Crítica: Jovens Adultos

Se você se afastou das pessoas com quem fez o colegial, chegou a imaginar o que teria acontecido com elas? Que caminhos tomaram? O garoto inteligente, o esportista, a patricinha... Clichês de filmes, mas que existiram (e existem) na vida real e fizeram parte da história de muita gente. Mavis Gary, a personagem de Charlize Theron em Jovens Adultos, era a garota popular, vencedora de prêmios na época de escola e que não via a hora de sair da pequena cidade onde nasceu. Foi pra grande metrópole, conseguiu se firmar como "escritora fantasma" de uma série literária para os jovens adultos do título, mas agora se vê em uma crescente decadência. Sua editora decidiu que o próximo volume de seu longo trabalho seria o último pois seus livros não vendem mais como antes. Pra piorar a situação, a protagonista recebe um e-mail com a foto da filha de seu antigo namorado dos anos de colégio (Patrick Wilson). Sentindo a estranha sensação de que aquele bebê poderia ter sido seu, caso suas vidas não tivessem sido separadas, Mavis decide voltar à sua terra natal para tentar reacender a antiga paixão, mesmo com o personagem de Wilson estando casado e demonstrando estar bem contente com isso.

Roteirizado por Diablo Cody, Jovens Adultos surpreende por sair do lugar comum. A trama poderia ser encontrada em uma comédia romântica açucarada ou num exemplar de humor pastelão, mas o texto de Cody parte para um estudo de uma personagem complexa, uma pessoa cujo um dos maiores problemas é a máscara que criou para si: a da escritora bem-sucedida, inspiração para seus conterrâneos.

Ter de viver diariamente na ilusão de um sucesso bem menor do que todos imaginam, fez de Mavis uma pessoa patética, digna de pena, se não fosse tão detestável. Sim, porque mesmo com 37 anos, sua personalidade continua a mesma de quando era adolescente, parada no tempo. Por isso soa infantil logo no início da projeção, quando um amigo lhe diz ter prestado serviços de caridade numa cidadezinha chinesa e sua resposta é um natural: "Meu Deus, credo!", proferido com expressão de nojo. Ou quando ignora por completo antigos colegas, que já eram ignorados quando contemporâneos na escola. Mas um destes velhos conhecidos acaba despertando uma improvável amizade. Matt Freehauf, vivido por Patton Oswalt, era o típico "esquisito" da turma, fato que lhe rendeu um trauma para o resto da vida. Julgado gay por um grupo de valentões, fora espancado e mutilado quando criança. E é justamente por esse acontecimento que Mavis se lembra dele e não porque durante anos, seu armário ficava logo ao lado do dela.

Equilibrando bem o humor com situações densas, o longa também se destaca por não tentar "salvar" sua protagonista, tornando-a uma boa pessoa. O roteiro de Cody é muito eficiente ao mostrar a personagem de Theron como um ser humano de verdade, que não muda de atitude de uma hora pra outra apenas para entregar uma mensagem otimista ao espectador. A forma como a atriz constrói sua Mavis Gary ajuda a deixar tudo ainda mais palatável. A entrega de Theron é total e as cenas em que está despida de sua maquiagem diária são a prova disso. A forma como arranca fios de cabelos, sinal de instabilidade e insegurança com sua beleza demonstrado desde a adolescência, ou bebe sua Coca Diet direto da garrafa, são apenas alguns dos momentos que chamam atenção durante toda a fita.

Se o texto é responsável por apresentar personagens críveis, a direção de Jason Reitman cuida de aproximá-los ainda mais do espectador. A câmera na mão (sem maneirismos) e a forma como captura os detalhes de Theron, sejam algumas rugas ou seu pé durante um tratamento de beleza, reforçam ainda mais a fragilidade desta protagonista. A parceria entre Reitman e Cody já havia dado certo em Juno e neste Jovens Adultos não é diferente. Cineasta e roteirista parecem estar numa sintonia constante, ajudando a obra ainda mais na relevante reflexão sobre o que é a felicidade ou a acomodação, dependendo de pontos de vista particulares.

Se a resposta a pergunta do primeiro parágrafo foi sim, fica uma outra indagação. E a sua vida? Mudou muito depois do colegial? Você envelheceu mas cresceu também? O desapego ao passado é importante e olhar para o futuro é saber seguir em frente. Uma lição que mais cedo ou mais tarde, todos aprendem, mesmo quando o resultado não torna alguém uma pessoa melhor.

Alexandre Luiz

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