Crítica: Sin City: A Dama Fatal

sinposterO que leva um diretor a fazer uma continuação? De forma prática, é fácil responder essa pergunta. Ganhar mais dinheiro é o padrão para a indústria Hollywoodiana, mas é sempre bom acreditar que um cineasta retorna ao universo que deu vida nas telonas para poder apresentar algo novo em relação ao original, ou desenvolver melhor os personagens do primeiro. Bem, Sin City: A Dama Fatal não faz questão nenhuma de surgir com algo novo, seja na estética ou na narrativa. Também não acrescenta muito à história dos personagens já conhecidos do público (a não ser em um caso, mais detalhes a seguir). Dinheiro? Bom, se a intenção era meramente comercial, Robert Rodriguez e Frank Miller falharam miseravelmente. Então, por que esse filme existe?

O segundo Sin City se justifica na base da fãs da série de Graphic Novels e do primeiro longa. Parece, a todo o momento, algo feito para um público muito mais específico do que o almejado no lançamento de seu predecessor em 2005. Naquela época, a forma ousada que Rodriguez encontrara para levar os quadrinhos de Miller para as telas era o grande atrativo. Se mantendo fiel ao máximo a trama, apesar de ter rendido uma boa bilheteria, conseguiu agradar mesmo apenas os já “iniciados” naquele mundo e a crítica especializada, que se encantou com tudo aquilo, principalmente pelo desprendimento do diretor, nada preocupado em agradar quem esperava algo mais realista e menos estilizado.

O retorno ao universo da Cidade do Pecado pode ser visto como algo ainda mais descompromissado. Não há o menor esforço em dar algum toque de novidade à trama ou ao seu visual caricatural. O bom é que não há problema algum nisso se você é fã de Sin City, já que a produção surge praticamente como um “fanfilm” de luxo. As narrações, as interpretações forçadamente canastronas, a trilha sonora e até os efeitos especiais não demonstram evolução alguma. Talvez isso faça o longa funcionar bem mais do que poderia, já que soa complementar ao original, como se formado por histórias que ficaram de fora naquela época e só agora puderam ver a luz do dia (ou do projetor, neste caso).

Não há nada de novo na personalidade de Dwight (Josh Brolin, substituindo Clive Owen), por exemplo. Sua fraqueza por “damas fatais”, seu ímpeto em ajudar donzelas em perigo e seu passado repleto de erros estão lá, assim como anteriormente. O mesmo pode ser dito sobre Marv (Mickey Rourke) ou qualquer um dos personagens que retornam. Apenas Nancy é alguém bem diferente, graças aos acontecimentos que levaram à morte de Hartigan (Bruce Willis). Seu segmento na narrativa não-linear do longa acaba soando um dos mais interessantes, algo até surpreendente, já que é um conto escrito por Frank Miller especialmente para o filme (quem acompanhou os últimos trabalhos do autor nos quadrinhos sabe porque isso surpreende) e Jessica Alba não decepciona ao mostrar um lado mais psicótico da stripper. Quem também não desaponta é Eva Green, no papel de Ava, a "femme fatale" definitiva, tanto visualmente quanto conceitualmente, uma vez que no cinema noir a função dessas personagens sempre foi a de levar o protagonista ao fundo do poço.

De duração mais curta que seu antecessor, apenas 100 minutos, Sin City: A Dama Fatal tem apenas uma história longa, baseada na HQ que dá nome ao filme, e que é contada de uma só vez e não entrecortada pelos outros contos, deixando a narrativa até um pouco mais tradicional e menos “Tarantinesca”, algo que não ajuda nem atrapalha, apenas deixa tudo mais “organizado”, como na versão reeditada do primeiro filme, lançada em home vídeo. Rodriguez tem uma ou outra idéia criativa na montagem (a passagem de um dos contos para a história do Dwight é, sem dúvida a mais interessante), mas no geral dirige exatamente como da última vez, seja as cenas de ação ou a atuação de seu elenco.

Por não trazer novidade alguma, “Sin City 2” é um filme sem muitos motivos para existir, a não ser o de levar os fãs novamente para aquela cidade suja, movida a crimes, com mulheres fatais a cada esquina e homens durões o suficiente para aguentar as pancadas da vida. Às vezes isso basta, às vezes, não. Para o estúdio, com certeza não, graças a pífia bilheteria que recebeu nos EUA. Para Rodriguez, Miller e seus fãs? Nada menos que um deleite, banhado a sangue sem cor, luzes, sombras e tiros, muitos tiros.

Alexandre Luiz

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