Sob as cinzas de um império. Oito meses se passaram desde o massacre patrocinado por Gyp Rosetti em Atlantic City e pela primeira vez em Boardwalk Empire, vimos um Enoch Thompson encarando e vivendo o significado da palavra consequência. Infelizmente se esta première tivesse optado única e exclusivamente por montar um panorama de recomeços para o agora cauteloso rei do calçadão, ao invés de trazer uma Gillian com os mesmos problemas de sempre, um Al Capone sofrendo da cansativa necessidade de reconhecimento ou mesmo um Richard Harrow mais perdido do que no seu primeiro encontro com Jimmy, teríamos ganhado em escopo dramático e respondido a pergunta que ainda não se calou: e agora, para onde isto tudo vai?
Não é toda série que pode se dar ao luxo de usar de quadros ou subplots contemplativos para justificar sua duração e (acho eu) o salário do seu elenco gigantesco. Boardwalk Empire sofre do mal de mais da metade das produções da HBO (casting exagerado) e nunca conseguiu sustentar uma trama se quer que se distanciasse do mote principal da temporada. O pior é que mais uma vez, vi vários núcleos pipocando em histórias paralelas e nenhum foco aparente. É neste meio termo que entram Richard Harrow e Gillian.
O primeiro embarcou numa busca pela irmã que o desprezou depois do ferimento de guerra (se eu bem me lembro) e sem muitas explicações cumpriu a cota de violência gráfica enquanto matava os informantes do paradeiro da mulher. Não me perguntem qual o sentido do engodo todo, pois não entendi nada. Já Gillian sobreviveu à dose letal de heroína que Gyp lhe aplicou, mas de quebra ganhou o vício como expiação dos pecados (temos de usar termos rebuscados para justificar a relevância da trama, não é mesmo?). Ela apareceu tentando reaver a custódia de Tommy e depois querendo vender o palácio do Comodoro, enquanto se prostituía pra ganhar preferência. Novamente do que vimos nada se destacou, a não ser que o tal Roy Phillips tenha alguma agenda que envolva tirar proveito da atual situação da “cidadezinha”.
Não é todo mundo que concorda, mas eu particularmente acho Nucky Thompson um dos personagens mais fantásticos da TV. A canastrice fanfarrona de Steve Buscemi contribui para dar cor e força à construção dúbia e muitas vezes irônica do gângster e só este detalhe já seria o suficiente para dinamizar toda história. O Babette's, por exemplo, foi por três temporadas símbolo mór da Atlantic City de Nucky e seus comparsas, mesmo assim, tentando retomar tudo o que perdeu sem insultar aqueles que não lhe viraram as costas, Nucky cumpre o acordo com Chalky e o Onyx Club gerenciado pelos negros que há alguns anos declaravam greve no calçadão, surge como um novo atrativo que não deixa de ser o lar da sombria “sala do trono” de Nucky.
E foi na conversa entre os poderosos líderes do cinturão costeiro do álcool nos Estados Unidos, que ganhamos a melhor cena do episódio. A trégua entre Nucky e Masseria foi bem fácil de se firmar, porém o mais divertido do diálogo eram os sidekicks de cada um deles trocando olhares de mágoa e promessas veladas, confirmando que por mais dinheiro que role, a guerra no submundo não vai acabar tão cedo. Rothstein mesmo, não deixa os indulgentes comentários de lado ao desafiar Nucky depois que Masseria vai embora. Entre sidekicks o nome da vez na verdade é Eli. Ele sempre surpreende no desenrolar da trama e optar por mostrar o seu lado familiar com o filho Willie já de olho nos negócios do tio, parece promissor.
Resta Al Capone. Se eu gosto do personagem? A resposta é sim, mas eu já cansei de promessas. Faz três anos que a ascensão do maior mafioso começou e a sensação que eu tenho é de que nada mudou. Capone não cresce como personagem e parece mais uma figurinha carimbada pra segurar o interesse daqueles que gostam dele. Em comparação, a violenta e bizarra relação entre Chalky e Dunn Purnsley é bem mais interessante mesmo que seja tão gratuita quanto às aparições de Capone. Fica aqui um pedido por mais unidade e repetindo, relevância. Assim fica bem mais fácil voltarmos a nos importar.
Contando com um aparente cliffhanger por trás dos motivos do nem tão ingênuo agente Knox e mostrando que Nucky optou por se distanciar dos holofotes do poder em Atlantic City, vide a cena final com o sempre ótimo Eddie, Boardwalk Empire começa trôpega e sem direção, mas ainda guarda trunfos que se exteriorizam no visual arrebatador que a mão do mestre Tim Van Patten captura tão bem. Que nem só de “bons drink” sejamos servidos, afinal tem muita série melhor fazendo com bem pouco e a HBO deixou de ser unanimidade faz tempo.
P.S.: Coitado do Nucky, ele achou mesmo que atraiu a piriguete caça-Broadway por ser bem apessoado?
P.S.2: Nada dos desdobramentos envolvendo Andrew Mellon, Gaston Means e a receita federal. Será que veremos mais disto ainda este ano?
P.S.3: Semana que vem é a estreia de Dennis Lehane, como roteirista... Sim o mesmo Lehane de Sob Meninos e Lobos, Ilha do Medo e claro a aclamada The Wire.
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