Programa biográfico versa sobre as agruras e delícias de um grupo de pessoas simples, que vivem diversas confusões no interior do Tocantis

Pablo e Luisão é um seriado idealizado pelo humorista, cantor, músico e artista multi-talentoso Paulo Vieira. O programa estreou dia 22 de maio e é, obviamente, uma série ficcional, mas como é dito pelo próprio os roteiros são baseadas em fatos, com uma ou outra licença poética.
Disponível no streaming Globoplay, a temporada tem ao todo 16 episódios, com duração que varia entre 20 e 30 minutos.
Seu formato lembra o das sitcons do canal Globo, mas tem seus próprios temperos, contendo em si uma linguagem que certamente seria encarada como inapropriada pela cúpula da emissora de TV aberta, uma vez que tem palavrões em seus diálogos.
Apesar disso, o seriado combina bastante com todo o resto da grade, uma vez que tem os tentos positivos de apresentar personagens carismáticos, fáceis de se identificar e simpatizar, com atores fortes representando cada um deles, em situações pitorescas, mas que flertam com o real.
O diferencial
É dado e sabido que o fator primordial para que a série desse certo como deu é a escolha do seu elenco.
O núcleo principal é formado por um grupo absurdo de atores, um verdadeiro dream team, com elementos do grande cinema nacional e figuras fáceis de ver em telenovelas.
A personagem central é Conceição Vieira da Silva - ou apenas, Ceição - interpretada pela musa do cinema tupiniquim e especialista em todo tipo de comédia Dira Paes.
Já o pai de Paulo, o bonachão e carismático Luis Vieira da Silva (Luisão) é feito pelo também icônico Aílton Graça. Pablo Xavier, o trambiqueiro e melhor amigo de Luisão (chamado apenas de Pablo) é feito por Otávio Müller, que é absolutamente convincente e brilhante dentro do papel de "faz tudo" que sempre consegue fracassar em suas tentativas de economizar, empreender ou seja lá qual for o seu movimento.
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Esse núcleo é acompanhado dos dois filhos do casal, Paulo e Neto, feitos respectivamente pelos atores mirins (também ótimos) Yves Miguel e João Pedro Martins.
A Equipe Técnica
Os autores são Paulo Vieira - que se auto intitulou showrunner, função que, segundo o próprio disse no podcast Mano a Mano não existe na Globo, mas que é praticada por ele - e Maurício Rizzo.
A direção é de João Gomez, já a direção artística é de Luiz Felipe Sá, os roteiristas são Bia Braune, Caíto Mainier, Nathalia Cruz e Patrick Sonata.
A narrativa é localizado no Tocantins, que é a terra onde Paulo Vieira cresceu e a participação dele é bem frequente.
O ator aparece narrando os fatos, quebrando a quarta parede diversas vezes, de uma forma bastante semelhante ao que Chris Rock fazia em Todo Mundo Odeia o Chris, embora seja ainda mais ativo que o humorista norte-americano era no programa que levava o seu nome. Dessa forma, há quem o compare com programas como 30 Rock e Fleabag, embora ele tenha muito também das comédias juvenis da TV Cultura, como Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum.
Bastidores
Vieira sempre quis transformar as histórias de seu passado em uma narrativa ficcional, em especial as aleatoriedades pelas quais passavam os planos de seu pai e do melhor amigo dele.
Em entrevistas recentes, dizia sonhar viver no Leblon idealizado nas novelas de Maneco, mas sentia falta de ver gente de verdade representada em tela.
Resumindo, ele sempre quis transformar as furadas vividas por ele e pelos seus no tempo pretérito, em arte e poesia, visto que na atulidade, ele tem popularidade e recursos para fazê-lo.
Há inclusive um registro nas redes, bem anterior a época de pré-produção da série, que chamou bastante atenção depois que o programa estreou.
Em sua conta no X (antigo Twitter) cinco anos atrás, em 2020, Vieira criou um fio/thread onde a compartilhava momentos inacreditáveis da família e confusões criadas pelos personagens-título.
Nos comentários houveram então sugestões de que ele fizesse um livro, filme ou série, mas não há qualquer indício de que ele já não tinha essa ideia em mente, tanto que o próprio fez uma sugestão de elenco capciosa, que bate exatamente com as pessoas que foram escolhidas dentro do cast principal.

Pré-Produção
A série começou a ser planejada em 2023, após o sucesso de outro programa de Paulo, o Avisa Lá Que Eu Vou.
Foi anunciado já em agosto de 2023 que a direção artística da série seria de Allan Fiterman, mas acabou sendo substituído por Luis Felipe Sá, após o primeiro assumir a direção da novela No Rancho Fundo.
A obra foi encomendada para 2024, mas teve seu lançamento adiado para 2025.
Em seu lugar, na grade da Globo, passou Tô Nessa e no streaming, entrou Cosme e Damião: Quase Santos, que inclusive, reúne várias semelhanças com esse Pablo e Luisão, por também tratar de histórias de gente que mora longe dos grandes centros do Brasil, mas que vivem bem, fugindo da pecha de coitadismo normalmente atrelados aos subúrbios brasileiros e ao interior do país.
Retomada do núcleo de humor
As três séries fazem parte da decisão da Globo de retomar produções humorísticas na TV aberta e no streaming.
Na época do governo de Jair Bolsonaro, pesquisas de audiência foram encomendadas pela emissora e se decidiu por dissolver a programação humorística dos canais Globo, restringindo o setor a poucas participações em canais como GNT e especialmente Multishow.
Também houve um grande escândalo envolvendo gente da diretoria e elenco, que sinceramente mal vale a menção. Muita gente encara essa celeuma como o motivo do recuo, mas a realidade é a dita nos parágrafos anteriores.
Dessa vez o comando das atrações é feito por Patrícia Pedrosa, sob tutela do diretor executivo da TV Globo, Amauri Soares, esse último que também cuida das telenovelas da TV aberta.
Segundo Pedrosa, mais obras do tipo permearão o canal aberto e o streaming da empresa.
Elenco de apoio
O ator Antônio Fagundes foi sondado, mas não houve acordo com a emissora. Mesmo com o não fechamento com o multitalentoso artista, o que não falta são figuras memoráveis no elenco de apoio.
Entre esse há Thogun Teixeira, Karine Teles, Grace Passô e Clarissa Pinheiro.
Miguel Falabella retorna enfim a Globo, também há Marcelo Adnet, em um dos seus últimos trabalhos como global, o hilário Welder Rodrigues e até Lima Duarte, que desde Além da Ilusão não trabalhava em teledramaturgia.
Narrativa
O primeiro episódio já começa curioso e pitoresco, mostrando a paisagem tocantinense, com uma arara azul voando, feita em CGI tão fraco que chega a ser caricatural. Como essa é uma série cômica, o efeito funciona, especialmente pelo modo como a participação do animal termina, exibindo uma cerca elétrica que Pablo instalou na casa dos Vieira da Silva.
O programa se baseia bastante em situações realisticamente exageradas, que se tornam engraçadas por justamente ter um pé no plausível e outro no inponderável.
Como isso ocorre com personagens interiorianos, cuja rotina lembra muito a de pessoas do subúrbio, é fácil se identificar.
De certa forma, Pablo e Luisão repete parte dos chavões de A Grande Família em suas duas encarnações televisivas, embora seja bem mais escrachado que a atração das quintas da Globo.
Conceição briga com a vizinha Zélia (Patrícia Pinho) por conta de Kaká, a cachorra ter (supostamente) comido 3 galinhas dela.
Nesse ponto há a primeira quebra de quarta parede, quase sempre sendo feita de forma caótica e tosca, mas sempre simpática, parece assim emular o comportamento de seu pai, Luisão e seu amigo Pablo.
Eles ganham dinheiro fazendo e vendendo salgados, mas sempre tentam arrumar novas formas de arrecadar verba, inclusive tentam economizar em tudo, tanto que não contraram gente para construir um muro, se recusam a gastar com profissionais e fazem eles mesmos os seus remendos.
Sonhador/empreendedor
Por ser "pobre", Luis diz que o seu engenheiro é Deus e que não vai contratar ninguém para fazer algo que ele mesmo pode fazer.
Curiosamente, Paulo Vieira quebra a quarta parede, falando que "o mestre de obras é o Diabo", além disso, sempre que o filho sugere algo que seja (ou meramente pareça) caro, o pai o lembra que ele não é "filho de senador", apelando para o clichê de que todo político é rico, afinal, para alguém do Tocantins, Brasília é um dos lugares mais próximos com "gente rica".
Luisão refuta a ideia de ser um sonhador, ele diz que na verdade é um empreendedor, pegando para si o termo que se tornou moda entre empresas que exploram mão de obra barata, sob pretexto de dar liberdade aos profissionais.
Fazendo isso, se dá um alento a esses, que seguem precarizados, ao invés de ter direitos trabalhistas básicos. Para além da crítica social embutida, há outra mensagem, já que no caso de Luisão, ele não é exatamente explorado por Big Techs ou algo que o valha.
Na verdade, tanto ele quanto Pablo tentam o tempo inteiro enriquecer por meio de ideias esdrúxulas e que raramente tem chances reais de dar certo justamente por serem pessoas sem grandes instruções, relegadas ao mercado de trabalho informal, como tantos brasileiros são.
É justamente essa a maior graça do programa, a de fazer troça com a "auto" desgraça. Como essa é bem pontuada pela química que Graça e Müller têm juntos, tudo funciona.
Quanto ao discurso, é Conceição quem o quebra, afirmando, sabiamente, que quem empreende é quem tem dinheiro, enquanto Luis apenas sobrevive. A mãe tem mais consciência de classe que todos os outros adultos juntos.
Tal qual ocorre com a dupla que dá título ao seriado, com Paes e Graça também há muita química, os dois combinam demais juntos.
Toda a caracterização deles é boa, especialmente pontuado pelo fato de que nos finais de capítulos, os personagens reais aparecem, mostrando assim como lembram suas versões dramatúrgicas.

Mesmo que os atores não se assemelhem fisicamente a Ceição, Luis e Pablo, o trabalho da direção de arte e a atuação solidificam o visual e o espírito dos personagens, fazendo-os quase gêmeos de suas contrapartes.
Eles tentam vender rã e confundem com sapos, eletrificam o bairro inteiro por acidente, fazem negócios com paróquias locais, comercializam legumes tailandeses de maneira ilegal, tentam cultivar ovos de avestruz, fazem de tudo um pouco.
É tudo verdade
Em determinado ponto, Vieira adverte:
Vocês vão passar essa série inteira achando que eu to mentindo (...) mas eu juro que é tudo verdade
Segundo o autor, a parte fictícia é o gênio de sua mãe, que é mostrada como alguém mais calma que o normal, bastante suavizada, se comparada a Conceição real.
O segundo episódio traz ótimos e hilários momentos, mostrando como a paróquia local lida com seus padres.
Nela há participações de Rizzo, que faz um padre carismático e de Falabella, que faz um misto de personagem bicheiro com pároco, que era tão breve em suas missas que tinha a o apelido de Freirrari.
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O drama inclui venda de santinhos, caixa dois, envolvimento com agiotas locais. É tudo tão bizarro que a mera discrição é inacreditável.
Em outros pontos da história, a família acaba indo morar em uma loja, depois que Luisão resolveu alugar a sua casa própria, na verdade é um bar velho, cujo banheiro é uma cabine nojentíssima.
Nesse ponto, ainda se registra a piada com o autor, com as pessoas da escola descobrindo que ele faz o número 2 nesse lugar, indo para lá apenas para bater na porta falando: "o Paulo tá cagando".
Arte x droga
Também é mostrado o receio do pai de Paulo com o fato dele possivelmente usar drogas, uma vez que o menino decide se dedicar ao teatro.
Esse medo é real, boa parte dos pais associam o comportamento junkie à arte, a quem professa a função e o ofício criativos da expressão sentimental criativa.
Diferenças entre discurso e roteiro
No entanto, há um relato real de Paulo Vieira que me deixou curioso, pelo fato de ter sido suprimido do texto.
Em uma entrevista ao Que História É Essa Porchat, o humorista conta de um dia que estava fazendo um ensaio para o teatro e "inventou" que tinha morrido.
O momento é hilário e segundo o próprio, situações como essas eram meio comuns em sua rotina.
Não há qualquer menção de causo no programa, tampouco se replicam momentos semelhantes.
A versão de Paulo que Yves Miguel faz é bem diferente, mais tímida e comedida. Não é exatamente ruim, ao contrário, o menino é ótimo, mas é bem menos hilário que nesse ponto do discurso.
Claro que Vieira pode ter exagerado no programa, supervalorizando participações dos familiares, para ficar mais engraçado. Trabalhar com texto tem disso e o humorista é mister nisso, mas é considerável a diferença entre posturas.
Talvez ocorra isso por uma questão cronológica, já que o relato do vídeo é de quando ele tinha 6 anos, antes até de seu irmão Neto nascer. Ele pode só ter amadurecido, nesse meio tempo.
Impressionáveis
Luisão é uma pessoa muito sugestionável, Pablo também.
O pai se impressiona com programas sensacionalistas, tem receios mil com médicos e hospitais, adere a medicinas não convencionais. É por isso ele acha que Paulo poderia estar usando drogas, por isso faz tratamentos com curandeiros, acredita mais em revistas especulativas do que em relatos científicos, enfim, é uma pessoa complexa e engraçada.
Se tratar com médicos, ele recusa, mas qualquer tratamento medicinal minimamente místico, ele adere.
O mesmo ele faz com o menino, o submete a testes sensacionalistas, tirados de publicações de gosto duvisos, feitas para alimentar e aumentar a paranoia do homem adulto.
Animais
Além da já citada cadelinha Kaká, também há participações de alguns animais, que circundam a casa dos Vieira, como um galo, que Pablo dá de presente a Luisão, para se desculpar por uma briga entre eles.
A grande questão é que ele era um galo de briga e gosta de bicar as partes íntimas dos homens, por isso, era chamado de Galo Pica-Pau.
Mesmo que tenha se irritado em certo ponto por receber um pet tão agressivo, Conceição acaba se afeiçoando ao bicho - ela parece ter predileção por isso, por animaizinhos em detrimento dos humanos - e até permite que ele ande dentro de casa.
Obviamente que isso acaba mal. Há episódios no interior longínquo, como quando a família visita tia Vera e tio Zé (Rejane Faria e Carlos Francisco, respectivamente) episódio esse bem engraçado, que mostra os laços da família para além do núcleo central.
Há piadas com dialeto, com mandigas e simpatias, até com o modo bronco como os caipiras são mostrados nos seriados e na cultura pop, justificando alguns e desmentindo outros.
Entre os sonhos dos personagens, há metas pequenas e mundanas, como o sonho de Ceição em ter uma cozinha Itabaiana, ou dos dois amigos, que queriam largar as bicicletas para ter um Pitdog.
O empreendimento nada mais é que uma carroça, normalmente utilizada para vender cachorro quente, que permitiria eles venderem salgados, hot dogs e demais artigos de lanche, parados, na sombra.
Eles passam por esquemas que se assemelham a pirâmides, participam de golpes sempre do lado "mais fraco", inclusive são ludibriados com a gravação de um LP com músicas sertanejas, com Grace Passô fazendo uma empresária desonesta, cujo visual imita o de Marlene Mattos.
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Ponto não favorável
O roteiro registra bem os perrengues e as delícias da vida da família, mas o formato típico de streaming, com a sessão de todos os episódios de uma vez, desfavorece um pouco a forma de consumo.
Como os 16 capítulos foram lançados juntos, não há expectativa pelo próximo episódio, além disso, o tom dessas partes é bem semelhante, ou seja, fica um pouco repetitivo, ainda mais se a pessoa for maratonar a temporada.
O auxiliar de cozinha
Na segunda parte da série, os protagonistas contratam um sujeito renomado, para manufaturar os salgados. Ele é o Seu Justino, um homem fino, interpretado por Wilson Rabelo, ator veterano, lembrado por Bacurau.
Ele eleva o sabor dos quitutes, revoluciona o modo de fazer salgados e se torna imediatamente o melhor amigo de Conceição.
O personagem é complexo, afetado, fica claro que ele é um homem não heteronormativo, mas ele não é tratado como um corpo estranho só por ser mais delicado, ao contrário, tem rivalidades, personalidade e tridimensionalidade, que não tem necessariamente a ver com a sua orientação sexual.
O programa passa por momentos históricos, como a viagem para o Rio de Janeiro, na JMJ, o quase ingresso de Paulo em um programa do Multishow, até o enterro de um parente, que resulta na sensacional participação de Lima Duarte.
Há se aguardar novas temporadas, com mais desventuras e comicidades mil.
Pablo e Luisão é um programa divertido, pontual, bem pensado e concebido. É um dos trabalhos mais inspirados do canal de streaming, tem um texto afiado, realista e carismático na medida, além disso, conta com uma direção muito competente e com um trabalho sensacional do elenco.
É um objeto de ternura extrema, um bom retrato de um Brasil insistente, que normalmente não é olhado como se deve.









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