Crítica: A Dama de Ferro

a dama de ferroÉ inegável a qualidade da interpretação de Meryl Streep em A Dama de Ferro. A sempre competente atriz se transforma em Margareth Thatcher num trabalho merecedor da indicação ao Oscar. Infelizmente, todo o esforço da protagonista se encontra num filme completamente descartável. A produção, dirigida por Phyllida Lloyd não é satisfatória em nenhum dos níveis a que se propõe pertencer.

A Dama de Ferro não funciona como obra biográfica e histórica, já que o roteiro de Abi Morgan e a direção de Lloyd preferem criar situações que nunca existiram (Thatcher como testemunha do atentado a seu porta-voz, entre outras), e se focar em momentos da “vida privada” da Primeira-Ministra britânica quando está velha e senil. Isso quando não distorce fatos ou os mostra a partir de uma condenável visão paternalista, como no momento que representa a Guerra das Malvinas, um fato lamentável, duramente criticado à época pelo evidente desvio de assunto. A Inglaterra passava por momentos difíceis e a “Dama de Ferro” usou sua campanha belicista contra a Argentina como desculpa pra elevar a moral da massa. Para roteirista e diretora, é mais importante focar em Thatcher como “mãe” dos soldados mortos nas batalhas.
Não se faz omeletes sem quebrar os ovos e parece que Morgan e Lloyd não queriam “sujar as mãos”. Por isso preferiram cozinhá-los, pois dá menos trabalho. Um serviço mais limpo, por assim dizer. É a única explicação pela forma “simpática” que ambas resolveram usar como abordagem para levar às telas a vida de uma figura tão polêmica e controversa.
Outro elemento que falha miseravelmente em A Dama de Ferro é a mensagem de superação feminina. Desde os trailers, o marketing quis passar a idéia de que o filme mostraria a batalha de uma mulher para dominar um mundo predominantemente masculino. Há momentos da projeção que isso fica muito claro, quando a jovem Thatcher, interpretada por Alexandra Roach, entra no parlamento despertando olhares de estranheza. Mas, quando toda a trama é justificada pelos delírios de uma mulher que reluta em aceitar a morte do marido (interpretado de forma divertida por Jim Broadbent), o roteiro reduz a personagem à imagem que qualquer feminista tenta desesperadamente se desvencilhar: uma mera dona-de-casa, e pior, frustrada por nunca ter desempenhado “corretamente” essa função.
Mas a pior falha de A Dama de Ferro é que graças a um conjunto de erros e à péssima direção de Phyllida Lloyd, o longa não se sustenta como obra cinematográfica. A edição confusa e truncada, com cenas que não se comunicam entre si e que ignoram completamente o raccord (nome que se dá a uma série de “regras” para dar coerência e fluidez à continuidade das tomadas), um erro crasso de execução, provavelmente vai chamar atenção até de quem não costuma se atentar a esse tipo de análise. Ao chegar a esse ponto, não sobra muito do filme para o espectador criar o mínimo interesse em continuar acompanhando a trama. A não ser, é claro, por Meryl Streep, que deveria ter uma categoria só pra ela no Oscar deste ano: de paciência e profissionalismo por entregar um trabalho tão bom a partir de um material tão ruim.
Tiago Batista

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