para abrir.

“Mulholland Drive” foi oferecido para a ABC e mais uma vez Lynch os ganhou pela curiosidade e ganhou cartão verde para dirigir o piloto por 8 milhões. O elenco foi selecionado com talentos como Naomi Watts e Laura Harring e a fotografia principal ocorreu entre Fevereiro e Março de 1999. Pouco tempo depois o material foi exibido ao executivo de programação da ABC, que por algum motivo odiou o material e compulsoriamente o eliminou, vetando sua entrada do ar: “Me disseram que o cara assistiu enquanto fazia coisas em seu escritório e isso matou o piloto.”. Diversas tentativas de adaptar o material foram realizadas, mas nenhuma delas agradava nenhuma das partes: “O que eu mais gostava era o que eles mais odiavam e o que eles mais gostavam era o que eu mais odiava, então vimos que não tinha jeito mesmo e eu tentei juntar os cacos do material para fazer um longa, e quando eu cheguei em casa entrei em desespero, mas por sorte, pouco depois me veio todas as partes que faltavam e eu consegui montar o quebra cabeça, só precisava do dinheiro.”

Com mais 7 milhões investidos no projeto – oriundo de empresas francesas mais uma vez- Lynch gravou as cenas que faltavam para que ele tivesse um filme em outubro de 2000 e o filme foi lançado em Cannes em 2001 – novamente- sendo indicado para o palma de ouro – mais uma vez – e levando o prêmio de Melhor Diretor, sendo o filme de destaque do festival, que o aplaudiu de pé mais uma vez.

O filme ganhou distribuição da Universal e as críticas foram as melhores possível. Sexy, intenso, original, surreal, Lynchano, misterioso e de uma imersão impressionante, o filme deixou todos intrigados e de queixo caído e todo mundo tinha – e ainda tem – diferentes versões a respeito das “unidades” e pedaços do filme que não se conectam muito bem e que deixa muita coisa no ar.

David-Lynch

De uma direção impecável o filme ganhou inúmeros prêmios e Lynch recebeu sua 3 indicação para o Oscar de Melhor Diretor, e mais uma vez não levou.

Sucesso absoluto de bilheteria, o filme figura a lista de mais rentáveis da carreira do diretor, 21 milhões só nas terras do Tio Sam, e um dos mais aclamados também, tendo o próprio Roger Ebert – que diversas vezes criticou mortalmente os filmes do diretor – o colocado no mesmo patamar do clássico 8 1/2 de Fellini.

Pouco tempo depois, David comprou uma câmera digital e começou a fazer pequenos experimentos com a mesma e impressionado com a qualidade, se tornou um dos ferrenhos defensores do cinema digital: “É leve, barato, rápido e permite que os filmes sejam feitos com mais coração. Tudo no cinema analógico é pesado e perde-se muito tempo mexendo em equipamentos e recarregando câmeras. Com o digital não só podemos gravar por muito mais tempo como podemos ver o resultado poucos minutos depois. É genial e libertador!”. Seus experimentos se tornaram pequenas Web-séries como a famosa “Rabbits” de 2002, que passaram a encher a página oficial da web de Lynch.

Uma parceria com o Youtube e a banda “Duran Duran” também popularizaram concertos transmitidos ao vivo pela plataforma de vídeos e toda essa experimentação motivou Lynch, junto de Laura Dern a produzir um longa com a nova tecnologia, o que resultou em “Inland Empire”, de 2006, filme totalmente gravado em digital, com recursos próprios e com recursos do Studio Canal e sem qualquer roteiro: “David escrevia as páginas à noite e no outro dia nós discutíamos e filmávamos e foi algo extremamente libertador”.

Seguindo a tradição de “Lost Highway”, o roteiro não é linear e os blocos que nos outros filmes são um pouco deslocados aqui não se conectam e criam um suspense e uma insegurança ainda maior, fazendo a público por diversas vezes se perder da trama, por estar criando seus próprios direcionamentos para a história, o que é bom e ruim ao mesmo tempo.

Com pouco mais de 3 horas o filme se arrasta um pouco e as vezes é cansativo, mas assusta e tranquilamente pode ser considerado o mais surreal dos filmes de Lynch.

Com críticas mistas mas em geral positivas o filme integra listas importantes como a do The Guardian’s que o listou como o segundo melhor filme de 2007 e como um dos 30 melhores filmes da década de 2000.

Desde 2006 Lynch tem se dedicado mais para suas outras grandes paixões: Café – ele montou sua própria marca de grãos orgânicos, que levam seu nome -  Música – tem gravado diversas coisas em parceria com Badalamenti e outras sozinho, como o álbum de 2013 “The Big Dream” que figurou por diversas semana o TOP de melhores álbuns do ano – Pintura – pintor de formação, Lynch hoje compõe telas e constrói diversas instalações para importantes galerias – e é claro meditação transcendental –meditação que ele pratica diariamente desde os anos 70 e hoje é um grande divulgador de tal causa tendo fundado a“David Lynch Foundation ” que ajuda jovens problemáticos com a técnica da meditação transcendental.

“Quando me perguntam se estou planejando algo pro cinema respondo aquilo que sempre respondo pra mim mesmo: Como ainda não acordei com nada apaixonante na cabeça direcionado para as grandes telas...”.

Inspirador e criativo, Lynch é o exemplo de homem que descobriu em si o dom para a arte e se esforçou espiritualmente e fisicamente para fazer aquilo que lhe movia e teve sucesso nessa tarefa, pois como ele mesmo adora falar: “Se tem vontade de fazer algo artístico e que lhe inspira, faça! Utilize tudo que tiver ao seu redor e que sirva para o seu propósito, seja autentico a sua idéia sempre e faça com amor.”.

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