Alerta Sonoro: The Naked and Famous em São Paulo: O som nu, como deveria ser

“O som dessa banda é bem legal, mas parece trilha sonora do seriado One Tree Hill”, me disse um amigo, em tom de brincadeira, depois que apresentei a ele alguns vídeos do The Naked and Famous – banda da longínqua Nova Zelândia que já emplacou alguns hits televisivos em seriados de sucesso. Meu amigo nem sabia na verdade, mas acertou na mosca: a banda já teve músicas inseridas não somente no seriado adolescente One Tree Hill, mas também em The Vampire Diaries, Gossip Girl, Chuck e outros. Ponto para o marketing da gravadora Universal, responsável pela distribuição do único álbum da banda até o momento, Passive Me, Agressive You, em 2010. A estratégia não poderia estar mais acertada, já que “os seriados são a nova rádio”, segundo disse a vocalista Alisa Xayalith em recente entrevista ao UOL, e o agradável e contemporâneo som indie da banda não poderia estar mais de acordo com o público jovem dos tais seriados.

A combinação de levadas pop com foco nos vocais de Alisa e do guitarrista Thom Powers e elementos de electropop e shoegaze, com momentos do mais sincero rock n’ roll, transformou a banda em uma rara sensação mundial saída de Auckland. Na última sexta, cerca de 1.500 paulistanos puderam conferir ao vivo a performance do grupo, no Cine Jóia, um antigo cinema de filmes japoneses no Bairro da Liberdade transformado em uma casa de shows com layout bem diferenciado.

[Fotos gentilmente cedidas por Henrique Oli e Figurama]

Sem banda de abertura, o show já começou com três músicas das mais agitadas do repertório da banda: All of This (faixa de abertura do álbum, cantada em dueto), o hit Punching in a Dream e a direta Spank. As escolhas não poderiam estar mais acertadas, colocando logo de início todo o público em clima de agitação. Impossível não reparar em um dos detalhes mais curiosos do The Naked and Famous ao vivo: apesar de contarem com um integrante totalmente dedicado aos teclados e sintetizadores (Aaron Short, que entrou oficialmente na banda após produzir seus dois primeiros EPs), todos os músicos, exceto o baterista, se revezam entre seus instrumentos principais e as teclas e controladores eletrônicos, de acordo com o que cada momento da música pede.

Não existe, por exemplo, receio algum para o baixista Ben Knapp demonstrar toda sua sinergia com o instrumento ecoando graves muito bem trabalhados durante uma música, para deixá-lo totalmente de lado na canção seguinte, assumindo integralmente os teclados. O mesmo acontece com Thom Powers, que, após um solo de guitarra para classic rocker nenhum botar defeito, deixa-a escorregar para suas costas, preocupando-se somente com os vocais,  deixando a música completamente sem o som de uma guitarra – e, mesmo assim, sem perder a energia.

Essas demonstrações pouco ortodoxas de se fazer rock n’ roll se alternavam com momentos mais emotivos e calmos, como as lentas e lisérgicas músicas The Sun e No Way, ideais para viajar na iluminação azul do palco após ter tomado algumas doses do que quer que fosse. O repertório seguiu dessa forma, consistente, e encerrou com o bis constituído de três músicas: duas tiradas dos EPs lançados anteriormente ao álbum - a agitada Dadada e Serenade, que lembra uma música de KT Tunstall em um universo cyberpunk - e finalmente o maior hit da banda, Young Blood.

O público presente cantava empolgado os versos da música, o que foi o suficiente para deixar a vocalista Alisa saltitante e sorridente no meio do palco – claramente uma “reação padrão” de músicos que vem de um país longínquo sem saber o que vão encontrar por aqui e são recebidos por um dos públicos mais entusiasmados do planeta, que conhece de cor suas canções. Fim de show, sentimento de noite ganha para todos. E a impressão que o The Naked and Famous deixa para mim parece confirmar o que já vinha observando sobre as bandas desse cenário indie há algum tempo: Eles parecem tão preocupados em produzir gravações de estúdio impecáveis do ponto de vista estético que deixam escapar um pouco da energia que têm. Energia essa que acaba sendo muito melhor demonstrada ao vivo, com os sons dos instrumentos vibrando sem amarras pelo palco, direto dos músicos para o público.

Set List

1 All of This
2 Punching in a Dream
3 Spank
4 The Sun
5 The Source
6 Bells
7 Frayed
8 No Way
9 Jilted Lovers
10 The Ends
11 A Wolf in Geek’s Clothing
12 Eyes
13 Girls Like You
14 Dadada
15 Serenade
16 Young Blood
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