Em primeiro de janeiro de 2024 o curta-metragem, O Vapor Willie - do original Steambot Willie - entrou em domínio público. Dessa forma, o personagem Mickey Mouse se tornou passível de adaptações não exclusivas dos estúdios Disney. Dessa forma brotaram diversas promessas de adaptações do personagem, para múltiplas mídias, incluindo filmes de terror.
Esse é o caso de The Mouse Trap, longa-metragem canadense lançado para o mercado de vídeo, que coloca um assassino dos famosos Filmes de Matança, ou slasher movie, assassinando pessoas, munido de uma máscara customizada, que remete a imagem do rato famoso.
Mesmo que essas questões sejam dadas na sinopse e premissa, ainda assim a produção parece ter receio de se assumir como uma versão malvada do personagem famoso, afinal, quem está por trás do personagem é o conglomerado da Disney.
A trama acompanha uma menina que trabalha no turno da noite em uma casa de fliperama chamada Funhaven. Os amigos dela decidem fazer uma surpresa, uma festa de aniversário adiantada em duas semanas.
A noite deles é cortada por um assassino mascarado com "rosto de rato", que decide jogar um jogo com eles, utilizando os diversos cenários da casa da diversão.
O filme tem direção de Jamie Bailey, roteiro de Simon Phillips, produção de Bailey, Phillips e Mem Ferda, além do quinteto de produtores executivos Andrew Agopsowicz, Ken Bressers, Alexander Gausman, Mark Popejoy e Paul Whitney.
A Disney tentou durante anos embarreirar as leis de domínio público e dificultar o domínio público para o personagem e para o curta.
Com a aproximação de 2024, o diretor Jamie Bailey começou a desenvolver o projeto que ainda se chamava Mickey's Mouse Trap. O primeiro trailer do filme foi lançado junto com vários outros trabalhos baseados no curta, como Infestation: Origins, um jogo de terror independente também sobre Mickey.
O realizador desse longa falou ao The Hollywood Reporter que queria se divertir com a temática escolhida, disse também que colocar o Mickey Mouse de Steamboat Willie assassinando pessoas é algo essencialmente ridículo,
Ele também expressou surpresa por não haver mais projetos semelhantes e por eles estarem entre os primeiros a criar o tal filme.
Ainda assim ele tomou cuidado – e assumiu isso - de evitar referir-se ao vilão como "Mickey Mouse", mesmo que fique claro que é o caso.
O prazo dos direitos autorais de uma obra específica depende de vários fatores, incluindo a data da primeira publicação.
Como regra geral, para obras criadas após 1º de janeiro de 1978, a proteção dos direitos autorais dura toda a vida do autor, mais 70 anos adicionais.
Decorrido esse prazo, ou caso o criador não cumpra quaisquer formalidades legais exigidas no momento da criação ou posteriormente, a obra entra em domínio público - ou seja, pertence a todos, sem restrições. O criador também pode decidir, antes da expiração desses direitos, dedicar a obra ao domínio público, entregando essa nova criação para uso irrestrito.
Vale lembrar que esse filme veio obviamente na esteira de Ursinho Pooh Sangue e Mel, filme muito barato de fazer que fez um sucesso comercial considerável.
Curiosamente os responsáveis pelo Poohverse (ou The Twisted Childhood Universe) não quiseram mexer com o possível vespeiro que seria adaptar Mickey Mouse, com receio de serem processados pela Disney
A estreia foi originalmente programada para março de 2024, depois, adiada para ser lançado na América do Norte pela Gravitas Ventures por meio de vídeo sob demanda em 6 de agosto de 2024, com lançamento em Blu-ray em 13 de agosto.
Os estúdios por trás dele foram a Dystopian Films, Into Frame Productions, MM Trap. A distribuição ficou com a Gravitas Ventures no Canadá, através da Apple TV e pelas redes de televisão.
A Dimension Films fez o mesmo na Bélgica, a Terrorífico Films fez isso na Argentina, lançando nos cinemas. Nos Estados Unidos a Shudder lançou em alguns cinemas e em boa parte do mundo, foi lançado pela MM Trap.
O título original do longa é The Mouse Trap. Foi assim nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Em alguns países o nome foi bem menos discreto, sendo Mickey's Mouse Trap na França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, México, Espanha, Turquia. Na Hungria é Egércsapda.
Vale lembrar que The Mousetrap é o nome da obra de Agatha Christie, famosa por ser a peça há mais tempo encenada na história do teatro, com mais de 25 mil apresentações desde sua estreia, em Londres, em 1952. A história chamada no Brasil de A Ratoeira, traz uma trama de mistério e assassinato, baseada num caso real, a morte de um menino de doze anos por maus tratos de seus tutores, numa fazenda da Inglaterra, em 1945.
O filme poderia brincar com essa temática também, mas não há qualquer menção a essa história.
O longa foi rodado no Canadá, em Otava, Ontário. As filmagens foram feitas entre junho e setembro de 2023.
Jamie Bailey dirigiu Firestarter, This Was America e Viralize ou Morra. Ele é conhecido por ser diretor de fotografia, como Once Upon a Time at Christmas, E.L.E e The Nights Before Christmas além dos filmes que ele mesmo dirigiu.
Simon Phillips escreveu Once Upon a Time at Christmas, Viralize ou Morra, Estrada da Morte, Mistério no Ártico. Ele é conhecido mais por seu trabalho de ator. Esteve em Panama, Fugindo do Paraíso, Viralize ou Morra, The Witcher da Netflix, Mistério no Ártico. Também atua nesse, como Mickey/Tim Collins e foi produtor executivo em The United Nations of Horror e United States of Horror Chapter 2 e 3.
Mem Ferda produziu A Maldição, Mistério no Ártico, Amityville Bigfoot, atuou em Revólver, O Dublê do Diabo e Contra o Tempo.
A narrativa começa de maneira estranha, com um aviso de que não há relação entre esse filme e os estúdios Disney, inclusive com uma tipografia amarela, em um cenário de espaço, como em Star Wars, com uma música que imita o tema que John Williams compôs.
Ressalva: Esta produção não é patrocinada, endossada ou afiliada pela Disney, pela empresa Walt Disney ou qualquer uma de suas empresas subsidiarias ou afiliadas, e/ou licenciadores terceirizados.
Não, é sério, eles não têm nada a ver conosco. Nós ligamos tipo, muito! Lembram aquela cena do filme "Curtindo a Noite"? Pior do que aquilo...muito, muito pior. Eles tipo, nunca leram nossas mensagens, mas tudo bem, a gente ama a Disney<i>
DE VERDADE
DE VERDADE COM LETRAS MAIUSÚLAS
E todas as suas marcas registradas e empresas subsidiárias. Nós amamos mesmo todas as subsidiárias. São algumas das melhores subsidiarias do mundo, de verdade. São as melhores. Top. As subsidiarias da Disney também não tem nada a ver com este filme. Legalmente e emocionalmente.
O que?... Desculpa, estão me mandando dizer que esta é uma "barra de rolagem genérica". Para que não seja confundida com as dos filmes do George Lucas e suas empresas subsidiarias e licenciadas terceirizadas. Então, este é o filme que não é afiliado com a Disney e nenhuma de suas empresas subsidiarias ou licenciadas terceirizadas
Esse trecho demora quase dois minutos e é meio desnecessário, uma piada batida e fraca, que acha que a simples existência e menção é o suficiente para fazer rir. Claramente, não é.
Quando a trama enfim começa, se anuncia que ela inicia em uma sexta-feira 13 de março O trecho mostra uma entrevista gravada, com dois homens, o detetive Cole, de Damir Kovic e o detetive Marsh de Nick Biskupek.
Eles falam com uma moça de cabelos grandes, que cobrem quase todo seu corpo, de modo que ela parece o Primo It/Coisa de A Família Addams. Ela está de costas e a câmera demora a mostrar o seu rosto.
Aqui já se nota uma qualidade de cenário e iluminação gritantemente ruins e baratas. São aspectos mambembes de uma produção com orçamento quase inexistente, até para os padrões dos filmes B lançados diretamente para o streaming ou VOD. O azul é tão mal encaixado que quase faz doer os olhos.
A personagem é Rebecca, a linda menina interpretada por Mackenzie Mills, uma das vítimas que escapou do tal assassino rato, possivelmente a única, embora não fique claro isso de início.
Falaremos sobre a trama de maneira mais detalhada. Fica o aviso sobre spoilers.
A introdução dos créditos se dá com o curta animado, que relembra em detalhes dos momentos importantes da história, do ratinho pilotando o navio a vapor, lidando com outros tantos animais humanoides.
Logo depois mostra um lugar de diversão e jogos, a loja Funhaven, onde crianças e adolescentes brincam, com fliperamas, jogos de gincana etc, ao som de um rock alegre.
Nesse trecho, se foca em Alex Fen, personagem de Sophie McIntosh que trabalha com outra menina, a irritada e relapsa Jayna, de Madeline Kelman, elas respondem por sua vez com Tim Collins, um homem mais velho, que tenta se enturmar com elas e que é interpretado pelo produtor e escritor Simon Phillips.
Os entrevistadores perguntam o destino dele, se o homem sumiu, se ela considera o sujeito suspeito, mas ela sai pela tangente. Fora a narração dos fatos, a menina pouco coopera, fato que faz perguntar como os fatos podem estar se desenrolando aqui, já que ela omite informações para a investigação.
É como se o público lesse a mente dela, não se apegando ao que ela fala, embora isso também não faça muito sentido.
Logo a trama mostra Tim em uma sala particular sua, colocando Steamboat Willie para executar. Essa é a parte mais criativa do filme inteiro, o cenário é legal, a dinâmica é bem desenvolvida. Phillips está bem, parece assustado com o que quer que tenha acontecido ali.
Algo inexplicável ocorre, mas não é isso que chama mais atenção e sim como os assassinatos começam a ocorrer por mero acaso, sem motivação e sem uma lógica minimamente plausível. Se o filme ao menos tivesse coragem de abraçar o absurdo, poderia ser bem apreciado.
Curioso que primeiro, não faz sentido Rebecca narrar esses acontecimentos, afinal, ela não era testemunha, já que o sujeito vê o curta sozinho. Na verdade, Tim e Rebecca não tem qualquer cena juntos, no filme inteiro.
Segundo, o quarto dele tem diversas referências a cultura, como uma máscara feia de um monstro que lembra as maquiagens do Kiss e outra de um Mickey Mouse deformado e derretido, livretos do Pica-Pau e Tarzan, além de muitos pôsteres, que incluem um de Marilyn Monroe, de O Poderoso Chefão, a animação Alice no País das Maravilhas, Frankenstein, O Mágico de Oz, talvez até outros.
Ele é um fanático por cultura pop, que em meio a revisita que faz ao clássico, vê um copo caindo, causando um curto no cabo do projetor. A partir daí ele sofreria algo como uma hipnose, sendo levado a praticar o mal.
A luz da sala muda, fica vermelha, ele olha para a máscara e sobe uma música de mistério...do nada, até que ele olha para a máscara surrada, que é na verdade uma máscara vintage do Mickey Mouse dos anos 1960, repintada em preto e branco para lembrar o rato dentro do curta animado.
A interrogada segue sem responder o que os entrevistadores perguntam. Como ela é orgulhosa, fica parecendo que ela está mentindo ou escondendo algo, dizendo meias verdades.
De volta ao relato, Ryan (Ben Harris) "apresenta" uma festa surpresa para a mocinha, mas quem organizou e idealizou a festa foi Marcus (Callum Sywyk) amigo de infância dela, que lembrou do fato de que eles haviam combinado de comemorar os aniversários sempre ali, naquele lugar, desde que ambos tinham apenas oito anos.
O resto do grupo é formado pela atrapalhada Gemma de Mireille Gagné, pelo tarado Paul de James Laurin, pela voluptuosa Jackie de Kayleigh Styles, o desligado e drogado Danny de Jesse Masmith, a bela e convencida Marie de Allegra Nocita e claro, a gótica Rebecca.
As caracterizações são vazias e pautas em clichês. Paul e Jackie por exemplo, são apenas os tarados que vivem pensando em sexo. Foi o rapaz que escolheu o sabor e o modelo do bolo, pegou um de chocolate com seios e ambos haviam achado melhor fazer a festa num bar de strippers.
Marcus quase quebra a parede, repetindo o clichê de Randy em Pânico, falando que uma pessoa não pode dizer "volto logo". O personagem passa boa parte da trama fazendo comentários que quebram a quarta parede e que faz críticas ao estilo dos filmes de matança.
O assassino ataca quem transa, mostrando então que Marcus não estava errado. Os assassinatos seguem, em partes estranhas do lugar, com luzes coloridas que não fazem qualquer sentido estarem onde estão, mesmo que Funhaven seja um estabelecimento comercial voltado para entretenimento infantil.
Também há uma tentativa de estabelecer um momento de ternura, no flerte de Alex e Marcus, onde o rapaz faz uma surpresa para a aniversariante, trazendo toda sorte de doces azedos para ela comer, graças ao fato dela gostar desse tipo de quitute quando era criança.
Tudo leva a crer que os dois terão um momento romântico, mas eles são interrompidos, pela ação do assassino, mas não de maneira direta, já que uma das meninas acha que Ryan brinca com mais uma pegadinha, tudo isso para que Alex tente ligar do telefone fixo da loja, para ouvir um bip "personalizado", narrado por uma voz humana, justamente a do assassino, o mesmo sujeito que instantes antes estava matando uma vítima em outro ponto do cenário.
É tudo bem tosco, incluindo a desculpa para não haver celulares, já que Ryan recolheu todos, para fazer um jogo. Esse aliás é um clichê dos slashers atuais, já que é difícil ambientar mistério em um tempo onde todos estão conectados e com telefones móveis. Normalmente ou se escolhe fazer a história no passado ou usam artifícios baratos como esse.
As mortes são genéricas, a maioria sequer é digna de nota, dada a falta de sangue. O matador vai até um bar vizinho, ataca garotos que estão lá, age de forma gratuita, atacando fora do seu perímetro de ação primária.
Enquanto isso os rapazes e moças não conseguem fugir de Funhaven, ainda encontram os amigos mortos, enfeitando o estabelecimento.
Algumas mortes até têm gore, mas é pouco. Os golpes fatais somem no corpo dos personagens, há momentos que fazer perguntar se tudo o que ocorre ali na verdade não é uma peça encenada diante das câmeras. Fosse assim, seria bem mais esperto o comentário.
O Mickey ataca as vítimas com um taco de hockey, o faz da maneira mais ridícula possível, sem grafismo e nem violência.
Segundos depois ele faz uma pegadinha com Danny, fazendo ele circular por uma montanha russa infantil, que o faz passar mal, já que ele estava chapado de droga, mas não o suficiente para ser alvo fácil das facadas do homem. O momento termina estranho, ele pode ou não ter matado o garoto, afinal, ele parece ter poderes de super velocidade ou teletransporte.
O que poderia ser encarado como incongruência pode ser na verdade visto apenas como um ato tão desimportante que nem vale o esforço de tentar julgar ou classificar. Os momentos em que se brinca com a metalinguagem são muito mal orquestrados.
O Rato se move como o vapor que sai do bote presente no curta? Não fica claro. As super habilidades do personagem poderiam ter haver com o que se vê no desenho, mas isso ou não é utilizado ou se é uma referência é muito, mas muito escondido.
Em outro ponto, Mickey toca uma menina que usa um game de imersão, um simulador de realidade. Sempre que ela tira os óculos ele some.
Aquela poderia uma outra camada de simulação, uma manipulação do assassino, que aparentemente tem poderes, mas a questão sequer é mencionada, a possibilidade não se levanta, afinal, não há cuidado nenhum com esse texto, tampouco com as atuações. As linhas de diálogo são todas ridículas, os personagens são difíceis de gostar, na verdade são odiáveis.
O assassino não é carismático, mas quase se torce para ele executar todos, para assim acabar o drama, que apesar de ter 80 minutos, é longo demais para o que apresenta.
Marcus é irritantemente passivo, Alex é uma heroína tão óbvia que irrita por sua perfeição, já Marie é a gostosa genérica que vive repetindo que é bonita demais para passar por isso. Danny é só um drogado, já Becca não tem muitas cenas fora o interrogatório.
O matador não fica atrás, é risível, tem poderes estranhos, uma origem sem sentido e uma fraqueza pela iluminação da lanterna, que imita a forma de emitir luz de um projetor de cinema.
Os detetives perguntam como Rebecca sabia de todos os fatos, já que na altura do final, sobraram Alex, Marcus, Ryan (que eles culpavam antes de ser o matador) e Marie, mas eles supostamente não conseguem falar nada, já que ficaram traumatizados.
A afirmação dela, de que tudo foi contado na ambulância não faz sentido e nem é pelo trauma dos sobreviventes e sim por conta de ser tosco...tudo é ruim, o acordo com a criatura amoral, a fraqueza a luzes estroboscópica, o fato de Becca ter ficado no Lasertag com um ferimento na perna, quase morta.
Essas fragilidades podem ser explicadas ou aproveitadas em uma possível continuação, já que ela é libertada pelo Mickey, no pós-crédito.
Pior que isso só o final, onde Mickey mata a final girl Alex sem motivo, só para chocar.
The Mouse Trap é fraco e despropositado ao extremo, quase não usa elementos do filme original, sequer adapta os outros animais antropomórficos que lidam com Mickey. Parece ser o que é: uma produção tacanha, barata, fraca e oportunista, cuja intenção por trás da produção jamais fica claro.
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