Crítica: Homens de Preto 3

Há uma recorrente ideia em Hollywood sobre terceiras partes de séries cinematográficas. Ela dita que se os dois primeiros filmes foram bons, o último sempre será o mais fraco. Por sorte (ou azar, é tudo uma questão de ponto de vista), Homens de Preto 2, lançado em 2002 era muito ruim. Pela lógica, o novo filme não poderia ser pior. E, para a alegria dos fãs das aventuras dos Agentes J e K, Homens de Preto 3 surge nos cinemas como uma entrada divertida e, mais importante, relevante para a franquia.

Se não há, neste novo longa, a sensação de novidade do original (lançado em 1997), existe, pelo menos, a preocupação do roteiro em criar uma história que faça sentido e que agregue algo novo para os protagonistas, interpretados por Will Smith e Tommy Lee Jones. E a trama, que envolve viagens no tempo, encontra uma forma muito interessante de se conectar com os acontecimentos do primeiro filme.  Escrito por Etan Cohen (sem ligação com os Irmãos Coen, é sempre bom lembrar), o texto não é nenhuma obra-prima, mas também não compromete e estabelece certas "regras" para a ação principal sem abandoná-las pelo percurso. Escrever sobre viagens no tempo é um trabalho complexo e que exige disciplina para que no meio do caminho não apareçam incoerências que possam arruinar a história e Coen não desaponta, ao mesmo tempo que abraça a natureza referencial da cinessérie e encaixa várias interessantes brincadeiras pra agradar aos espectadores mais atentos (a com Andy Warhol se destaca).

 Como uma espécie de redenção, o cineasta Barry Sonnenfeld parece ter encontrado novamente seu timing para o humor a partir do estranho e absurdo que o fez se sair tão bem em A Família Addams e no MIB original. Diretor sem grandes tiques, Sonnenfeld é correto e não busca ser nada além disso, o que de forma alguma é ruim. Pretensão demais também pode arruinar um trabalho, é sempre bom lembrar. O grande destaque em seu comando, no entanto, fica para a sensação de "filme B", nitidamente presente, principalmente nas cenas de ação, como a do primeiro ato, situada em um restaurante chinês. Os alienígenas feitos com maquiagem ao invés de CGI, meio desajeitados, justamente por conta de pesados adereços, faz o longa ter um "sabor" de antigo que funciona muito bem, visto que se trata de uma história sobre uma volta ao passado.

Por se passar grande parte no final dos anos 60, Homens de Preto 3 brinca com a ideia do retrô em sua direção de arte e na concepção dos aliens da época. É muito interessante ver o cuidado da produção ao estabelecer os extraterretres como se tivessem saído de alguma produção de ficção científica de baixo orçamento ou de um episódio de Jornada nas Estrelas ou Perdidos no Espaço.

O primeiro MIB foi uma das produções responsáveis por impulsionar a carreira de Will Smith, colocando o ator numa posição privilegiada em Hollywood. E para voltar ao protagonista J, Smith parece não ter se esquecido do que fez o personagem ficar famoso e mesmo depois de 14 anos trabalhando na agência responsável por controlar a presença extraterrestre na Terra, ainda consegue se espantar com o bizarro. Pra que isso funcionasse, o roteiro dita que as viagens no tempo são um segredo mantido a sete chaves que mesmo sua patente não o permite ter acesso. Até pode soar como uma desculpa rápida e conveniente apenas para que o personagem não saia muito de sua zona de conforto e continue fazendo o papel do espectador ao questionar a todo momento alguma nova informação. Mas a trama pede isso, já que está mesmo adicionando um elemento nunca mencionado.

Se Smith continua o piadista, Tommy Lee Jones ainda é o mesmo Agente K, sério e carrancudo, principalmente no momento em que o filme se inicia, com o vilão Boris (Jemaine Clement, irreconhecível), figura importante no passado do veterano Homem de Preto, escapando de uma prisão na lua. É interessante notar como nos dois primeiros filmes, o passado de K é importante para a resolução da história, mas neste terceiro, se torna ainda mais  essencial. O antagonista volta no tempo e mata o jovem K, anulando sua existência no presente. Apenas J se lembra do parceiro e para fazer com que tudo volte ao normal, precisa voltar aos anos 60 para impedir os planos de Boris e salvar seu amigo. E aí o filme revela sua maior surpresa: Josh Brolin como o Agente K no início de carreira. O ator consegue encarnar boa parte dos maneirismos de Jones como movimentos, sotaque e voz e se torna extremamente convincente como a versão jovem do companheiro de J. E ainda consegue adicionar uma ingenuidade e humanidade ao personagem, que ainda não é a figura sisuda a que os espectadores estão acostumados.

O roteiro também adiciona novos coadjuvantes como O, a nova chefe dos MIB, interpretada por Emma Thompson, com sua competência habitual. Pena aparecer pouco. Mas, é no passado que está um dos personagens mais interessantes da franquia, Griffin, vivido por Michael Stuhlbarg. De conceito fascinante, este incomum aliado dos heróis consegue ver, ao mesmo tempo, várias possibilidades de futuro, criando situações de pura sensibilidade e que se tornam ainda mais poderosos conforme a história avança.

Embora não seja um filme perfeito, com alguns momentos bobos em que os diálogos se tornam expositivos demais, Homens de Preto 3, ao menos, redime a série, que pode até ter encontrado novo fôlego para outras sequências.

Alexandre Luiz

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