Review: Crossover The Flash, Arrow e Legends of Tomorrow: Invasion!

Este texto sobre o crossover, excepcionalmente, substitui as eventuais reviews individuais de cada episódio e conta como referente ao S03E08 de Flash e S05E08 de Arrow (sendo assim o 100º texto sobre a série do Arqueiro Verde publicado neste site!)

Desde a primeira temporada de Arrow, a ideia de um crossover anual com outros personagens DC é algo muito alardeado. No início, uma aventura em duas partes trouxe a Caçadora para o universo compartilhado ainda em formação na TV. Na segunda temporada, Barry Allen, ainda longe de se tornar o velocista Flash, aparecia para dar um gostinho do que seria a estreia do seriado do Velocista Escarlate. No terceiro ano, com as duas séries no ar, o CW promoveu o encontro entre ambos heróis em um crossover divertido, mas que não dava uma ideia de continuidade: apesar de exibidos na mesma semana, havia uma impressão de que cada episódio era uma aventura isolada. Ano passado, com a iminência da estreia de outra adaptação, Legends of Tomorrow, o encontro entre os mascarados veio na forma de um backdoor pilot para o futuro programa. Agora, chega a ideia mais audaciosa: unir os personagens de quatro séries, incluindo Supergirl, que migrou da CBS para o CW e agora se une à "família" da DC na TV.

O resultado é o mais satisfatório entre os crossovers exibidos ao longo desses cinco anos. Com uma narrativa que esbanja muita fluidez entre um episódio e outro, mesmo com cada um lidando com ideias muito próprias, Invasion! (título que remete a uma famosa saga das HQs no final da década de 80) une os heróis para lidar com a raça alienígenas dos Dominadores. Efetivamente iniciada no S03E08 de Flash, a aventura traz ramificações das subtramas já em desenvolvimento não apenas na adaptação do velocista, mas também em algumas iniciadas em Legends of Tomorrow, como aquela envolvendo o Dr. Stein e a filha que descobre ter após a criação de uma "aberração do tempo". A ideia de tornar esse crossover não apenas parte, mas consequência de eventos vistos principalmente nestas duas séries é ótima por respeitar a frequência do espectador em acompanhá-las. Não é como se tudo que estivesse acontecendo parasse simplesmente para satisfazer a vontade dos fãs em ter um vislumbre do mais próxima da Liga da Justiça que uma série de TV jamais entregou.

Em Flash, série que vem sofrendo bastante nestes primeiros episódios da temporada, há um respiro no desenvolvimento ruim das tramas e, apesar de se mostrar um tanto corrido na união dos heróis (algo que poderia ser resolvido caso o evento se iniciasse em Supergirl, dando mais espaço para toda a trama de reunião), o roteiro é bem satisfatório, no geral. Há a chegada dos alienígenas, a sensação de descoberta do desconhecido por parte dos personagens e o início de algumas intrigas que serão desenvolvidas nos episódios posteriores, como a obrigatória participação de membros misteriosos do governo em uma espécie de conspiração à lá Arquivo X. Na primeira parte do crossover, o espectador também pode observar melhor a rusga entre Cisco e Barry, levada aqui de forma convincente, e que efetivamente avança a trama e a forma como os outros personagens passam a ver o Flash. Neste ano, há um tema recorrente envolvendo as consequências dos atos do herói, algo muito bem explorado aqui e que se comprova importante para o restante da trama estendida, impactando o relacionamento entre os personagens de forma definitiva ao término da aventura.

Na programa do Arqueiro Verde, o espectador encontra o segundo ato da história. Mais do que isso, o oitavo episódio do quinto ano é também o centésimo do seriado, o que torna propícia uma visita a antigos coadjuvantes da adaptação, feita de forma muito natural e interessante, que dá o tom de importância que a série merece, uma vez ter sido ela a responsável por toda a expansão do universo DC televisivo. Se em Flash, a temporada se ocupa em explorar as consequências da irresponsabilidade e egoísmo do herói-título, Arrow lida com o legado de seu protagonista. São coisas bem distintas, uma vez que este último se refere também às mudanças positivas, ao impacto da presença de um justiceiro mascarado em toda uma cidade. Por isso, o vislumbre de uma vida que poderia ter acontecido, embora seja um recurso clichê em episódios comemorativos, cabe bem nesta ocasião. Há um quê de "Para o Homem que tem Tudo", clássica trama do Superman escrita por Alan Moore. O maior problema do texto é a resolução fácil do problema, com o ícone do escape dos heróis desse mundo ilusório parecer algo óbvio demais. A velocidade em que os personagens chegam a conclusão de como sair dali é um tanto absurda, uma vez que estavam diante de um problema nada corriqueiro.

É gratificante para o fã, que acompanha Arrow desde o início, há cinco anos, poder rever certos personagens, pegar referências no texto ou conferir distinções entre os coadjuvantes que conheceram no seriado e suas versões alternativas, criadas na ilusão elaborada pelos Dominadores. Surpreendentemente, este marca também o melhor episódio já dirigido por James Bamford. O coordenador de coreografias de ação finalmente encontra o tom para usar seu maneirismos, principalmente em uma trama que exige muito mais da carga dramática de cada intérprete do que seus atributos físicos. No entanto, há uma boa dose de ação e é aqui que Bamford mostra que evoluiu muito desde a última vez que comandou um episódio de Arrow. As sequências de luta finalmente deixaram a artificialidade de lado e o diretor exibe que entendeu as diferenças entre coreografar e dirigir. A posição de sua câmera deixa de entregar que os golpes jamais atingem seus alvos e os cortes entre um impacto e outro ajudam a dar credibilidade para os combates.

Porém, fica apenas para o terceiro ato da trama, no episódio de Legends of Tomorrow o cumprimento da promessa que todo fã queria ver: o embate entre uma força alienígena invasora e todo o corpo de heróis DC apresentado nas séries do CW. Apesar de estranhamente negligenciar a Supergirl (algo explicado por uma súbita mudança de comportamento de Oliver, mal justificada pelo roteiro) é exatamente isso que a hora final do evento entrega. Unindo a característica de viagem do tempo no pacote, fica completa a clara homenagem à filmes de ficção científica dos anos 50, com suas trilhas sonoras repletas de tons agudos e incômodos. A motivação dos extraterrestres é a culminação dos eventos explorados pelas alterações de linha do tempo feitas por Barry, fechando um ciclo iniciado pela terceira temporada do velocista, sendo essencial também para a resolução do conflito pessoal com Cisco (em boa hora, pois era um dos aspectos menos interessantes da série). Há também mais desenvolvimento das subtramas das Lendas, tornando Arrow a série menos afetada pelo crossover, mas ainda assim oferecendo um respiro para a movimentada trama da quinta temporada.

Em Legends, a ação é o foco, e o empenho da equipe de efeitos visuais é colocado à prova. Obviamente, são grandes as limitações orçamentárias, mas não se nota que os responsáveis pela parte técnica e pós-produção tenham se intimidado por isso, oferecendo então, opções criativas e visualmente interessantes para as longas cenas de ação. Os alienígenas estão muito fiéis ao visual dos quadrinhos, faltando apenas o longo manto que usam, algo que obviamente teria dado um desnecessário trabalho para ser criado em computação gráfica. As naves, a movimentação dos heróis com superpoderes e a coreografia das lutas também são eficientes, não estragando em nada a experiência do espectador. E há, ao longo dos três episódios, um constante tema envolvendo paranoia com o diferente, com o "alien" (do latim Alienus, que significa algo que vem de fora) que vai ao encontro com certos aspectos muito bem desenvolvidos pela série da Moça de Aço nesta temporada. Esse subtexto, embora não ocupe muito tempo para ser plenamente desenvolvido, demonstra a preocupação com uma mensagem mais positiva em tempos atuais, quando há uma vertente muito grande de preconceito e discriminação sendo perpetuada de forma alarmante.

No final, em uma cena envolvendo os pioneiros Flash e Arqueiro, fica claro o esforço dos realizadores em criar algo relevante a todas as outras séries deste universo e como Invasion! é resultado direto de um trabalho que já dura cinco anos. Mesmo que ao longo de todo esse tempo essas adaptações tenham sofrido com altos e baixos e certa inconstância (algo que pode ser observado em todos os textos já publicados neste site) são por momentos assim que os fãs devem valorizar essas séries. A diversão, a interação entre personagens e a boa condução da trama fazem deste crossover um dos momentos mais memoráveis dessa investida ousada do CW em abrigar tantas adaptações de quadrinhos ao mesmo tempo. Há o fanservice, há o drama, que importa para cada um dos programas, e há a abordagem de temas e mensagens relevantes. Tudo isso muito bem embalado por um universo rico de super-heróis. Mesmo longe de ter todo seu potencial explorado, seja pelo orçamento apertado ou pelos tropeços de roteiros que precisam lidar com 23 episódios para desenvolverem tramas nada complexas, é notável que há um senso de diversão muito grande por parte de todos os envolvidos. O espírito das histórias em quadrinhos fala mais alto, tornando esses acertos algo gratificante para o espectador.

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